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Motricidade

versão impressa ISSN 1646-107X

Motri. vol.11 no.3 Ribeira de Pena set. 2015

https://doi.org/10.6063/motricidade.3184 

ARTIGO DE REVISÃO

 

Comportamento Sedentário em Idosos: Uma Revisão Sistemática

 

Sedentary Behavior in Elderly: A Systematic Review

 

 

Rafaela Gomes dos Santos1,*; Jéssica Cristina Medeiros1; Beatriz Dittrich Schmitt1; Joilson Meneguci1; Douglas Assis Teles Santos; Renata Damião1; Sheilla Tribess1; Jair Sindra Virtuoso Júnior1

1 Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM, Brasil
2 Universidade Federal de Goiás – UFG, Brasil

 

 


RESUMO

O objetivo desse estudo foi analisar a produção de artigos sobre comportamentos sedentários em idosos. Trata-se de uma revisão sistemática a partir da base de dados Pubmed. Os descritores utilizados foram “sedentary behavior” e “sitting time” combinados com elderly, older e aging. Foram incluídos artigos originais completos disponíveis até dezembro de 2013, que apresentassem medida do comportamento sedentário. Considerou-se o tipo de inquérito e delineamento, local da coleta dos dados, instrumentos, definição operacional e ponto de corte para comportamento sedentário. Foram encontrados 559 artigos, e desses 130 foram excluídos por duplicação, resultando em 429, desses 39 atenderam os critérios de inclusão estabelecidos. Os artigos foram publicados entre 2003 a 2013. Acelerômetro e questionário foram os instrumentos mais pronunciados para medida do comportamento sedentário nos artigos analisados. Foram identificadas lacunas na produção científica em relação aos pontos de corte para definir a quantidade de tempo sentado que representa risco à saúde das pessoas idosas, definição operacional universal, bem como falta de padronização dos instrumentos. Sugerem-se mais estudos relacionados com essa temática a fim de reduzir as lacunas existentes.

Palavras-chave: estilo de vida sedentário, atividade física, saúde do idoso


ABSTRACT

The aim of this study was to analyze the production of articles on sedentary behaviors in the elderly. This is a systematic review from the Pubmed database. The descriptors used were “sedentary behavior” and “sitting time” combined with elderly, older and aging. We included original articles available until December 2013, to submit measure of sedentary behavior. We considered the type of survey and design, instruments, operational definition and cutoff for sedentary behavior. The initial electronic searches resulted in 559 manuscripts, and of these 130 were excluded for duplication, resulting in 429 manuscripts. The process of analysis of the studies involved reading titles, abstracts and full texts. After all these phases, 39 manuscripts met the inclusion criteria of the review. The articles were published between 2003 and 2013. Accelerometer and questionnaire were instruments more pronounced for the measurement of sedentary behavior in the analyzed articles. We identified gaps in scientific production in relation to the cutoff points to define the amount of time sitting that poses a risk to the health of the elderly, operational definition universal, as well as lack of standardization of instruments. We suggest further studies related to this theme in order to reduce the gaps.

Keywords: sedentary lifestyle, physical activity, health of the elderly


 

 

INTRODUÇÃO

A quantidade de idosos na população mundial tem crescido em demasia e mudanças epidemiológicas, ambientais, tecnológicas e demográficas advindas com o processo evolutivo do ser humano e da sociedade são responsáveis pelo aumento da longevidade e por mudanças no estilo de vida adotado pelas pessoas (Sabino, Regidor, & Otero, 2007). O estilo de vida ativo tem sido modificado por meio dos comportamentos inadequados, dentre eles encontram-se a prática insuficiente de atividade física e os comportamentos sedentários, o qual traz severas consequências para saúde e qualidade de vida dos longevos (Dogra & Stathokostas, 2012).

Comportamento sedentário e a atividade física possuem construtos diferenciados, entretanto, a avaliação pode ser facilitada por endenteder que ambos os comportamentos estão em mesma linha do contínuo (van Uffelen, Heesch, Hill, & Brown, 2011).

