INTRODUÇÃO
O envelhecimento proporciona adaptações em todos os domínios humanos (biopsicossociais), principalmente, em função da interação do sujeito idoso com o seu meio. Declínios no desempenho de realização de Atividades Básicas da Vida Diária (ABVD) são esperados da fase adulta para a velhice (Guidet et al., 2019; Yoshino, Sakurai, Hasegawa, & Yokono, 2011). Na fase final da vida, este comportamento está associado à dependência física, especialmente, devido à diminuição das capacidades coordenativas e físicas do idoso e, portanto, da sua competência funcional motora (Cattuzzo et al., 2020; Freitas et al., 2014; Robinson et al., 2015). Compreender a natureza, as características e as manifestações destas atividades, desvelará padrões de movimentos que permitem apontar deficiências neuro-motoras que influenciam negativamente fatores relacionados à saúde, como aumento do risco de quedas e internações.
O levantar-se do solo a partir da posição deitada em decúbito dorsal, em inglês Supine-To-Stand (STS), é uma ABVD integrada ao repertório motor em todo o ciclo vital, reconhecido como marco desenvolvimental das habilidades motoras (Cattuzzo et al., 2020; Duncan, Lawson, Walker, Stodden, & Eyre, 2017; VanSant, 1990), além de ser uma tarefa capaz de exigir mais dos recursos energéticos quando comparado à outros movimentos básicos relacionados com a vida diária (Didier et al., 1993). O desempenho nessa tarefa tem associação com diversas capacidades físicas e coordenativas como a força muscular, resistência cardiovascular, flexibilidade e equilíbrio, além de apresentar correlações com variáveis de saúde e composição corporal (Bohannon & Lusardi, 2004; Cattuzzo et al., 2020; Costa, Cattuzzo, Santana, Hua, & Safons, 2019; Didier et al., 1993; King & VanSant, 1995; Klima et al., 2016; Manckoundia et al., 2008; Naugle, Higgins, & Manini, 2012). Outro aspecto que emerge é a possibilidade de obter duas medidas independentes e complementares na tarefa STS: o produto do movimento, que é resultado da ação motora, medido em termos quantitativos como o tempo de execução e o processo do movimento que é medido por meio dos padrões de movimento realizados durante a tarefa, que são comparados com listas de checagem previamente estabelecidas (Nesbitt et al., 2017, 2018).
De modo geral, os protocolos que usam a medida de processo da tarefa STS apresentam algumas divergências. Fatores como o número de tentativas analisadas, a instrução sobre a de velocidade de execução, ou ainda, as características das listas de checagem para descrição, análise e codificação do movimento diferem amplamente (Cattuzzo et al., 2020). Não há evidências que demonstrem o efeito da fadiga em função de um número elevado de tentativas dessa tarefa, porém VanSant (1988) usando um protocolo com 10 tentativas em adultos jovens encontrou importante variação de desempenho (a F. VanSant, 1988) e acredita-se que o desempenho na tarefa STS pode ser ainda mais afetado pela fadiga em sujeitos mais velhos. Em adição, a instrução dada com relação à velocidade do movimento tem sido descrita na literatura de duas formas: confortável ou máxima. Nesse caso, independente da faixa etária da amostra, essa variável parece interferir significativamente no desempenho, com um melhor desempenho sendo apresentado quando a instrução exige a velocidade máxima de execução da ação, independente da faixa etária (Alexander, Ulbrich, Raheja, & Channer, 1997). Portanto, esses e outros fatores precisam ser considerados, pois interferem tanto na validade interna quanto externa dessa medida.
Em sua maioria, os protocolos de análise de processo da tarefa STS descrevem movimentos específicos estratificados por segmentos corporais (membros superiores, região axial e membros inferiores) (Bohannon & Lusardi, 2004; Haywood, Haywood, Roberton, & Getchell, 2012; a F. VanSant, 1988) ou posições intermediárias, isto é, posições padronizadas e identificadas entre o momento inicial e final da tarefa (Manini, Cook, Vanarnam, Marko, & Ploutz-snyder, 2006; Ulbrich, Raheja, & Alexander, 2000), ou por modelos de padrões de movimento previamente determinados (Klima et al., 2016), ou ainda por identificação de padrões motores sequencialmente identificados (Schwickert et al., 2015).
