INTRODUÇÃO
Atualmente a população mundial de idosos registra-se com uma maior longevidade (Meereis Lemos et al., 2020). No Brasil, aproximadamente 1,7% da população é representada por idosos com idade igual ou superior a 80 anos, considerados idosos longevos, e as projeções sugerem um aumento de quase 3% até 2030 (Steffens et al., 2019). Além disso estima-se que até 2025 o Brasil ocupará a 6ª colocação de país com maior população idosa (De Sousa Vaz, 2020).
O processo de envelhecimento do ser humano é multifatorial e irreversível, sendo ocasionado por alterações estruturais e funcionais dos sistemas musculoesquelético, cardiorrespiratório, somatossensorial e nervoso (Vagetti et al., 2020). Estas alterações interferem no desempenho das atividades cotidianas, resultando em menores índices de autonomia funcional e qualidade de vida no idoso (Gonçalves et al., 2019; Borzuola et al., 2020; Santos et al., 2020).
A qualidade de vida não está relacionada unicamente ao bem-estar físico, pois envolve também fatores sociais, psicológicos, emocionais e no caso específico da capacidade funcional, que está associada à realização de atividades diárias, segurança, autonomia e independência (Morais et al., 2020). Entretanto, em idosos há um declínio da capacidade funcional e, como consequência, maiores riscos de causas de morte, quedas e fraturas associada a déficits na potência e força muscular, bem como alterações sensoriais importantes para a manutenção do equilíbrio dinâmico e agilidade (Borzuola et al., 2020). O declínio da capacidade funcional apresenta-se como fator de risco ainda maior quando somado às barreiras físicas presentes nos locais de habitação desses idosos (Muniz et al., 2018).
Além disso, o envelhecimento traz consigo maior predisposição para o desenvolvimento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), como a Hipertensão Arterial Sistêmica, Doenças Cardiovasculares, Diabetes Mellitus, Doenças Osteoarticulares, entre outras (Mota et al., 2020). A inatividade física, nesse sentido, caracteriza-se como um potencializador do risco de contração de DCNTs, aumentando 75% dos casos, e elevando a prevalência de síndrome metabólica para taxas 3 a 4 vezes superiores (Agostini et al., 2018; Gargiulo et al., 2020), além de possibilitar o desenvolvimento de sarcopenia, o que coloca a atividade física como prática fundamental para a manutenção da autonomia funcional do idoso (Menezes & Rocha, 2020).
A prática de exercícios físicos promove diversos benefícios fisiológicos e psicológicos, pois colabora com a redução dos riscos de contração de DCNTs, diminui o risco de quedas, colabora com a manejo da dor (Loi et al., 2014), reduz os sintomas de depressão, estresse, e ansiedade (Cothran et al., 2017) , preserva as capacidades físicas e mentais, e eleva a Qualidade de Vida (Scherrer Júnior et al., 2019). Em adição, os idosos podem também ser beneficiados pelas melhorias das capacidades coordenativas e condicionantes, fadiga reduzida, e do desempenho para realização das atividades diárias (Agostini et al., 2018; Kramer, 2020; Walsh et al., 2020).
Já é consenso na literatura que programas de atividades físicas ajudam na redução e estabilização dos índices de DCNTs, bem como das doenças articulares e musculoesqueléticas, proporcionando assim, uma rentabilidade maior na capacidade funcional, na autonomia e independência do idoso. No entanto, estudos com pessoas idosas que fazem mais de uma atividade física semanal e sem limitações de movimentos ainda merecem destaque por parte da comunidade científica. Neste sentido, esse trabalho justifica-se pela necessidade de elencar os principais pontos abordados sobre a prática regular de atividade física em idosas, bem como os benefícios mútuos à saúde e ao bem-estar físico, psíquico e social da vida humana. Portanto, o objetivo do presente estudo é mensurar a importância da prática de atividade física e a sua influência na qualidade de vida diária de pessoas idosas praticantes de atividades físicas.
