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Revista Lusófona de Educação

versão impressa ISSN 1645-7250

Rev. Lusófona de Educação  no.27 Lisboa set. 2014

 

EDITORIAL

Editorial

 

António Teodoro, José V. Brás & Maria Neves Gonçalves

 

1. Como é do conhecimento dos nossos mais assíduos leitores, a Revista Lusófona de Educação (RLE) é editada pelo Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED), na sua atual designação. O CeiED é uma unidade de I&D inserida no sistema científico português tutelado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e que tem a Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia como instituição de acolhimento. Como todas as Unidades de I&D portuguesas, o CeiED encontra-se em processo de avaliação pela European Science Foundation, cujos resultados finais para as unidades que transitaram para a 2ª fase (como foi o caso do CeiED) serão conhecidos no início de 2015.

O CeiED tem a sua origem num centro de Educação e Formação, a que se associaram, após alguns anos de projetos conjuntos, investigadores das áreas da geografia humana, museologia e urbanismo. O valor acrescentado do CeiED resulta de uma síntese inovadora entre interesses de I&D de investigadores com formações distintas – educadores, sociólogos, psicólogos, historiadores, urbanistas, arquitetos, geógrafos, mas todos ligados por um mesmo propósito de construir conhecimento que permita o Desenvolvimento Humano. Educação, Memória e Território são três dimensões fundamentais dos objectivos de coesão económica, social e territorial, e de luta contra as desigualdades e o respeito pelas diferenças.

A coesão económica, social, cultural e territorial constitui a principal orientação estratégica da atividade do CeiED, que tem na ligação entre a educação, o urbanismo, a museologia e a geografia, os meios para responder a problemas de nossas sociedades, marcadas pelo aumento das desigualdades e do desemprego dos jovens, por sérias ameaças ao Estado Social e a conquistas sociais, económicas, culturais e educativas, duramente conquistadas desde o final do século XIX. É entendimento dos seus investigadores que as ciências sociais (e os cientistas sociais) têm um papel a desempenhar, contribuindo com a pertinência do seu conhecimento para o desenvolvimento de políticas públicas socialmente justas e inclusivas.

A definição da coesão social como a orientação estratégica do CeiED, nas suas dimensões próprias de uma Unidade de I&D que tem as Ciências da Educação como a sua área principal, e a Geografia, o Urbanismo e a Museologia com suas outras áreas, implica o reforço de uma sociologia pública que articule investigação com intervenção na realidade social, económica, educativa e cultural. Desta opção decorre o objectivo central de estudar e investigar as diferentes dimensões da educação na sua interação com a territorialidade, a museologia e a memória.

Desta opção estratégica decorrem três palavras-chave para a atividade do CeiED, na sua estreita ligação com a Educação e o Desenvolvimento Humano: justiça social, cidadania global e sociologia pública. A RLE assume um lugar destacado neste projeto académico e científico (e também cívico), ao permitir um diálogo entre cientistas da educação e formação e destes com públicos mais vastos. Onze anos depois da sua criação, continua a ser esta a matriz da Revista Lusófona de Educação.

2. No cumprimento do nosso trabalho, lançamos um novo desafio à reflexão dos leitores. Continuamos a dar novos passos na expectativa de melhor oferecermos uma revista que contribua para promover uma cultura científica democrática. A vossa participação é a nossa razão de existir e é simultaneamente condição indispensável para elevarmos o nosso padrão de qualidade. Estamos gratos pela colaboraçao que nos têm prestado ao longo de todos estes anos. Quremos e desejamos continuar a fortalecer a ligação da revista com autores e leitores. Queremos e desejamos construir convosco uma revista que corresponda a esta nova etapa que agora se abre ao CEIED.

Este número apresenta ao leitor uma pluralidade de abordagens temáticas: artigos sobre políticas educativas e ensino superior politécnico, bem como textos que priorizam o enfoque disciplinar desde o português, ao desenho técnico e às artes.

No artigo, Associações de pais e política educativa municipal: redes em construção, as autoras, Marisa Silva, Alexandra Doroftei, Eunice Macedo, Isabel Costa, Florbela Sousa & Helena C. Araújo, apresentam os resultados de um projeto de investigação, cujo foco principal é indagar o impacto da intervenção e envolvimento dos municípios portugueses na comunidade. Através da auscultação das Associações de Pais e Encarregados de Educação de agrupamentos de escolas do ensino básico, as autoras concluem que o município é perspectivado como um parceiro central e fundamental no âmbito da educação, colaborando com as escolas e com as entidades locais no combate ao insucesso e ao abandono escolares.

Pedro Abrantes & Ana Teixeira, em A intervenção socioeducativa em territórios marginalizados: agentes de desenvolvimento local ou da ordem escolar? discutem as representações e práticas geradas pelo Programa Territórios Educativas de Intervenção Prioritária (TEIP), no âmbito da relação entre escola e comunidade. O estudo permitiu observar como os projetos TEIP e os gabinetes socioeducativos têm sido orientados para um reforço do trabalho de integração, orientação e acompanhamento dos alunos em situações de indisciplina e/ou de abandono escolar, sendo reconhecido pelas comunidades educativas o seu impacto positivo, sobretudo, na pacificação das relações no espaço escolar. Em A autoaprendizagem no ensino superior e a aprendizagem baseada na resolução de problemas: perspetivas e questões, Rui Trindade construiu o seu texto a partir da análise de conteúdo de 37 artigos publicados, entre 2000 e 2010, em seis revistas científicas de ampla difusão na comunidade académica internacional que abordam o modelo da Aprendizagem Baseada na Resolução de Problemas (ABRP). O autor mostra como a reflexão sobre o papel do professor no modelo da ABRP se torna necessária e indispensável até para aprofundar o debate sobre a autoaprendizagem como objetivo académico.