Fatores como o nível de detalhamento das informações contidas na descrição dos protocolos, a clareza da linguagem e as condições de saúde da amostra evitam efeitos do tipo piso ou teto e aumentam a confiabilidade intra e entre avaliadores. Além destes, o nível de reprodutibilidade destes protocolos deve ser considerado para determinar de modo geral vantagens e desvantagens, em termos de rigor metodológico e aplicação prática.
O apontamento dos protocolos de análise mais e menos vantajosos permite uma tomada de decisão mais confiável tanto em termos de aplicações práticas quanto no desenvolvimento de propostas de validação, caracterização da competência funcional motora a determinação de pontos de corte de idosos mais frágeis e o levantamento de padrões de normalidade de idosos. Portanto, o objetivo principal deste estudo foi determinar o protocolo com maior vantagem metodológica para análise de processo da tarefa STS em idosos.
MÉTODOS
Este pode ser denominado de um estudo metodológico misto que foi desenvolvido em duas etapas, bem definidas e complementares. A primeira etapa foi uma revisão sistematizada da literatura (Grant & Booth, 2009) sobre os protocolos de análise do processo de movimento da tarefa STS seguindo os parâmetros para elaboração de revisões sistemáticas PRISMA-P (Moher et al., 2016) e está registrada na plataforma PROSPERO (CRD42017055693).
Foi utilizada a estratégia PICOS para desenvolvimento de perguntas de pesquisa por meio de revisões de literatura: (P) População/Paciente/Problema — sujeitos idosos ≥ 60 anos de ambos os sexos; (I) Intervenção de Interesse — protocolo para mensuração da competência funcional motora usando a análise de processo da tarefa STS; (C) Controle/Comparação — nos protocolos foram investigadas as seguintes características: clareza da linguagem, efeito piso ou teto, reprodutibilidade e confiabilidade, detalhamento da tarefa e tempo de codificação; (O) Desfecho — nível de vantagem metodológica (Galvão & Pereira, 2014; Mancini et al., 2014; Moher et al., 2016; Santos, Pimenta, & Nobre, 2007). A partir daí a pergunta de pesquisa que se deseja responder é: Qual é o nível de vantagem metodológica de cada um dos protocolos que usam a análise de processo da tarefa STS para diagnosticar a competência funcional motora de idosos?
A segunda etapa pode ser denominada como um estudo exploratório (Sampieri, Collado, & Lucio, 1998) da aplicabilidade dos protocolos encontrados na literatura, realizando uma análise crítica e comparativa entre eles.
Estudo de revisão — critérios de seleção
A busca de artigos científicos foi realizada nos bancos de dados MEDLINE, Scielo, EMBASE, Scopus, ERIC/ProQuest), e também foram utilizadas as ferramentas de busca (PubMed, Web of Science — Main Collection, Science Direct, EBSCO, Cochrane). Descritores intra-grupos foram combinados com expressões boleanas OR, assim como, descritores entre-grupos foram combinados com a expressão boleana AND, como mostrado no Quadro 1 (Cattuzzo et al., 2020).
Web of Science — Main Collection | TOPIC: (“functional assessment” OR “task performance and analysis” OR movement OR posture) AND TOPIC: (“supine position” OR lifting OR “ris* from the floor” OR “ris* from supine” OR “stand* from supine” OR “ris* from the ground” OR “supine to stand” OR “stand up” OR “supine position to erect stance” OR “ris* from a supine position” OR “get* up from the floor” OR “supine-to-stand task” OR “right* task” OR “right* skill” OR “stand upright” OR “lying backwards to stand”) Refined by: LANGUAGES: (ENGLISH) Timespan: All years. Indexes: SCI-EXPANDED, SSCI, A&HCI, CPCI-S, CPCI-SSH, ESCI. |
PubMed/ MEDLINE | (MeSH Terms)) OR movement [MeSH Terms]) OR exercise therapy [MeSH Terms]) OR physical therapy [MeSH Terms]) OR physical therapy [MeSH Terms] AND floor and floorcoverings [MeSH Terms])) OR lifting from the floor OR rising from the floor OR standing up from the floor) OR supine-to-stand task) OR supine-to-stand task) |
Scielo/ Science Direct/ EMBASE/ Scopus/ ERIC/ EBSCO/ Cochrane | (“functional assessment” OR “task performance and analysis” OR movement OR posture) AND ((standing) OR “rising from the floor” OR “supine-to-stand task” OR “getting up from the floor” OR “standing up”) |
Fonte: Cattuzzo et al., (2020).
