SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número35Tucídides no século xx?: Teoria e praxeologia em Raymond AronPaix et guerre entre les nations que lições para os europeus? índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Relações Internacionais (R:I)

versão impressa ISSN 1645-9199

Relações Internacionais  no.35 Lisboa set. 2012

 

Raymond Aron e a sociologia das relações internacionais

Raymond Aron and the sociology of International Relations

 

Jean-Vincent Holeindre

Mestre em Ciência Política na Universidade Panthéon-Assas (Paris-II ). Investigador associado do Centre D’études Sociologiques et Politiques Raymond-Aron da ehess onde prepara a sua tese de doutoramento. É membro do Institut Michel Villey pour la Culture Juridique et la Philosophie du Droit (Paris-II-II-II). Os seus trabalhos de investigação centram-se na filosofia política, nas relações internacionais e nos estudos estratégicos. Coordenou o número especial sobre Raymon Aron da revista Études Internationales e prepara uma obra sobre a história do pensamento estratégico na Europa.

 

RESUMO

O pensamento internacional e estratégico de Raymond Aron é indissociável da sua própria filosofia crítica da história, nos termos em que a concebeu nos anos de 1930, após ter passado uma temporada na Alemanha. Marcado pelo filósofo pacifista Alain, Aron converte-se ao realismo que é posto à prova pelas guerras do século xx. Não se deve contudo assimilar Aron sem mais nem menos ao estrito realismo anglo-americano de Hans Morgenthau e Kenneth Waltz. Oposto à construção de uma teoria geral das relações internacionais assente na modelização, é arauto de uma sociologia histórica de inspiração weberiana, procurando tornar intelegível a cena internacional na complexidade que lhe é própria.

Palavras-chave: Raymond Aron, relações internacionais, sociologia, teoria

 

ABSTRACT

Raymond Aron’s international and strategic thought is inextricably linked to his own critical philosophy of history, as he conceived it in the 1930s, after spending a period of time in Germany. Influenced by pacifist philosopher Alain, Aron is converted to realism, which is put to the test by the 20th century wars. It is not advisable, however, to associate Aron tout court to the strict Anglo-american realism of Hans Morgenthau and Kenneth Waltz. Against the construction of a general theory of International Relations based on model-building, he is the harbinger of a historical sociology of Weberian inspiration, seeking to render the international scene intelligible in its peculiar complexity.

Keywords: Raymond Aron, International Relations, sociology, theory

 

Em 1962, é publicada Paix et guerre entre les nations1. Trata-se da obra maior de Raymond Aron inteiramente dedicada à temática das relações internacionais. Passados cinquenta anos, cabe-nos perguntar se o pensamento internacional e estratégico de Aron ainda tem algo que nos possa transmitir à luz dos dias de hoje? Eserá que quer a figura quer a obra continuam a nutrir e a inspirar os investigadores em relações internacionais? Em meio século, as Relações Internacionais registaram progressos notórios, desde logo como disciplina, tendo-se desenvolvido numerosos programas de pesquisa e aberto múltiplos «debates» de onde brotaram novos paradigmas, pense-se no construtivismo e no transnacionalismo, que vieram desafiar as teorias realista e liberal, de que Aron mais se aproxima. Nesse contexto, poderá ele ser considerado um «clássico» do pensamento internacional? Tal como Morgenthau, Waltz, Doyle ou Wendt, pese embora Aron não elabore nenhuma teoria geral das relações internacionais, em que tão-pouco acredita. De igual modo, importa perguntar se em plena era dos conflitos «fluidos», da economia globalizada e do terrorismo internacional ainda vale a pena ler um autor cuja biografia está tão estreitamente ligada aos conflitos interestatais do século xx, e em particular à Guerra Fria, um período doravante fechado? Pois então, o que perdurará, em 2012, desse Raymond Aron, o pensador das relações internacionais2?

 

DA FILOSOFIA DA HISTÓRIA ÀS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Jornalista e universitário, filósofo e sociólogo, pensador das relações internacionais e observador da vida política francesa, Raymond Aron pode deixar a impressão de ser um curioso cuja obra se caracteriza pela dispersão. Logo, o que têm em comum as suas obras sobre as relações internacionais (Le Grand débat, Paix et guerres entre les nations, Penser la guerra, Clausewitz…) e os seus livros sobre a história do pensamento sociológico (Les étapes de la pensée sociologique), a esquerda intelectual (L’opium des intellectuels) e a sociedade industrial (Les désillusions du progrès)? O caráter aparentemente heteróclito da obra aroniana dificulta a sua inclusão num mero campo académico, sobretudo quando, como na atualidade, se impõem às ciências sociais áreas demarcadas de especialização.

