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Medievalista

versão On-line ISSN 1646-740X

Medievalista  no.7 Lisboa dez. 2009  Epub 31-Dez-2009

 

Artigos

As ordens religiosas na diocese de Évora 1165 - 1540

Maria Leonor Ferraz de Oliveira Silva Santos1 

1 Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Portugal.


Resumo

O estudo que se apresenta consiste numa análise do processo de implantação do clero regular na diocese de Évora, ao longo de um período que medeia entre a data de restauração da diocese e a data de elevação da sua catedral à dignidade de metrópole, ou seja, entre 1165 e 1540.

Durante este período procurou-se entender a fixação das ordens religiosas na diocese, não só no âmbito da história política do território em causa, mas também das estratégias de ordenação eclesiástica do território e dos objectivos de cada uma das ordens.

Abstract

This article introduces an analysis of the regular clergy settlement in the diocese of Évora between 1165 - year of the re-establishment of the diocese - and 1540, when it was decreed as metropolis

It presents a study of the settlement of religious orders in the diocese of Évora during this period, in order to understand how that process was related both to the political history of the region and to the strategies of the ecclesiastical organisation of the territory, mentioning as well the aims of each order.

As Ordens Religiosas na Diocese de Évora 1165 - 15401

Dominada pelos muçulmanos desde 715 e sob a sua influência durante quatro séculos e meio, a cidade de Évora foi definitivamente reconquistada pelas forças cristãs, lideradas por Geraldo, Sem Pavor, em 1165. Pouco tempo depois, no âmbito da política de reconstituição do mapa de dioceses de origem suevo-visigoda2, levada a cabo por D. Afonso Henriques, com vista à ordenação eclesiástica do território, a Sé de Évora encontrava-se já restaurada3. Contudo, a nova diocese veio a ser bastante mais alargada que a primitiva. Sob o seu domínio jurisdicional ficou um vasto território que a sul veio a ser delimitado pela fronteira da diocese de Silves, restaurada em 11894, a norte, pelos limites meridionais da diocese da Guarda, para onde foi transferida a antiga catedral da Egitânia, ou Idanha, depois de 11995, a oeste e noroeste, pelos limites da diocese de Lisboa6, restaurada em11487 e a leste pela fronteira com Espanha8.

Fig. 1 O Além Tejo e a actual Diocese de Évora 

É nesta vasta região que nos propomos observar o processo de implantação do clero regular, num período cronológico que medeia entre a data de restauração da diocese de Évora e a data de elevação da sua catedral à dignidade de metrópole, ou seja, entre 1165 e 1540, fase que Joaquim Lavajo identifica como um terceiro período da “Época dos Bispos” da diocese de Évora, depois do período de domínio romano-visigótico e do período de domínio islâmico9.

Naturalmente, ao longo deste tempo, e em época de ordenação eclesiástica do território, de definição de poderes e de órbitas de influência, os limites da diocese não se mantiveram inalteráveis e a obediência do bispo de Évora passou do metropolita de Braga ao de Compostela, em 119910, e deste ao de Lisboa, em 1394, com a elevação da Sé à dignidade de metrópole11. No que respeita aos limites do espaço, se as fronteiras com as dioceses de Lisboa e do Algarve foram relativamente estáveis, o mesmo não aconteceu com a orla de contacto com a diocese da Guarda. Relativamente a esta última os conflitos, de meados do século XIII12, pela disputa de territórios a sul do Tejo, hoje pertencentes à diocese de Portalegre, deram origem à assinatura de um acordo, em 1260, no qual foram reconhecidas como definitivamente pertencentes a Évora as povoações e termos de Elvas, Arronches, Monforte, Assumar, Alter do Chão, Crato, Arês e Amieira, bem como todas as posses da Ordem de Avis situadas na área que então se definia13. Depois deste acordo, as alterações de limites mais significativas verificaram-se, já, posteriormente a 154014 e tiveram a ver com a criação da diocese de Portalegre, em 1549 e da diocese de Elvas, em 1570. Assim, tomando por base, para definição dos limites da diocese, a fronteira com as áreas jurisdicionais das dioceses de Lisboa e do Algarve, o acordo entre os bispos da Guarda e de Évora, de 1260, e a informação sobre os bispados e seus territórios fornecida pelo Catálogo das igrejas de 1320-2115, identificámos na diocese de Évora, ao longo do período considerado, a presença de onze ordens religiosas16 com um total de cinquenta e seis casas17.

A condição de território de fronteira e de espaço de confronto entre as forças cristãs e muçulmanas, que caracterizou a diocese de Évora até à conquista definitiva do Algarve, em 1249, marcou definitivamente os primeiros tempos de ocupação cristã e veio também a influenciar todo o processo de implantação do clero regular na região de além Tejo, o qual assumiu características bem distintas do quadro existente a norte do país e até à fronteira geográfica natural definida pela linha do Tejo18.

