Ivar Oddone faria 100 anos em 26 de outubro de 2023
Muitos não esperaram pelo dia 26 de outubro para prestar homenagem à obra de Ivar Oddone, o médico e psicólogo do trabalho italiano falecido a 20 de outubro de 2011. E foi certamente essa grande e inabalável estima que acompanhou o recente lançamento de " Experiência operária, consciência de classe e psicologia do trabalho " ((Oddone et al., 2023)), a tradução portuguesa de "Esperienza operaia, coscienza di classe e psicologia del lavoro" (Oddone et al., 1977)), que logo depois foi publicada em francês (Oddone et al., 1981)).
Recorde-se, ainda, que a revista Laboreal publicou no seu Dicionário o texto que Ivar Oddone nos ofereceu para definir o termo “Experiência” (Oddone, 2007). Esta contribuição complementou, na verdade, um artigo, publicado no primeiro número da revista, dedicado à abordagem que Oddone desenvolvera (Vasconcelos & Lacomblez, 2005). E, ainda mais recentemente, a publicação de um artigo de Laurent Vogel teve o mérito de situar historicamente o movimento em que Oddone desempenhou um papel emblemático, o 'movimento operário italiano' (MOI), que se traduziu num “conjunto de práticas e análises que alteraram profundamente a abordagem tradicional da saúde ocupacional a partir dos anos 1960 (...) e que se difundiu extraordinariamente ao longo dos anos 1970” (Vogel, 2016 , tradução livre).
Por outras palavras, Ivar Oddone faz parte da nossa história e, mais precisamente, da história desta vasta "comunidade científica alargada", um conceito que lhe era caro, pois configurava o "modo de produção de conhecimento sobre o trabalho", levado a cabo por investigadores e os protagonistas do local de trabalho, com vista a contrariar o desenvolvimento de doenças devidas ao "ambiente construído" dentro das empresas (Re, 2014, p. 158, tradução livre).
Princípios fundadores
Um simpósio realizado em Turim em sua homenagem, em 2012, está na origem da publicação de uma importante obra coletiva (Re et al., 2014). Na introdução dessa obra, Alessandra Re recorda o percurso invulgar de Oddone, fiel a uma leitura das situações e dos processos de trabalho assenta em três conceitos fundadores: "o conceito de desafio concebido, antes de mais, como não aquiescência do presente; o conceito de orientação humana e política do desenvolvimento social, indo mais além da sua dimensão técnico-tecnológica; o conceito de utilização social do conhecimento científico, permitindo que a comunidade científica se perceba não como distante, mas como intimamente entrelaçada, nos seus objetivos e métodos, com a comunidade social de que é simultaneamente expressão e recurso." (Re, 2014, p. 150, tradução livre).
Na década de 1960, em Itália, foram estes os princípios que estiveram na base de um encontro fundador, entre delegados sindicais da Fiat em Turim e um grupo de especialistas em saúde no trabalho liderados por Ivar Oddone. Na época o desafio consistia em encontrar uma nova forma de desvendar, com precisão, quais eram os efeitos nocivos do trabalho e de, simultaneamente, garantir que os delegados sindicais estivessem em melhor condição para poderem negociar, mais eficazmente, a redução e a eliminação de tais efeitos. Deste modo, a organização do trabalho nas empresas será inevitavelmente posta em causa, tal como a da sociedade e do seu modelo de desenvolvimento. Mas os especialistas em medicina do trabalho também não sairão ilesos deste encontro, pois tenderão a ter consciência dos limites e impasses do seu conhecimento científico - e da sua formação académica.
A expressão de tais princípios estará ainda presente na decisão de um grupo de delegados sindicais de frequentar os cursos de psicologia do trabalho de Oddone na Universidade de Turim, em 1973, recorrendo à um direito à formação que, neste caso, visava sobretudo preparar as negociações relativas à renovação de uma convenção coletiva no sector metalúrgico.
Mas como compreender e explicar que Ivar Oddone se empenharia, na época, tal como o fez neste percurso que envolveu muitos outros, em rever a forma como a saúde dos trabalhadores era concebida, assumindo opções nas quais predominarão aspetos humanos e sociais?
