INTRODUÇÃO
As notícias sobre o doping fazem parte do cotidiano da mídia, e estão presentes principalmente nas editorias esportivas. No entanto, estas notícias não ficam restritas apenas a esta editoria, e podem inclusive ser publicadas com destaque nos diversos meios de comunicação. Histórias envolvendo o uso de drogas, trapaça e corrupção no esporte alcançam as manchetes frequentemente e se tornam escândalos que ganham repercussão mundial de acordo com cada caso (Whannel, 2002). Uma das características mais marcantes de um escarcéu esportivo pode ser encontrado na intensa cobertura da mídia de massa, e o doping desempenha um papel significativo em vários escândalos esportivos (Wagner & Kristiansen, 2019).
O processo de agendamento destas notícias se intensificou na virada do século XXI, quando casos de atletas que realizaram o uso de substâncias dopantes em eventos de grande visibilidade como o ciclismo e atletismo, começaram a ser noticiados frequentemente na mídia (Pfister & Gems, 2015).
Em relação aos estudos sobre a comunicação de massa, há uma diversidade de pesquisas que pretendem discutir a influência do conteúdo transmitido através da mídia para os receptores. Dentre algumas das teorias que pretendem verificar estes efeitos, estão a teoria do agendamento e enquadramento, que foram sistematizadas em estudos realizados na década de 70 (Goffman, 1974; McCombs & Shaw, 1972).
A teoria do agendamento em inglês agenda-setting, afirma que a mídia organiza a seleção de notícias de maneira a influenciar a opinião pública (McCombs, 2014). Desta forma a mídia pode influenciar inclusive como as pessoas pensam sobre tal assunto abordado (Cohen, 1963). Apesar da base dos estudos sobre agendamento terem começado na década de 20 com Walter Lippmann (1922) na clássica obra Public Opinion, a primeira pesquisa foi realizada por McCombs e Shaw (1972) com eleitores Americanos em Chapel Hill, na disputa entre George McGovern e Richard Nixon para a presidência. Os autores concluíram que havia uma correlação entre o conteúdo publicado na mídia com a temática abordada por estes candidatos (Weaver, 1996). De certa forma, os veículos de comunicação possuíam a capacidade de estruturar o conteúdo de modo que estes assuntos eram vistos como importantes para os receptores. Além disso, estes receptores que também eram eleitores, se informavam sobre política e as propostas dos candidatos através da mídia.
No entanto, há uma nova tendência dentre os estudos da comunicação, que pretendem observar o processo de seleção e saliência ao enquadrar determinado assunto. Com o desenvolvimento de estudos sobre o agendamento, outros pesquisadores foram incluindo análises sobre o enquadramento, considerado como uma segunda dimensão de agenda-setting, com o foco em observar como a mídia difunde suas mensagens (Díaz, 2004).
O termo Enquadramento, em inglês framing, é descrito por Entman (1993, p. 52) como o processo de “selecionar alguns aspectos da realidade percebida e ressalta-los em um texto comunicativo, promovendo uma definição particular de um problema, uma interpretação causal, uma avaliação moral e/ou um tratamento recomendado”. O autor esclarece que enquadramentos são configurados pelo processo de seleção e saliência. Ao descrever uma determinada realidade, os quadros escolhidos retratam apenas alguns aspectos, enquanto ocorre a omissão de outros elementos. Para Entman (1993) a omissão e a inclusão precisam ser igualmente avaliados. Desta forma, a mídia ajuda a construir uma realidade por meio das escolhas de seus enquadramentos, que apenas demostram uma parcela da realidade, sendo capaz de influenciar a audiência em diferentes segmentos, mas principalmente em questões de natureza política (Porto, 2004).
