INTRODUÇÃO
O envelhecimento é um processo natural do ser humano. Mundialmente, o Brasil é um dos países onde o envelhecimento populacional ocorre com mais velocidade (Lima-Costa, Peixoto, Malta, Szwarcwald, & Mambrini, 2017). Estima-se que, daqui a 40 anos, o número da população idosa triplicará, alcançando 29,7%, passando de 19,6 milhões para 66,5 milhões de pessoas (IBGE, 2010).
O aumento da pressão arterial (PA) está diretamente e linearmente associada ao envelhecimento. Com o processo de envelhecimento, uma das consequências do mesmo é o maior enrijecimento das paredes arteriais. Desta forma, o simples facto de envelhecermos constitui um fator de risco para o aparecimento de hipertensão, havendo assim, uma correlação positiva entre o aumento da idade e o aumento da PA (Cheng et al., 2017; Oh, 2018). De condição clínica multifatorial, a hipertensão arterial (HA) é caracterizada por elevação sustentada dos níveis pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg, pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD) respetivamente, apresentando forte relação com: estilo de vida sedentário; alta ingestão de sódio; alta ingestão de álcool e idade (Pescatello, MacDonald, Lamberti, & Johnson, 2015).
A HA é um reconhecido fator de risco associado à elevada mortalidade e morbidade na população idosa, tornando-se um dos mais importantes problemas de saúde pública (Malachias et al., 2016). No Brasil, a HA atinge 32,5% da população (36 milhões), acometendo mais de 60% dos idosos. Isso contribui, de modo direto ou indireto, para 50% das mortes por doença cardiovascular (Malachias et al., 2016).
Os exercícios físicos juntamente com uma mudança no estilo de vida agem não só como forma de prevenção dessa doença, mas também como tratamento não farmacológico. Os exercícios resistidos (ER) induzem a uma resposta hipotensora aguda, intitulada como hipotensão pós-exercício (HPE), como resultado de adaptações agudas ou crônicas, clinicamente auxilia no controle da PA em indivíduos com hipertensão e normotensos (Forjaz, Cardoso, Rezk, Santaella, & Tinucci, 2004).
A literatura tem mostrado diferentes variáveis no treinamento resistido, levando em consideração a HPE a partir da intensidade, ordem dos exercícios, tempo de descanso entre séries, números de repetições e ordem dos exercícios, para indivíduos hipertensos (Brito, de Oliveira, Santos, & Santos, 2014a; Brito et al., 2015; Dos Santos et al., 2014; Guimarães et al., 2018; Pinto, Karabulut, Poton, & Polito, 2018).
Kraemer et al., (1988) atestam que os mecanismos fisiológicos estimulados durante o exercício resistido dependem das variáveis usadas e sua exposição repetida facilita adaptações específicas desses mecanismos. Contudo, são poucos os estudos que têm visto o efeito agudo e crônico, utilizando varáveis de volume (Brito, de Oliveira, Santos, & Santos, 2014b; Scher, Ferriolli, Moriguti, Scher, & Lima, 2011), principalmente no que diz respeito às velocidades de contração, dentre elas a velocidade de movimento lenta (VML), variável que influi diretamente no volume de treino devido ao um maior tempo sob tensão (Wilk et al., 2018). Essa carência de trabalhos dificulta a elaboração de um programa de treino apropriado para esse público.
Em hipótese devido a um maior tempo sob tensão mecânica, a VML causa uma resposta mais acentuada da HPE em comparação com a velocidade tradicional. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi analisar o efeito agudo de uma sessão de ER nas respostas cardiovasculares e perceptivas utilizando a VML em comparação com a velocidade de movimento tradicional (VMT) em idosas hipertensas.