A necessidade de assegurar a defesa das terras reconquistadas levou os primeiros monarcas a incentivar a implantação das ordens religiosas militares na região sul do reino19, através de importantes concessões patrimoniais e benefícios senhoriais20. A Ordem de Avis, presente em Évora a partir de 1176, viria, com as suas possessões e jurisdições, a influenciar fortemente a zona de fronteira a norte da diocese, enquanto a Ordem Militar de Santiago, já fixada em Alcácer, pelos anos de 1175, ocupou uma larga faixa de território, ao longo de todo o litoral alentejano e até à península de Setúbal21. A sujeição destas zonas à influência das ordens militares terá, também, vindo a condicionar a penetração e instalação das outras ordens religiosas, as quais quase esqueceram a região norte e oeste da diocese22.

Com efeito, das formas de vida religiosa que se praticavam no reino de Portugal e por todo o Ocidente, ficaram longe da diocese de Évora as variantes do modelo monástico protagonizadas pelos beneditinos e cistercienses. Os Eremitas de São Paulo da Serra de Ossa e os Jerónimos, duas novas famílias de origem eremítica que em finais do século XIV integraram a forma de vida monástica, constituiram, quase exclusivamente, a única representação deste modelo de vida no além Tejo já que, apesar de se tratarem de instituições que adoptaram observâncias influenciadas pelas práticas mendicantes, não devem deixar de se considerar ordens monásticas23, pelo valor que ambas conferiram ao afastamento do “mundo”, à vida contemplativa e de oração e à vida comunitária, desde que consumada a renúncia ao eremitismo.

Os beneditinos nunca chegaram a ter qualquer mosteiro na diocese e a presença dos cistercienses ficou atestada por uma única fundação, a do mosteiro feminino de São Bento de Cástris que, mais do que reflexo do interesse de Cister pelos territórios do sul, correspondeu a uma necessidade prática de enquadramento institucional de um grupo de mulheres piedosas que viviam em comunidade, num local, junto às muralhas de Évora e que, a conselho do cardeal Pedro Julião, futuro papa João XXI, terão tido a iniciativa de desencadear o processo de filiação da sua comunidade à abadia cisterciense de Alcobaça24.

Quanto aos Jerónimos, uma ordem que se instalou em Portugal a partir de 1400, a sua presença na diocese ficou marcada pela fundação do cenóbio masculino de Nossa Senhora do Espinheiro de Évora. Neste caso, uma fundação levada a cabo pelo bispo metropolita D. Jorge Perdigão e que correspondeu à concretização do projecto de um seu antecessor, D. Pedro de Noronha25. Fundado por bula de Calisto III, de 25 de Novembro de 1457 (bula Pia Deo), o mosteiro foi edificado na periferia de Évora, no lugar onde já existia uma capela dedicada a Nossa Senhora do Espinheiro e veio a destacar-se, entre as várias fundações monástico-conventuais da diocese, pela protecção e frequência de monarcas como D. Afonso V, D. João II e D. Manuel, por ter sido o local eleito para realização das cortes de 1481 e pela importante oficina de pintura que albergou26.

Ainda no seio da grande família monástica, resta-nos a Congregação dos Eremitas de São Paulo da Serra de Ossa27, um movimento de cariz eremítico surgido no Alto Alentejo a partir da segunda metade do século XIV, que embora enquadrado na forma de vida monástica, foi fortemente influenciado por práticas mendicantes, como a autoridade centralizada, a realização de capítulos gerais e de visitações ou a eleição de superiores temporários e não vitalícios, como era prática entre as outras variantes do modelo monástico. Daí podermos sublinhar para a diocese de Évora a implantação de um clero regular com uma configuração bastante distinta do tradicional monaquismo.

Com uma rápida expansão a partir da Serra de Ossa, local de onde partiram vários pobres para reformar alguns lugares ou para fundar novas casas, os homens da pobre vida em pouco mais de um século, entre 1366 e finais do século XV28, instalaram, na diocese de Évora e sobretudo no Alto Alentejo, um total de treze eremitérios. Depois da Serra de Ossa, pelos anos de 1371, fixaram-se no actual concelho de Avis, dando origem ao Mosteiro de Nossa Senhora da Azambujeira de Fonte Arcada, do qual se desconhece a localização precisa; daí, passaram ao Redondo, mais especificamente a Vale Abraão e Vale de Infante, onde fundaram dois eremitérios, respectivamente em 1371 e 1372; depois, instalaram-se em Elvas, Évora, Vila Viçosa, Portel, Borba, Montemor-o-Novo, Guadalupe, na periferia de Évora, Sines e, por fim, Serpa. Nas imediações de vilas e cidades, em locais ermos que designavam como “provenças” e com a protecção régia da dinastia de Avis e o apoio dos concelhos, os eremitas tiveram, de facto, uma expansão espectacular.

Isentos da observação de qualquer regra monástica até 153629, em termos institucionais, estes eremitas, só a partir de 1407 ficaram sujeitos à obediência dos respectivos prelados diocesanos30. Em 1452, receberam, de D. Afonso V, o seu primeiro regimento e, de certo modo, em consequência deste documento normativo, em 1466, as várias casas, vieram a constituir uma irmandade31. Alguns anos mais tarde, a partir de 1482, a congregação era já regida por um provincial, eleito pelos eremitas, para um mandato de três anos, e com incumbências de visitar anualmente as diversas casas32.