O termo insuficiente ativo pode ser entendido como a condição de realizar alguma atividade física, mas sem atingir as diretrizes de saúde pública para os níveis recomendados de atividade física em intensidade moderada a vigorosa (Hallal et al., 2012). Por sua vez, o comportamento sedentário está relacionado àquelas atividades que são realizadas na posição deitada ou sentada, que não elevam o gasto energético acima dos níveis de repouso (1.0 - 1.5 METs) (Owen, Healy, Matthews, & Dunstan, 2010).

São diversos os comportamentos que englobam a posição sentada ou deitada, como andar de carro ou ônibus, assistir aulas e televisão, usar o computador, uso de controle-remoto, jogar videogames, trabalhar, estudar ou alimentar-se na posição sentada, dentre outras atividades realizadas no dia-a-dia da sociedade moderna que facilitam o ato de sentar ou permanecer na posição sentada (Amorim & Faria, 2012).

Os benefícios de um estilo de vida fisicamente ativo já são bem estabelecidos (Salmon, Owen, Crawford, Bauman, & Sallis, 2003) e pesquisas na área da gerontologia com finalidade de preservar a capacidade funcional e melhorar a qualidade de vida e saúde de pessoas idosas tem aumentado (Virtuoso Júnior & Guerra, 2011), porém sobre as atividades sedentárias verifica-se a necessidade de mais estudos (Owen et al., 2010).

No que concerne aos riscos para a saúde devido à adoção do comportamento sedentário, sabe-se que volumes elevados de tempo sentado têm possíveis associações com risco aumentado de obesidade (Gómez-Cabello et al., 2012), doenças cardiovasculares (Chang et al., 2008; Matthews et al., 2012; van der Ploeg, Chey, Korda, Banks, & Bauman, 2012; Warren et al., 2010), diabetes (van der Ploeg et al., 2012) e câncer (Matthews et al., 2012).

As associações entre comportamento sedentário, atividade física e mortalidade em idosos têm indicado que independente do nível de atividade física o elevado tempo despendido em atividades sentadas é um indicador de mortalidade (Dunstan & Owen, 2012). No entanto, ainda não existe um consenso entre os pesquisadores da área quanto ao melhor ponto de corte que discrimine a duração do tempo sentado na predição de riscos à saúde do idoso (Owen et al., 2010).

Na literatura há evidências de que a redução do tempo total despendido em comportamento sedentário pode ser tão importante, quanto o aumento da participação na atividade física para a diminuição de riscos à saúde das pessoas (Katzmarzyk, Church, Craig, & Bouchard, 2009), ou seja, realizar menos de 30 minutos de atividade física ao dia é tão prejudicial à saúde quanto uma exposição de dez horas ao dia em comportamento sedentário (Dunstan & Owen, 2012).

As evidências na literatura são claras quanto à relação positiva entre o tempo despendido em comportamentos sedentários e o risco à saúde dos idosos (Chang et al., 2008). Apesar de crescente o número de estudos que abordam a interrelação do tempo de exposição a comportamentos sedentários e a saúde, tais investigações são recentes e as evidências encontradas até o momento necessitam serem sistematizadas.

O propósito deste estudo de revisão foi sistematizar a produção de artigos científicos com abordagem dos comportamentos sedentários em idosos, em termos de definição operacional, instrumentos de medidas e pontos de cortes utilizados.

 

MÉTODO

No mês de maio de 2014 foram levantadas e analisadas as publicações relacionadas ao tema de interesse. A busca foi realizada a partir da base de dados National Library of Medicine (Pubmed). Os descritores utilizados foram “sedentary behavior” e “sitting time” combinados com elderly, older e aging. Utilizou-se o operador lógico AND para a combinação dos termos usados durante a busca das publicações.

