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Motricidade
versão impressa ISSN 1646-107X
Motri. vol.15 no.4 Ribeira de Pena dez. 2019
https://doi.org/10.6063/motricidade.20135
ARTIGO ORIGINAL
Utilização de novas tecnologias por idosos institucionalizados
Use of new technologies by institutionalized elderly
Carlos Almeida1[*], Cristiana Costa1, Maria João Monteiro1, Conceição Rainho1, Isabel Barroso1, João Castro1, Filomena Raimundo1, Vítor Rodrigues1
1 Escola Superior de Saúde, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, UTAD, Vila Real, Portugal
Endereço para correspondência | Dirección para correspondencia | Correspondence
RESUMO
O aumento do índice de envelhecimento, torna fundamental a implementação de medidas que promovam o bem-estar e envelhecimento saudável da população. Em Portugal, existem várias medidas para a promoção do envelhecimento saudável e, na atualidade, começa-se a estudar o impacto que as novas tecnologias podem trazer no processo de envelhecimento. Objetivos: perceber de que forma os idosos institucionalizados estão a utilizar as novas tecnologias; perceber se idosos institucionalizados têm interesse em utilizar novas tecnologias; avaliar o bem-estar psicológico dos idosos e perceber se existe relação entre a utilização das novas tecnologias e o bem-estar psicológico dos idosos institucionalizados. Método/Instrumentos: estudo descritivo, exploratório e transversal, com uma amostra por conveniência de 135 idosos institucionalizados, de uma região do norte de Portugal. Através do instrumento recolheram-se dados sobre: características sociodemográficas; utilização de novas tecnologias e sobre o bem-estar psicológico dos idosos. Conclusões: Após analise estatística é percetível que não existem relações estatísticas significativas entre as variáveis. No entanto, observou-se uma maior apetência para o uso do telemóvel do que para o uso do computador (37% usam telemóvel). Relativamente ao bem-estar, a pontuação media é de 85.95 pontos e as dimensões mais pontuadas são a felicidade (M= 27.52) e a autoestima (M= 14.62).
Palavras-chave: idosos, institucionalização, uso de novas tecnologias, saúde.
ABSTRACT
With the increasing aging, it’s essential to implement measures promoting the well-being and healthy aging of the population. In Portugal, there are several measures to promote healthy aging, and, nowadays, we begin to study the impact that new technologies bring on the aging process. It was our objective to understand how the institutionalized elderly are using the new technologies; perceive whether institutionalized seniors have interest in using new technologies; evaluate the psychological well-being of the elderly and understand if there is a relationship between the use of the new technologies and the psychological well-being of the institutionalized elderly. This was a descriptive, exploratory, and cross-sectional study, with a convenience sample of 135 institutionalized elderly from a northern region of Portugal. Through the instrument, data were collected on sociodemographic characteristics, the use of new technologies, and the psychological well-being of the elderly. After statistical analysis it is possible to see that there are no statistically significant relationships between the variables. However, there is a greater tendency for the use of the mobile phone than for the use of the computer (37% use a mobile phone). Concerning well-being, the average score is 85.95 points and the most scored dimensions are happiness (M= 27.52) and self-esteem (M= 14.62).
