Serviços Personalizados
Journal
Artigo
Indicadores
- Citado por SciELO
- Acessos
Links relacionados
- Similares em SciELO
Compartilhar
Motricidade
versão impressa ISSN 1646-107X
Motri. vol.15 no.4 Ribeira de Pena dez. 2019
https://doi.org/10.6063/motricidade.20138
ARTIGO ORIGINAL
Atitudes e comportamentos sexuais de risco em jovens universitários
Sexual attitudes and sexual behaviors in young university students
João Castro1[*], Carlos Almeida1, Vítor Rodrigues1
1 Escola Superior de Saúde, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, UTAD, Quinta de Prados, 5001- 801 Vila Real
Endereço para correspondência | Dirección para correspondencia | Correspondence
RESUMO
No desenvolvimento deste estudo tivemos como principais objetivos identificar e avaliar a atitude dos jovens universitários acerca da contraceção oral de emergência, variação em função do género e avaliar qual a relação desta atitude com a adoção de comportamentos sexuais de risco. Para o efeito implementámos um estudo descritivo-correlacional, transversal de natureza quantitativa, com recurso a uma amostra não probabilística de 457 jovens universitários. Verificámos que na nossa amostra a maioria dos jovens eram do sexo feminino (61.7%) sendo a média de idades de 21.04 anos (21.04 ± 2.59), a larga maioria dos estudantes referiu que já teve relações sexuais (80.5%). No que diz respeito ao hábito de falar com os pais sobre sexualidade/contracepção, apenas 36.1% referiu este hábito, Relativamente à atitude face ao uso da contraceção oral de emergência, podemos concluir que, ela é positiva na generalidade dos estudantes com uma pontuação média global de 2.80, não se verificando diferenças estatisticamente significativas entre os sexos (t= .607, p= .544). Também em relação adoção de comportamentos de risco pelos estudantes não se verificou relação com a atitude global face ao uso da contraceção oral de emergência (U= -1.080, p= .662), nem com alguma das subescalas da atitude.
Palavras-chave: Anticoncepção Pós-Coito, Estudantes universitários, Comportamento sexual de risco, Sexualidade
ABSTRACT
In the development of this study we had as main objectives to identify and evaluate the attitude of university students about emergency oral contraception, variation according to gender and to evaluate the relationship of this attitude with the adoption of sexual risk behaviors. For this purpose, we implemented a descriptive-correlational, cross-sectional quantitative study using a non-probabilistic sample of 457 university students. We found that in our sample, the majority of the youngsters were female (61.7%) and the mean age was 21.04 (21.04 ± 2.59), the vast majority of students reported having had sex (80.5%). With regard to the habit of talking with parents about sexuality / contraception, only 36.1% mentioned this habit. Regarding the attitude towards the use of emergency oral contraception, we can conclude that it is positive in the generality of students with a mean score overall of 2.80, with no statistically significant differences between genders (t = .607, p = .544).Also in relation to the adoption of risk behaviors by the students, there was no relation with the overall attitude towards the use of emergency oral contraception (U = -1,080, p = .662), nor with any of the attitude subscales.
Keywords: Contraception Postcoital, University Students, Sexual Risk Behaviour, Sexuality
Introdução
Existe, por vezes, a assunção de que uma atitude mais favorável ao uso da contraceção oral de emergência, fomenta o relaxamento de condutas preventivas em relação à gravidez e infeções sexualmente transmissíveis. Ao transmitir uma sensação de segurança pela existência de um método anticonceptivo pós-coito, os comportamentos de risco podem-se multiplicar (Brandão, Cabral, Ventura, Paiva, Bastos, Oliveira, & Szabo, 2016) (6). Também alguns estudos demonstram que a crença na efetividade da contraceção oral de emergência afeta negativamente o uso do preservativo e consequentemente a prevenção das infeções sexualmente transmissíveis (Wasie, Belyhun, Moges, & Amare, 2012) (7).
Por outro lado, a avaliação da atitude, assume uma importância particular na medida em que diversos estudos nos mostram que os comportamentos muitas vezes não se relacionam diretamente com o conhecimento adquirido e a facilidade de obter informação atualmente não garante as escolhas mais adequadas por parte dos jovens (Reis et al., 20124
Os objetivos que se pretenderam alcançar com este estudo foi em primeira análise avaliar a atitude relativamente ao uso da COE, de que forma o género influencia a mesma e averiguar se esta atitude se relaciona com uma vivência da sexualidade de uma forma mais despreocupada, nomeadamente pela adoção de comportamentos de risco em relação à gravidez e/ou doenças sexualmente transmissíveis.
MétodoDe acordo com a natureza e os objetivos do estudo, a metodologia de investigação adotado segue o paradigma quantitativo, permitindo apresentar resultados do estudo através de procedimentos estatísticos. Trata-se de um estudo descritivo-correlacional e transversal.