Em se tratando sobre a problemática que envolve o processo de seleção e produção de notícias sobre casos de dopagem, este manuscrito buscou responder à questão: Quais foram os artigos científicos publicados de 2000 a 2021 que envolveram a discussão sobre doping, agenda-setting (agendamento) e framing (enquadramento)? Consequentemente, o objetivo principal foi investigar através de uma revisão sistemática de literatura as produções acadêmicas sobre esta temática. Além disso, buscou-se identificar quais são os meios de comunicação mais utilizados na cobertura sobre a dopagem, abordados pela literatura.
MÉTODO
A evolução da era eletrônica e a digitalização das comunicações levou ao desenvolvimento de vários bancos de dados na rede mundial de computadores (internet), que ampliaram os recursos de busca sobre um assunto específico, além da capacidade de realizar análises de citações (Falagas et al., 2007). Neste artigo, utilizou-se a pesquisa em base de dados a fim de mapear as publicações relacionadas à dopagem e às teorias do jornalismo sobre a comunicação de massa. A busca de artigos que incluam dopagem e as teorias da comunicação de massa permite verificar a quantidade e a variedade de trabalhos científicos nesta temática. Assim como oferece a possibilidade de compreender de forma ampla estudos sobre as teorias referentes à produção e seleção de notícias e o doping.
A partir das bases de dados indicadas na Tabela 1, elaborou-se uma revisão sistemática seguindo o protocolo de Itens de Relatório Preferenciais para Revisões Sistemáticas e Meta-análises, conhecido também pelo acronónimo PRISMA (Moher et al., 2009). Após uma leitura exploratória, os seguintes termos de pesquisa foram definidos, em combinação com a palavra-chave: “doping”, “framing” e “agenda-setting”.
Para cada grupo de busca, as palavras-chave foram combinadas por meio de AND (e). Como critérios de inclusão foram adotados: (1) artigos originais de periódicos científicos (nenhum fator de impacto foi considerado); (2) escritos em inglês, espanhol ou português; e (3) textos completos disponíveis. Entretanto, com para os critérios de exclusão, foram anulados os artigos que: (1) não mencionassem o doping ou substâncias ilícitas, ou ainda qualquer relação com o contexto teórico (framing, agenda-setting); (2) pesquisas, que em condição total ou parcial, não apresentassem uma relação direta com a produção de notícias; (3) artigos que não incluíam, total ou parcialmente, a discussão sobre os termos chave; (4) publicações anteriores ao ano 2000; e (5) que não eram literatura acadêmica.
RESULTADOS
Após a pesquisa nas quatro base de dados científicas destacadas, realizou-se a leitura dos resumos e constatou-se a presença de 1.152 artigos que mencionaram as palavras-chave da pesquisa (Tabela 1). Na plataforma da Taylor & Francis foi necessário refinar a busca procurando os termos somente como palavras-chave ou inseridos no abstract. No total 1.125 artigos foram excluídos por não pertecerem aos críterios de inclusão.
Termos pesquisados | PubMed | Scopus | Taylor & Francis | Web of Science |
---|---|---|---|---|
Doping + (and) Framing |
Total: 148 Inclusão: 2 Exclusão: 146 |
Total: 21 Inclusão: 7 Exclusão:14 |
Total: 44 Inclusão: 4 Exclusão: 40 |
Total: 888 Inclusão: 6 Exclusão: 882 |
Doping + (and) Agenda-setting |
Total: 0 Inclusão: 0 Exclusão: 0 |
Total: 4 Inclusão: 4 Exclusão:0 |
Total:46 Inclusão: 3 Exclusão:43 |
Total: 1 Inclusão: 1 Exclusão:0 |
*Dados estratificados em Setembro de 2021.
Dos artigos excluídos da amostra, uma considerável parcela estava relacionada a área da saúde e aos estudos sobre doping e os seus efeitos no corpo. Desta forma, a amostra de estudos elegíveis foi de 27 artigos que após a checagem de repetência, chegou-se a seleção final de 17 artigos (Tabela 2).
