INTRODUÇÃO
Em 1981, o sistema de saúde americano deparou-se com uma doença a qual atacava de forma abrupta o sistema imune de seus acometidos, mais tarde sendo identificado o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). O surgimento desse retrovírus permeou-se primeiramente em grupos restritos, como em usuários de drogas injetáveis e em homens que fazem sexo com homens (HSH), adquirindo, no decorrer de 40 anos, uma rápida propagação nos variados grupos sociais, atualmente não possuindo distinção de idade ou sexo para disseminação de sua infeção (Soares, Silva, Guimarães, & Corrêa, 2019).
No início da epidemia do HIV, verificou-se que a redução seletiva e substancial das células CD4 se dava após infeção pelo HIV e essa perda acontecia concomitantemente por um aumento das células TCD8, que resultava em uma relação invertida, sendo a depleção de células CD4+ um marcador de prognóstico altamente certificado e seguro para estimar resultados a curto e longo prazo (Leung et al., 2013; Melo et al., 2019).
Embora tenha se transformado em uma doença aguda e letal para uma doença crônica e manejável por meio da constante evolução da Terapia Antirretroviral (TARV) e do acompanhamento multiprofissional, a possibilidade do desenvolvimento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) com a associação de doenças oportunistas ainda gera angústias e empecilhos em múltiplos tópicos na vida da pessoa vivendo com HIV/AIDS (PVHIV) (Jesus et al., 2017).
É importante observar que a qualidade de vida (QV) relacionada à saúde é um construto multidimensional, a qual engloba fatores além da métrica funcional e orgânica, mas também perpassa a autoperceção de bem estar mental, emocional e físico. Dessa forma, os dados sobre a QV adquiridos de uma localidade podem ser utilizados para identificar atribulações, necessidades e auxiliar na programação de intervenções para a melhoria do estilo de vida (Andersson et al., 2020; Kall et al., 2021).
Ademais, pessoas que vivem com HIV/Aids experimentam, no momento do diagnóstico e no manejo de sua doença, desafios que excedem os efeitos colaterais relacionados ao tratamento medicamentoso. Fases distintas podem ser notadas nesses pacientes, como perda de status social, perda de interesse nas atividades diárias, depressão, estresse e ansiedade, interferindo diretamente na sua qualidade de vida (Handayani, Ratnasari, Husna, Marni, & Susanto, 2019).
Estes aspetos também podem estar relacionados à cronicidade da doença, que exige mudanças de origem emocional e psicológica para lidar com sintomas, tratamento e doenças associadas ao HIV, ascendendo ao estresse. Pode comprometer diretamente aos cuidados exigidos pela doença contribuindo para o aumento da transmissibilidade e comprometendo a qualidade de vida (QV) de quem é acometido (Gomes et al., 2021). Assim, a atividade física é considerada um fator com forte impacto no controle do estresse de PHIV e, consequentemente, na melhoria da QV (Gois, Santos, Alves, & Dantas, 2021).
Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi verificar carga viral, contagem de linfócitos CD4+ e qualidade de vida de pessoas que vivem com o vírus da imunodeficiência humana.
MÉTODOS
Desenho
A presente pesquisa trata-se de estudo observacional, transversal aprovado pelo Comitê de Ética da Pesquisa — do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle — HUGG, com CAAE nº 54523521.2.0000.5258, conforme parecer nº 5.261.483 de 24 de fevereiro de 2022.
Amostra
Teve como amostra 24 indivíduos entre 18 e 60 anos (
Instrumentos
Para coleta de dados sociodemográficos e características clínicas foi utilizado instrumento próprio. O Quadro 1 mostra a caracterização dos grupos e variáveis utilizadas no estudo. As informações sobre contagem de CD4+ e Carga Viral do HIV foram coletados nos prontuários médicos dos pacientes e por meio do Sistema de Controle de Exames Laboratoriais (SISCEL). Estes exames foram todos realizados pelo mesmo laboratório. A contagem de CD4+ foi realizada por citometria de fluxo e a carga viral (CV) do HIV foi quantificada pela técnica de amplificação baseada na sequência de ácidos nucléicos (NASBA® Organon Teknica, Boxtel, Holland), com limite para deteção acima de 50 cópias/mL.
