Serviços Personalizados
Journal
Artigo
Indicadores
- Citado por SciELO
- Acessos
Links relacionados
- Similares em SciELO
Compartilhar
Revista de Gestão dos Países de Língua Portuguesa
versão impressa ISSN 1645-4464
Rev. Portuguesa e Brasileira de Gestão vol.14 no.2 Lisboa jun. 2015
ARTIGOS
Indicadores de sustentabilidade no contexto do design de produtos
Sustainability indicators in the context of product design
Indicadores de sostenibilidad en el contexto del diseño de productos
Rosângela AraújoI; Valdir FernandesII; William RauenIII
IDesigner e Especialista em Design pela Koln International School of Design, Alemanha. M.Sc em Gestão Ambiental, Universidade Positivo. Professora, Universidade Positivo, Centro Tecnológico, Curitiba-PR, CEP 81280-330, Brasil. E-mail: ninaaraujo@gmail.com
IICientista Social, PhD, Universidade Federal de Santa Catarina, Pós-doutorado em Saúde Ambiental, Universidade de São Paulo. Professor, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Av. Sete de Setembro, 3165, Centro, Curitiba-PR, CEP 80230-901, Brasil. E-mail: valdir.fernandes@icloud.com
IIIPhD em Engenharia Ambiental, Pós-doutorado em Meio Ambiente e Sustentabilidade, Professor, Cardiff University, Reino Unido. Professor, Programa de Pós-Graduação em Gestão Ambiental, Universidade Positivo, Curitiba-PR, CEP 81280-330, Brasil. E-mail: wbrauen@gmail.com
RESUMO
Esta pesquisa tem como tema central o uso de indicadores de sustentabilidade (IDS) como apoio ao monitoramento, avaliação e gestão ambiental no contexto do desenho industrial. O objetivo da pesquisa foi desenvolver IDS no design de sistemas de produtos e serviços. Em termos metodológicos consiste em pesquisa exploratória, tendo como fonte de dados bases bibliográficas e documentais. Os resultados apontam prioridades e deficiências na gestão de design sobre a realidade brasileira, ordenando composição dos indicadores de sustentabilidade para resultado replicável, aumentando o registro de métodos e medidas dos resultados e consequências do desempenho do desenho industrial sustentável. E ainda identificando indicadores no contexto do desenho industrial, por meio de um prontuário, visando minimizar ou eliminar os impactos danosos do sistema de produção no entorno social, econômico, cultural e ambiental, onde o mesmo se insere. Estes resultados permitem concluir que é necessário o resgate de outros critérios de racionalidade que não sejam apenas a instrumentalização e o economicismo.
Palavras-chave: Indicadores de Sustentabilidade; Design
ABSTRACT
This article is focused on the use of sustainability indicators (IDS) to support the monitoring, evaluation and environmental management in the context of industrial design. The main research goal has been to develop IDS for product and service design systems. It involved an in-depth exploratory research of bibliographic and documentary databases. The results highlight priorities and deficiencies in the context of Brazilian design management, and include a group of IDS recommended for replicable results. Their use can increase the record of methods and outcome measures, as well as performance consequences of sustainable industrial design. The study identified and tabulated IDS in the context of industrial design aimed at mitigating harmful impacts in the context of industrial design. Also evaluate harmful economic, cultural, social and environmental impacts of the production system, where it operates. These results indicated that it is necessary to rescue other criteria of rationality which are not just instrumentalization and economicism.