Em boa verdade, o pensamento internacional de Aron mantém uma estreita ligação com o remanescente da sua obra, dependente de uma certa visão da história e da política cuja formulação já decorre da sua tese de doutoramento, intitulada Introduction à la philosophie de l’histoire e dada à estampa em 19383. Aron considera a política e, mais especificamente, a política internacional, no quadro de um projeto teórico – pensar como se vai fazendo o desenrolar da história –, um pressuposto fundador da sua tese. Nesse primeiro trabalho, procura criar uma filosofia crítica da história que não depende de uma visão determinista e teleológica, mas que tem por objetivo salientar o papel desempenhado pela liberdade na ação humana. Aliás, mais tarde, Aron há de considerar ser possível fundar uma ciência política no intuito de compreender a realidade e, por essa via, esclarecer o juízo do cidadão e do decisor. Conhece-se a célebre frase de Marx, de que Aron é leitor assíduo, numa posição simultaneamente crítica e admirativa: «Os homens fazem a história, mas não o fazem como querem...». Aron deseja que os homens percebam melhor a história que fazem e disponham de um saber positivo sobre a política, permitindo esclarecer a sua ação, nomeadamente quanto as escolhas relativas à política externa e à estratégia militar. O Aron teórico da política não é dissociável do «espectador comprometido» que pretendia ser, e o seu gosto pela política é determinado por uma preocupação: entender a ação humana na história, assim como iluminar a política tal como é vivida e praticada pelos responsáveis políticos e pelos cidadãos.

Nesse sentido, não se pode perceber o interesse de Aron pelas questões internacionais e estratégicas sem começar por situá-lo no seu século, um século xx destroçado pela guerra. Nascido em 1905, morre em 1983. Tem uma vida que se confunde com os conflitos do século passado. O seu primeiro artigo, publicado em 1934, na revista científica Revue de Métaphysique et de morale – refere-se à objeção de consciência, e a sua derradeira grande obra teórica, publicada em 1976, é um livro dedicada a um dos expoentes do pensamento militar europeu: o estratega prussiano Clausewitz4.

Quando escreveu esse artigo sobre objeção de consciência, Aron ainda estava profundamente marcado pelo pensamento político de Alain, cujo pacifismo e, em geral, sobreaviso em relação ao poder é sobejamente conhecido. Aron está então a converter-se ao realismo político, na sequência de uma estada na Alemanha para onde partiu no início da década de 1930 em busca de um tema para a sua tese. Começou por lecionar em Colónia e depois em Berlim, entre 1930 e 1933, assiste à ascensão do nazismo e fica-lhe a sensação de não possuir as ferramentas necessárias para compreender o que está a ocorrer. Apaixonado por política, lamenta que a sua formação universitária, tendo feito dele um bom professor de filosofia, não lhe baste para ter uma compreensão cabal dos acontecimentos políticos que o afetam diretamente, na sua vida de homem e de cidadão. Profundamente marcado pelas fraturas da história, Aron determina para si próprio a tarefa de compreendê-las melhor.

A temporada na Alemanha escancara o olhar do cidadão e do pensador. Para além da política e da história na dimensão trágica que comportam, Aron descobre do outro lado do Reno tanto a sociologia como a filosofia da história alemã, representadas por autores como Max Weber (1864-1920) e Heinrich Rickert (1863-1936), respetivamente. Através da sua leitura, Aron pretende aproximar-se de uma compreensão autêntica da história e da sociedade. Na sua perspetiva, a sociologia histórica alemã representa, por um lado, uma alternativa à filosofia marxismo, postulando a priori um sentido da história, e, por outro, à sociologia durkheimiana, fortemente implantada em França, destacando a sociedade em detrimento dos indivíduos que a compõem. Aron considera ambas essas perspetivas insatisfatórias dado subestimarem o poder da liberdade humana assim como o papel dos indivíduos na história. Ao reabilitar a liberdade individual contra o holismo durkheimiano, quando em 1938 defende a sua tese, Aron suscita a reprobação dos seus professores, plenamente rendidos à causa do pai da sociologia francesa. Quando regressa da Alemanha, efetivamente Aron já não é o mesmo homem, nem sequer o mesmo pensador: o professor de filosofia transmutou-se em pensador político; ao estudante pacifista dos tempos da ens sobrepõe-se doravante o teórico realista que agora pretende pensar a guerra em vez de se cingir a denunciá-la.

Durante a II Guerra Mundial, Raymond Aron encontra-se em Londres junto do general De Gaulle. Torna-se um dos quadros da revista da Resistência: La France libre. Nesse âmbito, redige numerosos artigos sobre os acontecimentos em curso e esforça-se por perceber a parada subjacente ao conflito, expressando ao mesmo tempo o seu empenhamento à causa da liberdade democrática perante os totalitarismos. Nesse altura, inicia-se verdadeiramente no pensamento estratégico e no estudo das relações internacionais. Encontram-se vestígios dessas análises num compêndio de artigos seus editados no La France libre, publicado logo a seguir à guerra e intitulado L’Homme contre les tyrans5.