MÉTODO
Deliniamento
O presente trabalho apresenta-se como estudo piloto de caráter exploratório. A coleta de dados foi realizada mediante a aplicação de dois questionários. As voluntárias foram informadas sobre os objetivos do estudo, bem como todos os critérios da pesquisa envolvendo seres humanos, atendendo as orientações da Resolução no 196/1996, atualizada na Resolução no 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Sergipe (UFS), por meio do processo nº 69319717.0.0000.5546.
Amostra
A avaliação foi aplicada em 09 idosas com idades entre 60 a 80 anos e como critérios de inclusão estabelecidos que fizessem no mínimo duas ou mais atividades físicas semanais dentre alongamento, dança, ginástica aeróbica ou ginástica localizada, caminhada orientada, treinamento funcional ou musculação, experiência prévia de pelo menos 03 meses com uma frequência de no mínimo 3x por semana, intensidade de leve a moderada e duração de até 60 minutos por sessão. Os critérios de exclusão adotados foram ter alguma limitação de movimento e a incapacidade cognitiva para interpretar e responder ao questionário.
Instrumentos e procedimentos
A coleta de dados foi realizada em uma única etapa, tendo como objetivo principal o levantamento de informações referentes ao nível de independência funcional e de qualidade de vida em idosas praticantes de atividades físicas, com a supervisão de um responsável e com o consentimento delas, possibilitando-se assim a aplicação e a coleta de informações.
Para a coleta de dados foram utilizados dois questionários que foram preenchidos de forma individual, podendo a avaliada ser assistida, quando solicitado, para se tirarem as dúvidas necessárias.
Para a composição das questões do WHOQOL-bref foi selecionada a questão de cada faceta que apresentava a maior correlação com o escore médio de todas as facetas (The WHOQOL Group, 1998). Após a seleção das questões, foi realizada uma análise para verificar se estas, factualmente, representavam as facetas correspondentes. Em seis facetas, a questão selecionada foi substituída por outra questão da faceta correspondente, pois, sob o viés de experts, havia outra questão que melhor definisse essas seis facetas (The WHOQOL Group, 1998). As facetas pertencentes ao domínio Nível de Independência foram incorporadas ao domínio Físico, assim como a faceta pertencente ao domínio Aspectos espirituais/Religião/Crenças pessoais foi incorporada ao domínio Psicológico. Assim, o WHOQOL-bref é composto por quatro domínios: Físico, Psicológico, Relações Sociais e Meio-Ambiente.
Visando a avaliar os níveis de dependências funcional do indivíduo, aplicou-se o índice de Barthel, que é uma escala notoriamente de fácil aplicação e com alto grau de confiabilidade e validade. Confim de ponderar a capacidade funcional, por meio de observação direta das atividades básicas da vida diária dos idosas, o instrumento aplicado foi o índice de Bartel (Araújo et al., 2007). Este meio verifica o grau de assistência necessário, com dez atividades (alimentação, banho, higiene pessoal, vestir-se, controle da bexiga, do intestino, transferências da cadeira e cama, deambulação e subir e descer escadas).
O índice de Barthel consiste em um questionário contendo dez questões nas quais cada uma questão, corresponde a uma pontuação de 0 a 15. Os avaliados podem ser auxiliados para responder o questionário e, ao final, os valores somados irão classificar os idosos com relação ao seu nível de independência funcional em situação Severa: <45 pontos; Grave: entre 45-49 pontos; Moderada: entre 60-80 pontos; Leve: entre 80-100 pontos.
RESULTADOS
A seguir os resultados obtidos serão abaixo descritos, a representação da análise foi realizada a partir da obtenção dos dados coletados através de dois questionários o Índice de Barthel e WOQOOL-bref.