Key words: Sustainability Indicators; Design
RESUMEN
Esta investigación tiene como tema central el uso de indicadores de sostenibilidad (SDI) como apoyo a la monitorización, a la evaluación y a la gestión del medio ambiente en el contexto del diseño industrial. El objetivo de la investigación fue desarrollar el diseño de sistemas de productos y servicios IDS. En cuanto a la metodología, consiste en la investigación exploratoria, teniendo como fuente de datos bases bibliográficas y documentales. Los resultados apuntan prioridades y deficiencias en la gestión del diseño en la realidad brasileña, ordenando la composición de los indicadores de sostenibilidad para el resultado replicable, aumentando el registro de métodos y medidas de los resultados así como las consecuencias del desempeño del diseño industrial sustentable. E identificando indicadores en el contexto del diseño industrial, por medio de expedientes, con el objetivo de minimizar o eliminar los impactos perjudiciales del sistema de producción en el entorno social, económico, cultural y ambiental, en el que se inserta. Estos resultados indican que es necesario el rescate de otros criterios racionales que no sean solo la instrumentación y economicismo.
Palabras clave: Indicadores de Sostenibilidad; Diseño
A construção da sustentabilidade implica no estabelecimento de uma nova relação do ser humano com o meio ambiente e dos seres humanos entre si, envolvendo todas as atividades sociais e econômicas. Ela remete a um processo de transformação em escala global que, segundo Sachs (1997 e 2002), necessita de suporte de técnicas e práticas ecologicamente prudentes, criadas em função das potencialidades locais. Os desperdícios de recursos devem ser impedidos e reduzidos, cuidando para que sejam empregados na satisfação das necessidades de todos os membros das sociedades presentes e futuras, dada a diversidade dos meios naturais e dos contextos culturais.
Muitos dos problemas ambientais são derivados da extração de matérias-primas e contaminação resultantes da produção e uso de produtos e serviços, sobretudo considerando a produção massiva e distribuição global. A maioria desses produtos e serviços são desenvolvidos a partir de recursos naturais que são finitos. Os métodos de extração desses recursos e a manufatura, utilizando energia, criam problemas socioambientais e desperdício. A distribuição, o uso e o descarte geram outros impactos ambientais. No centro deste processo está o design, que, de acordo com Fiell e Fiell (2005), dá forma a uma cultura material global e influencia a qualidade do nosso ambiente cotidiano. Os produtos do design influenciam a experiência e percepção do mundo que nos cerca, ao abrangerem uma gama extraordinária de funções, técnicas, atitudes, ideias e valores. Essa influência abrange as decisões tomadas a respeito da qualidade de vida e do ambiente no futuro.
Nesse contexto, ganham importância os processos de avaliação da produção e seus impactos, sobretudo aqueles relacionados à sustentabilidade. Dentre as alternativas técnicas para esse fim, é crescente a proposição e o uso de indicadores, compreendidos como forma de monitoramento para decisão e gestão.
Indicador é um termo originário do latim indicare, que significa apontar, descobrir, estimar, anunciar (Hammond, 1995). Os indicadores são naturais e estão por todo o lado fazem parte da vida de todos. Os indicadores surgem de valores (medimos o que nos preocupamos), e criam valores (nos preocupamos com o que podemos medir) (Meadows, 1998, pp. 1-9). Indicadores são importantes na construção de juízos sobre condições de um sistema, seja ele passado, atual ou futuro. A formação de um juízo ou decisão se facilita quando as condições existentes podem ser comparadas com uma meta existente (Quiroga, 2001). Nesse sentido, indicadores em geral são aplicados em diferentes setores da sociedade civil, governamental, não governamental e mercados (Quiroga, 2001), sobretudo como instrumentos de monitoramento, avaliação e apoio à gestão.
Em relação à definição e mensuração, indicadores podem ser qualitativos ou quantitativos. Segundo Bellen (2005), existe limitação em relação ao uso de indicadores. Exemplos são quando as dimensões são restritas e incompatíveis, como as perdas na biodiversidade que não podem ser comparadas aos ganhos econômicos, limites de recursos financeiros, de recursos humanos e tempo ou o acúmulo desordenado de dados. Os indicadores não são a realidade, não são completos, e não contêm todos os elementos da realidade, com toda sua diversidade e possibilidades (Meadows, 1998; Bellen, 2005).
