INTRODUÇÃO
O voleibol de praia se caracteriza como uma modalidade coletiva intermitente, já que intercala esforços de alta e baixa intensidade (Medeiros et al., 2014). Previamente, investigações acerca da modalidade exploraram indicadores temporais (quantidade de rallies, tempo do rally, tempo entre rallies, tempo total de trabalho e descanso, tempo total do set e do jogo) para descrever a densidade e demanda física exigida pelo jogo (Medeiros et al., 2014). Em comparação ao voleibol indoor, ressalta-se que o número reduzido de jogadores e a superfície em areia tornam a execução dos movimentos mais difíceis, trazendo maior complexidade ao jogo (Giatsis et al., 2017).
Do ponto de vista fisiológico, há uma certa escassez na literatura de informações. Previamente, identificou-se que a média da frequência cardíaca durante o jogo foi de 146 bpm (75% da frequência cardíaca máxima) e o lactato aumentou do repouso para o final do primeiro set (~ 0,95 mM para 2,30 mM), mas não houve diferença entre os sets (Magalhães et al., 2011). Posteriormente, os dados relacionados a frequência cardíaca foram corroborados (Jimenez-Olmedo et al., 2017). Isoladamente, tais informações caracterizam a modalidade como predominantemente aeróbia, e de moderada intensidade. Além disso, ao observar a métrica do jogo associando à frequência cardíaca, concluiu-se que bloqueadores tem uma demanda física maior (Nunes et al., 2020).
Embora os parâmetros relacionados a temporalidade, frequência cardíaca, lactato e métrica do jogo sejam importantes, a prática esportiva promove respostas endócrinas (Casto & Edwards, 2016), que é um fator determinante das adaptações relacionadas ao exercício e desempenho esportivo (Sgrò et al., 2014), sendo tais aspectos pouco conhecidos no voleibol de praia. Dentre os biomarcadores dessa natureza, a testosterona é um hormônio sexual secretado pelas células intersticiais dos testículos (Células de Leydig) controladas pelo eixo hipotálamo-hipófise-gonadal (Oyola & Handa, 2017), com bastante destaque no esporte pela característica anabólica (Vingren et al., 2010) e influência na produção de potência (Cardinale & Stone, 2006; Crewther et al., 2012).
Complementarmente, o cortisol também é investigado, já que é um glicocorticoide secretado pelo córtex supra renal controlado pelo eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (Oyola & Handa, 2017), com característica catabólica (Lee et al., 2017). Ademais, as concentrações de testosterona e cortisol influenciam diretamente o sistema nervoso central e periférico contribuindo para o desempenho neuromuscular (Crewther et al., 2011). Por conseguinte, a razão testosterona/cortisol (T:C) expressa o equilíbrio anabólico/catabólico, ou seja, redução desse marcador parece caracterizar aumento da proteólise ou redução da síntese proteica (Lee et al., 2017), se constituindo como um marcador da carga de treino (Slimani et al., 2018). No voleibol indoor, por exemplo, observou-se efeito positivo na testosterona, cortisol e razão T:C associada a organização das cargas de treinamento que enfatizavam a especificidade da modalidade (Mazon et al., 2013).
De modo amplo, a realização de uma partida de três sets de voleibol indoor promoveu aumento dos níveis de testosterona e cortisol em jovens atletas do sexo feminino (Edwards & Kurlander, 2010). No entanto, atletas profissionais masculinos não modificaram os níveis pré-pós de testosterona e só aumentaram a concentração de cortisol em jogo com 5 sets (Peñailillo et al., 2018). Além disso, jovens atletas masculinos apenas aumentaram a concentração de cortisol em jogo com alto estresse contextual [i.e., final de campeonato (Moreira et al., 2013)]. Ainda que sejam modalidades semelhantes, o voleibol de praia tem características especificas (e.g. quantidade de jogadores, duração do jogo, superfície da quadra, esforço cognitivo) que dificultam a extrapolação dos dados. Adicionalmente, a razão T:C reduziu ~45% dos níveis de base para competição (análise aguda) com atletas de golfe e 30% entre o início e fim da temporada (análise crônica) de atletas de futebol (Handziski et al., 2006). Resultado semelhante foi observado com atletas femininas de voleibol indoor, permitindo aos autores concluir a aplicabilidade da razão T:C como marcador de overtraining (Roli et al., 2018).