Os critérios de inclusão foram: (a) artigos originais publicados até o ano de 2013; (b) estratificação por idade igual ou acima de 60 anos; (c) medida do comportamento sedentário através do tempo sentado, reclinado e deitado; (d) informações dos procedimentos metodológicos (definição operacional e instrumentos utilizados); (e) ponto de corte para definir o comportamento sedentário; (f) delineamento de base populacional.

Na identificação de termos que direcionasse para área investigada e a eliminação de réplicas foi realizado inicialmente uma leitura dos títulos e resumos dos artigos encontrados na busca. Posteriormente, os artigos selecionados foram obtidos na íntegra e examinados de acordo com os critérios de inclusão estabelecidos.

Para a análise dos estudos, foram considerados os seguintes aspectos: ano de publicação do estudo; tipo de delineamento; idade dos participantes da pesquisa; local da coleta dos dados; definição operacional para comportamento sedentário; instrumentos de medidas de exposição a comportamentos sedentários; pontos de corte utilizados para definição de comportamento sedentário.

 

RESULTADOS

A partir da busca, foram encontrados 559 artigos. Desses, 130 foram excluídos porque eram duplicados na combinação dos descritores utilizados na pesquisa, resultando em 429 artigos selecionados para análise detalhada, sendo que desses 39 atenderam os critérios de inclusão pré-estabelecidos e, em razão disso, foram selecionados para análise (Figura 1).

As características dos estudos sobre comportamento sedentário em idosos foram apresentadas na Tabela 1. Os artigos foram publicados no período compreendido entre 2003 a 2013, sendo que a maior concentração das publicações com essa temática ocorreu nos anos de 2012 e 2013 (n = 27; 69.2%) (Figura 2). Quanto ao delineamento, os artigos eram do tipo transversal (n = 23; 58.9%), estudos de coorte (n = 15; 38.5%) e caso-controle (n = 1; 2.6%).

Com relação à idade dos participantes, 51.3% dos estudos foram compostos exclusivamente por pessoas idosas (≥ 60 anos) e os demais apresentaram ampla faixa etária incluindo em alguns casos os adultos jovens, entretanto nestes estudos os resultados de comportamento sedentário foram estratificados de acordo com as faixas etárias. Essas pesquisas foram realizadas em doze países diferentes, sendo que os Estados Unidos e a Austrália foram os países que se destacaram pelo desenvolvimento de estudos com esta temática (Tabela 1).

Os artigos também foram classificados segundo a definição operacional, instrumentos e pontos de corte utilizados para definição de comportamentos sedentários (Tabela 2).

Houve grande variação nas definições operacionais para o comportamento sedentário. O tempo sentado (ou reclinado) foi considerado no trabalho, em casa, no carro, assistindo televisão, usando computador, costurando, comendo, socializando ou lendo. Já o tempo sentado ou deitado foi considerado ouvindo música, falando no telefone, relaxando, pensando e descansando, tirando um curto intervalo de descanso e tentando dormir.

Com relação aos instrumentos de coleta de dados referentes ao comportamento sedentário, 56.4% utilizaram questões específicas (n = 22), 10.3% usaram questionários (n = 4); 28.2% usaram sensores de movimento (n = 11), 5.1% utilizaram questionário e acelerômetro (n= 2). Os questionários utilizados eram de atividade física (Questionário de Atividade Física – PAQ e Questionário Internacional de Atividade Física – IPAQ) e dos acelerômetros mencionados a totalidade era da marca Actigraph, produzido na Flórida, EUA.

Quanto aos pontos de corte para definir o comportamento sedentário, houve congruência entre aqueles que utilizaram o acelerômetro. Observa-se unanimidade, pois todos consideram a medida < 100 counts/min (< 1.5 METs). No que se refere às questões específicas, houve variação nos pontos de corte, sendo dada preferência para o uso de tercis ou quartis na categorização do tempo despendido em comportamentos sedentários.