No contexto da sustentabilidade, Quiroga (2001) distingue indicadores em três gerações: indicadores ambientais a partir da década de 1980; indicadores das dimensões de desenvolvimento sustentável, mas sem a devida articulação, no final da década de 1980 e início de 1990; e a partir da década de 1990, indicadores de sustentabilidade, ou seja, indicadores cujas dimensões de desenvolvimento sustentável passam a ser articuladas.
Outros marcos no desenvolvimento e divulgação internacional do conceito e de indicadores de desenvolvimento sustentável são os capítulos 8 e 40 da Agenda 21, documento resultante da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992 (Gomes et al. 2000; Quiroga, 2001; Bellen, 2005). Nestes capítulos se reconhece explicitamente a importância da informação para tomada de decisões. Mais especificamente, o capítulo 40.4 pondera que indicadores de desenvolvimento sustentável precisam ser desenvolvidos para prover bases sólidas para as tomadas de decisão em todos os níveis, e para contribuir com a autorregulação integrada e sustentável do ambiente e desenvolvimento de sistemas (United Nations, 1992).
Na Itália, em novembro de 1996, uma conferência internacional resultou nos fundamentos chamados Princípios de Bellagio, considerados ferramentas importantes para «o processo de escolha dos indicadores, sua interpretação e a comunicação de suas leituras para indicação de sustentabilidade» (Souza, 2007, p. 110). Os princípios resumidamente são: «visão e objetivo de desenvolvimento, perspectiva holística, elementos essenciais, escopo de desenvolvimento, foco das práticas, abrangência, comunicação efetiva, processo participativo, revisão contínua dos resultados e sustentabilidade institucional» (Souza, 2007, p. 111).
Bellen (2005) elenca alguns dos indicadores ou sistemas de indicadores mais conhecidos:
- Pegada Ecológica (Ecological Footprint Method EFM). A ferramenta auxilia a compreensão dos limites da biosfera e a reorientação da vida para uma direção mais sustentável. Quando inseridos os dados referentes ao tipo de consumo, o EFM converte as características em uma área medida em hectares proporcional ao impacto do consumo.
- Painel da sustentabilidade (Dashboard of Sustainability DS) projetado para informar os tomadores de decisão, a mídia e o público em geral sobre a situação de desenvolvimento de um determinado sistema, público ou privado, de pequena ou grande escala, nacional, regional, local ou setorial em relação à sua sustentabilidade. Foi criada uma representação gráfica como metáfora ao painel de um automóvel. Os indicadores vão «acelerando» no painel a medida que os dados são inseridos.
- Barômetro da Sustentabilidade (Barometer of Sustainability BS) um projeto destinado às agências governamentais e não governamentais, tomadores de decisão e pessoas envolvidas com questões relativas ao desenvolvimento sustentável, em qualquer nível do sistema, do local ao global (Bellen, 2005). O sistema apresenta conclusões em formato visual e fornece um retrato do bem-estar humano e tecnológico.
- Índice de Desenvolvimento Humano IDH (Human Development Index HDI) que sugere a medida do desenvolvimento humano focado em três elementos: longevidade, conhecimento e padrão de vida decente (um padrão que, atualmente, já vai além do produto interno bruto ou da renda per capita);
- Pressão, Estado, Resposta (Pressure, State, Response PSR) - que assume implicitamente uma causa na interação dos diferentes elementos da metodologia, sendo Pressão (P) a descrição da pressão das atividades humanas exercidas sobre o meio ambiente, incluindo recursos naturais; Estado (S) sendo referente a qualidade e quantidade de recursos naturais e qualidade do ambiente; e Resposta (R) a extensão e intensidade das reações da sociedade em responder às preocupações e alterações ambientais;
- Força Dirigida, Estado, Resposta (Driving Force, State, Response DSR), cuja função é organizar informações sobre desenvolvimento e avaliações setoriais sendo desenvolvido a partir do sistema PSR alterando Pressão por Força dirigida (D);
- Iniciativa Relatório Global (Global Reporting Iniciative GRI). Ferramenta de comunicação do desempenho social, ambiental e econômico das organizações, com difusão global. O GRI é um processo de acreditação ao qual empresas se submetem, tendo como objetivo ter sua sustentabilidade avaliada.