Na Figura 1 são apresentados três aspectos que correspondem ao nível de capacidade funcional de idosas que foram avaliadas em três estágios, sendo eles: Dependente - Necessita de ajuda e independente. Quanto à capacidade funcional avaliada a partir do Índice de Barthel, os resultados dos estudos indicaram a prevalência da independência, significando que os idosos conseguem realizar sem auxílio as suas atividades quotidianas, tendo consequentemente uma melhor qualidade de vida aumentando a taxa de vitalidade - potencializando o seu bem-estar e, logo, reduzindo os índices de mortalidade.
Os resultados obtidos a partir do questionário do WHOQOL-bref, e na análise dos dados é notável que 22% dos idosas apresentaram dor ou desconforto, 45% dos avaliados fazem o uso contínuo de medicamentos e 20% apresentaram sentimentos negativos; os demais aspectos como relações sociais e meio-ambiente evidenciaram-se como elementos extremamente significativos entre os idosos analisados (Figura 2).
Os domínios psicológicos (85,45) e ambiente (80,00) tiveram maior destaque em relação ao físico (79,64) e relações sociais (71,67), conforme demonstrado na figura 3.
DISCUSSÃO
No estudo feito por Dawalibi et al. (2014), com o objetivo de analisar os fatores relacionados à qualidade de vida de idosos em programas para a terceira idade, fez-se notar, predominantemente, a presença de idosos do gênero feminino (89,6%), com idades entre 60 e 69 anos (68,7%).
Observando um estudo feito por De Queiroz et al. (2020), que analisou a qualidade de vida de idosos com diabetes mellitus em programas para a terceira idade, observou, predominantemente, a presença de idosos do sexo feminino (65%), com idades entre 60 e 80 anos (68,7%) (média de 70,35 ± 6,3 anos) e sexo masculino de 35%.
Um estudo realizado por Toselli et al. (2020) que fala a sobre a aplicação do índice da qualidade de vida e composição corporal em idosos, mostrou que a prevalência dos entrevistados com idade média masculina de 81,1 ± 7,3, e feminina de 84,9 ± 8,1 anos, verificado também na pesquisa de Jeong e Park (2020) a predominância do sexo feminino com 62 idosos e 38 masculino do total 100 entrevistados para identificar as relações entre atividades de lazer, depressão e qualidade de vida em idosos residentes na comunidade na Coréia com idade ≥ 65 anos.
Para Moreira et al. (2020) no grupo de idosos adscritos à Estratégia Saúde da Família no Sul de Minas Gerais com amostra de total de 406, a média de idade 70,5 ± 6,8, com 37,9% (154) do sexo masculino e feminino 62,1% (252). Já em 8 Unidades Básicas de Saúde (UBS) da Cidade de Fortaleza foram avaliados 120 idosos, onde 65% eram do sexo feminino e 35% com a média de 70,35± 7,47 (De Queiroz et al., 2020). Ou seja, o gênero feminino há maior predominância em relação as pesquisas sobre o índice de qualidade de vida.
Conforme o relatado por Luna et al. (2020), a avaliação da funcionalidade de idosos institucionalizados: relação entre índice de Barthel e a classificação internacional, incapacidade e saúde (ICF), tem-se que, quanto à capacidade avaliada pelo índice de Barthel, os resultados indicaram maior percentual de idosos com dependência severa, seguido de ligeira dependência, o que difere dos resultados encontrados neste estudo (Luna et al., 2020). A inatividade física aumenta a incapacidade funcional e limitações no aspecto físico (De Queiroz et al., 2020).
Bess et al. (2017) apontam que a capacidade funcional está diretamente relacionada à capacidade de realização autônoma e independente das atividades cotidianas, e que seus valores são naturalmente reduzidos com o avançar da idade. As atividades diárias podem envolver a realização de compras, lazer, recreação, deslocamento, banhar-se, preparação de alimentos, e até mesmo manter a continência ou fazer a própria contabilidade (Leal et al., 2020).