No artigo Das competências em gestão da qualidade à aprendizagem organizacional em contexto de ensino superior politécnico, Henrique Lopes Pereira & Luís Carvalho desenvolveram este estudo com sujeitos docentes e não docentes de instituições de Ensino Superior Politécnico, com o objetivo de construir um modelo explicativo da relação das competências de gestão da qualidade.

Margarida Marta, Amélia Lopes, Fátima Pereira & Maria Madalena Januário Leite assinam o artigo A relevância profissional da formação de professores e enfermeiros no ensino superior: uma análise a partir das identidades dos formadores. O estudo foi realizado com formadores dum curso de enfermagem e de um curso de formação de professores tentando identificar o que une e o que distingue os formadores do campo da formação e do campo da ação profissional, e como cada campo profissional influi nessas relações. Evolução do desenho técnico e a divisão do trabalho industrial: entre o centro e a periferia mundial é o título do artigo assinado por Ana Rita Sulz & António Teodoro. Os autores pretendem conhecer os fatores que condicionam o lugar do Desenho Técnico na Educação de países como Portugal e Brasil, que ocupam a semiperiferia do Modern World-System. Relacionaram a evolução do Desenho Técnico com a organização da divisão do trabalho industrial e concluíram pela importância do Desenho, enquanto conhecimento relevante, para o desenvolvimento da produção capitalista.

Marilda Oliveira de Oliveira em Diário de aula como instrumento metodológico da prática educativa apresenta uma reflexão sobre a produção do diário de aula como instrumento metodológico no estágio curricular supervisionado em artes visuais. A partir do material analisado foi possível concluir que produção do diário da prática pedagógica assume grande relevância para o processo formativo dos docentes

O papel da Educação em Português na promoção e difusão da língua – um estudo com um grupo de estagiárias foi o título dado por Maria Helena Ançã, Maria João Macário, Tatiana Guzeva & Belinda Gomes a este estudo centrado nas questões políticas da língua portuguesa. As constatações das autoras vão ao encontro da “política de multilinguismo” da Comissão Europeia, para melhorar competências interculturais e linguísticas e favorecer a integração social e a compreensão entre culturas.

Marcelino Leal & Isabel Sanches, no artigo Português para todos: a aprendizagem da Língua portuguesa como facilitadora da Interculturalidade e da Inclusão social e educativa, abordam a temática da aprendizagem da Língua Portuguesa por parte de falantes adultos de outras línguas, assim como a sua inclusão social assente em relações interculturais em variadas situações do quotidiano. Trata-se de uma temática emergente dado o atual movimento migratório bem como os debates em torno da problemática da inclusão dos cidadãos portadores de deficiência.

No artigo Panorama das políticas públicas na educação brasileira: uma análise das avaliações externas de sistemas de ensino, Flávia Obino Corrêa Werle discute a educação brasileira, destacando os processos de avaliação em larga escala implementados nas décadas de 1990 e 2000. A autora refere que o panorama das políticas educacionais evidencia também a emergência de tecnologias digitais na administração da educação e a centralização do controle que elas proporcionam.

Por fim, António Pedro Costa, Maria João Loureiro & Luís Paulo Reis no artigo Do Modelo 3C de Colaboração ao Modelo 4C: Modelo de Análise de Processos de Desenvolvimento de Software Educativo descrevem o modelo 3C de colaboração e a sua evolução para o modelo 4C e mostram como este modelo tem como objetivo analisar e propor melhorias a processos de desenvolvimento de software, essencialmente educativo.

Na rubrica Recensões, José Beltrán Llavador analisa a obra European and Latin American Higher Education Betwwen Mirrors. Conceptual Framewoks and Policies of Equity and Social Cohesion, organizada por António Teodoro & Manuela Guilherme. Esta obra não só reúne controvérsias como também se serve delas para oferecer um marco conceptual que auxilia as explicações das mudanças que estão alterando os papéis e as funções das instituições de ensino superior na Europa e na América Latina. Diz-nos Beltran que este livro não é uma obra de intervenção nem tem uma finalidade normativa, mas é seguramente uma obra de advertência. Este livro que conta com a participação de vários autores constitui uma crítica à educação superior que tem sido seguida pelo dogmatismo de políticas educativas sequestradas pela racionalidade economicista. Como refere Beltran esta obra ajuda-nos e arma-nos de razões cívicas, de epistemologias alternativas para a construção do bem-comum.

No cumprimento de uma das rubricas da política editorial da Revista Lusófona da Educação, divulgam-se, neste número, alguns resumos de Teses de Doutoramento defendidas no Instituto de Educação da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.

S. Paulo & Lisboa, Setembro de 2014