Findo o conflito, Raymond Aron continua nessa senda e publica duas obras de análise sobre a situação mundial: Le Grand Schisme (1948) e Les Guerres en chaîne (1951). Desde o início da Guerra Fria, é dos primeiros observadores a destacar a especificidade desse conflito, criando inclusive a celebrizada fórmula: «Paz impossível, guerra improvável.» Com efeito, Aron explica que entre os dois grandes vencedores da II Guerra Mundial, os Estados Unidos e a urss, a paz é impossível porque há uma oposição ideológica radical entre o liberalismo americano e o comunismo soviético. Contudo, a guerra é improvável porque os dois «Grandes» estão agora na posse da arma atómica cuja capacidade de destruição ficou bem patente em Hiroxima e Nagasáqui, em 1945. A bomba atómica alterou por completo o panorama estratégico na medida em que, de ora em diante, se tornava possível aniquilar o planeta inteiro pelo facto de premir um simples botão. O mundo entra então no ciclo da dissuasão nuclear e «o equilíbrio do terror», teorizado pelo estratega americano da Rand Corporation, Albert Wohlstetter, cujas teses Aron se encarrega de introduzir em França no Le Grand débat. Introduction à la stratégie atomique (1963). Aron explica que a França se deve aliar aos Estados Unidos no intuito de ficar protegida pelo guarda-chuva nuclear americano, desdobrado sob a alçada da Organização do Tratado do Atlântico Norte (nato). Nesse ponto, opõe-se a De Gaulle que, mal volta ao poder em 1958, aposta na independência estratégica da França em relação aos Estados Unidos, nomeadamente em matéria nuclear6.

Ao tempo, Aron é um dos principais defensores da democracia americana e um crítico acérrimo do regime soviético7. Nesse contexto intelectual muito clivado, entre oponentes liberais (nos quais se inclui Aron) e socialistas (apoiados entre outros por Jean-Paul Sartre, seu condiscípulo em Normale Sup8), destina quase todas as suas farpas aos soviéticos, culpados, na sua perspetiva, de privarem os cidadãos de liberdade em nome de um ideal de igualdade. Ora, para Aron, nada justifica que se tire aos homens a sua liberdade, nem sequer o mais nobre objetivo. Entende que o coletivismo socialista está vetado ao fracasso pois esquece que, no mundo moderno, são os indivíduos quem faz da sociedade uma entidade simultaneamente livre e ordenada9. A ordem social não se impõe de cima, através do aparelho de Estado. De igual modo, no entender de Aron, os socialistas estão equivocados na sua pretensão de transpor a paz perpétua no mundo, porque a condição humana se nutre do conflito e da fragmentação das ordens políticas em nações privadas.

 

UMA TEORIA SOCIOLÓGICA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Paralelamente, a sua eleição como professor de Sociologia na Sorbonne, em 1955, consagra, após vários anos dedicados ao jornalismo, o regresso de Aron à teoria. É dessa época o seu novo repto de grau equiparável ao da sua primeira tese de doutoramento sobre filosofia da história. Projeto através do qual visa sistematizar a sua abordagem das relações internacionais e da guerra em forma de um tratado, que publica em 1962 sob o título Paix et guerre entre les nations10. Com esta obra, Raymond Aron almeja impor em França um campo específico da ciência política, as relações internacionais, que se havia implantado desde há muito no mundo anglo-americano, mas que na instituição universitária francesa havia sido arrebatado pelos historiadores e juristas. Enquanto Raymond Aron, pela sua parte, advoga em prol de uma teoria sociológica das relações internacionais: não se trata somente de estudar a história militar e diplomática, ou ainda as regras jurídicas que estruturam a ordem internacional, mas sim de analisar as relações que se entretecem ao nível dos diversos atores que compõem o «sistema internacional». Para Aron, não é possível fundar uma teoria «geral» ou sistemática das relações internacionais, comparável às teorias económicas; tão-só uma sociologia histórica estaria habilitada a fazer juz ao inesperado e à surpresa que caracterizam a vida internacional11. Explica a sua posição em muitos artigos ainda hoje citados pelos internacionalistas da atualidade12.