Do ponto de vista da vida quotidiana, além de se ocuparem num conjunto de actividades indispensáveis à sua auto-suficiência, como o cultivo das terras em redor das provenças, a criação de gado, os trabalhos de apicultura e de aproveitamento dos recursos das matas e terras baldias, os eremitas dedicaram-se também, e especialmente, a uma intensa actividade de ascetismo e de oração. A prática litúrgica, comprovada pela multiplicação de concessões pontifícias para que os eremitas pudessem ter altar portátil e sacerdote que lhes ministrasse os sacramentos e servisse como confessor, sobretudo a partir dos primeiros anos do século XV, foi também uma realidade do seu dia-a-dia33.

A forma de vida canónica, nascida da aplicação do ideal monástico à vida clerical34 e de que foram especiais protagonistas, em Portugal, os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, tal como o monaquismo beneditino, difundiu-se, desde cedo, nos territórios portucalense e conimbricense. Para sul, ainda que com um acesso teoricamente facilitado à região de Évora, pela presença de um significativo património dos mosteiros de cónegos de Santa Cruz e de São Vicente de Fora35, o Tejo parece ter funcionado como uma barreira intransponível a estas instituições, já que para lá da sua linha, até 1540, com excepção da Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista (Lóios), nunca nenhuma outra Ordem da família canónica fundou qualquer casa36.

A congregação, dos Cónegos Seculares de São João Evangelista, uma ordem portuguesa fundada, na região de Lisboa, no início do século XV e com o objectivo de contribuir para a reforma do clero em Portugal, até ao início do século XVI, viveu a sua fase de maior esplendor. Foi, precisamente, durante esse período de afirmação que os Lóios puseram em funcionamento o seu convento de Évora (149137) e pouco mais tarde, entre 1526 e 1532, o convento de Nossa Senhora da Assunção de Arraiolos. Ambas as casas fundadas por iniciativa de membros da nobreza e, desde cedo, agraciadas pelo poder régio38.

Mas, o Sul das planícies, da falta de chuva, das poucas correntes fluviais, das culturas de sequeiro e dos oásis urbanos no meio de vastas planuras39, foi especialmente marcado pelos movimentos religiosos mendicantes, surgidos no século XIII e que traziam a novidade de uma nova forma de vida religiosa. Esta, “reproduzia e readaptava, em face de novas exigências, duas das tradicionais expressões da vida religiosa associada: a canónica e a eremítica, que surgiam renovadas pela insígnia da pobreza mais absoluta, até à total expropriação, mesmo comunitária, à qual se foram acolhendo os diversos grupos mendicantes que entretanto se constituíram”40. Três características fundamentais sintetizavam a forma de vida mendicante: primeiramente, a ideia de pobreza colectiva e de renúncia a qualquer tipo de propriedade terrena, a qual era substituída pela mendicidade; depois, a novidade de que os mendicantes não eram monges e que, com uma vocação fundamentalmente assente sobre o apostolado, a palavra e a acção, os novos religiosos rejeitavam a clausura e por isso se instalavam entre os homens, tentando dar uma resposta diferente aos desafios colocados pelo incremento urbano e, por fim, outra das características mais originais dos mendicantes teve a ver com a sua estrutura organizativa, a qual esteve na origem da noção canónica de ordo41. Na base das instituições religiosas fundadas anteriormente, não existia a noção de Ordem42 mas sim a de mosteiro, de comunidades locais organizadas sob a autoridade de um abade que, mais do que Ordens, constituíam federações de mosteiros autónomos.

Com efeito, os mendicantes assumiam uma configuração bastante distinta do tradicional monaquismo, baseado numa ideia de abandono do mundo em busca da perfeição e da união com Deus. Os mendicantes distinguiam-se dos monges por não dar primazia à vida contemplativa, nem à liturgia, mas por privilegiarem a imitação de Cristo no exercício de actividades caritativas e de pregação e por praticarem uma religião mais humana, afectiva e acessível a todos os fiéis leigos.

Foi, de facto, este novo modelo religioso que dominou a implantação do clero regular em toda a diocese de Évora. Ultrapassada a fase de reconquista dos territórios a sul do Tejo, na segunda metade do século XIII a cidade de Évora foi marcada por uma nova fase de desenvolvimento de que foi testemunho, um crescimento sustentado da população e o incremento da vida económica. Em finais da centúria de duzentos, de acordo com a conjuntura europeia de afirmação do fenómeno urbano, Évora constituía o povoado mais importante de todo o Sul e um dos mais significativos aglomerados urbanos do Reino, a par de cidades como a Guarda ou Coimbra43. Foi neste contexto e, de certo modo, em resposta aos desafios colocados pelo fenómeno urbano que, paulatinamente, as ordens mendicantes se foram instalando por todo o além Tejo.

Os Frades Menores, começando por se fixar, com comunidades masculinas, nas cidades de Évora (1224/1250), Estremoz (1239/1258) e Beja (c.1268), desde os primeiros tempos parecem ter captado uma adesão significativa dos grupos urbanos, já que tanto o convento de Évora como o de Beja corresponderam a instalações propiciadas por doações provenientes de cidadãos locais44. O caso de Estremoz, uma fundação levada a efeito em local doado aos franciscanos pelos freires de Avis, indicia o bom relacionamento encetado entre os frades e um dos principais potentados religioso-militares do além Tejo: a Ordem Militar de Avis45. Até à elevação da catedral de Évora à dignidade metropolítica, os franciscanos fundaram, na diocese, um total de vinte e uma casas, treze para comunidades masculinas e oito para conventos femininos46. O ritmo de implantação não foi homogéneo, intensificando-se, sobretudo, ao longo do século XV e primeira metade do século XVI, em plena fase de afirmação do movimento observante que, em oposição ao conventualismo ou claustra, postulava um respeito integral da regra, pela prática da austeridade e da pobreza no viver quotidiano.