Considerando que cada modalidade apresenta características particulares, e o conhecimento da dinâmica de jogo e do perfil hormonal podem contribuir, respectivamente, na prescrição de treinos e monitoramento da carga de treino. Assim, o objetivo do presente estudo foi caracterizar os aspectos temporais e verificar o efeito agudo de um jogo de voleibol de praia na testosterona, cortisol e razão T:C de jovens atletas. Adicionalmente, foi observado se havia diferença para esses biomarcadores entre jogadores bloqueadores e defensores. Nossa hipótese é que apenas um jogo é suficiente para aumentar os níveis de testosterona e cortisol. Junto a isto, esperávamos que bloqueadores tivessem maior desgaste, refletindo em menor razão T:C.
MÉTODO
Participantes
Foram recrutados 16 atletas masculinos (idade 17 ±2,44 anos; estatura 1,84 ±0,06m; massa corporal 76,23 ±9,54kg; IMC 22,35 ±1,92 kg/m2; quantidade de treinos semanal 4 ±1,20 dias) pertencentes a dois centros de treinamento da cidade João Pessoa - PB, todos com experiência em competições nacionais e quatro destes também em competições internacionais. Destaca-se que cinco participantes obtiveram, pelo menos, terceiro lugar em etapas do circuito Nacional, e três eram campeões mundiais. Utilizou-se como critério de inclusão: a) competir no circuito nacional; b) estar entre os 16 melhores no ranking estadual. Os atletas eram excluídos se não conseguissem completar o jogo, no entanto, não foi necessário utilizar esse critério. O poder da amostra (H-1) foi calculado a posteriori para α= 0,05, identificando-se para análise de testosterona poder= 0,965; cortisol poder= 0,999 e razão T:C poder= 0,475.
Ao total foram observados 4 jogos (1 por equipe), sendo 8 sets, totalizando 284 rallies. Além disso, as funções de jogo foram divididas em bloqueador e defensor. Desta forma, o atleta que realizava ≥80% das ações de bloqueio era classificado como bloqueador (Giatsis et al., 2011). Todas as equipes utilizaram uma formação especializada (i.e., função fixa), assim não havia equipes com formação universal (i.e., revezamento entre as funções de bloqueador/defensor).
Todos que aceitaram participar voluntariamente assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e, em caso de o participante ter idade inferior a 18 anos, a autorização foi realizada pelo responsável legal, além da assinatura do Termo de Assentimento pelo menor. Todos os termos utilizados foram elaborados em acordo com a declaração de Helsinki. Previamente os protocolos dessa pesquisa foram autorizados pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos - Centro de Ciências Médica, da Universidade Federal da Paraíba (CCM - UFPB), protocolo n° 2.251.594.
Procedimentos
Formato da competição
Com duplas previamente estruturadas e habituadas a competirem juntas, os atletas foram expostos a um jogo simulado seguindo as regras de competição adotadas pela Federação Internacional de Voleibol (FIVB, 2016). Os jogos foram realizados em quadras à beira mar, com tamanho oficial (Lat= −7.116650, Long= −34.822635; Lat= −7.127300, Long= −34.822818) utilizando três bolas Mikasa® VLS 300. Além disso, um árbitro com experiência em competições nacionais foi recrutado para arbitrar a partida. Todos os confrontos foram sorteados e realizados no mesmo horário em dias distintos (15h da tarde), sendo realizado apenas um jogo por dupla. As condições climáticas eram semelhantes (temperatura de ~30±C - https://weather.com/). Antes do início dos jogos, as duplas tinham 10 minutos de aquecimento. Para garantir empenho dos atletas, a dupla vencedora recebia uma premiação pela vitória (material esportivo). Adicionalmente, o placar final de todos os jogos foram 2x0.