MÉTODO
Amostra
A pesquisa do tipo experimental foi realizada na cidade de Tabuleiro do Norte no estado do Ceará/Brasil. A amostra consistiu em 11 idosas no total, com idade 66,5± 4,8 anos, com diagnóstico de hipertensão controlada por medicação, recrutadas do centro de apoio a pessoas hipertensas. Classificadas como ativas pelo Questionário Internacional de Atividade Física - IPAQ (Matsudo et al., 2001) com experiência prévia de 12 meses no treinamento de força. As idosas responderam a um questionário de histórico médico (Heyward, 2011, p. 338) e tiveram os dados sobre as medicações utilizadas recolhidos.
Para Inclusão na pesquisa foram recrutados indivíduos do sexo feminino com idade ≥ 60 anos, ativas, e com exames cardiológicos (teste de esforço, eletrocardiograma e ecocardiograma) realizados nos últimos três meses.
Foram excluídos do estudo indivíduos com PAS em repouso antes do protocolo de exercícios ≥ 160 mmHg e/ou PAD≥ 100 mmHg, presença de lesões musculoesqueléticas, alterações cardiovasculares do tipo arritmias e isquemia miocárdica, diagnóstico de dano ao órgão e fumantes.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Católica de Quixadá/CE - Unicatólica (2.805.688/ 2018). Todos os procedimentos obedeceram à Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, brasileiro (Novoa, 2014), sendo seguidas as recomendações para a ética de pesquisas em ciências do exercício (Shephard, 2002) e, ainda, as diretrizes para pesquisas com seres humanos da Declaração de Helsinque (Petrini, 2014). Todos os sujeitos receberam informação acerca dos procedimentos, como também foi fornecido e obtido um consentimento por escrito de todos os participantes.
Desenho experimental
Após a triagem inicial, esta pesquisa foi dividida em duas fases. Durante a fase I ocorreram os procedimentos de antropometria, familiarização com os exercícios durante uma semana e testes de predição de carga com dez repetições máximas. Na fase II, os protocolos de exercícios de VML e tradicional foram aplicados, juntamente com mensuração das variáveis hemodinâmicas e nível de esforço. A ordem dos protocolos foi distribuída aleatoriamente, com 72 horas de intervalo de um protocolo a outro.
Instrumentos
Antropometria
Para medir a massa corpórea, foi utilizado uma balança mecânica da marca Filizola®, com precisão de 0,1 kg e a altura dos indivíduos, foi usado um estadiômetro de alumínio (Sanny® Professional), fixado na parede com precisão de 0,1 cm. Para determinar o índice de massa corporal (IMC), a equação massa corporal/altura² foi feita. Ambos os procedimentos seguiram a padronização convencional proposto por (Lohman, Roche, & Martorell, 1988), sendo verificados três vezes para a obtenção de média das medidas.
Teste de força máxima (1 RM)
Antes da familiarização e ensaios, os sujeitos foram aconselhados a evitar o consumo de álcool e cafeína por 24 horas e abster-se de exercícios e atividades extenuantes por 48 horas. As idosas foram cuidadosamente instruídas quanto à técnica de execução e respiração adequada para que não ocorresse manobra de Valsalva e todas elas receberam encorajamento verbal.
Os indivíduos começaram com um aquecimento leve de dez minutos na esteira e/ou bicicleta seguido de um aquecimento específico em duas séries de 15 repetições, com 40% da estimativa de 1 RM. Após dois minutos de intervalo, foi iniciado o teste de predição de 1 RM através de 10 RM. Foi empregado para avaliar a força nos seguintes exercícios: puxada frontal, cadeira extensora, voador e leg press 45º. O objetivo era que a idosa realizasse até dez repetições, no máximo, número limite de repetições para maior acurácia (Whisenant, Panton, East, & Broeder, 2003). A resistência foi acrescida ou diminuída, dependendo do condicionamento físico do sujeito, até que houvesse uma falha momentânea concêntrica. Para cada exercício foram estipuladas até três tentativas para determinação de carga de 10 RM, entre uma tentativa e outra foi utilizado um descanso regular de três a cinco minutos e dez minutos de descanso entre os exercícios. O maior valor da carga levantada foi levado em consideração. O teste foi refeito após 48 horas de recuperação, com o intuito de minimizar margem de erros. Após a obtenção dos valores de carga dos testes com 10 RM, foi utilizada a equação de (Brzycki, 1993); Carga Máxima estimada= peso levantado / (1,0278 - [0,0278 x nº de repetições]) para estimativa de 1 RM.