Apontaremos, a seguir, algumas das razões que consideramos determinantes.
Ivar Oddone, resistente antifascista
Os leitores da Laboreal nem sempre estão familiarizados com a história de Ivar Oddone nos anos 40, e particularmente durante a Segunda Guerra Mundial.
O farol que ilumina tal história foi sem dúvida o romance de Italo Calvino, O Atalho dos Ninhos de Aranha, publicado logo após o fim da guerra (Calvino, 1947/2010). Foi a primeira obra de Calvino e tornou-se um dos clássicos da literatura sobre a Resistência italiana. O livro abre com uma dedicatória "A Kim, e a todos os outros" - e Kim, uma das personagens centrais do romance, é de facto o nome de guerra de Ivar Oddone, amigo e companheiro do autor, ambos protagonistas da luta armada antifascista na Ligúria (Orecchio, 2015). Ivar Oddone, na altura estudante de medicina, foi, na verdade, um dos primeiros antifascistas a aderir aos grupos armados das montanhas (maquis). Daí que, até julho de 1944, tenha sido vice-comissário da Brigada Belgrano e, depois, até 25 de abril de 1945, comissário político da Divisão Felice Cascione (Orecchio, 2015).
Calvino descreveu esta personagem de Kim/Oddone do modo seguinte: "Todos os dias percorre os destacamentos com o smilzo sten ao ombro, fala com os comissários, com os comandantes, estuda os homens, analisa as posições de cada um, decompõe cada problema em elementos distintos, 'a, bi, ci', dizia ele. O seu objetivo é ser capaz de raciocinar como os seus camaradas, não ter outra realidade senão essa" (citado por Orecchio, 2015, tradução livre).
Mais tarde, no prefácio de uma reedição deste romance, em 1964, Calvino recordou os seus encontros com Oddone no pós-guerra:
"Passámos os serões a conversar. Para nós os dois, a Resistência tinha sido uma experiência fundamental (...). Parecia-nos então, poucos meses depois da Libertação, que toda a gente falava da Resistência de forma errada, que se estava a criar uma retórica que escondia a sua verdadeira essência, o seu carácter primário" (citado por Orecchio, 2015, tradução livre).
É, sem dúvida, este "carácter primário" de um encontro entre seres humanos, independente das origens sociais, que irá posteriormente fundamentar o projeto de ação do médico Ivar Oddone.
Ele vai, pois, repensar o papel do médico, incapaz de "interrogar adequadamente as pessoas sobre seu ambiente de vida e de trabalho". É a racionalidade da estrutura do conhecimento que ele questionará, pois não permite "ver o que o trabalhador via da situação produtiva", e discernir "a linha que costura as experiências feitas, para poder confecionar o tecido do conhecimento que ele produziu empiricamente" (Oddone, 2013, p. 177, tradução livre).
A continuidade dos desafios de Kim e de Ivar Oddone é evidente. A sua construção progressiva insere-se no contexto de uma Itália em reconstrução, em direção ao "milagre económico" do final dos anos 50 (Cederna, 1980), caracterizado sobretudo pelo reforço do desenvolvimento industrial no Norte de Itália. O aumento da produção atingiu níveis particularmente elevados, sobretudo nas unidades de produção dos grandes grupos italianos, como os que dominavam o sector da construção automóvel. Mas este "milagre económico" não teria sido tão grande sem o baixo custo da mão de obra e sem que as condições de trabalho fossem tais que os trabalhadores com quem Oddone se encontrou durante as suas consultas médicas lhe perguntaram "como se tornar 'asbestosados' (amiantados) o mais rapidamente possível (...) porque uma mudança nas condições de trabalho, no contexto específico em que se encontravam (...) não era psicologicamente credível" (Oddone, 2013, p. 176, tradução livre).
Com efeito, é esta realidade que estará na base de uma mudança radical de paradigma, uma vez que o novo projeto da medicina do trabalho se associou e exigiu uma nova psicologia do trabalho.
