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Relações Internacionais (R:I)
versão impressa ISSN 1645-9199
Relações Internacionais n.20 Lisboa dez. 2008
A União Europeia e a Rússia após a crise da Geórgia o fim do paradigma do «pós-Guerra Fria»
João Marques de Almeida*
As relações com a Rússia constituem uma prioridade estratégica para a União Europeia em termos geopolíticos, económicos e energéticos. Para compreender a evolução e tendência destas relações importa analisá-las, primeiro, à luz do paradigma do «pós-Guerra Fria» e, depois, através da construção de um novo paradigma que assenta no confronto ideológico e doutrinal das diferentes visões da Europa da União Europeia e da Rússia. O conflito na Geórgia marca o colapso do paradigma do «pós-Guerra Fria», evidencia as posições distintas entre a Rússia e a União Europeia e a revisão da ordem regional pela Rússia.
Palavras-chave: União Europeia, Rússia, crise na Geórgia, Guerra Fria
Russia and the EU after the Georgian crisis. The end of the Post Cold War paradigm
Relations with Russia are a strategic priority for the European Union in terms of geopolitics, economics and energy supplies. To understand their evolution, it is important to see them first through the Post Cold War paradigm and then through the new paradigm built upon the ideological confrontation of the eus and Russias views of Europe. The Post Cold War paradigm came to an end with the conflict in Georgia when Russia showed its willingness to change the European regional order and thus made clear how much the views of the EU and Russia have come apart.
Keywords: European Union, Russia, Georgian crisis, Cold War
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NOTAS
1 Para uma boa introdução sobre as relações entre a ue e a Rússia, cf. BARYSCH, Katinka The EU and Russia: Strategic Partners or Squabbling Neighbours?. Londres: Center for European Reform, 2004. [ Links ]
2 A ratificação e entrada em vigor do apc foi adiada para 1997 como forma de protesto contra o excessivo e desproporcionado uso da força pelas forças russas na primeira guerra da Tchetchénia.
3 Cf. LIGHT, Margot, e ALLISON, Roy «The place of Europe in Russian foreign policy». In ALLISON, Roy, LIGHT, Margot, e WHITE, Stephen Putins Russia and the Enlarged Europe. Londres: Chatham House, 2006, pp. 1-20.
4 Para uma análise crítica sobre o modo como o Ocidente lidou com a fraqueza russa, cf. SIMES, Dimitri K. «Losing Russia». In Foreign Affairs, Novembro-Dezembro de 2007.
5 Cf. LIGHT, Margot «Russian political engagement with the European Union». In ALLISON, Roy, LIGHT, Margot, e WHITE, Stephen Putins Russia and the Enlarged Europe, pp. 45-71.
6 HASSNER, Pierre «Russias transition to autocracy». In Journal of Democracy, Abril de 2008.
7 Ver análise em WHITE, Stephen «The domestic management of Russias foreign and security policy». In ALLISON, Roy, LIGHT, Margot, e WHITE, Stephen Putins Russia and the Enlarged Europe, pp. 21-44.
8 O grande alargamento foi depois concluído, em Janeiro de 2007, com a adesão de mais dois antigos membros do Pacto de Varsóvia, a Bulgária e a Roménia.
9 Cf. BARYSCH, Katinka The EU and Russia: Strategic Partners or Squabbling Neighbours?, pp. 17-19.
10 Citados em LIGHT, Margot «Russian political engagement with the European Union», p. 51.
11 Simultaneamente, a revolução na Ucrânia mostrou mais uma vez o perigo que a unidade transatlântica constitui para a Rússia e reforçou igualmente a necessidade de acentuar as divisões entre europeus e americanos.
12 Citado em SESTANOVICH, Stephen «What has Moscow done?». In Foreign Affairs, Novembro-Dezembro de 2008, p. 27.
13 LIEVEN, Dominc Empire: The Russian Empire and Its Rivals. Londres: Yale University Press, 2000, pp. 259-261.
14 Tal como de resto acontecia na União Soviética.
15 A expressão «guerra dos cinco dias» é de KING, Charles «The Five-Day War: managing Moscow after the Georgia crisis». In Foreign Affairs, Novembro-Dezembro de 2008.
16 ASMUS, Ronald «NATOs hour». In The Wall Street Journal Europe, 18 de Agosto de 2008.
17 EMERSON, Michael «Post-mortem on Europes First War of the 21st Century». In CEPS Brief, Agosto de 2008.
18 KING, Charles «The Five-Day War: managing Moscow after the Georgia crisis».
19 Para uma análise equilibrada, mas igualmente crítica de ambas as partes, cf., ANTONENKO, Oksana «A war with no winners». In Survival, Outubro-Novembro de 2008.
20 Cf. EMERSON, Michael «Post-mortem on Europes First War of the 21st Century»; e KRASTEV, Ivan «Russia and the Georgia War: the great-power trap». In Open Democracy, Agosto de 2008.
21 A análise mais detalhada e bem informada encontra-se em LUDLOW, Peter «The eu and the Georgian crisis: the making of the French Presidency». In Eurocomment, Setembro de 2008.
22 Antonenko, por exemplo, julga que seria o mais provável. Cf. ANTONENKO, Oksana «A war with no winners».
23 Ivan Krastev tem desenvolvido um trabalho muito interessante que vai neste sentido. Cf. «The eu, Russia and the crisis of the post-Cold War European order». In Europes World, Verão de 2008; e «Russia and the European order». In The American Interest, Novembro-Dezembro de 2008.
24 Cf. WHITE, Stephen «The domestic management of Russias foreign and security policy», pp. 21-44; e WHITE, Stephen «Russia and Europe: the public dimension», pp. 130-159, em ALLISON, Roy, LIGHT, Margot, e WHITE, Stephen Putins Russia and the Enlarged Europe.
25 Juntamente com o trabalho de Krastev, cf. igualmente KAGAN, Robert The Return of History and the End of Dreams. Londres: Atlantic Books, 2008.
* Os argumentos aqui defendidos não vinculam de modo algum a Comissão Europeia ou o seu presidente. Exprimem apenas as posições do autor.