Análise temporal
Todos os jogos foram gravados utilizando uma filmadora (Sony® DSC-SX21. Manaus, Brasil, 2011), apoiada em tripé para análise temporal posterior. Desta forma, as análises foram feitas utilizando um notebook (Samsung, NP270E4E, Brasil), por meio do Software Lince®, com o cronómetro digital do próprio software. As análises temporais foram conduzidas por dois investigadores que avaliaram todos os jogos e, após 15 dias, os mesmos jogos foram reavaliados. Para garantir a fidedignidade das observações foi verificada o coeficiente de correlação intraclasse e a diferença média intra e entre avaliadores, admitindo-se ICC ≥ 0,90 e diferenças inferiores a 5%, respectivamente, como utilizado por Medeiros et al. (2014), previamente. Caso a diferença fosse superior, os jogos seriam reavaliados. No total foram observados 284 rallies.
Os indicadores utilizados para análise temporal foram: tempo de rally (do saque até a bola sair de jogo), tempo entre rallies (intervalo entre um rally e outro), tempo total de trabalho (soma dos rallies), tempo total em descanso (soma dos tempos entre rallies) e tempo total do set (soma do tempo total de trabalho e descanso), tempo total de jogo (soma do tempo total dos sets), diferença entre tempo total de descanso e trabalho (razão TD/TT= tempo total de descanso/tempo total de trabalho) e quantidade de rallies (Medeiros et al., 2014).
Biomarcadores
Previamente à análise dos biomarcadores, todos os participantes foram instruídos a não escovar os dentes, não se alimentarem e nem consumirem bebidas energéticas 30 minutos antes do início das coletas. Amostras de 3 ml de saliva foram coletadas sem qualquer estímulo para salivação antes do início do jogo (antes do aquecimento), após o 1° set e 10 minutos ao final do jogo, em tubos plásticos, acondicionados imediatamente em compartimento resfriado e congelado a −20°C.
A análise das amostras de saliva foi realizada em duplicata, por ensaio de imunoabsorção enzimática (Elisa), utilizando uma leitora de placa GloMax®-Multi (Promega, Califórnia, Estados Unidos, Ref. E7061). Os procedimentos utilizados foram os recomendados pelos manuais dos kits comerciais DRG® International (Frauenbergstr, Alemanhã. Ref. SLV-3013) e Diametra® (Via Pozzuolo, Itália. Ref. DKO020), para testosterona e cortisol, respectivamente. Além disso, o coeficiente de variação intra observações e lotes foi <5%. Posteriormente, a concentração de testosterona e cortisol foi utilizado para calcular a razão testosterona:cortisol (razão T: C) e o percentual de variação de acordo com a equação 1:
Análise estatística
Os dados referentes à análise temporal e biomarcadores foram apresentados por meio de média e desvio padrão, já que se mostraram normais (testado por Shapiro-Wilk). Adicionalmente, calculou-se o percentual de variação para os níveis dos biomarcadores ao longo do tempo. Para comparar e investigar tendências temporais conduziu-se análise de variâncias de medidas repetidas (Anova one-way medidas repetidas), segundo momento (Pré, Pós 1° set e Pós-jogo). Ainda se comparou o efeito do jogo (Pré jogo Vs. Pós jogo) entre as funções de jogo por meio da Anova two-way medidas repetidas. Mediante a diferença estatisticamente significante, o post hoc Bonferroni era utilizado.
A complementar a análise, calculou-se o tamanho de efeito utilizando o partial eta squared (ηp2), e em pares por meio do “d” de Cohen (Cohen, 1988), adotando a magnitude de < 0,2 (trivial), 0,2 à 0,6 (pequeno), >0,6 à 1,2 (moderado), >1,2 à 2 (grande), e > 2 à 4 (muito grande) (Hopkins et al., 2009). Todos os procedimentos foram realizados no software IBM SPSS Estatísticas para Windows, Versão 20.0. (Armonk, Nova York: IBM Corp), com significância de p≤ 0.05.