Os critérios de inclusão foram: estudos originais (artigos, teses, dissertações) avaliando a tarefa STS por meio de medidas objetivas, língua inglesa, indivíduos saudáveis com desenvolvimento típico e publicações realizadas até 2019. Os critérios de exclusão foram: duplicatas, estudos que não coincidem com o histórico desta revisão e artigos não disponíveis em texto completo. Um capítulo de livro com relevante descrição metodológica do protocolo e um artigo precursor do tipo de análise foram indicados por experts na área e considerados literatura cinzenta e, portanto, foram incluídos para análise. O Quadro 2 descreve todas as etapas da seleção dos estudos que foram revisados.
Critério 1 | Ruim | 1 |
---|---|---|
Clareza de linguagem | Regular | 2 |
Bom | 3 | |
Critério 2 | Não | 0 |
Isento de efeito piso ou teto | Sim | 1 |
Critério 3 | Não | 0 |
Reprodutibilidade satisfatória | Sim | 1 |
Critério 4 | Não | 0 |
Confiabilidade satisfatória | Sim | 1 |
Critério 5 | Menos de 10 itens | 1 |
Detalhamento da tarefa | 10 a 20 itens | 2 |
Mais de 20 itens | 3 | |
Critério 6 | > 3 minutos: lento | 1 |
Tempo de codificação* | = 3 minutos: moderado | 2 |
< 3 minutos: rápido | 3 |
*dados proveniente da aplicação prática dos protocolos.
Extração dos dados
Foram extraídos os seguintes dados dos estudos: nome dos autores, ano de publicação, sexo, idade da amostra, massa corporal e Índice de Massa Corporal (IMC) (Tabela 1). A análise do risco de viés metodológico foi feita usando o formulário Critical Review Form (Form & Studies, 2007) e cada artigo foi analisado a partir de 15 itens sobre a qualidade do estudo (Tabela 2). Se a qualidade do item era considerada satisfatória, ele pontuava um (1), caso contrário, zero (0). A soma dos pontos dos itens oscila entre zero e 15 pontos. Estudos com pontuações menores ou igual a sete (≤ 7) foram classificados como de alto risco de viés; estudos que obtiveram pontuações entre oito e 11 pontos foram classificados como risco moderado de viés; estudos que alcançam pontuação igual ou superior à 12 foram considerados como de baixo risco de viés. Dois autores (FSS & CSM) conduziram a extração dos dados de forma independente e, em caso de divergência, um terceiro pesquisador resolveu a discordância (MTC).
Autores | Sexo/n | Idade (anos) | Massa corporal (kg) | IMC (kg/m2) |
---|---|---|---|---|
VanSant (1988) | Fem = 17; Mas = 15 | 28.6 ± 20–35 | NI | NI |
Ulbrich et al. (2000) | Fem = 12; Mas = 12 | INI:73 ± 6 | NI | INI : 23 ± 3 (19 a 30) |
Fem = 29 | II : 81 ± 7 | II : 26 ± 5 (19 a 39) | ||
Bohannon et al. (2004) | Fem = 38; Mas = 14 | 64.6 ± 9.5 | NI | NI |
Manini et al. (2006) | Fem = 61; Mas = 21 | 74.4 ± 8.2 | NI | NI |
Haywood et al. (2012) | NI | 6 a 71 | NI | NI |
Schwickert et al. (2015) | Fem = 5; Mas = 5 | INI : 74 ± 62.3-77.5 | INI : 72 (57 a 85) | INI : 24.8 (21.2 a 32.1) |
Klima et al. (2015) | Fem = 36; Mas = 17 | 78.5 ± 8.5 | NI | 26.9 ± 4.5 |
Fonte: elaborado pelos autores.