Procedimentos
Protocolo de exercícios
A intensidade utilizada nos exercícios seguiram as recomendações do Colégio Americano de Medicina Esportiva-ACSM (Riebe & et al., 2018) voltadas a indivíduos hipertensos: para exercícios de força, utilizam-se cargas de 40% a 60% de 1 RM e um número de dez a 15 repetições.
Antes dos procedimentos, as idosas fizeram um aquecimento de dez minutos em cicloergômetro e/ou esteira rolante (ritmo de caminhada), seguido de um aquecimento específico com 40% da carga de 1 RM para 15 repetições sem controle de velocidade de execução. A velocidade lenta utilizada neste trabalho foi baseada em estudos com adultos mais velhos, para os quais são dado 3s para a fase excêntrica e 2s para a fase concêntrica (Richardson et al., 2017; Van Roie, Delecluse, Coudyzer, Boonen, & Bautmans, 2013); Os para a transição de fase e 1s na fase de transição do concêntrico para excêntrico. Logo a cadência do movimento demandou 6s para cada repetição. A duração total por movimento utilizada para os exercícios em VMT foi de 3s a 4s (Santos et al., 2014). Todas as idosas estavam em tratamento anti-hipertensivo e completaram o estudo sem eventos negativos. A seguir, na Tabela 1, estão listados os exercícios utilizados bem como o número de repetições, número de séries, percentagem de carga, descanso e velocidade.
Exercícios | Protocolo VML | Protocolo VMT |
---|---|---|
Puxada frontal | 60% - 1 RM | 60% - 1 RM |
Cadeira extensora | três séries | três séries |
Voador | dez repetições | dez repetições |
Leg press 45º | 3+ 0+ 2+ 1s (cadência) | 2+ 0+ 1+ 0s (cadência) |
60s intervalo entre séries | 60s entre séries | |
90s intervalo entre exercícios | 90s entre exercícios |
VML: velocidade de movimento lenta; VMT: velocidade de movimento tradicional.
O controle de cadência foi feito por um metrônomo de 60 bpm (iOS app, Pro metronome, EUM lab, Hangzhou, China). Todos os testes foram realizados no mesmo turno e em horários aproximados a fim de evitar variações em força do ritmo circadiano (Duncan & Oxford, 2011).
Variáveis Hemodinâmicas
A mensuração da PAS e da pressão PAD foi feita pelo modo auscultatório, utilizando-se um estetoscópio e um esfigmomanômetro do tipo aneroide (Glicomed-premium®, Rio de Janeiro, Brasil). As recomendações da 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (Malachias et al., 2016) para aferir a PA foram seguidas. A frequência cardíaca (FC) foi monitorada através de um frequencímetro (Polar®, S810i, Kempele-Finlândia). Essas medidas foram feitas nos 20 minutos precedentes ao aquecimento, para serem usadas como linha de base, sendo verificadas novamente em 0, 5, 10, 15, 35, 45 e 60 minutos após os exercícios. Foram adotadas as seguintes equações para a obtenção PAM e do duplo produto (DP): PAM= PAD+ (PAS- PAD) / 3; DP= FC x PAS (bpm x mmHg).