Todos estes esforços, segundo Polaz (2007, p. 1084), visam «melhorar a base de informações sobre o meio ambiente, auxiliar na elaboração de políticas públicas, simplificar pesquisas focais e garantir comparabilidade entre diferentes localidades».
A construção ou identificação de indicadores deve respeitar algumas qualidades: deve ser objetiva e cientificamente fundamentada, pertinente com relação a problemática a qual está referenciada, sensível, facilmente acessível e imediatamente compreensível (Lesama, 2011).
Para Miranda e Teixeira (2004, p. 6), a escolha de indicadores também pode se dar por meio de sistematização por critérios como: acessibilidade dos dados; clareza na comunicação; relevância; amplitude geográfica; padronização; consistência científica; preditividade; pró-atividade; sensibilidade temporal; definição de metas; confiabilidade da fonte e capacidade de síntese (Miranda e Teixeira, 2004, p. 6).
Em relação à organização estrutural e informações necessárias para o desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade, Meadows (1998) apresenta de forma preliminar e sintética um sistema de fluxos organizador. A autora expõe a economia em uma estrutura sistêmica, segregada em três tipos de capitais: capital natural, capital construído, e capital social, em que todos concorrem para o mesmo objetivo, que é o bem-estar (Meadows, 1998, pp. 40-71). Apesar de a autora não levar a cabo o desenvolvimento de indicadores aplicando estas dimensões, capital social e capital natural são conceitos bastante desenvolvidos e utilizados, sobretudo pela literatura de desenvolvimento regional e economia ecológica, respetivamente.
De acordo com Bellen (2005), «a utilização de dimensões, ou grupos de indicadores agrupados, pode facilitar o emprego de medidas que vão além dos fatores puramente econômicos e incluir um balanço de sinais que derivam do bem-estar humano e ecológico» (Bellen, 2008, p. 131).
Contudo, não foram encontrados, na literatura, conjuntos de indicadores de sustentabilidade (IDS) no contexto do design. Assim, neste estudo, por meio da identificação de indicadores no contexto do desenho industrial, constrói-se um prontuário de IDS distinguindo quatro etapas do ciclo de vida (Produção/Manufatura; Consumo, Uso/Serviço; Descarte e Deposição; Reciclagem, Reúso/Redesenho).
Metodologia
Esta pesquisa fundamentou-se em uma revisão de literatura, por meio da qual buscou-se o estado da arte referente a IDS, considerando três dimensões da sustentabilidade (ambiental, social e econômica). Adicionalmente, foi realizada uma análise documental que envolveu a categorização, considerando os critérios de repetição e relevância segundo a literatura. Estes critérios foram selecionados com base nas propostas de Meadows (1998), Gomes et al. (2000), Bellen (2005), Souza (2007), Vezzoli e Manzini (2008), Krucken e Tursen (2009) e ISO 20121:2012, entre outros.
Como resultado, chegou-se a um conjunto de indicadores, cujas características correspondem às quatro etapas do ciclo de vida do processo de Sistema de Produtos e Serviços SPS (1 produção e manufatura, 2 consumo e uso, 3 eliminação e descarte e 4 reciclagem e redesenho) (Manzini e Vezzoli, 2005; Souza, 2007; Fernandez e Bonsiepe, 2008). Após esta categorização, os indicadores foram subcategorizados em três dimensões da sustentabilidade: ambiental, social e econômica, na forma de um prontuário, conforme Quadro 1.
Da união dos critérios de seleção da estratégia e dos dados bibliográficos e documentais, identificaram-se metas e critérios que caracterizam os indicadores de sustentabilidade. Esta união subsidiou a elaboração do Quadro 2, que, simultaneamente, integra dados relevantes das quatro etapas do ciclo de vida do processo de SPS (1 produção e manufatura, 2 consumo e uso, 3 eliminação e descarte e 4 reciclagem e redesenho) a serem estudados (Manzini e Vezzoli, 2005, Souza, 2007, Fernandez e Bonsiepe, 2008). Após esta categorização, para aumentar a praticidade da aplicação, os indicadores são subcategorizados em três dimensões da sustentabilidade: ambiental, social e econômica.