Keywords: elderly, institutionalization, health, use of new technologies
Introdução
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial que representa um grande impacto nas pirâmides etárias. Na Europa, o Índice de Envelhecimento tem aumentado gradualmente, acompanhando o Índice de Longevidade. No ano 2017, na população residente em Portugal, existiam uma média de 613 341 idosos com idades compreendidas entre os 65 e os 69 anos, e aproximadamente 291 577 idosos com 85 ou mais anos (INE & PORDATA, 2018). Este processo de envelhecimento é influenciado por uma vasta diversidade de fatores que geram heterogeneidade no seu desenvolvimento. Como resultado, a sociedade é composta por idosos: doentes, dependentes, abandonados, excluídos, bem como idosos saudáveis, ativos, autónomos e incluídos socialmente (Katzenstein, Schwartz, Helena, & Almeida, 2012). A grande diversidade de idosos impõe a necessidade de medidas que facilitem a inclusão social desta faixa etária. Maioritariamente, estas medidas surgem no âmbito da: atividade física, ambiente, ação social, cultura, educação, habitação e saúde. Quando postas em prática, estas medidas têm a capacidade de combater a exclusão e isolamento dos idosos, contribuindo para o bem-estar e envelhecimento saudável (Bárrios & Fernandes, 2014). Mas, perante os muitos casos de institucionalização e o decorrer da vida ativa da sociedade, o contacto entre gerações nem sempre é possível. Esta falta de contacto acaba por, a longo prazo, trazer consequências no bem-estar psicológico dos idosos institucionalizados. Por outro lado, se considerarmos o crescente peso que as novas tecnologias exercem na sociedade de hoje, a sua utilização pode ser considerada como outra medida de promoção do envelhecimento saudável. Embora as novas tecnologias tenham sido criadas com o intuito de facilitar a união e a proximidade entre os indivíduos, as destrezas físicas, mentais e comportamentais por elas requeridas, fazem com que a sua utilização, pelos idosos, seja uma prática desafiante para os que cresceram e socializaram sem necessidade de recorrência a tais tecnologias (Katzenstein et al., 2012). Em estudos realizados por Hubers & Lyons (2013), são inquiridos especialistas em envelhecimento sobre a utilidade das novas tecnologias para os idosos e até que ponto a sua utilização iria alterar as atividades diárias dos mesmos ou dos seus cuidadores. Estes inferem que as tecnologias modelam as práticas sociais e as práticas socias modelam a necessidade de oferta. Deste modo, de forma a poder prever-se a necessidade de implementação de novas tecnologias entre idosos, é necessário perceber as práticas sociais dos mesmos e como estas são influenciadas pelas novas tecnologias (Hubers & Lyons, 2013). Atualmente, a utilização das novas tecnologias pelos idosos é considerada reduzida quando comparada com a utilização das mesmas pelas faixas etárias mais novas, identificando-se dois grandes grupos de idosos no que diz respeito à utilização das mesmas. Por um lado, alguns idosos incorporam as novas tecnologias no seu dia-a-dia vivenciando-as como práticas desafiadoras e revitalizadoras. Por outro lado, outros idosos afirmam-se como muito distantes delas decorrente dos fatores que condicionam a sua utilização. (Katzenstein et al., 2012) Goldman e Kachar cit. por Katzenstein et al., (2012) identificam: a dificuldade de acesso e utilização das novas tecnologias por idosos; o desconhecimento das possibilidades que estas oferecem; a baixa exposição às Novas tecnologias ao longo da vida; e crença reduzida no potencial de aprendizagem e utilização das Novas tecnologias como alguns dos fatores que mais condicionam a utilização das mesmas. Assim, é de salientar a importância das intervenções direcionadas à aproximação, aprendizagem, utilização e apropriação das novas tecnologias aos idosos como potenciais estratégias para o envelhecimento ativo. (Katzenstein et al., 2012) Em Portugal, a investigação sobre a utilização das novas tecnologias está a realizar-se nomeadamente com amostras do centro do país e do litoral norte em idosos autónomos e ativos na sociedade, no entanto, dado o aumento do número de idosos institucionalizados pensamos ser de particular interesse alargar esses estudos a este grupo populacional. Assim, este estudo tem como objetivos: perceber de que forma os idosos institucionalizados estão a utilizar as novas tecnologias; perceber se idosos institucionalizados têm interesse em utilizar novas tecnologias; avaliar o bem-estar psicológico dos idosos e perceber se existe relação entre a utilização das novas tecnologias e o bem-estar psicológico dos idosos institucionalizados.
MétodoEste é um estudo de carater exploratório, transversal de natureza quantitativa, tendo como população alvo os idosos institucionalizados.
Participantes
A recolha de dados decorreu entre os meses de fevereiro e maio de 2018, em sete estruturas residenciais para pessoas idosas do norte de Portugal. Trata-se de uma amostra por conveniência, constituída por 135 idosos (91 do género feminino e 41 do género masculino) conscientes; com orientação temporal, espacial e propriocetiva; com idades compreendidas entre os 65 e os 99 anos (M= 83.2 anos) e que estiveram presentes no momento da colheita. Relativamente ao tempo de institucionalização, o tempo mínimo apresentado foi de meio ano e o máximo de 30 anos (M= 4.5 anos). No que diz respeito ao estado civil: a maioria dos idosos (59.3%) é viúvo, 23% é casado, 13.3% é solteiro e a minoria (4.4%) é divorciado. Relativamente à escolaridade da amostra: 30.4%idosos são analfabetos, 20% sabem ler e escrever, 41.5% concluíram o 1º ciclo do ensino básico, 4.4% possuem o 2ºciclo do ensino básico, 3% concluíram o 3º ciclo do ensino básico e apenas 0.7% idoso concluiu o ensino secundário.