Percepção Subjetiva de Esforço (PSE)
O nível de esforço percebido foi verificado ao fim de cada série utilizando-se a Escala OMNI-RES (Robertson et al., 2003). Os sujeitos foram submetidos a uma familiarização prévia com a escala.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Inicialmente foi feita a análise descritiva dos dados com médias, desvios-padrão e amplitude. Após teste de normalidade dos dados com o Shapiro-Wilk test, as comparações entre grupos foram realizadas com a ANOVA de Friedman e testes post-hoc de Bonferroni. Foi utilizado o teste de χ2 de Pearson para comparar as PSE entre os protocolos. O nível de significância adotado foi de p< 0.05. Para todos os procedimentos estatísticos, utilizou-se o Statistical Package for Social Sciences, versão 25.0 para Windows (SPSS 25.0) e GraphPadPrism8.0 (GraphPad Software, California, USA).
RESULTADOS
As características dos sujeitos estão expostas na Tabela 2, assim como os resultados para PAS, PAD, FC, DP e PAM pré e após os protocolos estão localizados na Figura 1 e na Tabela 3.
Variáveis (n= 11) | Valores |
---|---|
Antropométricas | |
Idade (anos) | 66,5± 4,8 |
Peso (kg) | 74,4± 11,1 |
Altura (cm) | 156,7± 4,8 |
IMC (kg/alt²) | 30,2± 3,6 |
Hemodinâmicas | |
PAS (mmHg) | 124,5± 14,4 |
PAD (mmHg) | 74,5± 5,1 |
FC (bpm) | 81,1± 15,1 |
DP (bpm. mmHg) | 10,113± 2,337 |
PAM (mmHg) | 91,2± 7,4 |
Medicamentos | % |
Inibidores adrenérgicos | 27,27 |
Sulfonilureias | 27,27 |
Diuréticos | 63,63 |
Antagonista do receptor da angiotensina II | 54,54 |
Inibidores da enzima conversora da angiotensina | 9,09 |
Estatinas | 36,36 |
Antidepressivos | 27,27 |
Combinações | 72,72 |
PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; FC: frequência cardíaca; DP: duplo produto; PAM: pressão arterial média. Dados expressos em média± desvio padrão.
Pré exercício | VML-pós exercício | VMT-pós exercício | p | |
---|---|---|---|---|
PAS/mmHg | 125,4± 15,7 | 107,3± 10,1 | 115,5± 16,3 | 0,407 |
PAD/mmHg | 74,5+ 5,1 | 71,8± 4,0 | 71,8± 10,8 | 0,394 |
FC/bpm | 81,1± 15,1 | 71,1± 11,8 | 73,9± 10,6 | 0,602 |
PAM/mmHg | 91,5± 7,9 | 83,6± 5,9 | 86,4± 11,6 | 1 |
DP/bpm. mmHg | 10,166± 2,296 | 7,608± 1,361 | 8,574± 1,939 | 0,234 |
VML: velocidade de movimento lenta; VMT: velocidade de movimento tradicional; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; FC: frequência cardíaca; DP: duplo produto; PAM: pressão arterial média. p< 0,05 sessão VML para a sessão VMT. Os valores estão apresentados em médias± DP.
Pressão artérial sistólica
Foi observado declínio da PAS nas duas velocidades de movimento, não havendo diferenças entre os dois protocolos de treinamento p= 0,407 (Tabela 3). Verificaram-se reduções significativas quando utilizada a VML em comparação aos valores de linha de base. As diferenças foram encontradas imediatamente em 0 (p= 0,043), 15 (p= 0,012), 35 (p= 0,002), 45 (p= 0,001) e 60 (p= 0,001) minutos após o protocolo (Figura 1A).
PAD
Não foram encontradas diferenças entre as duas velocidades de movimento na PAD após os exercícios (Tabela 3) e em relação aos valores de repouso (Figura 1B).
Frequência cardíaca
Em ambas as velocidades de movimento, houve aumento significativo da FC imediatamente após as sessões (VML; p= 0,012), (VMT; p= 0,012). O declínio da FC foi mais acentuado quando feita a VML em relação aos valores de repouso em 35 (p= 0,043), 45 (p= 0,012) e 60 (p= 0,001) minutos (Figura 1C). No entanto, não houve diferenças entre as duas cargas de trabalho (Tabela 3).
