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Revista Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia
versão impressa ISSN 1646-2122
Rev. Port. Ortop. Traum. vol.20 no.3 Lisboa set. 2012
CASO CLÍNICO
Fracturas atípicas do fémur associadas com toma prolongada de bifosfonatos
Manuel Santos CarvalhoI; Vitorino VeludoI; Francisco SerdouraI; André PinhoI; Joana FreitasI; Rui PintoI
I. Serviço de Ortopedia.Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/ Espinho. Vila Nova de Gaia. Portugal.
RESUMO
Recentemente foi descrita uma associação entre a toma prolongada de bifosfonatos e as fracturas atípicas fémur.
Os autores apresentam um caso de uma mulher, 70 anos, medicada há mais de 5 anos com Bifosfonato oral. Teve episódio de queda em Junho de 2008, com trauma minor de que resultou fractura subtrocantérica direita. Na altura após correcção cirúrgica optou-se pela manutenção terapêutica habitual. Teve novo episódio de queda em Fevereiro 2011 associado a trauma minor de que resultou fractura diafisária fémur esquerdo. Nesta data, após correcção cirúrgica, optou-se pela suspensão da terapêutica com bifosfonatos e início de terapia alternativa. Serve este caso para altertar para uma avaliação individual do risco de fractura quando se considera um tratamento continuado com bifosfonatos. Podendo mesmo ser apropriado uma pausa na toma destes fármacos quando a duração cumulativa ultrapasse os 5 anos.
Palavras chave: Bifosfonatos, fracturas atípicas do fémur, osteoporose.
ABSTRACT
Recently an association between long term therapy with biphosphonates and the appearance of atypical femoral fractures have been described.
The authores present a clinical case of a 70 years old woman, taking biphosphonates for more than 5 years who had a minor fall in June 2008 that resulted in a right subtrocantheric fracture. At that time, after surgical procedure, it was chosen to maintain usual therapy. New episode of fall at February 2011 that resulted left femoral diaphysis fracture. At this time and after surgical procedure, it was chosen to suspend biphosphonates therapy and initiate alternative therapy. This clinical case serves to alert for an individual fracture risk assessment when considering long term biphosphonate therapy, It may be appropriate to consider a drug holiday particularly as the cumulative duration of bisphosphonate therapy surpasses 5 years.
Key words: Biphosphonates, atypical femoral fratures, osteoporosis.
INTRODUÇÃO
A osteoporose está associada a uma morbi-mortalidade significativa. Aproximadamente metade das mulheres com mais 50 anos vão ter uma fractura osteoporótica e uma em cada 5 morre aos 12 meses apos fractura[1]. Recentemente foi descrita uma associação entre a toma prolongada de bifosfonatos e as fracturas atípicas fémur - fracturas subtrocantéricas ou diáfise femoral, transversas ou traço obliquo curto, sem história trauma ou trauma minor, sem cominução. A FDA adverte para a interrupção da terapêutica com bifosfonatos ou outra medicação anti-reabsortiva em doentes com episódio de fractura[2].
CASO CLÍNICO
Mulher, 70 anos, medicada há mais de 5 anos com Bifosfonato oral para tratamento de osteoporose documentada. Episódio de queda em junho de 2008, com trauma minor, de que resultou fractura diafisária fémur direito (fractura completa traço transverso) - submetida a osteossíntese com encavilhamento endomedular - manutenção terapêutica habitual (Figura 1). Novo episódio de queda em fevereiro 2011 associado a trauma minor de que resultou fractura diafisária fémur esquerdo - fractura completa traço transverso - submetida também a encavilhamento endomedular. Optou-se então pela suspensão da terapêutica habitual com bifosfonatos, início de terapêutica alternativa para a osteoporose (Figuras 2 e 3).
DISCUSSÃO
Os bifosfonatos têm sido largamente usados e recomendados no tratamento de osteoporose e prevenção de fracturas associadas[3].
Desde 2005, começou a ser descrita uma associação entre a toma prolongada de bifosfonatos e susceptibilidade para fracturas[4]. Foram descritos padrões específicos deste tipo de fracturas, especialmente - fracturas subtrocantéricas ou diáfise femoral, transversas ou traço obliquo curto, sem história trauma ou trauma minor, sem cominução[5]. Existe assim, evidência que a terapia prolongada com bifosfonatos está associada a um aumento do risco de fracturas subtrocantéricas ou diáfise femoral, sendo no entanto o risco absoluto deste tipo de fracturas baixo. Deve haver uma avaliação individual do risco de fractura quando se considera um tratamento continuado com bifosfonatos. Pode mesmo ser apropriado uma pausa na toma destes fármacos quando a duração cumulativa ultrapasse os 5 anos[1]. Em doentes com terapia prolongada que apresentem um episódio de fractura atípica femoral, recomenda-se estudo radiológico do fémur contralateral, suspensão da terapia com bifosfonatos e considerar mesmo fixação profiláctica contra-lateral[6].
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Park-Wyllie L. Biphosponate use and the risk of subtrochanteric or femoral shaft fractures in older women. JAMA. 2011 Fev; 305 (8): 783-789
2. US Food and Drug Administration Ongoing safety review of oral bisphosphonates and atypical subtrochanteric femur fractures[homepage on the Internet]. FDA Drug Safety Communication; 2010; [cited 2011 Jan 27]. Available from: http://www.fda.gov/Safety/MedWatch/SafetyInformation/SafetyAlertsforHumanMedicalProducts/ucm204127.htm.
3. Clinical management guidelines for osteoporosis in Hong Kong. The working group for formulating clinical management guidelines for osteoporosis in Hong Kong. Hong Kong Med J. 1998; 4: 423-431 [ Links ]
4. Odvina CV, Zerwekh JE, Rao DS, Maalouf N, Gottschalk FA, Pak CY. Severely suppressed bone turnover: a potential complication of alendronate therapy. J Clin Endocrinol Metab. 2005; 90: 1294-1301 [ Links ]
5. Lenart BA, Lorich DG, Lane JM. Atypical fractures of the femoral diaphysis in postmenopausal women taking alendronate. N Engl J Med. 2008; 358: 1304-1306 [ Links ]
6. Bilateral Low-Energy Simultaneous or Sequential Femoral Fractures in Patients on Long-Term Alendronate Therapy. J Bone Joint Surg Am. 2009; 91: 2556-2561 [ Links ]
Conflito de interesse:
Nada a declarar.
Manuel Carvalho
Serviço de Ortopedia e Traumatologia
Centro Hospitalar S. João
Hospital São João
Al. Prof. Hernâni Monteiro
4200 Porto
Portugal
mj.santoscarvalho@gmail.com
Data de Submissão: 2011-12-03
Data de Revisão: 2012-02-05
Data de Aceitação: 2012-02-05