Este ritmo de expansão a Sul do Tejo faz sentido se tivermos em consideração, não só factores de contextualização relativos à história do reino, mas também questões que se prendem com a organização da própria Ordem. No que respeita à história portuguesa do século XIV, vivemos de facto um tempo conturbado e de crise que não foi propício à multiplicação de fundações franciscanas47. Ao longo do século XIV, viveram-se acontecimentos como: a guerra civil de 1319-132448; a última tentativa moura de reconquistar a Península Ibérica, que veio a ser resolvida pela vitória cristã na batalha do Salado, em 134049; a peste negra, de 1348-134950; as guerras fernandinas que se arrastaram entre 1369 e 138251 e, por fim, as guerras entre Portugal e Castela, no contexto da revolução de 1383-138552. Uma sucessão de acontecimentos, que em nada proporcionou estabilidade e uma contextualização favorável à expansão das ordens religiosas53.

No que toca às questões de organização interna dos Frades Menores, estas também terão interferido no ritmo de expansão da Ordem. Integrando a Província de Espanha, desde a sua fundação, em 1219, os franciscanos portugueses vieram a pertencer à Custódia de Portugal da Província de Santiago, que entretanto se constituíra entre 1232 e 1239. A partir de 1272, de acordo com o desmembrar da Custódia de Portugal, os religiosos começaram a dividir-se, datando de 1330, o capítulo provincial em que ficou determinada a constituição da Custódia de Évora. É pois, a partir deste segundo quartel do século XIV que, os frades menores da região a sul do Tejo, institucionalmente começaram a ganhar algum relevo que poderia ser sinónimo de desenvolvimento e expansão, mas a perturbação causada por acontecimentos como a peste negra de 1348-1349, o Grande Cisma do Ocidente, iniciado em 1378, e que levou à divisão da Província de Santiago, ficando as custódias espanholas na obediência do Papa de Avinhão e as portuguesas na do Papa de Roma e, ainda, a agitação proporcionada pelo confronto entre as tendências claustral e observante que, desde os meados do século, se fez sentir no seio da Ordem dos Frades Menores, foram factores de ruptura e instabilidade desfavoráveis à expansão que, então, se poderia esperar.

Assim, foi depois da entrada da observância em Portugal (1392), por mão de frei Diogo Árias, de frei Gonçalo Mariño e de outros frades da Província de Santiago54, assim como depois de resolvido o Cisma do Ocidente, em 1415, que o ritmo de fundações franciscanas no Alentejo se acentuou verdadeiramente verificando-se, entre 142455 e 1500, um total de 6 fundações e, de início do século XVI até 1540, onze56.

No que respeita às restantes ordens que compuseram a família mendicante portuguesa até 154057, apenas a Ordem da Santíssima Trindade para a Redenção dos Cativos não fundou qualquer convento na diocese de Évora. Ao longo do século XIII, e em fase ainda muito instável do território da diocese, os Trinitários fundaram apenas três casas, respectivamente em Santarém, Lisboa e Silves. O século XIV como já referimos, em termos de contextualização, não foi propício à expansão das ordens religiosas no Alentejo58 e, o século XV, época em que foi evidente a multiplicação de fundações por toda a diocese59, para a Ordem dos Trinitários foi um tempo conturbado. Sobretudo a partir de meados da centúria de quatrocentos, a Ordem da Santíssima Trindade foi marcada por graves crises internas e pela acusação de desviar para outros fins, as esmolas que obtinha para redenção dos cativos60. O declínio da Ordem foi tão evidente que no século XVI e até 1566, ano em que Pio V, pela bula Quia Libenter, aprovou os novos estatutos que davam por concluída a reforma dos Trinitários, estes apenas realizaram uma fundação, a do Colégio da Santíssima Trindade de Coimbra, que data de 1552.

Os outros mendicantes que se fixaram na diocese, pregadores, carmelitas, eremitas de Santo Agostinho e mercedários, de acordo com a dimensão que as respectivas ordens alcançaram pelo reino, nunca tiveram uma presença tão relevante como a dos franciscanos, mas contribuíram para o acentuar do fenómeno mendicante no além Tejo. A Ordem dos Pregadores, tal como a dos Frades Menores e a Ordem Militar de Avis, esteve entre as primeiras ordens a fixarem-se na diocese de Évora. Começando por se estabelecerem nas proximidades de Elvas, junto à ermida de Nossa Senhora da Graça, a cerca de meia légua da cidade, os dominicanos alcançaram um tal sucesso junto dos fiéis, que a partir de 1266 receberam as primeiras conceções de terras na cidade e, no início de 1267, receberam, em doação de D. Afonso III, a Ermida de Santa Maria dos Mártires onde, com autorização do bispo de Évora, datada do mesmo ano, viria a ser construído o seu novo convento. O impacto da presença da comunidade entre os fiéis foi tal que, logo no ano em que se instalaram, os frades viveram graves diferendos com o clero regular e se viram obrigados a apelar à intervenção do papa Clemente IV61. Ao longo do período considerado, entre Elvas, Évora e Montemor, os dominicanos fundaram um total de seis conventos, dos quais, quatro reservados a comunidades femininas.