RESULTADOS
Dados derivados de 8 sets indicam que a duração média total do jogo foi de 30min e 49s (± 01min 54s), com tempo total dos sets de 15min e 24s (± 01min 14s). De modo geral, o tempo médio de trabalho foi de 3min e 42s (± 41s) e o tempo total em descanso foi de 11min e 42s (± 46s). O rally teve duração média de 6s (± 01s) e o tempo entre rallies foi de 20s (± 02s). Neste sentido, a razão média TD/ TT foi 3,31(± 0,48), ou seja, representa uma relação de esforço:pausa de 1:3. Por fim, ocorreram em média 35,63 (± 3,38) rallies por set.
A Figura 1 reporta o efeito do jogo de voleibol de praia ao longo do tempo (início do jogo, final do 1° set e final do jogo) para testosterona (0,066 ± 0,045 ng/ml; 0,081 ± 0,060 ng/ml; 0,135 ± 0,154 ng/ml), cortisol (1,60 ± 0,752 ng/ml; 2,06 ± 0,92 ng/ml; 2,26 ± 1,14 ng/ml) e razão T:C (0,076 ± 0,17; 0,044 ± 0,045; 0,067 ± 0,078). A testosterona demonstrou proximidade à diferença significante entre momentos [F(230)= 2,899; p= 0,071; ηp2= 0,162; poder= 0,504], bem como proximidade à significância na análise da tendência linear (F=3,620; p= 0,076; η2p= 0,19). Além disso, os tamanhos de efeito entre o início do jogo e final do 1° set, e final do 1° set e final do jogo foram pequenos (d= 0,283 e 0,462, respectivamente). Todavia, a magnitude do tamanho de efeito do início para o final do jogo foi moderada (d= 0,608).
Em relação ao cortisol, houve diferença entre os pontos analisados [F(2,24.803)= 5,792; p= 0,012; ηp2 = 0,279; poder= 0,833], com diferença significante entre o início do jogo e final do 1° set (p= 0,025; d= 0,549; efeito pequeno) e final do jogo (p= 0,018; d= 0,681; efeito moderado). Não foi identificada diferença entre o final do 1° set e final do jogo (p= 1,0; d= 0,193; efeito trivial). Além disso, identificou-se tendência linear estatisticamente significante ao longo das medidas (F=10,22; p= 0,006; η2p= 0,40).
Em relação à razão T:C não se observou diferença significante [F(2,30)= 0,804; p= 0,457; ηp2= 0,051; poder: 0,175]. Entretanto, constatou-se tendência quadrática (F=4,570; p= 0,04; η2p= 0,23), ou seja, após diminuição ao final do 1° set, observa-se aumento ao final do jogo. Conectado a isso, o tamanho de efeito entre o início do jogo e final do 1° set foi pequeno (d= 0,314), assim como o valor do final do 1° set e final do jogo (d= 0,361). Já a comparação entre início do jogo e final do jogo apresentou efeito trivial (d= 0,081) para T:C.
ATabela 1 apresenta o percentual de variação dos níveis de cortisol, testosterona e razão T:C. O cortisol sofreu aumento de 41,13% dos níveis iniciais para o final do jogo e a testosterona aumentou 103,34%. A razão T:C apresentou redução de 42,04% ao final do 1° set e de 11,55% ao final de jogo quando comparados aos níveis iniciais.