Dentre os estudos que utilizaram questionários elaborados a partir de constructos, o realizado por Peters et al. (2010) empregou o questionário PAQ, para tanto considerou o ponto de corte < 1.5 METs para definição do comportamento sedentário, diferente de Suzuki, Moraes, e Freitas (2010) com o uso do IPAQ e os valores médios correspondentes do tempo sentado em min/dia.

 

DISCUSSÃO

Os resultados demonstram que nos últimos anos tem havido um aumento crescente de estudos sobre comportamento sedentário com pessoas idosas. Os anos de 2012 e 2013 se destacaram por apresentarem maior quantidade de publicações referentes a essa temática. Apesar da maior concentração de estudos transversais, existem estudos de coorte e caso-controle que discutem o comportamento sedentário.

No entanto, mesmo com um aumento relativo da quantidade de estudos nos últimos anos, ainda há lacunas acerca dessa área de investigação. Constatou-se a carência de uma definição operacional que denomine o comportamento sedentário de maneira clara, pois as atividades que definem o comportamento ativo e sedentário são diferentes e por isso devem ser medidas separadamente (Owen et al., 2010). Há uma tendência para definir o comportamento sedentário em tempo sentado, deitado ou reclinado, evidenciando-se a falta de uma padronização para quantificá-lo.

É importante destacar que houve variação dos instrumentos utilizados para mensurar o comportamento sedentário, sendo que dos estudos analisados houve maior frequência de questões específicas de autorrelato (Balboa-Castillo et al., 2011; Chang et al., 2008; Chomistek et al., 2013; Dallal et al., 2012; Dogra & Stathokostas, 2012; Gardiner et al., 2011; Gómez-Cabello et al., 2012; Inoue et al., 2012; Katzmarzyk et al., 2009; Kikuchi et al., 2013; Matthews et al., 2012; McDermott et al., 2011; Pavey et al., 2012; Peters et al., 2010; Rosenkranz et al., 2013; Salmon et al., 2003; Seguin et al., 2012; Suzuki et al., 2010; van der Ploeg et al., 2012; Warren et al., 2010; Yen et al., 2013). Este fato pode resultar em medidas discrepantes devido à dificuldade na sua padronização, apesar disso, as medidas de autorrelato têm permeado os estudos em saúde (Pettee Gabriel, Morrow, & Woolsey, 2012).

Os construtos da inatividade física e das atividades consideradas sedentárias (<1.5 METs) são diferenciados, sendo que a avaliação conjunta de tais variáveis pode induzir o respondente à condição de oposição de tais comportamentos (Pettee Gabriel et al., 2012). Deste modo, a utilização de instrumentos de autorrelato que se propõem medir comportamentos ativos pode gerar confusão ao respondente quando se pretende quantificar ou inferir o tempo gasto em atividades sedentárias (van Uffelen et al., 2011).

Em um estudo qualitativo realizado na Austrália foram analisadas as informações sobre o tempo sentado obtido pelos questionários IPAQ e PASE (Escala de Atividade Física para idosos), sendo identificado que o formato fechado do PASE é mais fácil de ser utilizado por idosos e, consequentemente, as estratégias empregadas para formular as respostas eram mais consistentes por proporcionar maiores opções de respostas a partir de 0 - 2 horas, e progredindo em duas horas com aumentos até > 12 horas (van Uffelen et al., 2011).

O elevado número de artigos que utilizaram questões específicas para avaliar o comportamento sedentário mostra que esse campo de avaliação ainda é incipiente. Por ser uma temática relativamente recente a ser estudada ainda faltam instrumentos, sendo uma opção a avaliação do comportamento sedentário dentro dos questionários de Atividade Física, a exemplo do IPAQ (Suzuki et al., 2010).