Id. | Título | Ano | Autores | Periódicos | Tipologia |
---|---|---|---|---|---|
1 | An experimental test of the efficacy of gain- and loss-framed messages for doping prevention in Adolescent athletes | 2019 | Duncan e Hallward | Substance Use & Misuse | Framing |
2 | Facing irregularities in sport: Whistleblowing and Watchdog Journalism, The Romanian Case | 2019 | Constantin e Stoicescu | Physical Culture and Sport. Studies and Research | Framing |
3 | Is there still hope for clean sport? Exploring how the Russian doping scandal has impacted North American sport culture and identity using an ethnographic content analysis | 2019 | Alexander et al. | Qualitative Research in Sport, Exercise and Health | Agenda-setting |
4 | Coverage of the Russian doping scandal in the New York Times: Intramedia and Intermedia Attribute Agenda-Setting Effects | 2019 | Denham | Communication & Sport | Agenda-setting |
5 | From political sports to sports politics: on political mobilizations of sports issues | 2018 | Seippel et al. | International Journal of Sport Policy and Politics | Framing |
6 | Talking Doping: A Frame Analysis of Communication About Doping Among Talented, Young, Norwegian Road Cyclists | 2017 | Sandvik et al. | Sociology of Sport Journal | Framing |
7 | English Doping suspension trigger event for U.S. news | 2017 | Denham | Newspaper Research Journal | Agenda-setting |
8 | Who is responsible for doping in sports? The attribution of responsibility in the german print media | 2017 | Starke e Flemming | Communication & Sport | Framing |
9 | Meta Framing And Polyphonic Structures: A case study of news reporting in sports journalism | 2017 | Pedersen | Journalism Studies | Framing |
10 | Fairy tales? Marion Jones, C.J. Hunter and the framing of doping in American newspapers | 2015 | Pfister e Gems | Sport in Society |
Agenda-setting/ Framing |
11 | Tweeted Joke Life Spans and Appropriated Punch Lines: Practices Around Topical Humor on Social Media | 2015 | Highfield | InternationalJournal of Communication | Framing |
12 | Intermedia Attribute Agenda Setting in the New York Times: The Case of Animal Abuse in U.S Horse Racing | 2014 | Denham | Journalism & Mass Communication Quarterly | Agenda-setting |
13 | Beyond elite sports: Analysis of the coverage of anabolic steroids in the Spanish press (2007-2011) | 2014 | Calatayud et al. | Catalan Journal of Communication & Cultural Studies |
Agenda-setting/ Framing |
14 | From Yellow to Blue: Exploring Lance Armstrong Image Repair strategies across traditional and Social media | 2013 | Hambrick et al. | Communication & Sport | Framing |
15 | Applying the health belief model to examine news coverage regarding steroids in sports by ABC, CBS, and NBC between March 1990 and May 2008 | 2010 | Quick | Health Communication | Framing |
116 | ‘Reversed agenda-setting effects’ in China Case studies of Weibo trending topics and the effects on state-owned media in China | 2014 | Jiang | The Journal of International Communication | Agenda-setting |
17 | The News Framing of the 2004 Olympic Games | 2007 | Zaharopoulos | Mass Communication and Society | Framing |
Em seguida, os 17 artigos selecionados foram encaminhados para a leitura na íntegra do conteúdo que foi realizado pelo pesquisador principal e autor do manuscrito, e os resultados discutidos com dois professores doutores em Comunicação. Destaca-se que não foram utilizadas ferramentas de automação no processo de seleção e triagem da amostra, conforme apontado no risco de viés (Risk of Bias). Durante a leitura dos artigos buscou-se identificar a peridiocidade a fim de compreender quando os estudos se tornaram mais recorrentes bem como a tipologia do estudo mais utilizada. Levou-se em consideração avaliar o formato de mídia e principalmente o país de cada veículo estudado, revelando possibilidades para expansão e aplicação de um mesmo estudo em outros países.