Blocos | Variáveis | Questões Utilizadas | Categorização |
---|---|---|---|
Sociodemo- gráfico | Sexo | Qual o seu sexo? Foi utilizado o critério biológico como critério para a dicotomização |
Feminino Masculino |
Estado Civil | Qual o seu estado civil? Considerou-se as referências adotadas no Brasil |
Solteiro Casado Divórciado Viúvo |
|
Raça Autodeclarada | Você se considera: | Branco Preto Parto Outros* |
|
Escolaridade (anos estudados) | Qual seu nível de escolaridade? Adotou-se a classificação seguno IBGE | Fundamental Incompleto Ensino Fundametal Ensino Médio Completo Ensino Superior |
|
Ocupação | Qual tem sido sua principal ocupação (cargo/profissão)? | Desempregado Trabalho Formal Trabalho Informal Aposentado |
|
Renda (salário mínimo/mês) | Qual a sua renda mensal? | Sem Renda até1 salário >1 a 3 salários 3 a 5 salários 5 salário |
|
Estilo de Vida, Diagnósticos e Autopercepção de Saúde |
Fumo | Costuma Fumar com Frequência? | Não Sim |
Consumo de Álcool | Costuma a ingerir bebida alcoólica com Frequência? | Não Sim | |
Percepção de Saúde | Como está sua saúde? | Boa Muito Boa Nem Ruim Nem Boa Ruim Muito Ruim |
|
Depressão/ Ansiedade | Você costuma ter crises de depressão e ansiedade? | Não Sim | |
Comorbidades | Você apresenta alguma comorbidade? | Não Sim | |
Características Clínicas | Tempo de Diagnóstico | Há quantos anos você foi diagnosticado com HIV? (organizados de acordo com a mediana do grupo) |
1-16 >16 |
Carga Viral | Informação retirada da base de dados SISCEL | Detectada Não Detectada | |
Formas de Contágio | Como você acha que foi infectado pelo HIV? | Não sabe Via sexual Outros** | |
Contagem de linfócitos TCD4+ | Informação retirada da base de dados SISCEL | ≤ 200 >200 – 500 >500 |
|
Nível de Qualidade de Vida | Qualidade de Vida | Informação extraída do Questionário WHOQOL HIV - Bref | Baixo Médio Alto |
Nível de Atividade Física Habitual | Atividade Física | Informação extraída do Questionário de Nível de atividade Física Baeck | Ativos Sedentários |
*Amarelos e povos originários
**Transfusão sanguínea, via parental, uso de seringas infectadas.
Foi utilizado o resultado do exame laboratorial mais próximo à data de realização da entrevista de cada participante, com no máximo 6 meses da data de realização. Esse intervalo foi estabelecido com base no Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Manejo da Infeção pelo HIV em Adultos, que preconiza que o monitoramento laboratorial para acompanhamento clínico seja realizado com o exame de carga viral com frequência semestral (Brasil, 2019).
O instrumento para a avaliação da qualidade de vida foi o WHOQOL-HIV-BREF, desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde, que avalia seis domínios da qualidade de vida relacionada à saúde (Físico, Psicológico, Nível de independência, Relações sociais, meio ambiente e Espiritualidade) por meio de 29 questões, com mais duas questões que avaliam a autoperceção da qualidade de vida do indivíduo, totalizando 31 questões. Os itens apresentam valores de um a cinco com uma escala tipo Likert, onde o um significa uma avaliação em desacordo e o número cinco uma avaliação com alta concordância. Maiores pontuações denotam uma maior qualidade de vida. É importante destacar que, para manter a coesão da pontuação, as questões 3, 4, 5, 8, 9, 10 e 31 têm sua pontuação invertida para representação fiel da escala (Zimpel & Fleck, 2007).
Procedimentos
As entrevistas com os pacientes foram realizadas nos dias agendados para a coleta de exames ou consulta médica, em ambiente privado, no período de março a setembro de 2022 e com base na aplicação de questionários. Foram elegíveis para o estudo pessoas com idade maior ou igual a 18 anos; pacientes com diagnóstico de HIV confirmado e disponibilidade de resultados de carga viral e CD4+. Foram excluídos da pesquisa indivíduos usuários de drogas ilícitas, aqueles acometidos por infeção aguda ou doenças oportunistas, gestantes. lactantes e pessoas com alteração cognitiva que impedissem a participação do estudo.