A teoria sociológica de Raymond Aron é, também e sobretudo, uma teoria política colocando o Estado no centro da análise, entidade que no seu entender constitui o ator central da cena internacional, pois detém o monopólio sobre os assuntos militares13. Na ausência de um governo mundial, Aron considera que os estados vivem permanentemente «à sombra da guerra». Duas figuras estruturam as relações interestatais: o diplomata, que representa o Estado em tempo de paz; o soldado, que arvora as cores da nação em tempo de guerra. Aron encara dessa forma as relações que se mantêm entre os estados, na paz (pelo jogo das diplomacias) como na guerra (onde se destacam os soldados e estrategas). A sua obra decompõe-se em duas grandes fases. As duas primeiras partes apresentam os instrumentos teóricos e as regularidades sociológicas que permitem analisar as relações internacionais, sejam quais forem as circunstâncias. Na sequência da obra, a teoria é colocada à prova da história da Guerra Fria, Aron convida por fim o seu leitor a uma «praxeologia», pela qual se procura «pensar e agir com o firme propósito de que a ausência de guerra se prolongue até ao dia em que a paz se torne possível – supondo haver essa viabilidade, um dia»14.

O último grande repto teórico de Raymond Aron encena um «pico» do pensamento estratégico: o estratega prussiano Clausewitz, que entende reabilitar com Penser la guerre, Clausewitz15. A obra organiza-se em dois volumes: o primeiro, A idade europeia, dedica-se a reconstituir com minúcia o pensamento político e militar do estratega prussiano; o segundo, A idade planetária, interroga-se sobre a sua posteridade, num contexto em que a guerra assume múltiplas formas. A seguir à II Guerra Mundial, a guerra dita «clássica» entre os estados parece ser de facto suplantada pela ameaça de um apocalipse nuclear, mas também pelas «guerrilhas» e «guerras populares», nomeadamente entre os impérios europeus (França, Inglaterra) e as nações colonizadas que aspiram à liberdade. Nesta obra, Aron é movido pela ambição de pensar a natureza da guerra enquanto filósofo, reconhecendo, a par disso, na pele do sociólogo, a diversidade das suas formas respetivas. De igual modo, Aron está convencido que, quando da redação do tratado, Clausewitz hesita entre duas visões da guerra: a guerra como «duelo», podendo desembocar na «escalada a extremos»; a guerra como instrumento da política. Para Aron, no final da sua vida Clausewitz opta pela segunda: tendo-se esgotado a via diplomática, a guerra seria antes de mais um meio para resolver um conflito recorrendo às armas. Nesse sentido, o papel do governante consiste em adaptar os meios militares aos fins políticos, e, portanto, em identificar muito precisamente o tipo de guerra com que se depara16.

Esta derradeira grande obra teórica faz ecoar a primeira tese de doutoramento de Aron, na qual o autor se confrontava com as filosofias alemãs da história. Aron, o internacionalista e o «estratega», coloca-se na linha reta de Aron, o filósofo crítico da história, nascido na Alemanha dos anos 1930. Quando se interessa pelas relações internacionais e pela guerra, fá-lo no prisma de uma teoria da ação política tão ambiciosa quanto consciente dos seus limites, que combina os contributos de diferentes ciências sociais para alcançar maior inteligibildade dos fenómenos observados. O seu pensamento das relações internacionais e da guerra enquadra-se no projeto mais abrangente de uma sociologia histórica, focada em proporcionar uma visão inteligível e coerente da aventura humana que é feita de cooperação e conflito.

 

UMA POSTERIDADE FECUNDA E CONTROVERSA

Este esboço relativamente ao percurso de Aron leva-nos a fornecer alguns elementos sobre as críticas de que a sua obra de internacionalista foi objeto. A esse respeito, convém desde logo notar que o estudo das relações internacionais é sem dúvida a área em que a posteridade de Raymond Aron é ao mesmo tempo a mais fecunda e a mais controversa. Fecunda porque Paix et guerre entre les nations e Penser la guerre, Clausewitz constituem a par de Introduction à la philosophie de l’histoire, as obras teóricas de Aron mais citadas e comentadas. Controversa porque se todos os leitores de Aron, o internacionalista, concordam em vê-lo como pioneiro da disciplina das relações internacionais em França, uns são da opinião que o seu pensamento mantém toda a pertinência apesar das evoluções conjunturais, outros, ao invés, acham-no irremediavelmente ultrapassado17.

No quadro do presente artigo, não nos é exequível apreciar em pormenor a receção contrastada da obra de Aron. Em contrapartida, podemos contribuir para esclarecer os elementos essenciais nela envolvidos, partindo de um debate hoje amiúde descurado, e que a revista Annales organizou por ocasião da publicação de Paix et guerre entre les nations, em 1962. Algo particularmente interessante porquanto permite não somente questionar o pensamento internacional de Aron mas ainda, mais geralmente, o procedimento científico que determinou a sua construção. De facto, o debate intitula-se «Pour ou contre une politicologie scientifique», título por si só bastante significativo, e incide sobre as condições que possibilitariam uma ciência da política e, mormente, das relações internacionais18. Fernand Braudel, o historiador da «longa duração» ou tempo longo, e à época diretor da revista, introduziu o debate perguntando-se «se seria possível reintegrar nos quadros de uma investigação científica [itálico do autor] a história diplomática e política, ondeante, refúgio de paixões e juízos gratuitos»19. Segue-se uma compilação de contribuições emanando de pesquisadores externos à ciência política, no essencial historiadores (Victor Leduc, Annie Kriegel, Bertrand Renouvin), filósofos (François Châtelet, Bertrand de Jouvenel) e um sociólogo (Alain Touraine).