A completar o leque de ordens mendicantes a actuar no território da diocese estiveram, ainda, a Ordem do Carmo, com fundações em Moura, Vidigueira, Beja e Évora; a Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, que em Évora e Vila Viçosa fixaram comunidades masculinas e femininas e a Ordem dos Mercedários que, por iniciativa de Isabel de Aragão, a futura Rainha Santa, fundou em Évora o seu único convento de localização conhecida, em Portugal.

Observada a presença do clero regular na diocese de Évora entre 1165 e 1540 e verificada a especificidade das ordens religiosas dominantes, por um lado a Congregação dos Eremitas da Serra de Ossa e por outro um conjunto de ordens mendicantes, entre as quais se destacou a Ordem dos Frades Menores, resta-nos concluir como as cidades, a geografia humana, a história interna de cada Ordem e questões de carácter externo relacionadas, com a história política do reino, com diversos tipos de crise ou com a história religiosa em geral, tiveram um papel determinante na implantação dos mosteiros e conventos por todo o além Tejo.

1Comunicação apresentada a 15 de Novembro de 2007, nas V Jornadas de História Religiosa organizadas pelo Instituto de Superior de Teologia de Évora e publicada, por lapso sem os mapas, na revista Eborensia, Revista do Instituto Superior de Teologia de Évora, nº 39-40, 2007, p. 185-201.

2Ver: Demétrio Mansilla Reoyo, “Disputas diocesanas entre Toledo, Braga y Compostela en los siglos XII al XV”, Anthologica Annua, Roma, 3, 1955, p.89-90

3De acordo com Hermínia Vasconcelos Vilar, a menção mais antiga que se conhece, relativamente ao novo bispo de Évora, data de Abril de 1166, quando este aparece entre as testemunhas de um foral outorgado à cidade de Évora: As dimensões de um poder. A diocese de Évora na Idade Média, Lisboa, Editorial Estampa, 1999, p. 21.

4Joaquim Romero de Magalhães, “ALGARVE, Diocese do” in Dicionário de História Religiosa de Portugal, dir. por Carlos Moreira Azevedo, Lisboa, Círculo de Leitores, 2000, p. 44-50.

5J Pinharanda Gomes, “GUARDA, Diocese da” in Dicionário de História Religiosa de Portugal, dir. por Carlos Moreira Azevedo, Lisboa, Círculo de Leitores, 2000, p. 309-318.

6Segundo Joaquim Chorão Lavajo, em “ÉVORA, Arquidiocese de” in Dicionário de História Religiosa de Portugal, dir. por Carlos Moreira Azevedo, Lisboa, Círculo de Leitores, 2000, p. 211, a fronteira Oeste da diocese de Évora e de confronto com a diocese de Lisboa era feita ao longo de uma linha que passava por Abrantes, Avis, Coruche, Benavente, Canha, Pegões Velhos, Landeira, Alcácer do Sal e Costa Atlântica.

7Sobre a diocese de Lisboa, veja-se: Manuel Clemente, “LISBOA, Diocese e patriarcado de” in Dicionário de História Religiosa de Portugal, dir. por Carlos Moreira Azevedo, Lisboa, Círculo de Leitores, 2001, p. 93-113. Inicialmente, à jurisdição da diocese de Évora, no além Tejo (acidente geográfico natural), apenas escapavam o priorado do Crato (dominado pelos Templários), a região do distrito de Setúbal, que pertencia a Lisboa e a de Portalegre, subordinada a Idanha.

8Inicialmente, à jurisdição da diocese de Évora, no além Tejo (acidente geográfico natural), apenas escapavam o priorado do Crato (dominado pelos Templários), a região do distrito de Setúbal, que pertencia a Lisboa e a de Portalegre, subordinada a Idanha. Sobre a diocese de Évora e os seus limites, veja-se: Ana Maria C. M. Jorge, “Organização eclesiástica do espaço”, História Religiosa de Portugal, dir. por Carlos Moreira Azevedo, vol. I - Formação e Limites da Cristandade, Lisboa, Círculo de Leitores, p. 185-192; João César Baptista, “Limites da Diocese de Évora”, separata de A Cidade de Évora, nº 55, 1972 e Joaquim Chorão Lavajo, Op. cit, p. 210-221.

9Joaquim Chorão Lavajo, Op. Cit., p. 210-211.

10Cf. Bula de Inocêncio III, de redistribuição das dioceses portuguesas e espanholas pelas metrópoles de Braga e Compostela - In causa duorum, de 2 de Julho de 1199.

11Cf. Bula de Bonifácio IX de 1394 - In eminentissimae dignitatis

12O conflito, relativo à delimitação de fronteiras, entre as dioceses da Guarda e de Évora, arrastou-se vários anos e, em particular, durante os pontificados de D. Rodrigues Fernandes (1250-1267) e de D. Martinho (1249-1266), respectivamente bispos da Guarda e de Évora. Cf. João César Baptista, “Limites da Diocese de Évora”, separata de A Cidade de Évora, nº 55, 1972, p. 1-39.