Participantes
Para a realização do estudo, constituímos uma amostra não probabilística em que seguimos um método de amostragem por conveniência. O único critério de inclusão foi o de selecionar apenas estudantes do primeiro ciclo de estudos (licenciatura), partindo das cinco escolas de uma universidade da zona Norte de Portugal. A população foi constituída por estudantes do ensino superior da universidade em estudo, de onde foi extraída uma amostra de 457 estudantes para a concretização do estudo. A aplicação do questionário decorreu de maio a junho de 2014, após parecer positivo da Comissão de Ética (Parecer nº 7/2014).
Instrumentos
Como os objetivos do estudo contemplam a caracterização de atitudes e comportamentos sexuais de estudantes do ensino superior, na recolha de dados utilizámos um questionário de autopreenchimento, construído especificamente para o efeito, sendo constituído por 41 perguntas abertas e fechadas bem como a escala Emergency Contraceptive Pills (ECPs)-Attitude Scale, para a avaliação da atitude acerca da contraceção oral de emergência já validade para o efeito em jovens universitários. Esta escala é constituída por 12 itens e permite a avaliação da atitude no seu global e nas suas três dimensões - “Medo de uso indevido”, “Fácil acesso” e “Preocupações de saúde”, sendo que os valores mais elevados indicam uma atitude mais favorável face à contraceção oral de emergência. No estudo de proveniência da escala foi observado um Alpha de Cronbach para a escala no seu global de 0.76, sendo que para as subescalas foram obtidos valores de 0.80 para "Medo de uso indevido", 0.71 para "Fácil acesso" e de 0.71 para "Preocupações de saúde" (Kang & Moneyham, 2008)10.
Procedimentos
No que respeita aos procedimentos éticos, os questionários foram aplicados em sala de aula depois de um contacto prévio com os diferentes professores. No contacto com os alunos foram explicitados os objetivos do estudo, garantindo a confidencialidade dos resultados, o anonimato dos respondentes bem como o carácter voluntário de participação no estudo.
Análise estatística
Para a avaliação da existência de comportamentos de risco elaborou-se uma pergunta de resposta dicotómica “Sim” e “Não”, em que “Não” se refere aos jovens que nas suas relações sexuais fizeram sempre uso de métodos contraceptivos e “Sim” engloba todos aqueles que não utilizaram ou não fizeram uma utilização sistemática de métodos contraceptivos. Os dados obtidos foram tratados informaticamente, utilizando a versão 20 do programa Statistical Package for the Social Sciences® (SPSS), para a elaboração da base de dados, folha de cálculo de frequências, medidas de tendência central e medidas de dispersão, que nos permitiram fazer uma análise descritiva da amostra. Para o teste de hipóteses recorreu-se à estatística inferencial, com utilização de teste paramétricos ou não-paramétricos depois de examinada a existência de normalidade na distribuição das variáveis através do teste de Kolmogorov-Smirnov.
Salientamos ainda que, em toda a análise estatística, assumimos 0.05 como valor crítico de significância para os resultados dos testes estatísticos, rejeitando-se a existência de associações/diferenças quando a probabilidade do erro for igual ou superior a este valor.
ResultadosParticiparam no estudo 457 estudantes dos quais 61,7% eram do sexo feminino, com uma idade média de 21,04 anos (21,04 ± 2,59), a moda e a mediana eram os 20 anos. Quase a totalidade dos estudantes se encontrava solteira ((97.6%) e a maioria tinha como zona de proveniência a cidade (41.8%). Relativamente ao hábito de falar com os pais sobre sexualidade/contracepção apenas 36.1% respondeu afirmativamente, os restantes ou não falam (32.2%) ou falam apenas às vezes (31.7%). Dos que não têm este hábito com os pais a razão mais referida foi “Não é assunto para discutir com os pais” com 29.3% seguido de “Eles evitam discutir o assunto” com 26.4%.
No que diz respeito à atitude face ao uso da COE, podemos observar pela resultados da tabela 1, que genericamente existe uma atitude favorável ao uso da COE com uma média de 2.80, e embora a média seja superior no sexo masculino não é estatisticamente significativa a diferença na atitude entre os sexos (t= .607, p= .544). Para as subescalas a pontuação mais elevada foi para o “Fácil acesso”, seguida da subescala “Medo do mau uso” e por fim “Preocupações de saúde”. As pontuações da atitude foram sempre mais elevadas no sexo masculino em relação ao sexo feminino, exceto na subescala “Medo do mau uso” no entanto as diferenças não eram significativas. Apenas obtivemos diferenças significativas nos itens “A disponibilização da COE leva ao aumento da promiscuidade” com o sexo masculino a pontuar menos (t= -3.245, p= .001), já no item “Eu tenho medo de tomar a COE devido a efeitos secundários” foi o sexo feminino a pontuar menos (t= 2.991, p= .003) e portanto a apresentar uma atitude menos positiva face ao uso da COE.
(clique para ampliar ! click to enlarge)
Dos estudantes que integraram o estudo a maioria (80.5%) já teve relações sexuais, sendo este facto mais referido pelos jovens do sexo masculino com diferenças significativas (x2= 8.618, p= 0.003). É também o sexo masculino a apresentar uma maior precocidade no início das relações sexuais sendo esta diferença também significativa (U= 3.238, p=0.001).
