A comunicação clínica continua um desafio nos cuidados de saúde, não sendo a Ginecologia e a Obstetrícia uma exceção. A atualidade do tema é demonstrada por um artigo publicado neste número, em que os autores fazem uma revisão sobre a Comunicação Médico-Doente em Ginecologia e Obstetrícia1. As alterações sociais e culturais verificadas na nossa sociedade são mais um desafio à comunicação clínica. O aumento da imigração introduz novas culturas na sociedade e, muitas vezes, acarreta barreiras linguísticas, o que condiciona dificuldades na comunicação. Esta questão é ainda mais importante, quando se sabe que as diferenças de cultura podem condicionar diferenças de atuação por parte dos profissionais e constituir um fator de risco para morbilidade e mortalidade2. Em 2018, a propósito de competências de comunicação clínica em obstetrícia escrevi que a formação pós-graduada estava ainda muito centrada no conhecimento teórico e nas competências técnicas, o que era motivo de preocupação dos jovens médicos3. Esta preocupação continua atual, apesar das alterações ao programa de formação e avaliação que refere nos objetivos formativos, para além da aquisição de conhecimentos, a aquisição de aptidões, onde é especificada a “Comunicação com o casal e interpares” (4. A portaria determina também o novo modelo de avaliação, nomeadamente com a introdução de uma prova prática na avaliação final, que “inclui, sempre que possível, recurso a modelos de simulação” (4. Será que os serviços já estão a valorizar as competências de comunicação na formação e na avaliação continua dos internos de formação específica? Ou será que continuam a valorizar apenas os conhecimentos e aptidões técnicas?
As alterações sociais verificadas na nossa sociedade, com a diminuição da natalidade e o adiar da maternidade, associada à possibilidade de preservação eletiva de ovócitos, é sem dúvida outro desafio para a Ginecologia e a Obstetrícia. Neste âmbito, temos neste número um artigo que aborda o conhecimento das estudantes universitárias sobre a preservação eletiva de ovócitos5.
Na sequência da pandemia COVID-19 e à semelhança do que já acontece na vigilância de algumas doenças crónicas, o recurso a modelos de telessaúde é uma realidade também na Ginecologia e Obstetrícia. São várias as possibilidades, com modelos síncronos, assíncronos ou monitorização remota6. Apesar da avaliação presencial continuar a ser a abordagem clínica de primeira linha, a introdução de programas remotos de vigilância clínica é mais um desafio à comunicação. As premissas da comunicação clínica estão centradas na abordagem presencial e terão de passar a integrar a comunicação remota. A confiança poderá demorar mais tempo a ser alcançada e a diminuição da valorização do silêncio e da avaliação do não-verbal é inevitável.
Dentro da evolução tecnológica destaco a grande evolução que tem ocorrido na FemTech, produtos que utilizam a tecnologia para melhorar a saúde das mulheres, sendo metade destes produtos da área da obstetrícia e saúde reprodutiva7. A introdução no mercado destes produtos não está devidamente regulamentada8, mas isso não impede que nos possamos deparar com a sua utilização por parte das nossas utentes. O ideal seria que a introdução no mercado destes produtos fosse regulamentada e devidamente avaliada. Da nossa parte, vai exigir que nos dediquemos a conhecer estes produtos para seja possível a discussão sobre a sua utilização, integrada numa decisão médica partilhada. Um destes dispositivos, o copo menstrual, foi alvo de uma revisão publicada neste número da AOGP9, constituindo um exemplo do que deve ser feito em termos de avaliação.