Início do jogo * Final 1º set | Início do jogo * Final do jogo | Final 1º set * Final do jogo | |
---|---|---|---|
Cortisol | 28,25% | 41,13% | 10,03% |
Testosterona | 23,68% | 103,34% | 64,40% |
Razão T:C | -42,04% | -11,55% | 52,62% |
Adicionalmente foi verificado se havia diferença na concentração de testosterona, cortisol e razão T:C entre bloqueadores e defensores [Pré jogo Vs. Pós jogo (Figura 2)]. A testosterona não apresentou diferença significante ao longo do tempo [F(1,7)= 3,332; p= 0,111; η2p = 0,322; poder= 0,351], entre as funções [F(1,7)= 0,191; p= 0,675; η2p = 0,027; poder= 0,067] e na interação tempo*função [F(27)= 0,043; p= 0,842; η2p = 0,006; poder= 0,054]. Em relação ao cortisol houve diferença significante entre os tempos [F(27)= 17,350; p= 0,004; q2p = 0,713; poder= 0,944], mas não entre as funções [F(27)= 0,326; p= 0,586; η2p = 0,045; poder= 0,079] e interação tempo*função [F(2,7)= 0,015; p= 0,907; poder= 0,051].
Por fim, não houve diferença na razão T:C no tempo [F(1,7)= 0,062; p= 0,811; η2p = 0,009; poder= 0,055], funções [F(1,7)= 0,964; p= 0,359; η2p = 0,121; poder= 0,137] e interação, tempo*função [F(1,7)= 0,432; p= 0,532; η2p = 0,058; poder= 0,088]. Além disso, o tamanho do efeito Pré jogo Vs. Pós jogo foi d= 0,583 e d= 0,632 (testosterona); d= 1,018 e d= 0,598 (cortisol); d= −0,198 e 0,200 (razão T:C); para bloqueador e defensor, respectivamente.
DISCUSSÃO
O objetivo principal do presente estudo foi caracterizar os aspectos temporais e verificar o efeito agudo do jogo na testosterona e razão T:C em jovens atletas. Adicionalmente, também foi investigado se havia diferença entre os marcadores hormonais entre bloqueadores e defensores. Assim, observou-se que a modalidade apresenta relação de ~3 vezes mais tempo de bola fora de jogo do que em jogo, tendo os rallies durações bastante curtas, próximas a 6s. Além disso, o jogo (do início ao fim) teve efeito moderado na concentração de testosterona e cortisol. Para mais, o cortisol apresentou tendência linear, ou seja, aumento ao longo do tempo, e a razão T:C tendência quadrática, reduzindo ao final do 1°set e retornando as condições iniciais ao final do jogo. Em relação as funções, bloqueadores parecem ser ligeiramente mais exigidos fisicamente, visto a resposta observada da razão T:C, corroborando com nossa hipótese inicial.
A análise temporal tem se mostrado como procedimento útil para entender a dinâmica competitiva (Palao et al., 2012), e pode contribuir substancialmente no desenvolvimento de modelos de treino que simulem as demandas fisiológicas específicas das modalidades esportivas (Jimenez-Olmedo et al., 2017; Magalhães et al., 2011). Os resultados obtidos no presente estudo indicam semelhança a jogos realizados em competições oficiais, garantindo boa reprodutibilidade dos jogos simulados. No estudo de Palao et al., (2012), o tempo total do jogo no masculino adulto foi em média de 44 minutos; porém, tal diferença frente à presente investigação (próximo a 30 min) pode decorrer de os autores terem considerado o intervalo entre os sets. Para duração, intervalos e quantidade dos rallies, os resultados são equivalentes aos de Medeiros et al. (2014), que observaram rallies com duração média de ~7 segundos, tempo entre rallies de ~21 segundos e ~37 rallies por set.
De modo amplo, ainda que os esforços sejam intermitentes por períodos ~3 vezes menor que o período de descanso, observou-se efeito moderado do jogo na testosterona e cortisol. Esses resultados foram observados em esporte com dinâmica semelhante (i.e., voleibol indoor e tênis) e outros esportes coletivos. Jovens atletas feminino de voleibol indoor e tênis aumentaram pré-pós jogo os níveis de testosterona e cortisol (Edwards & Kurlander, 2010) o mesmo foi observado com atletas de futsal (Carolina-Paludo et al., 2020).