Análise estatística
Foi utilizada a análise descritiva dos dados para a caracterização do perfil da amostra. Para as variáveis contínuas calcularam-se a média e desvio-padrão, e para as variáveis categóricas calcularam-se a frequência e o percentual. Os gráficos do estudo foram extraídos do programa Excel e do SPSS 25.
RESULTADOS
A Tabela 1 apresenta as características sociodemográficas dos participantes da pesquisa. No que se refere à variável sexo, observou-se uma distribuição semelhante entre os sexos com 50% dos participantes do sexo masculino e 50% do sexo feminino. A variável faixa etária predominante na pesquisa foi de 28 a 48 anos de idade apresentando como média (
Variáveis | Frequências N (%) 24 (100) |
FemininoN (%) 12 (50) |
Masculino N (%) 12(50) |
|
---|---|---|---|---|
Sociodemográficas | ||||
Idade (anos) | ||||
8–48 | 12 (50) | 7 (29,2) | 5 (20,8) | |
≤ 60 | 12 (50) | 5 (20,8) | 7 (29,2) | |
Raça Autodeclarada | ||||
Branca | 2 (8,2) | 1 (4,1) | 1 (4,1) | |
Preta | 7 (29,3) | 2 (8,4) | 5 (20,9) | |
Parda | 14 (58,4) | 8 (33,4) | 6 (25) | |
Outros* | 1(4,1) | 1 (4,1) | 0 (0) | |
Escolaridade | ||||
Fundamental Incompleto | 2 (8,2) | 1 (4,1) | 1 (4,1) | |
Fundamental Completo | 10 (41,8) | 5 (20,9) | 5 (20,9) | |
Ensino Médio | 12 (50) | 6 (25) | 6 (25) | |
Ocupação | ||||
Desempregado | 6 (25) | 3 (12,5) | 3 (12,5) | |
Trabalho Formal | 6 (25) | 3 (12,5) | 3 (12,5) | |
Trabalho Informal | 12 (50) | 6 (25) | 6 (25) | |
Renda | ||||
Sem Renda | 5 (20,8) | 2 (8,3) | 3 (12,5) | |
≤ 1 sal | 7 (29,2) | 5 (20,9) | 2 (8,3) | |
> 1–3 sal | 9 (37,5) | 5 (20,9) | 4 (16,6) | |
> 3–5 sal | 2 (8,2) | 0 (0) | 2 (8,2) | |
> 5 sal | 1 (4,1) | 0 (0) | 1 (4,1) | |
Estado Civil | ||||
Solteiro(a) | 18 (75) | 7 (29,2) | 11(45,8) | |
Casado(a) | 5 (20,9) | 4 (16,6) | 1 (4,1) | |
Divorciado(a) | 1 (4,2) | 1 (4,1) | 0 (0) | |
Viúvo (a) | 0 (0) | 0 (0) | 0 (0) |
*Amarelos e povos originários.
Em relação à ocupação, o presente estudo apresentou prevalência para participantes com ensino médio completo (50%), trabalhadores informais (50%), com mais de um e até três salários mínimos (37,5%) e solteiros (75%).
Em relação às características clínicas também foi observada uma distribuição semelhante no tempo de diagnóstico, sendo que 51,5% corresponde ao período de 7 à 16 anos e 48,5% acima de 16 anos. Quanto à carga viral, a prevalência foi do grupo "não detetável", representando 74,6% dos participantes. A forma de contágio por via sexual sobressaiu, representando 91,8% dos participantes e contagem de CD4+ acima de 500 mm3 para 77,2%, conforme apresentado na Tabela 2.
Características clínicas | ||||
---|---|---|---|---|
Variáveis | Total N (%) 24 (100) |
Feminino N (%) 12 (50) |
Masculino N (%) 12 (50) |
|
Tempo de Diagnóstico de HIV (anos) | ||||
1–3 | 13 (54,2) | 6 (25) | 7 (29,1) | |
≤ 5 | 11 (45,8) | 6 (25) | 5 (20,8) | |
Carga Viral | ||||
Detectável | 6 (25) | 3 (12,5) | 3 (12,5) | |
Não Detectável | 18 (75) | 9 (37,5) | 9 (37,5) | |
Forma de Contágio | ||||
Não sabe | 1 (4,1) | 1 (4,1) | 0 (0) | |
Via Sexual | 23 (95,8) | 11 (45,8) | 12 (50) | |
Outros* | 0 (0) | 0 (0) | 0 (0) | |
CD4/mm3 sangue | ||||
≤ 200 | 0 (0) | 0 (0) | 0 (0) | |
> 200–500 | 6 (25) | 4 (16,6) | 2 (8,4) | |
> 500 | 18 (75) | 8 (33,4) | 10 (41,6) |
*Transfusão sanguínea, via parental, uso de seringas infectadas.