13Arquivo do Cabido da Sé de Évora, Cartulário, cód. CEC 3-III, fl.37-42v. Série de documentos publicados por Júlio César Baptista em: “Limites da Diocese de Évora”, separata de A Cidade de Évora, nº 55, 1972, p. 29-33. Também por este acordo, o bispo de Évora renunciava às terras do termo de Abrantes situadas na margem esquerda do Tejo.

14Antes desta data, provavelmente entre 1454 e 1534, o Crato e a Amieira terão passado para a jurisdição da diocese da Guarda. Cf. Júlio César Baptista, Op cit., p. 11-12.

15“Catálogo de todas as igrejas, comendas e mosteiros que havia nos reinos de Portugal e Algarves, pelos anos de 1320 e 1321, com a lotação de cada uma delas. Ano de 1746”, in Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, dir. por Damião Peres, 4, Porto, 1971, apêndice XVII do vol.1, p. 90-144.

16Ordem do Carmo, Ordem de Cister, Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista (Lóios), Ordem dos Pregadores, Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, Ordem de São Paulo 1º Eremita da Serra de Ossa (Paulistas), Ordem dos Frades Menores, Ordem de São Jerónimo, Ordem dos Mercedários, Ordem de Avis e Ordem do Hospital.

17Ver: ANEXO 1 - Mosteiros e Conventos da Diocese de Évora (fundados até 1540).

18Esta realidade foi já observada, por João Luís Fontes, num estudo que realizou sobre a presença das diversas formas de vida religiosa na cidade de Évora. Cf. João Luís Inglês Fontes “Cavaleiros de Cristo, monges, frades e eremitas: um percurso pelas formas de vida religiosa em Évora durante a Idade Média (séculos XII a XV)”, Lusitânia Sacra, 2ª série, tomo XVII, p. 39-61

19Sobre a questão das Ordens Religiosas Militares na diocese de Évora não me alongarei, visto fazer parte do programa destas V Jornadas de História Religiosa uma comunicação de Luís Oliveira sobre o referido tema.

20Sobre esta questão, veja-se: José Mattoso, “1096-1325”, in História de Portugal, dir. por José Mattoso. Vol. 2, A Monarquia Feudal (1096-1480), Lisboa, Círculo de Leitores, 1993, p. 76-134; Rui de Azevedo, “Período de formação territorial: expansão pela conquista e sua consolidação pelo povoamento. As terras doadas. Agentes colonizadores” in História da Expansão Portuguesa no Mundo, dir por António Baião, Hernâni Cidade e Manuel Múrias, vol. I, Lisboa, Edições Ática, 1937, p. 7-64; Hermínia Vasconcelos Vilar, Op. cit., p. 245-281; Luís Filipe Oliveira, “Ordens Militares” in Ordens Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento - Guia Histórico, dir. por Bernardo Vasconcelos e Sousa, Lisboa, Livros Horizonte, 2005, p. 453-502.

21Cf. Mapa sobre “Os territórios conquistados - séculos XII e XIII. Tentâme de uma carta histórica” em Rui de Azevedo, Op. cit., entre as páginas 60 e 61.

22Cf. Anexo 6 - Ordens Religiosas na Diocese de Évora - Século XVI

23Sobre a forma de vida monástica veja-se: José Mattoso, “Nota histórica” in Ordens Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento - Guia Histórico, dir. por Bernardo Vasconcelos e Sousa, Lisboa, Livros Horizonte, 2005, p. 37-39; J. Leclercq et al., “Monachesimo” in Dizionário degli Istituti di Perfezione, dir. por Guerrino Pelliccia e de Giancarlo Rocca, vol. V, Roma, 1978, col. 1672-1742.

24Data de 1275, a filiação da pequena comunidade de mulheres piedosas de Évora ao mosteiro de Alcobaça e a imposição, por parte do abade de Alcobaça, do estabelecimento das religiosas numa zona mais afastada da cidade. Sobre a história deste mosteiro, veja-se: Joaquim Chorão Lavajo, “S. Bento de Cástris e Alcobaça: da filiação à ruptura” in IX Centenário do nascimento de S. Bernardo. Encontros de Alcobaça e simpósio de Lisboa. Actas, Braga, p. 305-335; Maria Antónia Marques Fialho Costa Conde, Mosteiro de São Bento de Cástris (Évora): bases para uma proposta de valorização histórico-arquitectónica, 2 vols., Évora, dis. de mestrado, Universidade de Évora, texto policopiado, 1995.

25D. Pedro de Noronha, em 1420, chegou a obter de Martinho V uma bula fundacional para o mosteiro: a bula Exigentibus tue deuotionis (BPE, Pergaminhos Avulsos, pasta 1, doc. nº 1). Sobre esta Ordem e o Mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro, veja-se: Anselmo Braamcamp Freire, As sepulturas do Espinheiro, Lisboa, Imprensa Nacional, 1901; Idem, O Mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro, Archivo Histórico Portuguez, 1905; Cândido A. Dias dos Santos, Os Jerónimos em Portugal: das origens ao fim do século XVII, Porto, 1980, p.21-22, 24; Gabriel Pereira, “O mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro”, in Estudos Eborenses, Évora, 1, 2ª ed. integral, 1947, p. 13-29; Maria Hortense N. Vieira Lopes, “O convento de Nossa Senhora do Espinheiro em Évora: ensaio de interpretação histórica e artística”, Junta Distrital de Évora: boletim anual de cultura, Évora, 6, 1965, p. 83-157.

