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Angiologia e Cirurgia Vascular

versão impressa ISSN 1646-706X

Angiol Cir Vasc vol.13 no.4 Lisboa dez. 2017

 

IMAGEM VASCULAR

Pé diabético: o poder diagnóstico da radiografia convencional

Diabetic foot: the diagnostic power of the radiological imaging

Eva Campos Pereira1, Joana Ferreira2, Celso Carrilho2, Sandrina Braga2,3, João Correia Simões2, Catarina Longras4, Diana Brito4, Ricardo Marta5, Amílcar Mesquita2

 

1Serviço de Ortopedia, Hospital Dr. Nélio Mendonça, Funchal, Portugal

2Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Hospital da Senhora da Oliveira, EPE, Guimarães, Portugal

3Unidade de Anatomia - Departamento de Biomedicina, Porto, Portugal —Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

4Serviço de Cirurgia Geral, Hospital da Senhora da Oliveira, EPE, Guimarães, Portugal

5Serviço de Ortopedia, Hospital da Senhora da Oliveira, EPE, Guimarães, Portugal

 

Autor para correspondência

 

Palavras-chave: Pé diabético, Neuroartropatia de Charcot, Radiografia convencional

Keywords: Diabetic foot, Charcot neuroarthropathy, Radiological imaging

 

INTRODUÇÃO

O pé diabético é uma complicação da Diabetes Mellitus (DM) responsável por 1250 amputações (705 minor e 545 major) em 2015 em Portugal 1-2. É uma consequência da vasculopatia, imunopatia e neuropatia3,4, sendo esta última o mecanismo mais importante da Neuroartropatia de Charcot (NC)5. Ainda com a fisiopatologia exata por definir, defendem-se atual- mente duas correntes a neurotraumática e a neurovascular ou mesmo uma terceira que combina ambas as teorias6. Apesar do diagnóstico permanecer primariamente clínico, particularmente nos estadios iniciais da doença, é impor- tante distingui-la de patologias com a mesma sintomato- logia4. A radiografia convencional deverá ser o método de imagem inicial na avaliação do pé diabético. Realizando incidências em ambos os pés, preferencialmente em três projeções, podem-se comparar alterações subtis e iden- tificar os 25% dos pacientes que acabam por desenvolver alterações similares no pé contralatera l3,4,7. Numa fase inicial a radiografia convencional poderá ser normal, sendo o achado mais precoce a desmineralização focal8-9. Uma vez que 50% do osso precisa de ser perdido para que se dete- te radiologicamente, demorando este processo entre 1 a 2 semanas, realça-se a importância da repetição periódica deste exame de imagem8.

Eichenholtz classificou a progressão radiográfica da NC em três estadios: fragmentação/dissolução (Estadio I), coales- cência (Estadio II) e reconstrução (Estadio III)5,6. Na fase crónica estável, este método de imagem é igualmente importante no follow-up, podendo sumariar-se a evolução pela regra dos “6 D's”: Dense subchondral bones; Degeneration; Destruction; Deformity; Debris, Dislocation9,10. Os achados radiológicos da forma severa da NC são patognomónicos6.

Deste modo, pretende-se relacionar os dados imagioló- gicos da radiografia simples do pé com a clínica e a fisio- patologia da entidade “Pé Diabético”, tendo como mote a descrição de um caso clínico.

 

CASO CLÍNICO

Homem de 59 anos, com antecedentes de DM tipo 2 com 15 anos de evolução e amputação transmetatársica à direita há 3 anos recorreu ao Serviço de Urgência por dor, erite- ma e edema no pé e terço inferior da perna direita e úlcera plantar com exsudato purulento com 7 dias de evolução. Apresentava pulsos femorais e poplíteos. Pulsos distais ausentes. Foi internado para antibioterapia, descarga total, cuidados de penso e avaliação analítica, radiológica e multidisciplinar. Apesar do controlo da infeção associada foi impossível o realinhamento do pé e restituição das rela- ções dos ossos pela grande destruição óssea. O doente foi submetido a amputação abaixo do joelho.

 

COMENTÁRIOS

Na radiografia de perfil observou-se perda dos arcos plan- tares longitudinais medial e lateral e calcificação (encurta- mento) do tendão de Aquiles (Figure 1, nº1), com aumento da pressão na face plantar que, associada à neuropatia sensiti- va, contribuíram para a formação de úlcera, como observado neste caso 11,12. A úlcera traduz-se neste exame do pé pela radio-lucência identificada na zona média plantar, patogno- mónica de Neuroartropatia de Charcot. (Figure 1, número 2)13. Verificou-se destruição óssea fragmentos ósseos (Figure 1 e 2, nº3) com fratura da tuberosidade do calcâneo e colapso sub-astragalino (Figure 1 e 2, nº4). A localização desta fratura é das menos frequentemente observadas na Neuroartro- patia de Charcot. A neuropatia sensitiva permite subme- ter o pé a extremos de stress com consequentes fraturas indolores. A neuropatia autonómica, a abertura de “shunts” arteriovenosos e a hipervascularização óssea, acarretam osteopenia (Figure 1 e 2, nº5) e diminuição da resistência à fratura14,15. Observou-se edema (Figure 1 e 2, nº6) e enfisema subcutâneo (Figure 1 e 2, nº7), tradutor da presença de agen- tes microbiológicos anaeróbios. Constatou-se calcificação da artéria tibial posterior (Figure 1 e 2, nº8), tipicamente uma mediocalcinose de Monckeberg, que está associada a elevada taxa de amputação e de mortalidade. Esta altera- ção vascular aumenta o grau de dificuldade técnica e compromete o prognóstico da revascularização.

 

 

 

 

CONCLUSÕES

Apesar da grande variedade de técnicas imagiológicas, o custo-efetividade na deteção precoce das principais alte- rações patológicas e complicações tornam a radiografia convencional a primeira linha de diagnóstico do pé diabético.

 

BIBLIOGRAFIA

1. Jain A new classification of diabetic foot complications: a simple and effective teaching tool. The Journal of Diabetic Foot Complications. 2012; 4: 1–5.

2. Sanverdi SE, Ergen FB, Oznur Current challenges in imaging of the diabetic foot. Diabet Foot Ankle. 2012; 3: 18754.         [ Links ]

3. Penha D, João P, Cabral P, Rosado E, Paixão P, Pinto E, Nogueira D, Costa Artropatia de Charcot: Conceitos Básicos Ilustrados. Rev Clin Hosp Prof Dr Fernando Fonseca. 2013; 1(1): 34–36.

4. Baptista C, Mariano Artropatia de Charcot do pé e tornozelo. Rev Port Ortop Traum. 2012; 20(2): 255–262.

5. Varma The Charcot Foot – An Indian Experience. MedCrave Group LLC. 2017.

6. Sommer TC, Lee Charcot Foot: The Diagnostic Dilemma. Am Fam Physician. 2001, 64(9).

7. Fernandes ARC, Aihara AY, Peçanha PC, Natour J. Avaliação por Meio de Exame Radiológico Convencional e Ressonância Magnéti- ca do Pé Diabético. Rev Bras Reumatol. 2003; 43(5): 316–23.

8. Ergen FB, Sanverdi SE, Oznur A. Charcot foot in diabetes and an update on Diabet Foot Ankle. 2013; 4: 10.

9. Wolfgang Radiology Review Manual. Seventh ed. Phila- delphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2011.

 

*Autor para correspondência

Correio eletrónico: eva.campos.pereira@gmail.com (E. Pereira).

 

Recebido a 21 de julho de 2017

Aceite a 01 de fevereiro de 2018

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