As críticas mais interessantes, à luz do debate aberto por Braudel, são aquelas proferidas por François Châtelet e Alain Touraine. O primeiro saúda a ambição aroniana por querer fundar uma «ciência da guerra e da paz, inserida numa ciência mais ampla das relações internacionais que, por sua vez, é um capítulo de uma ciência política global20. Situa claramente o procedimento seguido por Aron na esteira de uma teoria política aplicada às relações internacionais, integrando-se Paix et guerre entre les nations «nessa renovação teórica contemporânea tendente a fazer com que a teoria não seja uma contemplação desencarnada e passadista ou uma mera coletânea de resultados, mas antes o momento reflexivo de práticas que procuram o seu próprio conceito»21. Alain Touraine louva ainda o mérito de Aron por ter transformado a guerra e as relações internacionais em «objeto» genuíno das ciências sociais, tendo essas temáticas sido durante tanto tempo dominadas pelos paladinos de uma história assente nos eventos e pouco atreita à teoria22.

Reconhecendo a legitimidade do procedimento aroniano, Châtelet e Touraine criticam contudo o seu teor. Antecipando as críticas de Marcel Merle e Bertrand Badie, Châtelet aponta a Aron o facto de se basear sobre «a potência exorbitante dos Estados contemporâneos» e assim «[colocar] entre parêntesis (ou pelo menos minimizar) as tensões económicas, políticas e sociais que atravessam dramaticamente o devir das nações e determinam fundamentalmente as decisões dos governos. […]». De tanto querer provar e legitimar a centralidade do Estado, Aron não é, segundo Châtelet, suficientemente sensível aos movimentos das sociedades e da economia. Numa perspetiva marxista, Châtelet lamenta inclusive que Aron não tenha levado suficientemente em conta a luta de classes que, a nível mundial, opõe as «nações proletárias» às «nações abastadas»23. As críticas de Alain Touraine realçam também o estato-centrismo de Raymond Aron, que o conduzem a considerar a fragmentação dos estados como um dado adquirido e a excluir a possibilidadade de um sistema supranacional, que uma análise sociológica poderá evidenciar24.

A resposta dada por Aron às críticas dá-lhe a oportunidade de precisar de modo direto e sintético o seu procedimento. Assim, afirma prezar a epistemologia weberiana, considerando as ciências sociais como «a compreensão dos sentidos das ações sem exigir o estabelecimento de leis nem a afirmação de um determinismo macroscópico»25. Para Aron, o grande mérito de Weber, comparativamente a Durkheim, é o de incluir na sociologia «a ação política nas suas relações com o contexto social e as escolhas filosóficas últimas»26. Aron procura desta forma ultrapassar as oposições, aliás estéreis no seu entender, entre instituições e acontecimentos, entre história e sociologia, entre descritivo e normativo. Na sociologia histórica de Aron, são pares que se combinam para conferir maior inteligibilidade aos fenómenos políticos; em matéria de relações internacionais, trata-se de tornar compreensível o sistema internacional dos estados.

Depois, Aron recalca a ideia que já acarinhava quando pôs mãos à obra de Paix et guerre entre les nations, ou seja, elaborar «os instrumentos conceptuais graças aos quais a disciplina apelidada de relações internacionais [sem maiúsculas mas sublinhado pelo autor] encontraria quer o seu quadro quer a sua especificidade.» O objetivo de Aron consiste em estabelecer a especificidade das relações internacionais como objeto de estudo, e assim contribuir para a fundação de uma ciência idónea sustentando-se em diferentes saberes positivos produzidos pelas ciências sociais. Embora se situe na linha sucessória da sociologia alemã, Aron inscreve-se num debate aberto pela ciência política americana das relações internacionais. Visa uma finalidade: renovar a disciplina, apetrechando-a com um olhar «europeu»27.

O debate sobre a teoria das relações internacionais passa então a ser estruturado por uma questão basilar: será possível uma teoria das relações internacionais? A essa questão, a resposta de Aron é sem apelo:

«Não existe teoria geral da conduta estratégico-diplomática, no sentido de haver uma teoria geral, walrasiana ou keynesiana, da conduta económica, mas é possível elaborar conceitos fundamentais que ajudem a apreender as relações internacionais desde que organizadas e constituídas em sistema.»28

Essa resposta desencadeia um verdadeiro abalo junto dos realistas americanos que, na esteira de Kenneth Waltz – curiosamente Aron não o cita –, tentam fundar uma ciência política das relações internacionais combinando behaviorismo e insumos das matemáticas. Aron não acredita nessa abordagem e recorre a Weber para expressar o seu apego ao método interpretativo em ciências sociais. Para Aron, o comportamento humano não pode ser estudado em laboratório ou modelizado mediante as ferramentas que os economistas, por exemplo, utilizam para analisar o comportamento dos agentes. Isso é particularmente acertado para a ação internacional, submetida a acasos, a paixões, ao irracional e a perceções diversas, ainda que permaneça interpretável e inteligível.

