INTRODUÇÃO
A História do Corpo
O corpo é um espaço, individual e íntimo, onde prolifera a criatividade e é transformado pelo individuo para representar e servir a sua cultura (Russo, 2005). Ao longo da história, até aos nossos dias, temos assistido a uma alteração da imagem corporal imposta, fundamentalmente, pelas pressões socioculturais (Damasceno et al., 2008). Assim, a história do corpo reflete a história da civilização (Foucault, 1994).
Para o homem primitivo o corpo estava em harmonia com a natureza, pois este teria de se adaptar e transformar em função das características do meio ambiente, assim como em função das necessidades do quotidiano (alimentação, proteção e defesa) (Barbosa et al., 2011).
A civilização que, provavelmente, mais valorizou o corpo foi a Grega, este representava beleza, saúde, capacidade atlética e fertilidade, e cada idade tinha a sua própria beleza, ou seja, o envelhecimento era honrado, fazia parte da vida, e era encarado como tal (Tucherman, 2004). Com o Cristianismo, o corpo torna-se fonte de pecado e deveria ser proibido à luz de Deus (Tucherman, 2004). Na era Moderna, com o Renascimento, ressurge a preocupação do ser humano com o corpo, por um lado sob uma visão científica, começa a ser estudado e investigado, e por outro lado, sob uma perspetiva artística, surgem evidencias em obras de arte de grandes pintores, como Da Vinci e Michelangelo (Pelegrini, 2006). Com a expansão do capitalismo, no século XIX, o homem começa a educar o corpo, não só para produzir, mas também para consumir, ou seja, adaptar-se aos padrões sociais de beleza (Damasceno et al., 2008). O grande desenvolvimento técnico e científico desta época serviu também para aumentar as técnicas e práticas sobre o corpo, principalmente na elite burguesa (Paim & Strey, 2004).
Da era pós-moderna, até aos dias de hoje, cada vez mais as pessoas investem no corpo para obterem reconhecimento social e felicidade. É na década de sessenta que se inicia a procura pelo corpo perfeito, com medidas antropométricas cada vez menos expressivas (Andrade & Bosi, 2003; Damasceno et al., 2008). Assistimos a um aumento descontrolado de produtos e serviços ao dispor dos padrões estéticos corporais, onde mesmo o envelhecimento deixa de fazer parte natural do ser humano para ser esteticamente contrariado (Mo Sung, 2003). A sociedade olha, atualmente, para o corpo como a soma das suas partes, sendo que todas elas terão de estar em conformidade com os padrões de beleza impostos pela sociedade (Rosário, 2006).
Perceção da Imagem Corporal
A perceção da imagem corporal é fundamental para o equilíbrio emocional do individuo e pode ser definida como a representação que temos sobre a aparência do nosso corpo (Buckworth & Dishman, 2002; Gardner, 1996; Schilder, 1968; Vaz Serra, 1986). Este vai sofrendo alterações ao longo da vida (Cruz, 1998; Vaz Serra, 1986), envolvendo não só os aspetos físicos, mas também os psicológicos (pensamentos, crenças, sentimentos e comportamentos) (Cash, 2004), os fisiológicos, os sociológicos (Rocha, 2012), os percetivos, os de género e de personalidade (Stewart et al., 2003), resultado das experiências e das emoções (Aerts et al., 2010), baseando-se na permanente comparação com os outros (McPherson & Turnbull, 2005).
A satisfação com a imagem corporal diz respeito à forma como nos sentimos, não só com o corpo num todo, mas, também, com as partes em particular (Trucker, 1985). Por outro lado, a insatisfação com a imagem corporal é a discrepância entre a imagem do corpo atual (percecionada) e a sua imagem corporal ideal (desejada) (Vieira et al., 2005). Uma forte razão para aumentar a insatisfação da imagem corporal, e consequente frustração, é a elevada pressão social exercida no individuo para que atinja um padrão de beleza ideal quase impossível de concretizar (Martins & Petroski, 2015).
É possível avaliar a perceção corporal com recurso a testes clínicos e/ou questionários dos mais diversos tipos (Abrantes, 1998; Cash & Pruzinsky, 2002; Hart, 2003; Kay,1996; Lutter et al., 1990). De entre os diversos métodos, destacam-se as técnicas de estimativa do tamanho do corpo e as medidas de atitude da imagem corporal (Cash & Pruzinsky, 2002; Hart, 2003). Nas medidas de atitude e imagem corporal salienta-se a avaliação dos sentimentos em relação ao tamanho do corpo (relação afetiva) e os comportamentos em relação ao corpo (dimensão comportamental) (Cash & Pruzinsky, 2002; Hart, 2003). Nas últimas décadas houve um aumento e uma diversificação de protocolos e métodos que procuram avaliar a perceção da imagem corporal. De entre todos, Morgado et al., (2009), constataram que o questionário é o método mais utilizado para se avaliar as questões relativas à auto perceção com a imagem corporal.