26Desta oficina de pintura irradiou a escola flamenga de Évora , que teve como mestre o famoso Fr. Carlos.

27Sobre esta Ordem, veja-se: José Mattoso, “Eremiti Paolini Portoghesi” in Dizionario degli Istituti di Perfezione, dir. por Guerrino Pelliccia e de Giancarlo Rocca, 3, Roma, 1976, col. 1195-1199; Mário Martins, “De como eram os Eremitas da Serra de Ossa”, Brotéria. 129, 1989, p. 403-410; Maria Ângela da Rocha Beirante, “Eremitérios da pobre vida no Alentejo dos séculos XIV-XV” in 1383/1385 e a crise geral dos século XIV-XV: Jornadas de História Medieval. Actas. Lisboa, História & Crítica, 1985, p. 257-266; idem, “Eremitismo” in Dicionário de História Religiosa de Portugal, dir por Carlos Moreira Azevedo, Lisboa, Círculo de Leitores, 2000, p. 149-154; João Luís Inglês Fontes, “Ordem de São Paulo 1º Eremita da Congregação da Serra de Ossa” in Ordens Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento - Guia Histórico, dir. por Bernardo Vasconcelos e Sousa, Lisboa, Livros Horizonte, 2005, p. 128-148.

28Data de 1366 a mais antiga menção que se conhece relativa aos eremitas da Serra de Ossa e de 1494, a primeira referência ao último eremitério que terão fundado na diocese de Évora, o eremitério de Nossa Senhora da Consolação de Serpa. Cf. João Luís Inglês Fontes, Op. cit., p. 130, 148.

29Ano em que lhes foi imposta, pelo papa Paulo III, a observância da Regra de Santo Agostinho e confirmados todos os privilégios que até aí lhes tinham sido outorgados (bulas Meritis pie vite e Pastoralis officii)

30Bula Ad dominici gregis curam, de Gregório XII.

31Cf. João Luís Inglês Fontes, Op. cit., p. 131.

32IAN/TT, Colecção especial, cx. 36, doc. nº 28.

33João Luís Inglês Fontes, “Cavaleiros de Cristo, monges, frades e eremitas: um percurso pelas formas de vida religiosa em Évora durante a Idade Média (séculos XII a XV)”, Lusitânia Sacra, 2ª série, tomo XVII, p. 39-61.

34Sobre a forma de vida canónica, veja-se: Egger, C., “Canonici regolari” in Dizionário degli Istituti di Perfezione, dir. por Guerrino Pelliccia e Giancarlo Rocca, 2, Roma, 1975, col. 46-63

35Qualquer destes mosteiros de Cónegos Regrantes de São Agostinho, nunca revelou interesse numa aproximação à região, já que, sempre que possível, se mostraram, um e outro, dispostos a escambar os bens que ali tinham por outros que lhes ficassem mais próximos - Cf. Hermínia Vasconcelos Vilar, Op. cit., p. 281-289.

36Cf. Mapas de distribuição das casas fundadas por cada Ordem da família canónica, em Portugal in Ordens Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento - Guia Histórico, dir. por Bernardo Vasconcelos e Sousa, Lisboa, Livros Horizonte, 2005, p. 178-180, 215, 219, 220, 226, 227, 233, 238, 239.

37Ano em que o convento foi entregue à Congregação. Cf. Ordens Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento - Guia Histórico, dir. por Bernardo Vasconcelos e Sousa, Lisboa, Livros Horizonte, 2005, p. 243

38O convento de São João Evangelista de Évora, fundado em 1485 e entregue aos Lóios em 1491, resultou da iniciativa de D. Rodrigo de Melo, 1º conde de Olivença e do seu genro, D. Álvaro de Portugal, filho do 2º duque de Bragança. O convento de Nossa Senhora da Assunção de Arraiolos, fundado por João Garcês, fidalgo da casa de D. João II, gozou ainda, para a sua construção, de avultadas esmolas de D. João II, dos infantes Cardeal D. Henrique e D. Luís e dos duques de Bragança, D. Jaime e D. Teodósio.

39Sobre as características geográficas da região Sul do território português e sua oposição ao Norte de Portugal, veja-se: Orlando Ribeiro, Ensaios de Geografia Humana e Regional, I - Trinta e Cinco Anos de Estudos Geográficos. Síntese e Método. Em Torno da Geografia de Portugal, Lisboa, Livraria Sá da Costa, 1970.

40Luigi Pellegrini, “ Che sono queste novitá?” Les religiones novae in Italia meridionale (secoli XIII e XIV), Napoli, Liguori Editore, 2000, p. 34. 

41Sobre a forma de vida mendicante veja-se: “Ordres Mendiants”, in Agnès Gerhards, Dictionnaire historique des Ordres Relikgieux, Paris, 1998, p. 436-440; Cyprien d’Alger (O.F.M.), “Ordres Mendiants” in Dictionnaire de droit canonique, dir. por Raul Naz, tomo XVI, Paris, 1957, col. 1156-1163.