Pressão arterial média
Não foram encontradas diferenças entre os dois protocolos referentes aos valores da PAM (Tabela 3). Houve diminuição na VML em comparação com o valor de linha de base nos 15, 35, 45 e 60min (p= 0,009; p= 0,023; p= 0,012; p= 0,043), Figura 1D.
Duplo produto
Em ambas as velocidades de movimento, houve aumento acentuado do trabalho cardíaco imediatamente após os exercícios. Em zero minutos VML (p= 0,002), VMT (p= 0,009), em dez minutos, quando usada VML, já se pode perceber atenuação do trabalho cardíaco (p= 0,002) com constante diminuição nos 15 (p= 0,004), 35 (p= 0,001), 45 (p= 0000) e 60 (p= 0,000) minutos subsequentes aos exercícios. Em relação à VMT, houve diminuições significativas a partir dos 35 (p= 0,009) e 45 (p= 0,009) minutos (Figura 1E). Não foram verificadas diferenças entre os dois protocolos (Tabela 3).
Pressão subjetiva de esforço
Em percentual, 45,5% das idosas consideraram a VML “difícil’, enquanto a VMT teve 9,1%. Na classificação “pouco difícil” o percentual de PSE para a VML foi de 54,5% e de 90,9 para VMT. Obtiveram-se diferenças quando comparada a PSE nas duas velocidades de contração p= 0,007. Os valores estão apresentados na Figura 2.
DISCUSSÃO
Os resultados deste estudo confirmam a ideia inicial proposta na literatura de que o treinamento de força é capaz de promover HPE em idosos hipertensos. A VML apresentou reduções significativas nos valores pressóricos e demais variáveis hemodinâmicas em comparação aos valores de linha de base, enquanto que, a VMT apresentou diminuição em DP em relação ao repouso. Contudo, não houve diferenças quando comparado os dois modelos de ER.
Ainda que, as respostas referentes à HPE venham sendo bastante consolidadas na literatura (Guimarães et al., 2018; Nascimento et al., 2018; Polito, Saccomani, & Casonatto, 2009; Umpierre & Stein, 2007), os diferentes protocolos usados em relação ao volume e à intensidade no treinamento de força para o público idoso e hipertenso constitui uma dificuldade sobre a prescrição de treino. Dos trabalhos com hipertensos, os exercícios com intensidades moderadas e maiores volumes em relação ao número de séries podem causar não só uma maior resposta da magnitude da HPE das variáveis hemodinâmicas como também uma maior capacidade de vasodilatação após o exercício (Brito, Brasileiro-Santos, & Oliveira, 2019; Scher et al., 2011; E. R. Silva, Soares, Guedes, & Da Silva, 2015). Os dados, aqui apresentados, de PAD, FC, PAM e DP tiveram semelhanças com estes trabalhos. No entanto, a PAS desse estudo foi mais acentuada e este valor bastante pronunciado pode estar ligado ao fato de que as variáveis fisiológicas foram avaliadas em função da cadência do movimento.
Apesar de esses resultados mostrarem uma maior resposta quando utilizada a velocidade lenta de movimento em relação ao repouso, não houve diferenças entre as cargas de trabalho de VML e VMT nas respostas de PAS, FC, PAM, E DP, rejeitando-se, portanto, a hipótese de que o treinamento com velocidade controlada causaria uma maior resposta da HPE logo após o treinamento. Richardson et al. (2018) não encontraram diferenças entre o trabalho de velocidade lenta e rápida em idosos com idades semelhantes às dos sujeitos deste trabalho, como também os valores das respostas fisiológicas não diferiram significativamente em comparação com os valores de repouso. As aparentes discrepâncias sugerem que essas diferenças se devam ao protocolo de treinamento utilizado e sujeitos sem o diagnóstico de hipertensão, haja visto que, em indivíduos hipertensos, ocorre uma atividade anormal na ação simpática quando há dificuldade na perfusão sanguínea muscular em comparação com normotensos (Boggs et al., 2014; Pinto et al., 2018).