Com efeito e de acordo com Aron, pode existir uma teoria das relações internacionais que se apoia no acervo metodológico da filosofia, da sociologia e da história. Em filosofia, Aron considera que a teoria das relações internacionais deve, em primeiro lugar, fundamentar-se na «análise conceptual»: importa de facto definir os conceitos-chave (potência, Estado, força…) que permitem descrever sociologicamente realidades empíricas. Na sua qualidade de sociólogo, Aron afirma em seguida que os conceitos clássicos desta disciplina («expetativa», «papel» ou «valores») encontram perfeitamente o seu lugar nas relações internacionais. Os homens de Estado não agem no «vazio»:

«Os grupos sociais, dentro de cada Estado, compõem o campo de força no qual se situa o diplomata; a representação do outro que cada um dos protagonistas tem em mente é um dos elementos da conjuntura; as organizações internacionais podem e devem ser analisadas segundo os métodos da sociologia.»29

Nesse sentido, a sociologia das relações internacionais é antes de mais uma sociologia empírica que consiste em descrever e analisar o papel dos atores na vida internacional, tal como é uma teoria sociológica visando compreender fenómenos complexos determinados por múltiplas causas que se entrelaçam no tempo e no espaço. Nisso, um estudo filosófico e sociológico das relações internacionais deve restituir as dinâmicas históricas que moldam as realidades internacionais. Para Aron, o pensador das relações internacionais deve vestir a pele de historiador para perceber os laços entre os atores e o sistema internacional assim como a lógica das evoluções políticas e sociais à escala mundial.

Por conseguinte, o pensador francês contrapõe aos teóricos americanos das relações internacionais uma «prudente epistemologia da interpretação [que] rejeita qualquer predição, qualquer determinismo, qualquer raciocínio monocausal e, em boa verdade, a própria ideia de causalidade»30. O objetivo de Aron, com efeito, não é o de identificar a causa ou a variável última que há de permitir explicar tudo, mas sim o de tornar inteligível a realidade internacional, o que constitui um objetivo simultaneamente ambicioso e humanamente realizável.

Daí ser legítimo interrogarmo-nos acerca da posição original e complexa de Raymond Aron no domínio das relações internacionais e, nomeadamente, na galáxia «realista» com a qual é frequentemente associado. É certo que, tal como a maioria dos realistas clássicos, Aron denota um estato-centrismo e considera que a vida internacional, durante a Guerra Fria, se estrutura em torno da ameaça de guerra, o que o aproxima de autores como Morgenthau ou Waltz31. Mas quando nos debruçamos sobre a sua epistemologia, verificamos que Aron, retomando aqui uma fórmula do seu discente Pierre Hassner, é capaz de ser «demasiado realista» para ser considerado um realista32. A sua reticência perante as abordagens que acha demasiado escolásticas, formais e afastadas da realidade empírica, e a sua vontade de articular, à maneira de Weber, o estudo dos valores e da política de potência, diferenciam-no fortemente, se não mesmo radicalmente, dos realistas anglo-americanos. Até certo ponto, Aron procura salientar as simplificações e fraquezas do realismo modelisador anglo-americano para propor uma visão mais complexa, historicizada e filosoficamente robusta, da realidade internacional33.

Combinando múltiplas influências, ligado à complexidade do real e pouco versado naquilo que hoje se designa por debates metateóricos, é dificil classificar e reduzir a obra de Aron a um ou outro dos paradigmas (realismo, liberalismo, contrutivismo). Na certeza porém que Aron começa por se inserir na tradição filosófica que, de Tucídides a Clausewitz, passando por Maquiavel e Hobbes, se agrega habitualmente ao realismo clássico34; mas a sua defesa da democracia liberal também lhe confere uma grande proximidade dos liberais. Conforme nota o prezado e falecido Émile Perreau-Saussine, Aron pretende «enfrentar os grandes conflitos da sua época sem renunciar ao liberalismo» e, nesse sentido, acaba de certa forma por ser «a imagem inversa de Schmitt»35. Contrariamente a Schmitt, Aron não pensa a política por referência à guerra, revirando assim a fórmula de Clausewitz. Pelo contrário, mantém-se deveras fiel ao estratega prussiano subordinando a guerra à ação política, esforçando-se ao mesmo tempo em pensar a «zona de sombra» do liberalismo36. Se Schmitt «opõe ao primado liberal da discussão e do compromisso um primado de soberania, decisão que põe cobro a todas as discussões»37, Aron entende ao invés que a cooperação, pela ação do diplomata, deve sempre anteceder o recurso à força. Por fim, fazendo valer o papel das ideias e da intersubjetivididade nas relações internacionais, Aron prefigura a abordagem construtivista de Alexander Wendt38.