No que tange a perspectiva de pesquisas sobre teorias de seleção de notícias, na amostra foram encontrados 8 estudos que envolvem o doping e agenda-setting e 12 estudos sobre doping e a teoria framing (Figura 1).
Na Tabela 2, foram descritas a tipologia do estudo, de forma que em dois artigos são mencionadas ambas teorias como em Calatayud et al. (2014) e Pfister e Gems (2015). O número de pesquisas que envolvem o enquadramento foi maior do que em relação ao agendamento, indicando o interesse crescente em explorar esta teoria por meio de estudos empíricos. Gradim (2016) cita que o enquadramento se tornou uma temática popular para acadêmicos de diversas áreas. A autora menciona que em uma amostra de artigos publicados em jornais acadêmicos como o Political Comumunication e o Journal of Communication, foi observado que ocorreu um aumento exponecial entre duas décadas da utilização do termo. Fato que pode ser constatado no cruzamento comparativo de dados na década de 1990, onde foram verificadas 15 publicações sobre o tema em comparação a 38 artigos entre 2000 até 2009.
DISCUSSÃO
Em relação aos resultados encontrados nos 17 artigos publicados, a mídia Americana foi investigada em 7 artigos (Alexander et al., 2019; Denham, 2014, 2017, 2019; Pfister & Gems, 2015; Quick, 2010; Zaharopoulos, 2007). Seguidos por pesquisas sobre a mídia: Alemã (Starke & Flemming, 2017), Espanhola (Calatayud et al., 2014), Dinamarquesa (Pedersen, 2017), Romena (Constantin & Stoicescu, 2019), Chinesa (Jiang, 2014). Os demais artigos não estudam uma mídia específica de um país e analisam os enquadramentos de mensagens sobretudo em redes sociais.
Entre os artigos que utilizaram a rede social como meio de comunicação para análise estão as pesquisas dos autores: Hambrick et al. (2013), Highfield (2015), Jiang (2014). Jiang (2014) avaliou a rede social chinesa WEIBO, microblogging Chinês, afim de identificar como o público reagia as notícias sobre a suspeita de doping da nadadora Ye Shiwen nas Olimpíadas de Londres de 2012. Em Hambrick et al. (2013) foram analisadas 859 mensagens no Twitter publicadas enquanto o atleta Lance Armstong confessava o uso de substâncias proibidas na entrevista com Oprah Winfrey. Highfield (2015) também fez sua pesquisa estudando os “tweets” com a palavra-chave “armstrong” entre Agosto de 2012 até Março de 2013 através da ferramenta Twitter Streaming API. Foram selecionados os tweets mais relevantes e em seguida classificados por tipo, fontes e número de repostagem. Desta forma, o autor tentou identificar conteúdos de humor nos enquadramentos da amostra, bem como definir qual o tipo de conteúdo é o mais popular no Twitter em relação ao atleta Lance Armstong no período que abrangeu vários desenvolvimentos importantes no escândalo, desde as alegações, sentenças e confissão de Armstong (Highfield, 2015).
Em Sandvik et al. (2017) foi investigado como os atletas de ciclismo da Noruega comunicavam-se sobre doping através do Focus Group, com o tratamento de dados através da perspectiva da análise de enquadramento de Goffman (1974). Primeiro, os autores observaram como os participantes se comunicavam sobre a dopagem entre pares, e em seguida se concentraram em como os participantes se expressaram quando falavam sobre a dopagem dentro de um dilema moral.
Utilizando o Focus Group também como método de pesquisa qualitativa, Constantin e Stoicescu (2019) entrevistaram quatro jornalistas investigativos na edição de esporte da Romênia em 2018. O objetivo era identificar como os jornalistas obtinham acesso as denúncias sobre corrupção, doping e outros casos de irregularidades prejudiciais no esporte, e como elas são tratadas.