Influência da Prática da Atividade Física na Perceção com a Imagem Corporal
A prática da atividade física (AF) tem sido utilizada como um fator determinante para o aumento da satisfação com a imagem corporal, independentemente da idade e do género (Loland, 1998; Rocha, 2012; Russell, 2004). O sedentarismo está normalmente relacionado com o aumento da obesidade e doenças associadas e, consequentemente, a uma diminuição na satisfação com a imagem corporal (Farias & Salvador, 2005). Os locais mais procurados para a transformação e culto do corpo são as academias e/ou ginásios (Silva, 2001). Apesar da maioria dos indivíduos se encontrar de acordo com as recomendações de índice de massa corporal e percentagem de gordura, mesmo assim procuram alcançar o tipo de corpo socialmente idealizado (Kay, 1996; Kunkel, 1997; Stice & Shaw, 1994). Deste modo, a prática da AF mostra-se um método importante na perda de gordura e definição corporal (Fox, 1999).
Entende-se, assim, que uma das formas mais saudáveis e, provavelmente, um dos métodos mais acessíveis para se modificar a condição corporal é por intermédio da prática da AF desportiva (Fox, 1999). Posto isto, a relação entre a prática da AF e a perceção da satisfação com a imagem corporal de adultos em algumas regiões do país ainda está por estudar. Desta forma, foi objetivo deste estudo comparar a perceção da satisfação com a imagem corporal por níveis de AF numa amostra da região do Vale do Sousa (Porto, Portugal). Foi colocado como hipótese de que a perceção da satisfação com a imagem corporal varia de acordo com os níveis de atividade física.
MÉTODO
O estudo realizado seguiu o método quantitativo comparativo com a finalidade de se analisarem as diferenças e as semelhanças na perceção da imagem corporal entre os grupos da amostra. Neste sentido, o objetivo deste estudo foi o de comparar a influência que a prática da AF teria na satisfação com a imagem corporal entre o grupo dos sujeitos sedentários, ativos e desportistas em função do sexo.
Participantes
Para a recolha da amostra, tendo em conta os objetivos do estudo, foi utilizada a técnica da amostragem não probabilística por conveniência. Os dados foram recolhidos nos meses de janeiro e fevereiro de 2019, na região do Vale do Sousa (Porto, Portugal). A recolha obedeceu a dois critérios: idade e tipo de prática de AF. Relativamente à idade, não foram admitidas crianças com idades inferiores a 15 anos nem idosos, ou seja, com idade igual ou superior a 65 anos. Em relação ao tipo de AF foram selecionados: sujeitos sedentários, ativos e desportistas.
A recolha dos dados foi determinada pelo código de ética (Fortin, 1999) e aos sujeitos menores de idade foi ainda solicitada a autorização aos encarregados de educação. Todos os procedimentos foram de acordo com a declaração de Helsínquia para a investigação em seres humanos.
Assim, a amostra do estudo foi constituída por 899 sujeitos, dos quais 273 eram sedentários (100 sujeitos do sexo masculino e 173 do sexo feminino), 494 eram ativos (243 sujeitos do sexo masculino e 251 do sexo feminino) e 132 eram desportistas (97 masculinos e 35 femininos). A idade média e respetivo desvio padrão, assim como o mínimo e o máximo, para cada nível de atividade física, é apresentada na tabela 1.
Atividade física desportiva | Sexo | N | Idade |
Mínimo | Máximo |
---|---|---|---|---|---|
Sedentário | Masculino | 100 | 31,39 ± 10,45 | 17 | 61 |
Feminino | 173 | 33,00 ± 9,83 | 16 | 62 | |
Total | 273 | 32,41 ± 10,07 | 16 | 62 | |
Ativo | Masculino | 243 | 27,56 ± 9,07 | 15 | 53 |
Feminino | 251 | 29,70 ± 10,51 | 15 | 61 | |
Total | 494 | 28,65 ± 9,87 | 15 | 61 | |
Desportista | Masculino | 97 | 23,75 ± 5,17 | 15 | 7 |
Feminino | 35 | 21,20 ± 5,06 | 15 | 44 | |
Total | 132 | 23,07 ± 5,24 | 15 | 44 | |
Total | Masculino | 440 | 27,59 ± 9,07 | 15 | 61 |
Feminino | 459 | 30,30 ± 10,38 | 15 | 62 | |
Total | 899 | 28,97 ± 9,85 | 15 | 62 |
Legenda: N - número;
Avaliação da satisfação corporal
O instrumento utilizado para se avaliar a satisfação com a imagem corporal foi o questionário Body Image Satisfaction Questionnaire (BISQ) de Lutter et al., 1990, traduzido e adaptado para a população portuguesa por Abrantes (1998).