 

NOTA FINAL

Esta posição original, na confluência de diferentes paradigmas, contribui sem dúvida para explicar que Aron não tenha verdadeiramente fundado uma escola de pensamento. Se existe alguma abordagem «aroniana» das relações internacionais, então caracteriza-se menos pelos conteúdos do pensamento do que pelo apego ao método acima exposto. Na história do pensamento internacional, Aron foi assim o precursor de uma abordagem francesa das relações internacionais, na qual o gosto pelas questões teóricas se articula com uma apetência pela empiria sociológica e pela reflexividade histórica. Aron abriu a via para uma teoria sociológica das relações internacionais que dista bastante da abordagem abstrata dos investigadores da América do Norte bem como da abordagem dos eventos inspirada na história diplomática tal como Duroselle e Renouvin a praticavam em França. Em última análise, a leitura que podemos fazer da obra de Aron depende da visão que temos das relações internacionais enquanto disciplina ou ramo da ciência política: os adeptos das modelizações matemáticas, como os sociólogos desconfiados em relação à teoria, consideram Aron como o representante de uma tradição e de um mundo que se consumiu. Em contrapartida, aqueles que, tal como o autor das presentes linhas, pensam as relações internacionais em ligação com a história e a filosofia políticas, esses sim estão inclinados para ver em Aron os primórdios de um método interpretativo que continua a dar frutos.

Tradução: Patrícia Roman

 

NOTAS

1NdT: dada a escassez de traduções para a língua portuguesa editadas em Portugal, mantiveram-se os títulos originais das obras citadas.

2O presente texto apresenta em moldes sintéticos alguns elementos constantes do meu artigo intitulado «Aron, um clássico do pensamento internacional?», publicado em setembro de 2012 na revista Études internationales.

3Launay, Stephen – «Raymond Aron: from the philosophy of history to the theory of international relations». In Mahoney, Daniel e Frost, Brian J. (eds.) – Political Reason in the Age of Ideology: Essays in Honor of Raymond Aron on the 100th Anniversary of his Birth. Londres: Transaction Publishers, 2007, pp. 195-210.         [ Links ]

4Aron, Raymond – Penser la guerre, Clausewitz, vols. 1 e 2. Paris: Gallimard, 1976.         [ Links ]

5Aron, Raymond – L’Homme contre les tyrans.Paris: Gallimard, 1946 (retomado em Penser la liberté,         [ Links ] penser la démocratie. Paris: Gallimard, 2005).

6Malis, Christian – Raymond Aron et le débat stratégique français. 1930-1963. Paris: Economica, 2005.         [ Links ]

7Soutou, Georges-Henri – «Raymond Aron et la guerre froide». In Les Cahiers de Saint- Martin. N.º 3, abril de 1991, pp. 127-136.         [ Links ]

8NdT: ENS – École Normale Supérieure, conceituada instituição de ensino superior, vocacionada para os estudos doutorais e um marco no panorama da investigação francesa onde se formaram muitas elites intelectuais.

9Aron, Raymond – Essai sur les libertés. Paris: Calmann-Lévy, 1965.         [ Links ]

10Aron, Raymond – Paix et guerre entre les nations. Paris: Calmann-Lévy, [1962], 2004.         [ Links ]

11Busino, Giovanni – «Between theory and history in the field of international relations». In Journal of Regional Policy. N.º 2, 1987, pp. 185-196.         [ Links ]

12Aron, Raymond – «Une sociologie des relations internationales». In Aron, Raymond – Les sociétés modernes. Paris: PUF [1963], 2006, pp. 1049-1066;         [ Links ] Aron, Raymond – «Qu’est-ce qu’une théorie des relations internationales?». In Aron, Raymond – Les sociétés modernes. Textes rassemblés et introduits par S. Paugam. Paris: PUF [1967], 2006, pp. 853-875 e Aron,         [ Links ] Raymond – «Les tensions et les guerres du point de vue de la sociologie historique». In Aron, Raymond – Les sociétés modernes, pp. 877-903.         [ Links ]

13Richter, Melvin – «Raymond Aron as a political theorist». In Political Theory, vol. 12, n.° 2, 1984, pp. 147-151.         [ Links ]

14Aron, Raymond – Paix et guerre entre les nations, Paris: Calmann-Lévy, [1962], 2004, p. 770.         [ Links ]

15Aron, Raymond – Penser la guerre, Clausewitz, vols. 1 e 2.