Os idosos possuem dificuldade em relatar o tempo sentado nos últimos sete dias ou em um único dia (Heesch, van Uffelen, Hill, & Brown, 2010; van Uffelen et al., 2011). Por essa razão, estes respondentes elegem um dia ao acaso selecionando o dia com menor ou maior tempo sentado (Heesch et al., 2010). Em geral, os questionários não sugerem uma estratégia para calcular horas sentadas durante um dia, talvez fosse mais fácil se os participantes relatassem um dia específico, como “o tempo total gasto sentado na última quarta-feira” ou o tempo gasto sentado no dia anterior à entrevista (Heesch et al., 2010).

Devido a essas questões o tempo sentado autorrelatado para idosos é questionável, pois é menos preciso e com concordância de baixa a moderada quando comparado às medidas objetivas por acelerômetros que registram a totalidade das atividades sedentárias, incluindo períodos breves, que são mais difíceis de mensurar (van Uffelen et al., 2011).

A recomendação para estudos de base populacional é que, sempre que possível, o monitoramento dos comportamentos sedentários devem incorporar medidas autorreferidas para obter informações relativas aos domínios e também baseadas em dispositivos objetivos que possam medir os padrões de tempo acumulado (Healy et al., 2011).

Outro aspecto interessante é que aqueles estudos que utilizaram o acelerômetro adotaram o mesmo ponto de corte para definir o comportamento sedentário (Buman et al., 2010; Burton et al., 2012; Gennuso et al., 2013; Hagströmer et al., 2010; Loprinzi, 2013; Matthews et al., 2008; Peters et al., 2010; Shiroma et al., 2013; Stamatakis et al., 2012; van Uffelen et al., 2011). Esse fato permite a comparação dos resultados e a generalização da informação. Por outro lado, aqueles estudos que utilizaram medidas de autorrelato não apresentaram critérios padronizados (Balboa-Castillo et al., 2011; Boscatto et al., 2013; Dallal et al., 2012; Dogra & Stathokostas, 2012; Gardiner et al., 2011; Gómez-Cabello et al., 2012; Inoue et al., 2012; Katzmarzyk et al., 2009; Kikuchi et al., 2013; Martinho et al., 2013; McDermott et al., 2011; Morales et al., 2013; Pavey et al., 2012; Rosenkranz et al., 2013; Seguin et al., 2012; Stamatakis et al., 2012; Sugiyama et al., 2012; van der Ploeg et al., 2012; Warren et al., 2010; Yen et al., 2013).

Ainda quanto aos pontos de corte para definir comportamento sedentário em idosos, observa-se que não existe um valor pontual para determinar o tempo despendido em comportamentos sedentários (alto/baixo), os quais possuem características diferenciadas da população adulta e, portanto necessitam ser discriminados de forma diferente (Seguin et al., 2012; Stamatakis et al., 2012; Sugiyama et al., 2012; van der Ploeg et al., 2012).

Especialistas da área de medidas da atividade física são consistentes em afirmar que, com o passar dos anos, os níveis de atividade física da população tendem a diminuir, enquanto o tempo em atividades sedentárias tende a aumentar (Buman et al., 2010; Burton et al., 2012; Dogra & Stathokostas, 2012; Evenson et al., 2012; Hagströmer et al., 2010; Healy et al., 2011; Heesch et al., 2010; Matthews et al., 2008; Pettee Gabriel et al., 2012; Stamatakis et al., 2012; Sugiyama et al., 2012). As mudanças em tais comportamentos podem ser relativas à maior quantidade de responsabilidades e afazeres com características sedentárias, diminuindo o tempo para prática de atividades físicas; ausência de facilitadores ambientais estimuladores à adoção de hábitos saudáveis; o acesso cada vez mais facilitado aos instrumentos tecnológicos poupadores do dispêndio energético (Amorim & Faria, 2012) e, principalmente, fatores biológicos decorrentes da idade (Sabino et al., 2007).