Uma época fértil em mudanças de paradigma
Yves Schwartz tem por hábito sublinhar que se, para a Ergologia, é hoje evidente que a atividade é sempre um processo de renormalização das normas antecedentes, tal evidência foi progressivamente clarificado graças à ação e reflexão de três médicos atípicos: "não se podia evidenciá-lo sem redescobrir a experiência operária (Ivar Oddone, médico e psicólogo do trabalho), sem ter em conta a reformulação das prescrições (Alain Wisner, médico e ergonomista), como também sem reconhecer que toda a 'atividade de trabalho', como toda a 'atividade' em geral, é o lugar onde cada um quer ser o sujeito das suas próprias normas (Georges Canguilhem, médico e filósofo)" (Di Ruzza & Schwartz, 2021 p. 17, tradução livre).
Oddone e Wisner eram contemporâneos, mas mal se conheciam.
No entanto, é verdade que existem semelhanças entre estas duas figuras emblemáticas. E é também verdade que outras abordagens, mais ou menos na mesma época, mas noutras partes do mundo, e sem necessariamente ter havido contactos anteriormente, reivindicaram esta mesma valorização dos saberes não académicos, cujos encontros com os saberes instituídos, num reconhecimento mútuo, abrem vias para a ação e o conhecimento até então insuspeitadas.
Aliás, num artigo publicado recentemente nesta mesma secção do Datário da Laboreal, Bernardo Suprani sublinhou a proximidade epistemológica da obra de Paulo Freire com as abordagens "daqueles que, privilegiando o ponto de vista da Atividade, se interessam pela compreensão↔transformação das situações reais de trabalho" (Suprani, 2022).
Poderíamos aqui referir-nos a Fréderic Worms (2009) e à sua noção de "momentos", que abrange o facto de, em determinados períodos, uma série de abordagens até então inéditas convergirem em torno de problemas e questões específicas, exigindo uma rutura com abordagens que fazem parte de tradições anteriores. Trata-se de uma outra forma de evocar o que Tomas Kuhn associa a mudanças paradigmáticas (Kuhn, 1962), 1962). Mas, ao contextualizá-las, Worms dá-lhes a espessura das dinâmicas sociais, do que elas transportam e suscitam.
Importa ainda sublinhar que, nos primeiros anos da segunda metade do século XX, a "viragem linguística" (Grillo, 1997) foi determinante para muitos analistas, levando à constatação de que nenhuma língua é universal e de que o mesmo se aplica à lógica do pensamento e dos seus argumentos. Os fundamentos da comunicação foram então revisitados, e a consideração de mundos diversos e o reconhecimento e valorização da diferença passaram a estar em primeiro plano (Zaccai-Reyners, 1995). Esta mudança de olhar sobre o que antes era considerado como pouco desenvolvido ou marginal atingiu muitas certezas e deixou marcas na história das ciências sociais (Boutet & Gardin, 2001).
Oddone, Wisner e Faverge: atribuir um outro estatuto aos sujeitos e aos saberes industriosos
Convencidas pelo potencial da comparação na análise de abordagens específicas a este período, Flore Barcellini, Marianne Cerf e eu própria (Barcellini et al., 2022; Lacomblez et al., 2023), resolvemos estabelecer paralelos entre o trabalho de Ivar Oddone e o de Alain Wisner - sem esquecer o de Jean Marie Faverge, que se inscreve num projeto semelhante, igualmente decisivo para a história da ergonomia e da psicologia do trabalho. As equipas de investigadores que coordenaram partilhavam, com efeito, a necessidade de dar lugar ao saber dos trabalhadores, com a mesma preocupação de lhes conferir um verdadeiro protagonismo em todas as questões relativas às suas situações e condições de trabalho. Numa época em que os modelos organizacionais tayloristas e fordistas configuravam fortemente as relações no trabalho, esta nova perspetiva conduziu a uma mudança decisiva das abordagens até então dominantes na ergonomia e na psicologia do trabalho. A partir de então, a atividade de trabalho deixará de ser descrita em exterioridade, na análise de um operador "objeto" anexado ao seu posto de trabalho, para passar a ser cada vez mais co-construída, numa relação ativa entre trabalhadores e investigadores, envolvidos na situação, e potencial ou efetivamente transformadora. O significado do ato concreto no âmbito da atividade de trabalho mudou: anteriormente visto como vulgar, ou mesmo banal, é agora descoberto o seu carácter heurístico, que dará à compreensão ambições mais amplas, transformando a história individual em material para uma história coletiva.