16Durieux, Benoît – Clausewitz en France. Deux siècles de réflexion sur la guerre. 1807-2007. Paris: Economica, 2008.         [ Links ]

17Roche, Jean-Jacques – «Raymond Aron, un demi-siècle après Paix et guerre entre les nations» (1.ª parte). In Revue de défense nationale. N.º 736, 2011, pp. 7-18,         [ Links ] e Roche, Jean-Jacques – «Raymond Aron, un demi-siècle après Paix et guerre entre les nations» (2.ª parte). In Revue Défense Nationale. N.º 737, 2011, pp. 11-22.         [ Links ]

18Nas décadas de 50 e 60 do século xx, quando se define aqueles que praticam a ciência política ainda não se usa o termo «politólogo» nem sequer, por maioria de razão de «politistas*», antes se fala em «politicólogo*», de onde o termo «politicologia» usado por Braudel enquanto* para* como sinónimo de ciência política.

19Braudel, Fernand et al. – «Pour ou contre une politicologie scientifique». In Annales. Vol. 18, N.º 2, 1963, p. 119.         [ Links ]

20Intervenção de François Châtelet, in Braudel, Fernand et al. – «Pour ou contre une politicologie scientifique», p. 120.

21Intervenção de François Châtelet, in Braudel, Fernand et al. – «Pour ou contre une politicologie scientifique», p. 123.

22Intervenção de Alain Touraine,in Braudel, Fernand et al. – «Pour ou contre une politicologie scientifique», p. 485.

23Intervenção de François Châtelet, in Braudel, Fernand et al. – «Pour ou contre une politicologie scientifique», p. 125.

24Intervenção de Alain Touraine, in Braudel, Fernand et al. – «Pour ou contre une politicologie scientifique», pp. 486 e seguintes.

25Intervenção de Raymond Aron, in Braudel, Fernand et al. – «Pour ou contre une politicologie scientifique», p. 491.

26Intervenção de Raymond Aron, in Braudel, Fernand et al. – «Pour ou contre une politicologie scientifique», p. 491.

27Badie, Bertrand – «Raymond Aron, penseur des relations internationales. Un penseur à la Française?». In Études du CEFRES. N.º 5, 2005, pp. 3-10.         [ Links ]

28Aron, Raymond – «Une sociologie des relations internationales». In Aron, Raymond – Les sociétés modernes, Paris: PUF, [1963], 2006, pp. 1049-1066.         [ Links ]

29Intervenção de Raymond Aron, in Braudel, Fernand et al. – «Pour ou contre une politicologie scientifique», p. 492.

30Badie, Bertrand – «Raymond Aron, penseur des relations internationales. Un penseur à la Française?». p. 9

31Cesa, Marco – «Realist visions of the end of the Cold War: Morgenthau, Aron and Waltz». In Bristish Journal of Politics and Internacional Relations. Vol. 11, 2009, pp. 177-191,         [ Links ] e Thompson, Kenneth W. – «Raymond Aron and the study of international relations». In Science et conscience de la société. Mélanges en l’honneur de Raymond Aron, tome 2. Paris: Calmann-Lévy, 1971, pp. 387-404.         [ Links ]

32Hassner, Pierre – «Raymond Aron: too realistic to be a realist?». In Constellations. Vol. 14, N.º 4, 2007.         [ Links ]

33Cozette, Muriel – «Realistic Realism? American political Realism, Clausewitz and Raymond Aron on the problem of means and ends in internacional politics». In The Journal of Strategic Studies. Vol. 27, N.º 3, setembro de 2004, pp. 428-453;         [ Links ] e Cozette, Muriel – Raymond Aron and The Morality of Realism. Documento de trabalho, Universidade Nacional da Austrália, Departamento de Relações Internacionais, Centro de Investigação em Estudos da Ásia e Pacífico, 2008.

34Haslam, Jonathan – No Virtue like Necessity. 2002, Realist Thought in Internacional Relations since Machiavelli. Londres: Yale University Press, 2002.         [ Links ]

35Perreau-Saussine, Emile – «Raymond Aron et Carl Schmitt, lecteurs de Clausewitz». In Commentaire. N.º 102, 2003, p. 617.         [ Links ]

36Freund Julien – «Guerre et politique. De Karl von Clausewitz à Raymond Aron». In Revue française de sociologie. Vol. XVII, N.º 4, outubro-dezembro de 1976, pp. 643-651.         [ Links ]

37Perreau-Saussine, Emile – «Raymond Aron et Carl Schmitt, lecteurs de Clausewitz», p. 621.

38Davis, Reed M. – A Politics of Understanding. The International Thought of Raymond Aron. Baton Rouge: LSU Press, 2009.         [ Links ]