No que diz respeito à VML e seus efeitos cardiovasculares agudos e crônicos, a literatura é escassa. Uma possível explicação no que concerne ao estresse metabólico mais acentuado após a sessão com velocidade lenta controlada em relação à velocidade tradicional é que, devido a um maior volume mecânico, a tensão gerada na musculatura prolonga-se, o que ocasiona principalmente na fase concêntrica, uma compressão mecânica nos vasos arteriais periféricos, o que eleva expressivamente a resistência periférica total, reduzindo a perfusão muscular, na tentativa de restaurar o fluxo sanguíneo nessa área ocorre um aumento proeminente na atividade do sistema nervoso simpático, no débito cardíaco e na PAM (Mcardle, Katch, & Katch 2018). Uma explicação plausível para uma maior magnitude da HPE pode ser em virtude dessa maior atividade simpática e, por consequência dessa tensão mecânica prolongada é possível que também haja uma maior ativação dos mecanorreceptores e do barorreflexo arterial. O suprimento reduzido de oxigênio acentuado na musculatura faz com que haja um maior acúmulo de metabólitos, o que ativa o chamado influxo neural reflexo, vindo da deformação dos aferentes tipo III e da estimulação dos aferentes tipo IV. Isso desencadeia estímulos para que ocorra vasodilatação na musculatura estriada esquelética e cardíaca, agindo também no controle bulbar do coração, de forma que a atividade muscular contrátil aumentada está relacionada a inúmeros fatores que provocam a vasodilatação (MacDonald, 2002; Mcardle et al., 2018; Powers & Howley, 2017).
Outro objetivo do estudo foi comparar o nível de esforço percebido nos exercícios nas duas velocidades de contração. Indivíduos em tratamento farmacológico anti-hipertensivo ocasiona modificações em nível extracelular ou a resistência periférica ao fluxo sanguíneo (Mcardle et al., 2018). Torna-se necessário, portanto, ter mais um parâmetro de segurança para controle da dose-intensidade/volume durante-ER nesse público em específico. Para além disso, exercícios acima do limiar anaeróbico podem causar diminuição do prazer na prática do exercício físico (Ekkekakis, Parfitt, & Petruzzello, 2011), sendo a sensação de prazer um dos fatores para que se tenha aderência a qualquer programa de atividade física (Ferraro & Cândido, 2017; Mendes, Rezende, Dullius, & Nogueira, 2017). Nos resultados deste trabalho, as idosas sentiram-se mais confortáveis a trabalhar com a VMT. Exercícios com ritmo mais lento podem afetar na fadiga pós-exercício, tal condição pode estar relacionada ao aumento da dificuldade de execução bem como possível aumento fisiológico do lactato sanguíneo (Silva et al., 2020; Wilk et al., 2018). Os achados corroboram os estudos já realizados, em que há um maior esforço percebido durante os exercícios nos quais se utilizou uma velocidade de movimento mais lenta em adultos mais velhos (Ferreira et al., 2014; Orsano et al., 2018; Richardson et al., 2017, 2018).
Tendo como objetivo a adoção e continuidade do treinamento de força como um auxiliar no tratamento de patologias, tem de se levar em consideração a aplicação do método, devendo este ser planeado e propício quando incluído em uma periodização de treino. Importante ressaltar que o estresse cardiovascular aferido imediatamente após a sessão de treinamento no presente estudo, estava dentro dos parâmetros tolerados de segurança e nenhum dos indivíduos atingiu picos hipertensivos ou relatou angina de peito.
Os resultados aqui em encontrados são característicos de idosas hipertensas, e sabendo que, o uso de diferentes medicações pode esses influenciar no estado hipotensivo relativo ao exercício, tais considerações se apresentam como limitações. É preciso mais estudos que levem em consideração respostas curtas e em longo prazo para que se possa aprimorar os modelos de treinamento resistidos para o público hipertenso.