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Angiologia e Cirurgia Vascular
versão impressa ISSN 1646-706X
Angiol Cir Vasc vol.11 no.1 Lisboa mar. 2015
CASE REPORT
Duplicação da veia cava inferior com drenagem pela veia ázigos. A propósito de um caso
Inferior Vena Cava Duplication with azygos vein drainage a case report
João Vasconcelosa,*, Victor Martinsa, Ricardo Gouveiaa, Pedro Sousaa, Jacinta Camposa, Daniel Brandãoa e Alexandra Canedoa
a Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho EPE, Vila Nova de Gaia, Portugal
RESUMO
Os autores apresentam um caso clÃnico de duplicação da veia cava inferior (VCI) com drenagem pela veia ázigos diagnosticada durante flebografia diagnóstica, prévia à introdução
de filtro.
Doente de 69 anos, sexo feminino, internada por acidente vascular cerebral hemorrágico com diagnóstico, ao 20º dia de internamento, de trombose venosa profunda poplÃteo-femoro-ilÃaca esquerda com indicação para colocação de filtro da veia cava. Foi efetuada flebografia diagnóstica com acesso pela veia jugular interna direita tendo sido possÃvel observar duplicação da VCI com drenagem cardÃaca posterior anómala. Colocado filtro da VCI suprarrenal por acesso na veia femoral comum direita.
A duplicação da veia cava é rara com uma prevalência de 0,2-3%. A sua abordagem em contexto da colocação de filtro torna-se um desafio invulgar.
Palavras-chave: Veia cava inferior; Trombose venosa profunda; Congénito
ABSTRACT
The authors describe the case of an inferior vena duplication with azygos vein drainage diagnosed during diagnostic venography, prior to filter introduction.
In a 69 years old medical inpatient woman with hemorrhagic stroke, a left popliteal-femoroiliac DVT was diagnosed on the 20th day of admission. She was referred for vena cava filter placement. We performed a diagnostic venography with access from the right internal jugular vein. It has been possible to observe an inferior vena cava duplication with an anomalous posterior heart drainage. We placed an inferior vena cava filter in suprarrenal position, accessing the right common femoral vein.
Duplication of vena cava is rare with a prevalence of 0.2-3%. Its approach in the context of placing a filter becomes an unusual challenge.
Keywords: Inferior vena cava; Deep venous thrombosis; Congenital
Introdução
A duplicação da veia cava é rara com uma prevalência de 0,2-3%1. O conhecimento de variações anatómicas da veia cava inferior (VCI) é fundamental para a estratégia a seguir durante procedimentos endovasculares.
Caso clÃnico
Doente de 69 anos, do sexo feminino, internada por acidente vascular cerebral hemorrágico. Ao 20.⦠dia de internamento, por trombose venosa profunda (TVP) poplÃteo-femoro-ilÃaca esquerda, foi decidida a colocação de ï¬ltro na VCI.
Em contexto de estudo de patologia abdominal realizou angio-TC, que revelou duplicação da VCI (Fig. 1). Efetuada ï¬ebograï¬a diagnóstica por acesso pela veia jugular direita, tendo sido constatada ausência de comunicação do segmento hepático com o segmento renal (fig. 2). Posteriormente efetuado acesso pela veia femoral direita sendo evidente a duplicação de VCI e drenagem central via veia ázigos (ï¬gs. 3). Pela excessiva tortuosidade desta última, não foi possÃvel cateterizá-la, pelo que se optou pela inserção do ï¬ltro através da veia femoral comum direita (fig. 4). Neste contexto foi colocado ï¬ltro Optease® (Johnson & Johnson) na VCI em posição suprarrenal, sem intercorrências (fig. 5).
Discussão
A duplicação da VCI ocorre quando a veia sacrocardinal esquerda perde a conexão com a veia subcardinal esquerda (ï¬g.6A,C)2.
A ausência da veia cava surge quando a veia subcardinal direita não se conecta com o fÃgado e desvia o ï¬uxo sanguÃneo diretamente na veia cardinal superior direita2 (ï¬g. 6 B, D). Desta forma a drenagem venosa da região inferior do corpo é efetuada pela veia ázigos e pela veia cava superior. A veia hepática drena diretamente para a aurÃcula direita, na região da VCI (fig. 2).
Chee et al. identiï¬caram anomalias da VCI em 5-6,7% dos pacientes (< 40 anos) com TVP, um valor maior que o esperado, sugerindo um risco aumentado3. No entanto, Anne et al. relatam que qualquer correlação entre a VCI duplicada e TVP é puramente incidental4.
Este caso descreve a concomitância das 2 anomalias (duplicação da veia cava com drenagem pela veia ázigos). As variações anatómicas da VCI, apesar de raras podem levar a ajustes técnicos durante a implantação de ï¬ltros. A colocação de ï¬ltro unilateral na VCI duplicada não previne o embolismo pulmonar, no caso da existência de TVP contralateral. Nas variantes de duplicação da veia cava torna-se fundamental a colocação de ï¬ltros em cada uma das VCI ou na veia cava suprarrenal, logo após a veia renal esquerda.
A veia cava suprarrenal é usualmente mais larga que a sua porção infrarrenal, pelo que devem ser efetuadas medições cuidadas para garantir que se esteja na presença de um diâmetro inferior a 28 mm, valor acima do qual está contraindicada a implantação de ï¬ltro. Durante o posicionamento suprarrenal é importante o alinhamento do ï¬ltro logo acima da veia renal mais cefálica, assim como abaixo da conï¬uência da veia hepática para minimizar o risco de tromboses venosas locais5. Kalva et al. demonstraram que em 70 casos realizados a implantação de ï¬ltros da veia cava em posição suprarrenal é segura e não acresce maior risco de complicações quando comparados com aqueles colocados a nÃvel infrarrenal6.
Responsabilidades éticas
Proteção de pessoas e animais. Os autores declaram que para esta investigação não se realizaram experiências em seres humanos e/ou animais.
Confidencialidade dos dados. Os autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.
Direito à privacidade e consentimento escrito. Os autores declaram que não aparecem dados de pacientes neste artigo.
Conï¬ito de interesses
Os autores declaram não haver conflito de interesses.
Bibliografia
1. Bass JE, Redwine MD, Kramer LA, et al. Spectrum of congenital anomalies of the inferior vena cava: Cross-sectional imaging findings. Radiographics. 2000;20:639-52. [ Links ]
2. Sadler TW. Langmanâs Medical Embryology. 11th ed Lippincott Williams & Wilkins; 2009. p. 261-7. [ Links ]
3. Chee YL, Culligan DJ, Watson HG. Inferior vena cava malformation as a risk factor for deep venous thrombosis in the young. Br J Haematol. 2001;114:878-80. [ Links ]
4. Anne N, Pallapothu R, Holmes R, et al. Inferior vena cava duplication and deep venous thrombosis: Case report and review of the literature. Ann Vasc Surg. 2005;19:740-3. [ Links ]
5. Cronenwett JL, Johnston KW, Rutherfordâs Vascular Surgery 8th edition, 43; 2014. p. 811-826. [ Links ]
6. Kalva SP, Chlapoutaki C, Wicky S, et al. Suprarenal inferior vena cava filters: A 20-year single-center experience. J Vasc Interv Radiol. 2008;19(7):1041-7. [ Links ]
Correio eletrónico: joaofcvasconcelos@gmail.com (J. Vasconcelos).
Recebido a 12 de dezembro de 2013;
Aceite a 11 de janeiro de 2015
DisponÃvel na Internet a 13 de março de 2015