O BISQ é um instrumento constituído por vinte e três itens, correspondendo cada um a partes relacionados com o corpo. As questões são apresentadas em escala de Likert com cinco possibilidades de resposta: 1. não gosto nada e desejaria ser diferente; 2. não gosto, mas tolero; 3. é-me indiferente; 4. estou satisfeito; 5. considero-me favorecido. Assim, a satisfação com a imagem corporal é obtida a partir da média dos 23 itens e quanto mais elevada for essa média, maior será a satisfação da imagem corporal do sujeito. O questionário consta, ainda, de duas questões que permitem avaliar a perceção da altura e do peso, sendo respetivamente o item 24 (1. sinto-me alto; 2. sinto-me baixo; 3. tenho a altura ideal) e o item 25 (1. sinto-me gordo; 2. sinto-me magro; 3. tenho o peso ideal).
Análise estatística
Para tratamento estatístico dos dados, como medida de tendência central foi utilizada a média e de dispersão o desvio padrão. Como os dados obtidos nos três grupos da amostra apresentaram uma distribuição não normal, utilizou-se a estatística inferencial não paramétrica. Neste sentido, para a comparação dos resultados médios entre os grupos foi utilizado o teste de Mann-Whitney. Foi considerado um grau de significância para um p<0,05. Para análise do grau de consistência interna dos dados obtidos utilizou-se o teste Alpha de Cronbach’s. Foram considerados os valores de Nunnally (1978), em que um instrumento ou teste se considera com um grau de fiabilidade apropriado quando os valores de Alpha (α) são, pelo menos, iguais ou superiores a 0,70.
RESULTADOS
O valor de α de Crochach’s para a totalidade da amostra foi de 0,93, os sedentários apresentaram um valor de 0,93, os ativos de 0,91 e os desportistas de 0,95.
Os resultados relativos à comparação da perceção da satisfação da imagem corporal por níveis de AF e sexo estão apresentados na tabela 2.
Questões | Tipo de atividade física desportiva | ||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Sedentários | Ativos | Desportistas | |||||||
M | F | p | M | F | p | M | F | p | |
Cabelo | 3,34±1,09 | 3,75±1,03 | <0,001** | 3,76±0,93 | 3,94±0,89 | 0,03* | 3,88±0,93 | 4,09±0,65 | 0,35 |
Dentes | 3,30±1,01 | 3,33±1,06 | 0,64 | 3,56±1,01 | 3,37±1,14 | 0,06 | 3,67±0,94 | 3,43±0,97 | 0,27 |
olhos | 3,67±0,87 | 4,08±0,80 | <0,001** | 4,05±0,71 | 4,14±0,84 | 0,07 | 4,20±0,74 | 4,03±0,92 | 0,45 |
Orelhas | 3,78±0,79 | 3,94±0,87 | 0,06 | 3,87±0,74 | 4,00±0,88 | 0,01* | 3,82±0,86 | 3,83±0,95 | 0,98 |
Nariz | 3,43±0,93 | 3,59±0,95 | 0,13 | 3,56±0,89 | 3,73±0,95 | 0,01* | 3,68±0,93 | 3,51±1,06 | 0,37 |
Pele | 3,55±0,84 | 3,60±1,01 | 0,3 | 3,74±0,89 | 3,78±0,90 | 0,54 | 3,92±0,82 | 3,60±1,16 | 0,34 |
Aspeto face/rosto | 3,58±0,93 | 3,61±0,93 | 0,72 | 3,88±0,75 | 3,76±0,86 | 0,27 | 3,99±0,83 | 3,57±0,91 | 0,01* |
Braços | 3,34±0,92 | 3,50±0,91 | 0,09 | 3,61±0,89 | 3,45±1,00 | 0,09 | 3,96±0,90 | 3,60±1,00 | 0,06 |
Peitorais/seios | 3,15±1,03 | 3,35±1,03 | 0,04* | 3,52±0,91 | 3,25±1,12 | 0,02* | 3,79±0,91 | 3,46±1,03 | 0,13 |