IMC: índice de massa corporal; kg/m2: quilogramas por metro quadrado; kg: quilogramas; Fem: feminino; Mas: masculino; NI: não informado; INI: idosos não-institucionalizados; II: idosos institucionalizados.
QUESTÕES*/ AUTOR (ano) | VanSant (1988) | Ulbrich et al. (2000) | Bohannon et al. (2004) | Manini et al. (2006) | Schwickert et al. (2015) | Klima et al.(2016) | Total | % |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
(1) O objetivo estava claro? | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 6 | 100 |
(2) A revisão da literatura foi relevante para este tópico? | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 6 | 100 |
(3) O desenho foi adequado à questão da pesquisa? | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 6 | 100 |
(4) A amostra foi descrita em detalhes? | 0 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 5 | 83 |
(5) Havia justificativa para o tamanho da amostra? | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
(6) Os sujeitos assinaram o termo de consentimento? (Se não descrito, assuma que não) | 1 | 0 | 1 | 1 | 1 | 1 | 5 | 83 |
(7) As medidas de resultado foram confiáveis? (Se não descrito, suponha que não) | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 6 | 100 |
(8) As medidas de resultado foram válidas? (Se não descrito, assuma que não) | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 6 | 100 |
(9) A intervenção foi descrita em detalhes? | NA | NA | NA | NA | NA | NA | NA | NA |
(10) Os resultados foram relatados em termos de significância estatística? | 0 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 5 | 83 |
(11) Os métodos de análise foram adequados? | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 6 | 100 |
(12) A importância clínica foi relevante? | 1 | 1 | 0 | 1 | 1 | 1 | 5 | 83 |
(13) As conclusões foram consistentes com os métodos e resultados do estudo? | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 6 | 100 |
(14) Existem implicações nos resultados da pesquisa para a prática clínica? | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 6 | 100 |
(15) As limitações do estudo foram reconhecidas e descritas pelos autores? | 0 | 1 | 0 | 1 | 1 | 1 | 4 | 67 |
*adaptado do Critical Review Form (22); NA: não aplicável.
A seguir, uma nova extração de dados foi feita baseada em critérios específicos para examinar a vantagem de análise do processo da tarefa STS (Quadro 2). Isso permitiu que a análise comparativa entre os protocolos pudesse se tornar mais clara e objetiva. As informações extraídas trataram da validade interna e externa dos protocolos.
Estudo exploratório
Adicionalmente, os autores CSM e FSS conduziram uma análise de vídeos de idosos (dados não publicados) e estimaram o tempo de uso de cada protocolo como critério da aplicabilidade. Os voluntários assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e o estudo aprovado pelo comitê de ética e pesquisa número 1830185.
Análise dos dados
As características das amostras foram apresentadas descritivamente por meio da média e mediana, amplitude e desvio-padrão, além da frequência absoluta e relativa (%). Foi desenvolvido pelos autores um sistema de classificação da vantagem metodológica dos protocolos: os critérios com possibilidade de categorização binária dicotômica — não ou sim — receberam, respectivamente, valores zero ou um (critérios dois a quatro); para os critérios um, cinco e seis foram criadas três categorias cada (Quadro 2). O somatório dos escores obtidos em cada critério foi julgado para a determinação em três níveis: maior vantagem (∑≥ 10), vantagem mediana (∑ entre 6 e 9) ou menor vantagem (∑≤ 5), considerando que a amplitude possível para o somatório é três e 12 e, quão maior o valor do somatório obtido, maior o nível de vantagem.