O indicador PSR destacado por Quiroga (2001), Bellen (2005) e Gonçalves (2008) na revisão de literatura serviu para identificar a tipologia dos indicadores.
Definiram-se as dimensões a serem abrangidas e seus indicadores. Estes critérios foram relacionados ao procedimento metodológico na forma de prontuário (ver Quadro 1), a partir de seu surgimento na revisão de literatura e documental.
Os critérios de inclusão e exclusão estão representados no Quadro 2.
Aplicados os critérios de inclusão e exclusão, produziu-se o Quadro 3 referencial de resultados.
Com a organização desse quadro referencial, foram estabelecidas relações dos padrões e divergências dos produtos no contexto do desenho industrial.
Resultados e discussão
Esta proposição de indicadores foi dividida em quatro etapas do processo de desenho industrial, subdivididos em três dimensões de sustentabilidade (ambiental, social e econômica).
A caracterização está ajustada com a identificação dos IDS por nomenclatura, tipologia, unidade de medida, metodologia e periodicidade. Os indicadores divididos nos Quadros 4, 5, 6 e 7 são apresentados a seguir.
Os doze indicadores apresentados no Quadro 4 têm como objetivo acompanhar o ciclo de vida de produtos e serviços, observando sua longevidade. No Quadro 5 estão referidos os IDS para a segunda etapa do ciclo de vida de SPS. Os nove indicadores do Quadro 5 têm como características principais a multifuncionalidade e eficiência nos sistemas de logística para produtos e serviços.
O Quadro 6 apresenta os IDS da terceira etapa do ciclo de vida. Neste quadro, são mostrados seis IDS referentes à terceira etapa do ciclo de vida de sistemas de produtos e serviços. Estes IDS estão diretamente relacionados ao atendimento à Política Nacional de Resíduos Sólidos brasileira, instituída pela Lei Federal n.º 12.305/2010. Ressalta-se que a literatura das áreas de logística reversa e engenharia mais limpa, na terceira etapa, deve ser amplamente consultada.
O Quadro 7 apresenta cinco indicadores de sustentabilidade para a quarta etapa do ciclo de vida de produtos e serviços. Os IDS mostrados no Quadro 7 tratam do reúso de produtos, matérias-primas e serviços, pertinente no contexto do desenho industrial. De acordo com a revisão, a capacidade de planejar o ciclo de vida do produto pode reduzir de forma efetiva os fluxos de materiais e influenciar positivamente a redução de impactos ambientais do produto, e de futuros produtos que venham a ser constituídos.
Conclusão
Alguns IDS podem ser usados como ferramentas de monitoramento e avaliação dos processos inerentes ao desenho industrial, especialmente para auxiliar a construção de novos modelos e práticas de negócios, baseados na mudança da cultura de gestão. Quanto ao estado da arte da legislação e normas, nota-se um amplo acervo destinado às mais diversas atividades industriais, mas com carência de parâmetros de conformidade para a atividade do desenho industrial sustentável. Tais parâmetros devem abranger todas as etapas do ciclo de vida de produtos e serviços, sobretudo quando referente as questões ambientais. Indicadores confiáveis, atualizados, sistematizados, com continuidade temporal e comparáveis regional e internacionalmente são necessários para que a criação de novas políticas públicas se dê de uma forma adequada.
Ainda assim, a restauração de um equilíbrio ecológico, ou socioambiental, parece depender da capacidade da sociedade em reagir contra a progressiva materialização dos valores, na sua concepção de produção industrial. Portanto, é fundamental que a humanidade recupere sua capacidade de reflexão, resgatando outros critérios de racionalidade que não sejam a instrumentalização e o economicismo (Fernandes, 2010). E nesse contexto ressalta-se o papel do desenho industrial e suas intervenções nos padrões de produção e consumo que conduzam o processo do desenvolvimento sustentável, com a tarefa crucial de estimular o potencial criativo associado a dimensões mais reflexivas e menos tecnicistas, ainda que isso signifique uma sociedade tecnologicamente menos eficiente.
