É com alegria que fechamos a edição deste último número de 2022 de Laboreal - um número que, além de reunir materiais produzidos a partir de pesquisas empíricas realizadas no Brasil e em Portugal, contempla textos teóricos essenciais para uma melhor fundamentação dos estudos sobre o trabalho.
Esta edição é composta por um Dossier Temático, um artigo na seção Varia, contando ainda, na seção intitulada “O trabalho e suas histórias”, com as rubricas Textos históricos e Datário.
O Dossier Temático desta edição tem como título “Modos de vida e trabalho: pesquisas-intervenções do ponto de vista da atividade”. Permite-nos conhecer contribuições de um coletivo de pesquisadores brasileiros, de diferentes regiões do país, concebidas a partir de experiências que articularam pesquisa, intervenção e formação. Tendo compartilhado as suas reflexões no âmbito de eventos da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP), este coletivo apresenta aqui alguns relatos dos percursos científicos que aí tiveram lugar e adquiriram um estatuto paradigmático.
O material reunido chamará logo a atenção dos leitores pela relevância das pesquisas e intervenções apresentadas. Na apresentação deste dossier, Mary Yale Neves, Hélder Pordeus Muniz e Katia Santorum, completam, de modo particularmente feliz, o bom entendimento dos seis artigos - realçando, nomeadamente, as suas interessantes reflexões acerca do tensionamento entre valores do bem comum e valores mercantis na realidade brasileira atual.
Embora sem ser tão explícita, tal problemática se revela também no artigo inerido na seção Varia, intitulado “Influências da pandemia de COVID-19 na vivência da imigração e nas relações de trabalho (RT) de brasileiras em Portugal”, de autoria de Andrea Oltramari, Aline Mendonça Fraga, Laura Alves Scherer e Vanessa Amaral Prestes. Aqui, além do que nos é descrito das atividades de trabalho em contexto pandêmico e de distanciamento social, cabe igualmente de salientar o que as autoras colocam em evidência acerca das vivências, na migração de brasileiras e da sua relação com o respetivo trabalho em Portugal.
Quanto à secção “O trabalho e suas histórias”, esta edição conta com o Texto histórico “A que homem o trabalho deve ser adaptado? Uma questão sempre atual para a ergonomia”, um dos últimos textos escrito por Antoine Laville a partir de uma sua conferência, em maio de 2001, durante as jornadas consagradas à Alain Wisner, em Aix en Provence. Este texto, juntamente com os preciosos comentários de Serge Volkoff, relembram e atualizam as nossas reflexões e compromissos científicos, epistemológicos e éticos balizadores da produção de conhecimento em ergonomia e nas “ergodisciplinas” (Le Bris, 2017).
E o propósito do Datário é o de recordar a grande relevância da obra de Paulo Freire e de realçar o seu interesse para as disciplinas que se inscrevem no projeto da Laboreal. Bernardo Suprani nos brinda com um texto intitulado: “Paulo Freire e o Campo “da Atividade”: apontamentos para uma dialogia amorosa (ou para um diálogo em curso)”. A proposta deste autor é inovadora e assenta numa sistematização da teoria e da epistemologia freireanas que estimula uma compreensão mais profunda da obra de Paulo Freire.
Resta-nos agradecer a todas e todos que colaboraram na edição deste número, que só foi possível pelo compromisso de cada um e cada uma com o projeto de uma construção do conhecimento e avanço dos estudos sobre o trabalho, quando é assumida a perspetiva da atividade. Desejamos uma ótima e proveitosa leitura.