Ombros | 3,47±0,92 | 3,64±0,87 | 0,1 | 3,65±0,85 | 3,67±0,84 | 0,84 | 3,78±0,89 | 3,74±0,85 | 0,67 |
Barriga | 2,75±1,13 | 2,67±1,19 | 0,58 | 3,25±1,08 | 2,86±1,24 | <0,001** | 3,53±1,05 | 3,26±1,26 | 0,3 |
Ancas | 3,31±0,96 | 3,05±1,17 | 0,1 | 3,59±0,82 | 3,39±1,12 | 0,22 | 3,62±0,92 | 3,20±1,15 | 0,07 |
Cintura | 3,18±1,01 | 2,98±1,17 | 0,22 | 3,50±0,88 | 3,20±1,13 | 0,02* | 3,62±0,89 | 3,34±1,21 | 0,22 |
Nádegas | 3,39±1,01 | 3,04±1,16 | 0,02* | 3,65±0,80 | 3,26±1,18 | <0,001** | 3,66±0,87 | 3,29±1,07 | 0,07 |
Coxas | 3,35±1,04 | 3,05±1,24 | 0,07 | 3,67±85 | 3,29±1,17 | <0,001** | 3,76±0,89 | 3,26±1,03 | 0,01* |
Pernas | 3,53±1,00 | 3,19±1,20 | 0,03* | 3,74±0,86 | 3,33±1,14 | <0,001** | 3,81±0,84 | 3,11±1,07 | <0,001** |
Forma do corpo | 3,24±1,04 | 3,16±1,16 | 0,6 | 3,69±0,87 | 3,38±1,07 | <0,001** | 3,84±0,87 | 3,23±1,08 | 0,01* |
Atitude/porte | 3,40±1,02 | 3,29±1,08 | 0,52 | 3,74±0,83 | 3,65±0,89 | 0,27 | 3,78±0,91 | 3,74±0,78 | 0,61 |
Peso | 2,99±1,18 | 2,83±1,20 | 0,38 | 3,55±1,01 | 3,12±1,18 | <0,001** | 3,80±0,99 | 3,43±1,26 | 0,17 |
Altura | 3,41±1,02 | 3,36±0,98 | 0,67 | 3,69±0,94 | 3,77±1,04 | 0,99 | 3,86±0,85 | 3,43±1,09 | 0,06 |
Condição Física | 3,21±1,12 | 2,96±1,06 | 0,05 | 3,77±0,89 | 3,49±1,00 | <0,001** | 4,00±0,87 | 3,29±1,15 | <0,001** |
Energia | 3,51±0,98 | 3,43±1,01 | 0,46 | 3,90±0,80 | 3,82±0,92 | 0,58 | 4,06±0,96 | 3,66±1,02 | 0,03* |
Aparência | 3,40±1,01 | 3,39±1,01 | 0,99 | 3,91±0,70 | 3,72±0,85 | 0,02* | 3,93±0,80 | 3,66±0,93 | 0,16 |
Total | 3,36±0,62 | 3,34±0,66 | 0,61 | 3,69±0,50 | 3,55±0,61 | 0,02* | 3,83±0,70 | 3,52±0,68 | 0,01* |
Legenda: M - masculino; F - feminino; * p<0,05; **p< 0.001.
No grupo dos sedentários, a perceção com a imagem corporal total foi similar entre os sexos, uma vez que não se registaram diferenças significativas (masculino = 3,36 ± 0,62; feminino = 3,34 ± 0,66; p = 0,61). Contudo, nos grupos dos ativos e dos desportistas, o grau de satisfação com a imagem corporal no sexo masculino foi significativamente superior ao do feminino (ativos: masculino = 3,69 ± 0,50; feminino = 3,55 ± 0,61; p = 0,02; desportistas: masculino = 3,83 ± 0,70; feminino = 3,52 ± 0,68; p = 0,01).
Ao comparar-se os resultados da satisfação com a imagem corporal total, no sexo masculino, por tipo de AF, verificou-se que os desportistas apresentaram maior satisfação, sendo significativamente superior à dos ativos (desportistas = 3,62 ± 0,89; ativos = 3,50 ± 0,88; p = 0,01) e à dos sedentários (sedentários=3,36 ± 0,62; p < 0,001). Verificou-se, ainda, que a satisfação com a imagem corporal dos sedentários foi significativamente inferior à dos ativos (p < 0,001). Relativamente ao sexo feminino, as sujeitas ativas apesentaram uma maior satisfação com a imagem corporal total, sendo essa diferença apenas significativa quando comparada com as sedentárias (ativas=3,55±0,61; sedentárias = 3,34 ± 0,66; p=0,001). Entre as mulheres desportistas e sedentárias não foram observadas diferenças significativas (desportistas = 3,52 ± 0,68 sedentárias = 3,34 ± 0,66; p=0,20).