Duncan e Hallward (2019) realizaram a pesquisa observando a eficácia na transmissão de mensagens de antidopagem para atletas adolescentes. O metódo aplicado por estes pesquisadores, consistia em apresentar um vídeo de cerca de 5 minutos para atletas participantes, seguido por entrevistas sobre o conteúdo que acabaram de assistir. Enquanto que a pesquisa realizada por Seippel et al. (2018), verifica que o esporte está sempre relacionado com aspectos políticos. Neste artigo foi utilizado o referencial teórico tridimensional baseado na teoria do movimento social., e não é citado uma mídia específica.
O meio de comunicação mais estudado foi o jornal impresso, presente em 8 artigos da amostra. De maneira que as pesquisas sobre esse meio, seguem diferentes justificativas quanto a escolha metodológica e periodicidade. Sobre a mídia Alemã, por exemplo, utilizou-se três jornais Sueddeutsche Zeitung (SZ), Die Welt e Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ), no período entre Janeiro de 1998 a Abril de 2014 (Starke & Flemming, 2017). Os autores analisaram 754 notícias publicadas, através de uma análise quantitativa para compreender o enquadramento mais comum em relação à responsabilidade do uso de substâncias para a melhora do desempenho.
No artigo sobre a mídia Espanhola, Calatayud et al. (2014) utilizaram quatro jornais: El País de Madrid, La Vanguardia de Barcelona, Levante-El Mercantil Valenciano de Valência e Las Provincias para avaliar uma cobertura de notícias entre 2007 até 2011. Foram reunidas 581 matérias encaminhadas para a análise quantitativa e qualitativa. Desta forma os autores conseguiram fornecer números relativos à quantidade de notícias a cada ano gerada sobre o doping em cada jornal, além de identificar quais as editorias foram relacionadas ao tema e a percentagem de incidências dessas publicações, bem como avaliar os casos de casos predominantes na mídia. Por outro lado, na análise qualitativa foram verificados o título, o corpo da história considerando a semântica, o sensacionalismo, a presença do conteúdo de celebridades ou crime, além de identificar se os fatos relatados estavam descontextualizados. Esta análise de segundo os autores foi realizada sob uma perspectiva de enquadramento na qual tratam como um segundo nível de agenda-setting.
Em Pedersen (2017), o autor realizou uma pesquisa da cobertura no jornal BT na Dinamarca em um período de uma semana entre 12 de Novembro até 18 de Novembro de 2012, reunindo um total de 12 artigos. O objetivo foi de mapear uma cobertura jornalística sobre o possível conhecimento do proprietário da equipe de ciclismo, Bjarne Riis, à respeito de uso de doping em suas equipes de ciclismo. Foi utilizada uma análise de conteúdo qualitativa, na qual o autor realizou a degeneração de manchetes, subtítulos, corpo do texto e classificou os enquadramentos dos artigos como positivos, típicos ou neutros em relação a Bjarne Riis.
As demais pesquisas envolvendo o jornal impresso estudaram a mídia americana. Denham (2014, 2017, 2019) publicou três artigos sobre agenda-setting e a cobertura sobre dopagem. Em todas as publicações o autor utiliza uma análise quantitativa para gerar dados estáticos e argumentar sobre a cobertura em jornais. Em Pfister e Gems (2015), é explorado o caso da atleta americana de atletismo Marion Jones, e o seu marido e treinador C.J. Hunter, durante os Jogos Olímpicos de Sydney 2000. Foram selecionados três jornais para análise qualitativa, o New York Times (NYT), New York Post (NYP) e o Chicago Sun-Times (CST), no período de 8 de setembro até 8 de outubro de 2000 para incluir a cobertura antes, durante e após os Jogos Olímpicos de Sydney. Zaharopoulos (2007) optou por utilizar uma versão online do jornal americano New York Post para explorar os enquadramentos sobre as Olímpiadas de 2004 em Atenas. O autor identificou a presença de 7 reportagens sobre dopagem no total da amostra de 337, com a incidência de 2,1%.