RESULTADOS
O processo de seleção do material bibliográfico finalizou com sete registros incluídos: seis artigos científicos de natureza observacional, um deles com amostra de indivíduos adultos e um capítulo de livro, ambos incluídos pela relevância e indicados por especialistas na área, como mostrado na Figura 1.
A Tabela 1 informa que todos os artigos selecionados apresentaram elevada qualidade metodológica, cumprindo a maioria dos critérios propostos pelo Critical Review Form (exceto o protocolo descrito em capítulo de livro, que não se aplica ao caso). Destaca-se que o critério 5 (justificativa sobre o tamanho amostral) esteve ausente em todos os estudos investigados, assim como, a técnica de amostragem não-probabilística (intencional ou de conveniência) foi a única utilizada. Também, o critério 15, sobre o reconhecimento das limitações dos estudos só foi atendido por 67% dos artigos revisados (Ulbrich, Raheja, & Alexander, 2000; Manini, Cook, VanArnam, Marko, & Ploutz-Snyder, 2006; Schwickert et al. 2015; Klima et al. 2016).
O artigo mais antigo e precursor da análise de processo na tarefa STS foi publicado por VanSant (1988) nos EUA. Além do objetivo de descrever os movimentos da tarefa STS em três regiões corporais: membros superiores, região axial e membros inferiores, a pesquisadora identificou a sequência desenvolvimental mais frequente em jovens adultos. A partir daí, foram publicados aproximadamente um artigo a cada quatro anos, com uma frequência um pouco maior no último quadriênio, como mostrado na Tabela 2. Com relação ao sexo dos participantes, todos os artigos investigaram ambos os sexos e a faixa etária das amostras dessas pesquisas variou bastante. Porém, apresentaram distinção entre os grupos de jovens adultos e idosos, assim como, idosos não-institucionalizados ou institucionalizados, estes últimos normalmente com idade mais elevada.
Manini, Cook, VanArnam, Marko e Ploutz-Snyder (2006) foi o estudo que apresentou o protocolo com maior vantagem metodológica (∑= 10). Os protocolos restantes apresentaram vantagem metodológica mediana, segundo os critérios previamente estabelecidos, conforme Tabela 3. Além disso, 86% dos protocolos foram considerados de rápida codificação ou com tempo de codificação moderado (os avaliadores levaram entre 0,5 e 5 minutos, aproximadamente).
Autor (ano)/ critério | VanSant (1988) | Ulbrich et al. (2000) | Bohannon et al. (2004) | Manini et al. (2006) | Haywood et al. (2012) | Schwickert et al. (2015) | Klima et al. (2016) |
---|---|---|---|---|---|---|---|
Clareza da linguagem | 3 | 2 | 1 | 3 | 3 | 3 | 3 |
Isento de efeito piso ou teto | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 1 | 0 |
Reprodutibilidade satisfatória | 0 | 0 | 0 | 1 | 0 | 0 | 0 |
Confiabilidade satisfatória | 1 | 1 | 1 | 1 | 0 | 1 | 1 |
Detalhamento da tarefa | 2 | 2 | 3 | 1 | 2 | 1 | 1 |
Tempo de codificação | 2 | 3 | 1 | 3 | 2 | 3 | 3 |
∑ | 9 | 9 | 7 | 10 | 8 | 9 | 8 |
Com relação à clareza da linguagem na descrição, 14% dos protocolos foram considerados ruins. Efeito piso foi observado apenas no trabalho de Klima et al. (2016). Os critérios três e quatro contemplam itens de validação dos protocolos, reprodutibilidade e confiabilidade, respectivamente. A reprodutibilidade foi pouco considerada, mas a confiabilidade intra-avaliador foi determinada em dois estudos (VanSant, 1988; Bohannon & Lusardi, 2004) e a confiabilidade entre-avaliadores calculados em cinco estudos (Ulbrich et al., 2000; Manini et al., 2006; Schwickert et al., 2015; Klima et al., 2016). Por fim, Bohannon e Lusardi (2006) foi o estudo cujo protocolo apresentou maior detalhamento da tarefa, conforme mostrado na Tabela 3.