No estudo de Costa et al. (2020) foi observado que nas Atividades Básicas da Vida Diária (ABVD) a percepção dos idosos e cuidadores sobre a melhora da capacidade em realizar as funções corporais foi mais relevante frente as Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD). Visto que, devido ao processo de envelhecimento reporta-se uma síndrome de fragilidade que pode apresentar síndrome geriátrica onde acentua-se mais em idosos, com maior dependência física dificultando assim a realização das AIVD (Santos et al., 2020).
Partindo disso no estudo de Leal et al. (2020) sobre as condições referidas de saúde e grau de incapacidade funcional em idosos, conforme o avançar da idade, verificou maior prevalência das dependências da AIVD e ABVD. Sendo que a probabilidade de dependência maior é nas AIVD, também mencionado por Ikegami et al. (2020) a diminuição da capacidade funcional e desempenho físico justificada pela hierarquia sobre as atividades diárias, no qual as perdas primeiramente ocorrem na AIVD por ser mais complexa para posteriormente a ABVD.
Com base no estudo de De Queiroz et al. (2020) fez-se a relação da qualidade de vida de não e praticantes de atividade física e observou-se que a menor média de escore foram dos indivíduos que não praticavam nos domínios relacionados aos aspectos sociais, dor, vitalidade e saúde mental, neste mesmo sentido no estudo de Silva et al. (2018) sobre a avaliação da qualidade de vida em diabéticos e/ou hipertensos usuários de um núcleo de apoio à saúde da família, os idosos não-ativos, com média padrão das relações sociais (41,4) e meio-ambiente (41,9), valor abaixo comparado com os ativos com (77) e (76,5) respectivamente, considera-se que esses valores representam uma percepção positiva para QV (Silva et al., 2018).
Já no estudo longitudinal em idosos, Ikegami et al. (2020) apontam o fato de pode afetar negativamente o envelhecimento saudável é o nível de escolaridade alegando que as oportunidades de aprendizado contribuem para o desenvolvimento de habilidades, da autoestima e confiança essenciais para a vida social e autonomia para o idoso, seguido dos recursos financeiros de familiares em direcionar os cuidados necessários ao dependente, principalmente no uso de medicamentos (Ikegami et al., 2020), dessa forma que a qualidade de vida é uma correlação entre as condições externas da vida de um indivíduo e a percepção interna dessas condições (Valverde & Jurdi, 2020).
No estudo de Buso et al. (2020) que avaliou fatores de qualidade de vida em idosos octogenários residentes em zona rural, e contrastando com os resultados do presente estudo os escores com a maior média encontrada foi no domínio de relações sociais (71,51), enquanto o domínio meio ambiente obteve a menor média do escore (60,60).
Para Almeida et al. (2020) idosos que praticam atividade física orientada está interligada diretamente com a qualidade de vida e as suas potencialidades nos aspectos: físico, psicológico, relações sociais, meio ambiente, estado de saúde, valores culturais do que os idosos que não praticam atividade física
É importante salientar que a partir dos dados obtidos na pesquisa de campo predominou o entendimento de que os indivíduos que levam uma vida ativa apresentam características superiores tais como: autoestima elevada, crenças humanistas, locomoção satisfatória, relações pessoais salutares, ambiente físico e autoavaliação da qualidade de vida.
CONCLUSÕES
Conclui-se, a partir das informações coletadas neste respectivo estudo que foram de extrema importância a mensuração da relação entre as práticas de atividades físicas e a qualidade de vida em, tal possibilitando descrever que a prática de exercícios planejados e orientados de maneira correta possibilita melhoras visíveis em diversos aspectos que norteiam as experiências da vida quotidiana das idosas, de maneira que as mesmas sejam independentes, interativas e possuam um bem-estar físico e mental capazes de realizarem as suas atividades diárias de forma satisfatória, e que possa possibilitar uma diminuição da taxa de mortalidade e, por conseguinte, aumento da longevidade.