Foi observado que os artigos recentes têm utilizado medidas de comportamento sedentário para investigar a associação do tempo sentado com a diminuição das chances de ser fisicamente ativo (Salmon et al., 2003), doenças cardiovasculares (Gardiner et al., 2011; Katzmarzyk et al., 2009; McDermott et al., 2011; van der Ploeg et al., 2012; Warren et al., 2010), diabetes (van der Ploeg et al., 2012), risco de câncer (Dallal et al., 2012; Katzmarzyk et al., 2009; Matthews et al., 2012), ganho de peso, obesidade (Gómez-Cabello et al., 2012; Inoue et al., 2012) e mortalidade (Matthews et al., 2012; Pavey et al., 2012; van der Ploeg et al., 2012; Warren et al., 2010).

Em estudos de base populacional realizados nos Estados Unidos foi identificado que os estadunidenses gastam a maior parte de seu tempo em comportamentos que consomem pouca energia (Evenson et al., 2012; Matthews et al., 2008). A quantidade média de tempo despendido em comportamentos sedentário foi de 8.5 horas/dia, sendo o tempo sedentário maior entre as pessoas que tinham 80 anos ou mais em relação aos grupos etários mais jovens (Evenson et al., 2012).

Na China, as pessoas dispendem 5.3 h/dia em práticas de atividade física habitual e 8.5 h/dia em comportamentos sedentários, sendo que aquelas com idade ≥ 60 anos são mais propensas a passar maior tempo em comportamentos sedentários quando comparados às pessoas < 50 anos (Peters et al., 2010). Em estudo de base populacional realizado na cidade de Ribeirão Preto, no Brasil, foi observado que as pessoas com idade ≥ 70 anos passam aproximadamente 5 h/dia na posição sentada (Suzuki et al., 2010).

Há uma relação inversa entre comportamentos sedentários e envelhecimento saudável, sendo que o dispêndio abaixo de duas horas de atividade sedentária por dia pode servir como uma duração mínima (limite) que deve ser alcançado para o envelhecimento saudável (Dogra & Stathokostas, 2012). Em estudo de base populacional com seguimento de sete anos na população espanhola, foi identificado que a quantidade de horas sentado possui uma relação inversa com escores dos domínios da qualidade de vida mensuradas pelo SF-36 (Balboa-Castillo et al., 2011).

Estudo de coorte prospectivo com 61.609 mulheres em seguimento @ 12 anos foi observado que em comparação as idosas que relataram o dispêndio em tempo sedentário ≤ 6 h/dia, aquelas com maior quantidade de tempo sedentário possuíam menor condição física na realização das atividades cotidianas (Seguin et al., 2012). Ainda em relação à função física, o maior tempo sentado tem sido associado com o declínio na velocidade da caminhada e da densidade muscular da panturrilha em pacientes com doença arterial periférica (McDermott et al., 2011).

A associação entre o tempo sentado e todas as causas de mortalidade é mais consistente entre indivíduos saudáveis do que entre indivíduos com doença cardiovascular preexistente ou diabetes (van der Ploeg et al., 2012). O tempo sentado prolongado (> 8 h/dia) está associado com um risco aumentado de mortalidade por todas as causas (Pavey et al., 2012). Quantidade de tempo sentado diário foi positivamente associado com taxas de mortalidade por todas as causas e doenças cardiovasculares, independentemente do nível de atividade física (Katzmarzyk et al., 2009). Por outro lado, a substituição de 30 min/dia de tempo sedentário com quantidades iguais de leve ou moderada atividade física foi associada a uma melhor saúde física (Buman et al., 2010).

O tempo despendido no carro ou em comportamentos sedentários combinados, em pessoas idosas com peso normal, sem hipertensão e ativas fisicamente foram associados positivamente ao risco de mortalidade por doenças cardiovasculares (Owen et al., 2010).

Aproximadamente 20% dos homens e 10% das mulheres passam um tempo prolongado ≥ 2 h/dia em carros como condutores ou passageiros, sendo que os homens mais velhos (≥ 65 anos) apresentam tendências crescentes neste comportamento sedentário (Sugiyama et al., 2012).