Não se verificou relação da atitude face ao uso da COE e a existência de comportamentos de risco (U= -1.080, p= .662), no entanto verificou-se uma diferença significativa nos comportamentos de risco (x2= 15.415, p= .000) em função do sexo, sendo que os comportamentos de risco têm maior expressão no sexo masculino.
DiscussãoOs resultados obtidos relativamente à atitude face ao uso da COE vão de encontro aos obtidos por Kang e Moneyham (2008) na pontuação obtida pela escala no seu global e ordenação pelas subescalas, apenas na subescala “Medo do mau uso” verificámos que foi o sexo masculino a ter uma pontuação inferior o que pode traduzir um receio de uma utilização abusiva da COE, apesar de tudo não se verificaram diferenças significativas entre os sexos. Este mesmo receio foi identificado por Brandão et al. (2016) no seu estudo, em que se destaca o risco do seu uso descontrolado ou indiscriminado, banalizando de certa forma o seu uso o que é contrário às suas indicações.
A maioria dos nossos estudantes universitários iniciou já uma vida sexual ativa, também outros estudos realizados em populações similares encontraram resultados idênticos (Pimentel, Preto, Alves, & Monteiro, 2016; Santos, Ferreira, Duarte, & Ferreira, 2018).
Verificámos que são os estudantes do sexo masculino quem mais refere, já ter uma vida sexual ativa e com maior precocidade com diferenças significativas em relação ao sexo feminino, o que vai de encontro ao verificado em outros estudos nacionais (Oliveira, Caramelo, Patricio, Camarneiro, Cardoso, & Pita, 2017; Pimentel et al., 2016). Também os comportamentos de risco significativo, por nós verificado no sexo masculino são corroborados por outros estudos (Santos et al., 2018; Pimentel et al., 2016).
ConclusõesCom a elaboração deste estudo pudemos verificar que apesar de os estudantes universitários terem uma atitude genericamente positiva em relação à atitude face ao uso da COE, esta atitude não apresentas diferenças significativas entre os sexos e não tem influência na adoção de comportamentos de risco pelos jovens, nomeadamente em relação à gravidez e doenças sexualmente transmissíveis.
No entanto verificámos que a maior diferença de médias se verifica na subescala “Fácil acesso” entre os jovens que apresentam comportamentos de risco e aqueles que não apresentam (2.87 vs 2.77 respetivamente). Por outro lado, são os jovens do sexo masculino que estão em maior risco pelo início mais precoce de relações sexuais e não uso sistemático de métodos contraceptivos.
REFERÊNCIAS
Brandão, E. R., Cabral, C. S., Ventura, M., Paiva, S. P., Bastos, L. L., Oliveira, N. V. B. V., & Szabo, I. (2016). “Hormone bomb”: risks of emergency contraception from the perspective of pharmacy attendants in Rio de Janeiro, Brazil. Cad. Saúde Pública, 32(9), 1-11. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0102-311X00136615 [ Links ]
Kang, H. S., & Moneyham, L. (2008). Use of emergency contraceptive pills and condoms by college students: a survey. International Journal of Nursing Studies, 45, 775-783. DOI: 10.1016/j.ijnurstu.2007.01.008 [ Links ]
Oliveira, A. C. G. D. P. C., Caramelo, F., Patrício, M., Camarneiro, A. P., Cardoso, S. M., & Pita, J. R. (2017). Impacto de um programa de intervenção educativa nos comportamentos sexuais de jovens universitários. Revista de Enfermagem Referencia, 4(13), 71-82. DOI: https://doi.org/10.12707/RIV17022 [ Links ]
Pimentel, M. H., Preto, L. S. R., Alves, M. J. G., & Monteiro, A. M. P. C. (2016). Comportamento sexual e estudantes do ensino superior. Psicologia, Saúde & Doenças, 17(3), 352-367. DOI: http://dx.doi.org/10.15309/16psd170304 [ Links ]
Reis, M., Ramiro, L., Matos, M. G., & Diniz, J. (2012). Sexual behaviours of Portuguese university students of both sexes in 2010. Rev Port Saúde Publica. 30(2), 105-114. DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2012.12.001 [ Links ]
Santos, M. J., Ferreira, E., Duarte, J., & Ferreira, M. (2018). Risk factors that influence sexual and reproductive health in Portuguese university students. International Nursing Review, 65, 225-233. [ Links ]
Wasie, B., Belyhun, Y., Moges, B., & Amare, B. (2012). Effect of emergency oral contraceptive use on condom utilization and sexual risk taking behaviours among university students, Northwest Ethiopia: a cross-sectional study. BMC research notes, 5, 501. DOI: 10.1186/1756-0500-5-501 [ Links ]
Endereço para correspondência | Dirección para correspondencia | Correspondence
[*] Autor correspondente: Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – Escola Superior de Saúde, Quinta de Prados, Complexo Desportivo da UTAD, 5000-801, Vila Real, Portugal E-mail: jcastro@utad.pt
Agradecimentos:
Nada a declarar
Conflito de Interesses:
Nada a declarar.
Financiamento:
Nada a declarar
Artigo recebido a 29.11.2018; Aceite a 25.04.2019