Instrumentos
Para tal, foi aplicado um questionário para recolha de dados: sociodemográficos; relativos à utilização de novas tecnologias e da Escala de Medida de Manifestação de Bem-Estar Psicológico (BEP). A Escala BEP foi criada em 1998 e adaptada para português em 2006 (Monteiro, Tavares, & Pereira, 2006). Esta escala de autopreenchimento é composta por 25 itens, avaliados numa escala do tipo likert com 5 pontos, classificados de 1 (nunca) a 5 (quase sempre). O resultado final pode variar entre 25 e 125 pontos, em que quanto maior o resultado maior o bem-estar psicológico. Esta escala é composta por dimensões como: felicidade, sociabilidade, controlo de si próprio e dos eventos, envolvimento social, autoestima e equilíbrio.
Procedimentos
Para a realização deste estudo obteve-se autorização da Comissão de Ética da UTAD nº 13/2018 de 28/02/2018 e das várias Instituições onde o estudo decorreu. Após esta etapa procedeu-se à obtenção do consentimento informado dos participantes, onde foram garantidos o anonimato e confidencialidade dos dados, e posterior distribuição de questionários.
Análise estatística
Para perceber qual a distribuição da amostra em estudo, foram aplicados os testes: Shapiro-Wilk (p> 0.05), o histograma, o QQ-plot na versão IBM SPSS Statistic 21.0. Dado que a amostra não apresentou distribuição normal, foram utilizados os testes não paramétricos: Teste de Spearman, Teste de Mann-Whitney, e Qui-quadrado.
ResultadosApós análise estatística podemos observar que apenas 37% idosos utilizam o telemóvel, na sua maioria do género feminino. Destes, a maioria (63%) realiza chamadas telefónicas, 35.6% envia mensagens e, apenas um número muito reduzido (0.7%) realiza videochamadas. Quanto à utilização do computador verifica-se a grande maioria (98,8%) não o utiliza, sendo que dentro dos utilizadores (2.2%) usam-no para enviar e-mails (1.5%) e consultar as notícias (0.7%). É também percetível que a utilização do telemóvel é, na maioria dos casos (28.9%), diária, enquanto que a utilização do computador acava por ser ocasional (2.2%).
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Depois de efetuada a analise estatística, percebemos que não existe correlação com significado estatístico entre a idade e o interesse pelo uso de novas tecnologias (p= 0.458). Percebemos também que, embora não exista correlação com significado estatístico entre a idade e o uso do telemóvel (p= 0.667), através de uma análise descritiva inferimos que os idosos que mais utilizam o telemóvel apresentam idades compreendidas entre os 81 e 85 anos (34%) e entre os 86 e 90 anos (18%). Apos a analise estatística, não obtivemos correlação entre o género e a utilização do telemóvel (p= 0.139), no entanto, da análise dos resíduos ajustados estandardizados, verificamos que do uso no sexo masculino é superior ao esperado. Relativamente às visitas aos idosos, apenas 13.3% destes não recebem visitas. Dos que recebem, 83.7 % são visitas da família, 22.2 % dos amigos e apenas 3% das visitas correspondem a ex-colegas. Relativamente à frequência das visitas, cerca de metade da amostra recebe visitas semanalmente (45.9%), 19.3% recebem visitas diárias e 10.4% dos idosos recebem visitas mensais. A BEP obteve uma pontuação mínima de 47 pontos e a pontuação máxima de 125 pontos (M= 85.95 pontos). Posto isto, percebemos, pela comparação das médias, que os fatores que mais contribuem para a diminuição do bem-estar psicológico são: envolvimento social (M= 8.94), controlo de si mesmo e dos acontecimentos (M= 10,14) e o fator equilíbrio (M= 11,16). Relativamente aos fatores que contribuem para o aumento do bem-estar psicológico são: felicidade (M= 27.52), autoestima (M= 14.62) e sociabilidade (M= 14.41). Relativamente à aplicação da BEP não se encontraram relações estatisticamente significativas entre a idade e o interesse pelas novas tecnologias com o bem-estar psicológico (p= 0.474 e p= 0.509 respetivamente).