O tempo despendido de quatro horas sentado ao dia foi associado com maior risco ao excesso de peso corporal em homens e mulheres comparados com aqueles que passavam menos de 4 h/dia sentados, independente das horas de caminhada (Gómez-Cabello et al., 2012). Para as mulheres o comportamento sedentário (≥ 6.6 h/dia) está associado ao aumento potencial ao risco de câncer de mama (Dallal et al., 2012).

O tempo assistindo televisão e o tempo total sentado superior a 20 h/sem foram associados com o risco relativo de síndrome metabólica (Chang et al., 2008). A partir de 14 h/sem, a cada 1hora a mais despendidos em comportamentos sedentários há o aumento do risco para a síndrome metabólica (Gardiner et al., 2011).

O tempo sentado prolongado e o tempo assistindo televisão foram positivamente associados com a mortalidade e o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e câncer (Inoue et al., 2012). O simples comportamento de assistir televisão em horas prolongadas pode ser mais deletério do que outros tipos de comportamentos inadequados à saúde (Inoue et al., 2012; Matthews et al., 2012).

Os mecanismos explicativos dos efeitos nocivos do comportamento sedentário à saúde, parte da premissa que a imobilização proporcionada pela falta ou redução brusca da contração muscular faz desencadear o aumento dos triglicérides, glicose plasmática e redução da atividade da lipoproteína lipase (LPL) (Wittrup, Tybjærg-Hansen, & Nordestgaard, 1999). A diminuição da glicose pelos músculos faz aumentar à resistência a insulina e a energia é realocada para o fígado, o qual aumenta a produção de lipídeos e consequentemente o armazenamento nos adipócitos centrais (Charansonney, 2011). Tais adipócitos quando metabolicamente ativos produzem moléculas inflamatórias que são as percussoras das doenças crônicas degenerativas (Elks & Francis, 2010).

Entre as possíveis limitações desse estudo é possível destacar, a restrição dos termos descritores utilizados e do único banco de dados elegível para busca. Entretanto, o Pubmed é um reconhecido banco de dados que contempla mais de 18 milhões de referências e os termos descritores elegíveis para este estudo proporcionaram ampla varredura de artigos acerca da temática investigada.

 

CONCLUSÕES

Nos últimos anos é possível perceber o aumento na produção científica que trata da temática “comportamentos sedentários” e a evolução para um consenso da definição operacional. Mas, ainda há a necessidade de maior volume de estudos nessa área, principalmente quanto ao público idoso para elucidar o impacto dos níveis desse comportamento inadequado à população, assim como na proposição de instrumentos que abordem o comportamento sedentário como um constructo constituído a partir de múltiplos domínios.

Os pontos de corte do tempo despendido em comportamentos sedentários no que confere a maior propensão de riscos à saúde apresentaram ampla variação, além da tendência de ser determinado a partir de avaliações normativas ao invés da avaliação referenciada por critério, aspecto este que permitira ampliar o poder de generalização dos estudos. Entretanto, os resultados parecem ser consistentes no diz respeito aos riscos à saúde para os indivíduos expostos a mais de 4 horas por dia na posição sentada.

Por fim, é válido destacar a necessidade de desenvolvimento de diretrizes tanto no que se refere ao processo de avaliação como também para o desenvolvimento de intervenções que possam direcionar crianças, adultos e idosos para a diminuição do comportamento sedentário.

 

REFERÊNCIAS

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Agradecimentos:
Nada a declarar.
Conflito de Interesses:
Nada a declarar.
Financiamento:
Nada a declarar

Artigo recebido a 05-11-2013; Aceite a 02-06-2014

 

 

* Autor correspondente: Av. Dep. José Marcus Cherem, 2150 - Vila São Cristóvão, Uberaba - MG, 38040-500, Brasil, E-mail: rafaellagomes_rgds@hotmail.com

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