As metas elencadas em forma de lista têm em sua essência a lógica de que não há forma de realizar as consequências finais (ainda que subjetivas) sem o bom funcionamento dos sistemas natural, econômico e social. Ainda assim, a produção industrial, que visa reduzir a emissão de carbono, aumentar a eficiência na utilização de recursos e promover a intervenção planejada e a inclusão social, passa por desafios comunicacionais em todos os níveis e modalidades de governança, legislação, fiscalização e aprendizado no país.
Por fim, o maior desafio, percebido durante a análise e proposição dos indicadores, foi realizar um recorte adequado e coerente em relação a legislações e normas, uma vez que o escopo do desenho industrial está inserido no contexto do setor industrial. Este recorte limitou e condicionou a seleção dos indicadores, deixando de fora diversas legislações relacionadas a gestão socioambiental empresarial. Merece crítica, no caso do Brasil, a escassez dos casos de compilação de dados documentais nacionais, estaduais e municipais sobre indicadores de sustentabilidade no contexto do desenho industrial. E, sobretudo, a ausência de legislação nacional que reconheça e regulamente a profissão do desenhista industrial, até a data da conclusão desta pesquisa.
Referências bibliográficas
DARNALL, N.; SEOL, I. e SARKISET, J. (2009), «Perceived stakeholder influences and organizations use of environmental audits». Accounting Organizations and Society, 34. [ Links ]
DONATO, J.; KUBO, E.; PEREIRA, R. e OLIVA, E. (2013), «Repensando a lógica de avaliação de desempenho individual: Um estudo empírico em um Banco de Desenvolvimento no Nordeste do Brasil». Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão, vol. 12, n.º 4, out/dez, pp. 50-62. [ Links ]
FERNANDES, V. (2010), «Interdisciplinaridade: A possibilidade de reintegração social e recuperação da capacidade de reflexão na ciência». INTERthesis. Florianópolis, pp. 65-80. [ Links ]
FERNANDEZ, S. e BONSIEPE, G. (2008), História del Diseño en América Latina y el Caribe Industrialización y Comunicación Visual para la Autonomía. Blucher, São Paulo. [ Links ]
GMELIN, H. e SEURING, S. (2014), «Determinants of a sustainable new product development». Journal of Cleaner Production, 69. [ Links ]
GOMES, M. L.; MARCELINO, M. M. e ESPADA, M. (2000), Proposta para um Sistema de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável. Direção de Serviços de Informação e Acreditação, Direção Geral do Ambiente, Portugal. [ Links ]
HALEN, C. van; VEZZOLI, C. e WIMMER, R. (2005), Methodology for Product Service System. How to Develop Clean, Clever and Competitive Strategies in Companies. Van Gorcum, Assen. [ Links ]
HAMMOND, A.; ADRIAANSE, A.; RODENBURG, E.; BRYANT, D. e WOODWARD, R. (1995), Environmental Indicators: A Systematic Approach to Measuring and Reporting on Environmental Policy Performance in the Context of Sustainable Development. World Resources Institut, Washington, DC. [ Links ]
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2012), «Indicadores de desenvolvimento sustentável Brasil 2012». Estudos e Pesquisas Informação Geográfica, 9. ftp://geoftp.ibge.gov.br/documentos/recursos_naturais/indicadores_desenvolvimento_sustentavel/2012/ids2012.pdf. [ Links ]
INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION (2013), «ISO 20121: Event sustainability management systems Requirements with guidance for use». http://www.iso.org. [ Links ]