A Tabela 3 mostra os escores obtidos em cada um dos domínios, bem como valores mínimos e máximos de cada domínio. Os maiores valores referem-se ao domínio físico (26,7± 5,3). Os domínios que mostraram menores escores foram o de relação social (12,2± 2,8), meio ambiente (10,9± 2,7) e score geral (15,7± 1,7).
Domínio | Média± Dp | Mínimo | Máximo |
---|---|---|---|
Físico | 26,7± 5,3 | 16 | 37 |
Psicológico | 14,4± 2,7 | 7 | 18 |
NI | 14,0± 2,4 | 8 | 18 |
RS | 12,2± 2,8 | 7 | 18 |
Meio Ambiente | 10,9± 2,7 | 7 | 18 |
ERCP | 16,2± 2,7 | 11 | 20 |
IG | 15,7± 1,7 | 12 | 18 |
NI: Nível de Independência; RS: Relações Sociais; ERCP: Espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais; IG: Índice Geral.
DISCUSSÃO
Esse estudo teve como objetivo verificar carga viral, contagem de linfócitos e qualidade de vida de pessoas que vivem com o vírus da imunodeficiência humana.
A amostra do presente estudo foi constituída por 24 participantes, sendo 12 do sexo masculino (50%) e 12 do sexo feminino (50%). Os homens apresentaram média de idade de 45,3± 8,9, enquanto as mulheres apresentaram 47,1± 19,6. Um estudo que avaliou o perfil epidemiológico de pessoas vivendo com HIV em uma unidade em Minas Gerais mostrou prevalência de infeção para o sexo masculino no perfil brasileiro (Saada et al., 2022).
Todavia, o presente estudo apresentou igualdade na distribuição da amostra entre os sexos, o que pode ser parcialmente explicado pelo estudo Silva et al. (2017) que apresentou um crescente número de infeções no sexo feminino quando comparado ao sexo masculino. Nos últimos anos houve alta proporção de atendimentos do sexo feminino nos centros de referência em DST/HIV/Aids, coincidindo com o aumento da incidência da infeção. Nos últimos anos, o número de pessoas do sexo feminino acometidas pelo vírus vem se destacando entre mulheres heterossexuais e que mantém relacionamentos fixos que, na maioria das vezes, são infetadas por seu parceiro, já que o homem é ainda o principal responsável por determinar quais formas de prevenção será utilizada. Desta forma, evidencia-se a importância de ações de educação em saúde que abordem estratégias que atinjam homens que estejam em relações fixas ou casuais (Silva, 2021).
A maioria dos participantes declararam-se estar solteiros (75%), com mais da metade declarando uma escolaridade até o ensino médio (50%). Segundo o estudo de Sá e Santos (2018) onde foi avaliada a sexualidade de pessoas vivendo com HIV, o estigma do diagnóstico do HIV impacta diretamente nas relações interpessoais desses indivíduos, quando há receio de contaminação do cônjuge, gerando uma propensão a indivíduos solteiros.
No quesito renda, foi identificado a prevalência (37,5%) maior que um a três salários mínimos. Rendas mais baixas estão associadas a baixas pontuações de qualidade de vida, já que interferem diretamente na alimentação, relacionamentos, moradia, transporte e acesso à saúde (Mendonça, 2018).
Em relação às variáveis de características clínicas, conforme apresentado na Tabela 2, a presente amostra apresentou prevalência para tempo de diagnóstico de um a três anos (54,2%), carga Viral não detetável (75%), via sexual como principal via de contágio (95,8%) e CD4+ maior que 500. Estudos apontam que pacientes que possuem contagens de CD4 menor que 350 células por mm3 apresentam diagnóstico tardio e tendem a pertencer ao sexo masculino, podendo apresentar comorbidades, mais suscetibilidades a doenças e ter um aumento no risco de mortalidade e são menos propensos a responder ao tratamento quando iniciado (Costa, Teston, Spigolon, Dias, & Soares, 2019; Serra et al., 2020).