Mas os benefícios das análises comparativas são também o de permitir distinguir mais claramente o que diferencia. Cada um dos grupos de investigadores, intervenientes e atores envolvidos nos projetos que surgiram durante esses anos, tinha obviamente as suas particularidades, até porque os problemas, desafios e questões que lhes deram origem foram moldados pelas singularidades socioeconómicas e políticas dos respetivos contextos.
Daí que tínhamos procurado identificar o que torna estas três tradições científicas originais. E aquilo que as distingue é, de facto, um ponto de referência essencial para o pensamento atual dos investigadores nos nossos campos disciplinares. De Faverge retivemos o projeto de uma abordagem atenta à variabilidade dos estilos de funcionamento dos trabalhadores, de Wisner, a vontade de compreender as situações reais para transformar o trabalho, e de Oddone, o projeto de uma intervenção baseada nos saberes que resultam da experiência.
Dois grandes pilares do legado de Ivar Oddone
Sem entrar em pormenores sobre cada uma destas análises, e centrando-nos evidentemente no legado de Ivar Oddone, mencionaremos em particular dois grandes pilares do seu legado, que interpelam ainda muitos investigadores - e no balanço que recentemente elaborámos com Alessandra Re (Re & Lacomblez, 2020), demos-lhes o devido lugar: a noção de nocividade ampliada e o método da instrução ao sósia, intimamente associado à dinâmica da comunidade científica alargada.
A nocividade ampliada
Vimos até que ponto a questão do diagnóstico da nocividade do trabalho esteve na base do percurso de Oddone e, evidentemente, da elaboração do famoso manual de análise das condições de trabalho consagrado em L'ambiente di lavoro. La fabbrica nel territorio (Oddone & al, 1977 ). Traduzido e publicado no Brasil em 1985, foi recentemente reeditado numa edição aumentada com textos de investigadores brasileiros que fizeram questão de nos recordar a sua atualidade ((Oddone & al, 2020; recensão em: Pordeus Muniz et al., 2022).
Nesse manual, a nocividade do trabalho já não é avaliada com base numa repartição em fatores de risco, objetos de avaliações separadas, mas presidida pela noção de "nocividade ampliada", fruto do que os trabalhadores transmitiram da sua experiência de vida: resulta necessariamente e incorpora os efeitos combinados do trabalho e do "não-trabalho" sobre as alterações da sua saúde.
É precisamente a esta experiência que se recorre no decurso progressivo da aplicação desse manual, organizado em quatro grupos de fatores. Os fatores económicos e sociais já não são vistos como cumulando os seus efeitos aos fatores específicos das situações de trabalho, mas sim como multiplicadores desses efeitos, com características que os atenuam ou os agravam.
"Por ambiente de trabalho entendemos o conjunto de todas as condições de vida no local de trabalho. O termo é consequentemente abrangente, seja do ambiente de trabalho em senso estrito (características do local: dimensões, iluminamento, aeração, rumorosidade, presença de poeira, gás ou vapores, fumaça etc.) além dos elementos conexos à atividade em si (tipo de trabalho, posição do operário, ritmo de trabalho, ocupação do tempo, horário de trabalho diário, turnos, horário semanal, alienação e não-valorização do patrimônio intelectual e profissional). Em particular, o horário de trabalho de oito horas é considerado colocando-o no âmbito da jornada inteira de vinte e quatro horas, da semana, do ano e da vida inteira do homem, com todas as consequências que o custo psicofísico do trabalho tem sobre a possibilidade que o homem que trabalha tem de viver plenamente sua vida social. Neste sentido, o problema do ambiente de trabalho está estreitamente relacionado com o chamado tempo livre.” (Oddone & al., 2020, p.31).