Porém, com atletas de voleibol indoor masculino só observou-se efeito do jogo no cortisol e após 5 sets (Peñailillo et al., 2018). As respostas desses hormonios são em função principalmente da exigência física e pscicológica (Edwards & Kurlander, 2010), logo como os atletas realizam ao longo do set vários saltos e deslocamentos em intensidade máxima (Medeiros et al., 2014; Nunes et al., 2020), acrescentado a sobrecarga induzida pelo ambiente (i.e., piso em areia) e quantidade de atletas por time (maior responsabilidade no resultado), isso explica o aumento da testosterona e cortisol com apenas 2 sets jogados. Além disso, a razão T:C a tendência quadrática observada pode ser decorrente da responsividade tardia da testosterona aos estímulos associados ao esforço físico, bem como da rápida resposta do cortisol a essas condições (Viana Gomes et al., 2019).
Em relação as respostas hormonais de acordo com a função, observou-se semelhança do efeito do jogo entre bloqueadores e defensores para testosterona. No entanto, a exigência física parece ligeiramente maior nos bloqueadores, tendo o jogo um efeito moderado nos níveis de cortisol e trivial na razão T:C, porém negativo. Previamente, constatou-se que a maioria dos saltos são realizados em ações de ataque (44%) e bloqueio (39%) (Turpin et al., 2008). Além disso, bloqueadores jogam em uma faixa de intensidade levemente superior a defensores [77,71 - 89,13 %FCmáx Vs. 66,16% a 77,77 %FCmáx (Jimenez-Olmedo et al., 2017)]. Como a razão T:C é um marcador das cargas de treino e esforço, o resultado observado era esperado devido a maior exigência física desta função.
Como aplicação prática, os dados temporais podem ser utilizados para prescrição de treinamento intervalado, já que se associam a natureza da modalidade. Além disso, a utilização do jogo na semana de preparação para competições pode ser interessante, visto a especificidade do treinamento e equilíbrio entre marcadores endócrinos anabólicos e catabólicos. Ressalta-se, que os técnicos devem considerar a carga semanal principalmente na semana antecedente a competição, já que o tipo e intensidade do esforço determinam as repostas hormonais e desempenho subsequente (Gaviglio & Cook, 2014). Em competições oficiais é comum jogos sucessivos no mesmo dia. Desta forma, os atletas podem realizar imersões em água gelada (~ 14° C), que demonstrou efeito positivo pelo menos em marcadores hormonais (Freitas et al., 2019). Considerando apenas aspectos físicos, os times podem adotar como estratégia o direcionamento do saque para o atleta bloqueador, com o objetivo de obter vantagem ao final do jogo devido ao desgaste físico.
Esse estudo apresentou como limitação a realização de apenas um jogo por atleta dentro de uma competição simulada. Isso foi necessário para garantir a validade interna, e para assegurar que os resultados encontrados fossem devidos ao jogo e competição, evitando confusão em consequência do ritmo circadiano. Contudo, é comum atletas realizarem mais jogos durante o dia e em horários diferentes, o que deve ser considerado em pesquisas futuras, junto a atividades em competições oficiais. Além disso, apesar do reconhecido nível técnico dos atletas, que competiam em nível nacional e internacional, tal critério pode ter comprometido a ampliação da amostra. Por fim, esses dados devem ser extrapolados com cautela para atletas em diferentes níveis e gênero.
CONCLUSÕES
Em conclusão, os dados relacionados a temporalidade do jogo devem ser utilizados para prescrição do treinamento, aumentando a especificidade. Além disso, aproximadamente 30 minutos de voleibol de praia foi capaz de desencadear repostas na testosterona, cortisol e razão T:C em jovens atletas de nível nacional. De modo prático, jogos podem ser utilizados como treinamento. No entanto, ressalta-se que bloqueadores parecem sofrer maior desgaste físico, recomendando-se cautela no volume de sets jogados principalmente próximo a competições. Sugere-se que investigações futuras observem atletas feminino e competições oficiais.