DISCUSSÃO
O objetivo deste estudo foi determinar o protocolo de maior vantagem metodológica para análise de processo na tarefa STS em idosos. Os resultados mostraram que todos os protocolos podem ser considerados pelo menos de vantagem mediana visto que a soma dos escores previamente definidos foi superior a quatro, cumprindo satisfatoriamente a maioria dos critérios. O principal resultado foi que o protocolo de Manini et al. (2006) obteve a maior vantagem metodológica considerando especificamente à tarefa STS, visto que quatro tarefas foram usadas para desenvolver sua escala (MOD Scale).
Com exceção do estudo de Bohannon et al. (2004), todos os protocolos revisados apresentaram em comum um curto tempo de codificação e clareza da linguagem. Considerando a aplicação clínica e científica em estudos com grandes populações, essas variáveis se adéquam de forma satisfatória, possivelmente dispensando o registro filmográfico em alguns casos. Neste sentido, destaca-se o protocolo usado por Ulbrich et al. (2000) que, ao investigar apenas as posições intermediárias da STS, identificou um perfil de desempenho capaz de distinguir a competência funcional motora de idosos saudáveis e frágeis.
Por outro lado, o nível de detalhamento da STS foi determinado pela quantidade de itens a serem analisados que variou entre três e 31, sendo que quão maior o nível de detalhamento, maior a capacidade do mesmo distinguir sujeitos pelos níveis de desempenho. O protocolo mais detalhado e exigente foi o de Bohannon et al. (2004) em virtude da riqueza de recursos, ideal em termos de diagnóstico e intervenção, especialmente em contextos de maior dificuldade motora. Com nível de detalhamento intermediário, num capítulo de livro técnico-didático, Haywood et al. (2012) apresentaram sequências desenvolvimentais para a STS fundamentadas no artigo seminal de VanSant (1988).
Com relação à validação dos protocolos da STS, um pouco mais de um terço dos estudos realizaram análises de reprodutibilidade e de confiabilidade intra e entre-avaliadores. Mesmo assim, todos os níveis de reprodutibilidade e confiabilidade realizados foram considerados estatisticamente satisfatórios. O efeito piso foi encontrado no estudo de Klima et al. (2016) provavelmente porque o número de itens de checagem é muito pequeno e pouco discriminatórios.
A diversidade de padrões metodológicos de instrução pode diminuir as possibilidades de comparações de desempenho entre os protocolos. Este é o caso da instrução sobre a velocidade de execução (confortável ou máxima) que pode interferir no desempenho. Alexander et al. (1997) mostraram diferenças significativas de desempenho quando comparadas velocidades diferentes em idosos sob a ótica do produto (tempo em segundos), porém à luz do processo ainda há uma lacuna. Em adição, os resultados do artigo de Schwickert et al. (2015) mostraram que as estratégias de movimento não foram influenciadas pelo cenário de aplicação da STS, numa perspectiva naturalística e padronizada.
Como limitações deste estudo, pode-se apontar que outros critérios poderiam ser elencados para diferenciar os protocolos e a literatura foi revisada até o ano de 2019. Como pontos fortes pode-se apontar que ele traz contribuições importantes para profissionais que trabalham com movimento humano (terapeutas ocupacionais, médicos fisiatras, fisioterapeutas, profissionais de Educação Física). O estudo oferece uma síntese capaz de distinguir um instrumento útil, válido e prático para avaliar idosos em uma das principais tarefas da competência funcional motora. Pesquisadores da área da motricidade humana podem se beneficiar termos de fundamentação de qualquer investigação sobre a análise de processo de movimento na STS, visto que todas as ferramentas já utilizadas na literatura foram criteriosamente analisadas. Portanto, os resultados do presente estudo podem ser usados como guia tanto na prática cotidiana quanto no cenário científico.
CONCLUSÕES
De acordo com os resultados, o protocolo de Manini et al. (2006) apresentou maior vantagem metodológica, permitindo concluir que ele é o mais indicado para análise de processo na tarefa STS em idosos. Além disso, deve-se também considerar que todos os outros protocolos apresentaram pelo menos vantagem mediana.