DiscussãoDado que não foram encontrados estudos sobre a utilização de novas tecnologias por idosos institucionalizados, a discussão é feita comparativamente a dados portugueses recolhidos junto de idosos que não estão institucionalizados, residentes da zona centro e litoral norte. Apesar de na nossa amostra parecer contrariar os resultados do estudo realizado por Barbara Barbosa Neves (2012), apresentando uma maioria de idosos de género feminino a utilizar telemóvel , na verdade o olhar sobre os resíduos standartizados apontam no sentido de uma maior valorização do uso por parte do género masculino, tal como no estudo citado. No entanto, no que diz respeito à utilização de computadores, esta é superior no género masculino em ambos os casos. Neves (2012) conclui também que o nível de instrução está associado à utilização do computador, mostrando que idosos que concluíram ensino superior, recorrem à utilização das novas tecnologias. Neste estudo, a amostra apresenta como máximo de instrução o ensino secundário, podendo este ser um fator limitante à utilização das novas tecnologias. De acordo com os resultados de uma investigação empírica desenvolvida por Neves & Pereira (2011), a utilização do computador e da internet diminui a solidão, aumenta o acesso à informação, assim como a comunicação com familiares e amigos, melhorando a qualidade de vida dessas pessoas.
ConclusõesA influência das novas tecnologias é cada vez mais presente na nossa sociedade; e a sua utilização confere aos idosos maior autonomia, bem-estar e integração social. De facto, neste estudo, o uso de tecnologias não é preconizado pelos idosos. No entanto, este facto pode ser decorrente do baixo nível de escolaridade da população idosa. Outro fator condicionante, deve-se ao facto desta geração não ter crescido e envelhecido num meio social tão dependente das novas tecnologias como a sociedade atual. Assim, é de extrema importância continuar a realização de estudos de forma a capacitar as faixas etárias mais velhas para a utilização de tais tecnologias de forma a promover a sua autonomia e assim reduzir os crescentes casos de institucionalização.
REFERÊNCIAS
Bárrios, M. J., & Fernandes, A. A. (2014). A promoção do envelhecimento ativo ao nível local: análise de programas de intervenção autárquica. Revista Portuguesa de Saude Publica, 32(2), 188-196. DOI: 10.1016/j.rpsp.2014.09.002 [ Links ]
Hubers, C., & Lyons, G. (2013). New technologies for the old: Potential implications of living in later life for travel demand. Transport Policy, 30, 220-228. DOI: 10.1016/j.tranpol.2013.08.005 [ Links ]
INE, & PORDATA. (2018). População residente, média anual: total e por grupo etário. Retrieved November 14, 2018, from https://www.pordata.pt/DB/Portugal/Ambiente+de+Consulta/Tabela [ Links ]
Katzenstein, T., Schwartz, G., Helena, M., & Almeida, M. De. (2012). Reflexões sobre aproximação de idosos a tecnologias de informação e comunicação a partir dos arquétipos Senex e Puer. Revista Kairós : Gerontologia 15(3), 203-219. [ Links ]
Monteiro, S., Tavares, J., & Pereira, A. (2006). Estudo das características psicométricas da escala de medida de manifestação de bem-estar. In ISPA Edições (Ed.), Actas do 6o Congresso Nacional de Psicologia da Saúde Saúde, Bem-Estar e Qualidade de Vida (pp. 53-58). Lisboa. [ Links ]
Neves, B. B. (2012). Too old for technology? How the elderly of Lisbon use and perceive ICT. The Journal of Community Informatics, 8(1). Retrieved from https://works.bepress.com/bbneves/1/ [ Links ]
Neves, R., & Pereira, C. (2011). Os idosos e as TIC-competências de comunicação e qualidade de vida. Revista Kairós Gerontologia, 14(1), 5-26. [ Links ]
Endereço para correspondência | Dirección para correspondencia | Correspondence
[*] Autor correspondente: Escola Superior de Saúde, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, UTAD, Quinta de Prados, 5001- 801 Vila Real E-mail: calmeida@utad.pt
Agradecimentos:
Nada a declarar
Conflito de Interesses:
Nada a declarar.
Financiamento:
Projeto SAICT-POL/24048/2016 - “NIE - Interfaces naturais com idosos”, com referência NORTE-01-0145-FEDER-024048, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do Programa Operacional Regional do Norte (NORTE2020)
Artigo recebido a 29.11.2018; Aceite a 2.06.2019