DISCUSSÃO
O objetivo deste estudo foi o de comparar a satisfação com a imagem corporal numa população do distrito do Porto em função dos níveis de AF. Na literatura, vários estudos concluíram que os sujeitos sedentários apresentam, em média, menor satisfação com a imagem corporal comparativamente aos sujeitos ativos (Arbour & Martin, 2008; Campbell & Hausenblas, 2009; Fermino et al., 2010; Hausenblas & Fallon, 2006; Reneeumstattd et al., 2011; Tiggemann, 2004). É, precisamente, a insatisfação com o corpo um dos principais motivos que leva à iniciação de programas de AF (Damasceno et al., 2005), permitindo não só o aumento da satisfação com a imagem corporal, como também a melhoria da autoestima com a perceção e aceitação do seu corpo (Tahara et al., 2003). Os sujeitos que iniciam a prática desportiva, tendem a alterar positivamente a sua perceção em relação ao corpo (Burges et al., 2006).
Ao comparar-se a perceção da imagem corporal, entre os sexos nos grupos, verificou-se que a prática da AF parece influenciar positivamente a perceção da imagem corporal nos sujeitos do sexo masculino, uma vez que o seu grau de satisfação foi significativamente superior ao feminino. Tal ocorrência poderá ser explicada pelo facto de as mulheres terem uma preocupação e um grau de exigência mais elevado com a imagem corporal e, também, culturalmente o sexo feminino está sujeito a uma maior preocupação com o seu corpo (Frederick, 2007). O sexo feminino parece apresentar expectativas mais elevadas em relação à melhoria da sua imagem corporal com a prática da AF (Fox, 2000). No entanto, nos sujeitos sedentários, os dados do estudo sugerem que, a satisfação com a imagem corporal entre os sexos é similar. Tal resultado permite especular que o aumento do nível da prática da AF é, também, um fator fundamental para influenciar a perceção com a imagem corporal entre os sexos. Este resultado pode estar associado com o facto dos homens, nas últimas décadas, se preocuparem cada vez mais com o seu aspeto físico e aparência (Frederick, 2007). Quando comparado o grau de satisfação com a imagem corporal entre os sujeitos do sexo masculino, foram os sedentários que obtiveram um grau de satisfação significativamente inferior aos que praticam AF. No entanto, os desportistas também apresentaram um grau de satisfação com a sua imagem corporal significativamente superior aos sujeitos ativos. Tal resultado pode indicar que a satisfação com a imagem corporal nos homens poderá estar associada a níveis de competitividade e intensidade, no treino ou competição (Stoll & Alfermann, 2002). De facto, os ideais corporais no masculino reportam a um aumento do volume da massa magra, assim, a maioria das AF competitivas têm uma associação bastante significativa com os ideais corporais masculinos (McCabe & Ricciardelli, 2001; McCreary & Sasse, 2000; Neumark-Sztainer et al.,1999; Pope et al., 2003; Ricciardelli et al., 2000). Por outro lado, quando comparado o grau de satisfação com a imagem corporal no sexo feminino, as desportistas apresentaram uma satisfação com a imagem corporal similar às sedentárias e às ativas. Apenas as ativas tiveram um grau de satisfação com a imagem corporal significativamente superior às sedentárias. Este resultado permite deduzir que a prática AF não competitiva pode influenciar positivamente a satisfação com a imagem corporal nas mulheres. Alguns estudos relatam que quem pratica AF competitiva apresenta uma satisfação com a imagem corporal inferior aos que praticam atividades de lazer (Batista, 1995; Sundgot-Borgen, 1994). Também, atletas de competição, estão sujeitos a maior pressão para manter determinado peso, forma corporal ou performance, assim muitas das práticas desportivas de competição parecem não ser concordantes com o ideal corporal feminino, afetando a perceção que a mulher tem em relação à sua imagem corporal (Davis, 1990; Davis & Cowles, 1991; Davis et al., 1994; Krane et al., 2001).
As principias limitações deste estudo prendem-se com o facto de a amostra ser apenas representativa de uma região do distrito do Porto e não foram incluídas crianças e idosos.
CONCLUSÕES
Este estudo permitiu concluir que a satisfação com a imagem corporal varia por níveis de AF nos indivíduos do sexo masculino, favorecendo mais os desportistas e menos os sedentários. No sexo feminino, o aumento do grau de satisfação com a imagem corporal também varia em função do nível de atividade física. Este estudo permitiu concluir que, para a amostra avaliada, a perceção da satisfação com a imagem corporal aumenta em função dos níveis de atividade física.