Na avaliação da qualidade de vida, o domínio físico foi o que obteve maior pontuação, o que pode levar a considerar que a amostra pode apresentar poucas queixas álgicas, baixa preocupação com alterações advindas da infeção pelo HIV, altas taxas de energia para as atividades diárias, além de sono reparador. Tais tópicos influenciam diretamente na qualidade de vida pela diminuição do estigma associado à infeção do HIV e uma melhor disposição diária (Andersson et al., 2020).
Nos domínios psicológico, nível de independência e espiritualidade, foram obtidas as intermediárias e próximas, o que denota um bom aproveitamento da vida com altos índices de aceitação e satisfação com si próprio, elevada satisfação com a capacidade dentro do ambiente de trabalho e atividades diárias, assim como menores níveis de medo sobre a morte ou sobre o futuro. Estudo afirma que a qualidade de vida está diretamente associada a um bom estado geral de saúde com hábitos mais saudáveis e comportamentos positivos (Patrício et al., 2019).
Os domínios de relações sociais e ambiente alcançaram médias mais baixas, pode-se considerar que a amostra pode apresentar níveis menores de satisfação sexual e com a relações interpessoais, além de insatisfação com o acesso ao serviço de saúde e transporte.
Isso é intrinsecamente relacionado ao alto nível de pessoas que não possuem estabilidade interpessoal, como apresenta o estudo de Maleki, Derakhshani, Azami-Aghdash, Naderi e Nikoomanesh (2020), o qual avaliou a qualidade de vida de PVHIV no Irã e também exibiu que os pacientes divorciados e que viviam sozinhos demonstraram baixa pontuação no domínio de relações sociais, devido ao medo da discriminação dentro do núcleo familiar, do trabalho ou hospitais, consequentemente possuindo menor suporte emocional e nas necessidades do dia a dia.
Estudo sobre QV realizado por Primeira, Santos, Paula e Padoin (2020) encontrou resultados similares, onde pacientes com um elevado nível de adesão ao tratamento antirretroviral obtiveram, consequentemente, bons resultados sorológicos, exibindo altas pontuações de forma global nos domínios e maiores escores médios de qualidade de vida. Este resultado não difere entre contextos, afetando adolescentes tanto de cidades grandes quanto pequenas.
O presente estudo traz como limitação o fato dos participantes serem recrutados por conveniência em um centro de referência DST/HIV/Aids, o que tende a amostra apresentar melhor condição de saúde. Por outro lado, também permite uma avaliação, ao menos parcial, do processo de atenção à saúde desenvolvido na unidade especializada colaboradora do estudo.
CONCLUSÕES
Com base nos resultados obtidos, foi possível perceber que as características das PHIV atendidas por um hospital universitário do Rio de Janeiro apresentaram semelhança na distribuição entre os sexos, com predomínio de indivíduos com idade de 28 a 48 anos, raça parda, com nível médio de escolaridade, renda de um a três salários mínimos, apresentando como a principal forma de transmissão a via sexual. A situação clínica da maioria dos pacientes foi de tempo de diagnóstico de um a três anos, parcela expressiva apresenta alta contagem de CD4+ e carga viral não detetável. Em relação a QV, os participantes apresentam média alta para o domínio físico e médias baixas para os domínios meio ambiente e relações sociais.
Diante dos resultados apresentados e sabendo que esses fatores podem ser alterados a partir de uma mudança do estilo de vida, torna-se essencial que haja ações de cuidado às PVHIV acerca da implementação de programas multidisciplinares, incluindo atividades voltadas para a adição de hábitos saudáveis, como o cuidado com alimentação e a prática de AF regular, possibilitando, assim, uma atenção ampliada à saúde.
Sugere-se, ainda, que a manutenção de uma boa saúde mental, juntamente com uma rede de apoio psicossocial, além do tratamento adequado desde o momento da descoberta do diagnóstico para uma melhor perceção da QV das PVHIV.
Dessa forma, é importante destacar que um acompanhamento multiprofissional, incluindo avaliações das manifestações físicas e psicológicas de PVHIV, é fundamental e necessário para prevenção e tratamento. Essas avaliações podem ser realizadas durante o atendimento domiciliar, hospitalar ou ambulatorial.