Note-se que, deste modo, o âmbito da intervenção se situa também para além da esfera da empresa, ao nível do território, levantando questões em termos de nocividade ambiental. Foi também esta a base do projeto concebido e apoiado, em França, durante mais de vinte anos por Ivar Oddone, em colaboração com Marc Andéol, na região de Bouches du Rhône - Port de Bouc e Martigues (Andéol, 2020).
Da instrução ao sósia a uma epistemologia crítica
No entanto, a experiência e o conhecimento dos trabalhadores envolvidos neste tipo de projeto não são dados de antemão, nem estão prontos a ser simplesmente recolhidos para uma definição de soluções a implementar. Pois, trata-se de saberes, dos "esperti grezzi" (peritos da matéria-prima), que só adquirem todo o seu significado e alcance no diálogo com os peritos científicos durante a análise das atividades de trabalho.
Ora, mesmo se este diálogo se desenrolar num contexto de confiança e espontaneidade, os "esperti grezzi" tentam, na maioria das vezes, formular a sua análise numa linguagem que pensam corresponder à do perito científico. O método de instrução ao sósia foi desenvolvido para limitar os inconvenientes deste viés:
"A técnica consiste em pedir ao trabalhador que forneça ao pesquisador as instruções necessárias para substituí-lo no trabalho, de modo que ninguém note a substituição. O resultado é uma espécie de observação indireta na qual a atividade laboral é reconstruída, mesmo em aspetos que podem parecer menos relevantes, como se fossem observados do ponto de vista do trabalhador.” (Re & Lacomblez, 2020, p. 18).
A experiência é, então, progressivamente posta em diálogo com as categorias de análise do investigador: assim encontrar-se-á (no verdadeiro sentido da palavra) com o conhecimento científico.
Desta forma, cada um dos protagonistas deste percurso toma consciência, através da comparação, dos limites e das potencialidades de cada uma das análises e dos seus registos linguísticos. Todos estarão envolvidos, concretamente, numa reflexão epistemológica crítica, identificando também melhor as diferentes formas de acumulação de saberes. Como Alessandra Re costuma sublinhar, é então possível construir uma linguagem "partilhada" (Re, 2014) e perspetivar novos instrumentos de análise e de intervenção, desenvolvidos através da mobilização de um conhecimento científico que se enraíza agora no enorme potencial de mudança da experiência dos trabalhadores.
As propostas de alternativa são assim definidas e circunscritas em conjunto, num debate que permite avançar para uma ação transformadora, empreendida por uma comunidade científica alargada, que integrou os trabalhadores mantendo o seu estatuto e a sua linguagem - sem, no entanto, descurar os imperativos de rigor do método científico.
Transmitir o legado de Ivar Oddone
Uma pesquisa bibliográfica sobre o método de instrução ao sósia mostrará rapidamente que, em certos círculos, nomeadamente os da psicologia do trabalho, este método ocupa um lugar importante na "caixa de ferramentas" dos investigadores. Contudo, gostaríamos que fosse dada mais atenção às questões epistemológicas que levanta, uma vez que tal método não é, certamente, apenas mais uma técnica de recolha de dados.
A noção de Nocividade ampliada é utilizada de forma mais discreta. Assim, convidamos os leitores da Laboreal a seguir a reflexão da equipa brasileira (Leites Larentis et al., 2020) na sua análise crítica e precisa da "toxicologia que hoje predomina nos estudos e avaliações da exposição a substâncias químicas, e que pode levar a interpretações que não dão conta da proteção da saúde dos trabalhadores nestes processos, que são norteados principalmente por legislações e valores de limites de tolerância que não garantem a saúde dos trabalhadores. " (p. 216).
Esta análise é uma das que demonstraram a atualidade de Ambiente de trabalho: a luta dos trabalhadores pela saúde, na sua segunda edição brasileira, traduzindo-se numa bela forma de projetar a obra de Ivar Oddone num futuro que nela está inscrita e que bem merece.