A cobertura de notícias sobre dopagem transmitida pela televisão foi abordada em um artigo apenas, que investigou os enquadramentos das reportagens sobre o uso de esteróides no esporte nas emissoras ABC, CBS e NBC entre Março de 1990 e Maio de 2008 (Quick, 2010). Outra pesquisa ainda sobre a mídia Americana, foi de Alexander et al. (2019). Os autores escolheram a etnografia e desenvolveram um método no qual os participantes deveriam discutir, após a leitura de reportagens sobre doping em jornais Norte-Americanos. O obejtivo foi de observar os discursos dominantes em torno do programa sistemático de doping russo conforme apresentado na mídia norte-americana nas Olimpíadas de Sochi em 2014, e para as Olimpíadas de Pyeongchang em 2018.
Na perspectiva temporal, observa-se a predominância de pesquisas datadas entre 2010 a 2019. Apesar das teorias mencionadas terem sido sistematizadas na década de 70, e os debates a cerca do doping percorrerem um longo caminho com casos documentados em diferentes modalidades esportivas e de atletas de diversos países. Estas discussões inclusive resultaram no aumento de políticas de controle de dopagem no final da década de 90. Ainda que esta temática fosse discutida em diferentes plataformas de comunicação, e casos fossem reportados com frequência na mídia, em relação as pesquisas acadêmicas sobre a dopagem e a cobertura jornalística, as mesmas só se intensificaram após 2010.
A maioria das pesquisas desenvolvidas tratam de avaliar assuntos da própria mídia local, exceto a cobertura sobre o uso de doping por parte dos atletas da Rússia, que foram avaliados sob a ótica da imprensa Americana. Ainda que o caso Russo fosse retratado em meios de comunicação americanos, a predominância de estudos sobre a mídia americana limita e influencia na imparcialidade. Ao comparar determinado caso avaliando as mídias locais e internacionais, se torna possível verificar as diferenças na modulação da comunicação, que sofre interferência por elementos distintos, dentre eles a cultura local que influencia no enquadramento e agendamento destas notícias. Será que um caso de doping de um atleta americano é retratado com a mesma importância em veículos de outros países? Quais seriam as diferenças no enquadramento de mídias locais em comparação as mídias estrangeiras? De que forma a mídia estrangeira impacta e influencia a mídia local ou vice-versa na cobertura do doping? Estudos sobre esta temática são oportunos para avaliar os efeitos da comunicação de massa em diferentes perspectivas.
CONCLUSÕES
Evidenciou-se que pesquisas na área das Ciências da Comunicação e a temática da dopagem que se relacionam com as teorias do agendamento e enquadramento podem ser expandidas, uma vez que há a concentração na utilização do jornal impresso e a mídia americana como objeto de estudo. Pesquisas para expandir os estudos nestas áreas podem ser desenvolvidas tendo em vista a pluralidade de canais de comunicação disponíveis e de plataformas diferenciadas, bem como a oportunidade de comparar o conteúdo selecionado e publicado em outro país.
Contata-se que as publicações científicas sobre a dopagem envolvendo estas duas teorias dos estudos da comunicação intensificaram-se após 2010. Argumenta-se que apesar da criação da Agência Mundial Antidopagem (AMA) em 10 novembro de 1999, e as primeiras noções do conceito de dopagem e discussões sobre esta temática se estabelecerem na década de 50 e 60 (Brissonneau & Montez de Oca, 2018), investigações para compreender como estas notícias são agendadas e enquadradas ganharam ênfase durante a segunda década de formação da AMA. Deste modo, investigações futuras são recomendadas para aprofundar a discussão dos motivos do crescimento de publicações científicas sobre a temática.
Considerando que a busca por artigos científicos nas plataformas de dados incluiu como critério de inclusão os artigos em inglês, espanhol ou português; constata-se uma lacuna de estudos em língua portuguesa e espanhola para esta temática.