KRUCKEN, L. e TRUSEN, C. A. (2009), «Comunicação da sustentabilidade de produtos e serviços». In Cadernos de Estudos Avançados em Design. Design e Sustentabilidade. EdUEMG, Barbacena. [ Links ]
LESAMA, M. F. (2011), O Método IDEA (Indicadores de Sustentabilidade): Adaptação do Método à Agricultura Família. [ Links ]
LIMA, L. H. e MAGRINI, A. (2010), «The Brazilian Audit Tribunals role in improving the federal environmental licensing process». Environmental Impact Assessment Review, 30. [ Links ]
MALHEIROS, T. F.; PHILIPPI JR., A.; COUTINHO, S. e CARVALHO, F. (2004), Modelos para a Construção de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável para a Gestão e Gerenciamento de Resíduos. ICTR Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável e NISAM USP Núcleo de Informações em Saúde Ambiental da USP, Florianópolis. [ Links ]
Manzini, E. e Vezzoli, C. (2002), «Product-service systems and sustainability. Opportunities for sustainable solutions». http://www.unep.fr/scp/design/pss.htm. [ Links ]
MEADOWS, D. (1998), Indicators and Information Systems for Sustainable Development. A Report to the Balaton Group. The Sustainability Institute. [ Links ]
PERLIN, A. P.; GUEDES, G.; NUNES, M. e FERREIRA, P. (2013), «Indicadores de sustentabilidade da indústria de cortiça portuguesa». Revista Portuguesa e Brasileira de Gestão, vol. 12, n.º 3, jul/set, pp. 47-56. [ Links ]
MIRANDA, A. B. e TEIXEIRA, B. A. N. (2004), «Indicadores de sustentabilidade para os sistemas urbanos de água e esgoto: Escolha ampliada». Engenharia Sanitária Ambiental, vol. 9, n.º 4. [ Links ]
POLAZ, C. N. M. e TEIXEIRA, B. A. N. (2007), «Proposta de método para elaboração de indicadores de sustentabilidade para a gestão de resíduos sólidos urbanos». Congresso de Pós-Graduação, 4. Anais de Eventos da UFSCAR, São Carlos. [ Links ]
QUIROGA, R. M. (2011), Indicadores de Sostenibilidad Ambiental y de Desarrollo Sostenible: Estado del Arte y Perspectivas. División de Medio Ambiente y Asentamientos Humanos. Serie Manuales, CEPAL, Organização das Nações Unidas, Chile. [ Links ]
SACHS, I. (1986), Espaços, Tempos e Estratégias do Desenvolvimento. Vértice, São Paulo. [ Links ]
SACHS, I. (2002), Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. Garamond, Rio de Janeiro. [ Links ]
SOUGAREVA, N. (2000), «Relatório Técnico Para um perfil da sustentabilidade local Indicadores comuns europeus». Direção Geral do Ambiente, Comissão Européia, Alemanha. [ Links ]
SOUZA, P. F. de A. (2007), «Sustentabilidade e Responsabilidade Social no Design do Produto: Rumo à Definição de Indicadores». Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo. [ Links ]
VAN BELLEN, H. M. (2005), Indicadores de Sustentabilidade: Uma Análise Comparativa. Editora FGV, Rio de Janeiro. [ Links ]
VEZZOLI, C. e Manzini, E. (2008), «Review: Design for sustainable consumption and production systems». In A. Tukker, M. Charter, C. Vezzoli, E. Sto e M. Andersen (EE.), System Innovation for Sustainability 1. Perspectives on Radical Changes to Sustainable Consumption and Production. Greenleaf Publishing, Sheffield. [ Links ]
WILSON, L. (2009), «A practical method for environmental impact assessment audits». Environmental Impact Assessment Review, 18. [ Links ]
UNITED NATIONS (1992), «Agenda 21. Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento». http://www.un.org/geninfo/bp/enviro.html. [ Links ]
Recebido em dezembro de 2014 e aceite em junho de 2015.
Received in December 2014 and accepted in June 2015.
Recibido en diciembre de 2014 y aceptado en junio de 2015.