42Sobre a noção de Ordo, veja-se: R. Moya e G. Rocca, “Ordine religioso” in Dizionário degli Istituti di Perfezione, dir. por Guerrino Pelliccia e Giancarlo Rocca, vol.6, Roma, 1980, col. 792-796 e J. Dubois, “Ordo” in Dizionário degli Istituti di Perfezione, dir. por Guerrino Pelliccia e Giancarlo Rocca, vol.6, Roma, 1980, col. 806-820.

43Cf. A. H. de Oliveira Marques, “A população portuguesa nos fins do século XIII” in Ensaios da História Medieval Portuguesa. 2ª ed., Lisboa, Vega, 1979, p. 51-92.

44O convento franciscano de Évora além de, desde cedo, ter recebido doações de particulares, teve a construção da sua Igreja patrocinada por D. Fernando de Morais, comendador de Montemor; o convento de São Francisco de Beja, foi edificado num terreno doado pelo cidadão de Beja, Pedro Peres e durante a sua construção foi patrocinado por diversos particulares oriundos da elite municipal da cidade. Cf. Ordens Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento - Guia Histórico, dir. por Bernardo Vasconcelos e Sousa, Lisboa, Livros Horizonte, 2005, p. 307 e 309-310.

45Cf. Ordens Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento - Guia Histórico, dir. por Bernardo Vasconcelos e Sousa, Lisboa, Livros Horizonte, 2005, p. 308.

46Cf. Anexo 1 - Mosteiros e Conventos da Diocese de Évora (fundados até 1540) Anexo 2.

47No final do século XIII, a Ordem dos Frades Menores tinha, em Portugal, um total de 23 casas (19 masculinas e 4 femininas), dois séculos depois, no final do século XV existiam já 91 conventos, mas destes apenas 14 foram fundados ao longo do século XIV. Cf. Ordens Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento - Guia Histórico, dir. por Bernardo Vasconcelos e Sousa, Lisboa, Livros Horizonte, 2005, p. 255-368.

48Sobre esta questão, veja-se: José Mattoso, “1096-1325”, in História de Portugal, dir. por José Mattoso. Vol. 2, A Monarquia Feudal (1096-1480), Lisboa, Círculo de Leitores, 1993, p.161-163.

49Apesar de se tratar de uma batalha travada fora do território português, a partir de Elvas e ao comando de tropas portuguesas, muitas delas recrutadas no Alentejo, D. Afonso IV teve uma participação decisiva neste confronto. Sobre esta batalha, veja-se: Ambrósio Huici Miranda, Las Grandes Batallas de la Reconquista durante las Invasiones Africanas (Almoravides, Almohades y Benimerines), Madrid, 1956, p. 331-387.

50Sobre esta temática, veja-se: A. H. de Oliveira Marques, Portugal na crise dos séculos XIV e XV, vol. IV da Nova História de Portugal, dir. por Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques, Lisboa, Editorial Presença, 1987, p. 20-22; Virgínia Rau et al., “Para o estudo da Peste Negra em Portugal”, in Bracara Augusta, vols. XIV-XV, 1963, p. 210-239.

51Nas quais o Alentejo foi especial teatro de operações entre 1381 e 1382. Cf. Armando Martins, Guerras Fernandinas. 1369-1382, Lisboa, Quidnovi, 2006.

52Cf. Maria Ângela V. da Rocha Beirante, “ O Alentejo na 2ª metade do século XIV: Évora na crise de 1383-1385”, Estudos Medievais, 7, 1986, p. 119-154.

53De facto, entre os cinquenta e seis mosteiros e conventos fundados na diocese de Évora entre 1165 e 1640, apenas onze foram fundados ao longo do século XIV e, desses onze, sete corresponderam a iniciativas da Congregação dos Eremitas da Serra de Ossa levadas a cabo a partir de 1366, período em que já foi reconhecida uma efectiva expansão deste fenómeno eremítico, tão característico do Alentejo, na diocese de Évora. Cf. João Luís Fontes, “Ordem de São Paulo 1º Eremita da Congregação da Serra de Ossa” in Ordens Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento - Guia Histórico, dir. por Bernardo Vasconcelos e Sousa, Lisboa, Livros Horizonte, 2005, p. 130.

54Cf. António Montes Moreira, “Franciscanos” in Dicionário de História Religiosa de Portugal, dir. por Carlos Moreira Azevedo, Lisboa, Círculo de Leitores, 2000, p. 273-280.

55Primeiro convento franciscano fundado na Diocese de Évora, no século XV - Convento de Santa Clara de Estremoz

56Cf. Anexos 4,5,e 6 - mapas de implantação das ordens religiosas na diocese de Évora ao longo dos séculos XIV, XV e XVI.

57Ordens mendicantes que se estabeleceram em Portugal até 1540: Ordem dos Frades Menores, Ordem dos Pregadores, Ordem do Carmo, Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, Ordem da Santíssima Trindade para a Redenção dos Cativos e Ordem dos Mercedários

58Com excepção do fenómeno eremítico oriundo da Serra de Ossa que a partir de meados do século XIV se expandiu acentuadamente.

59Durante este século, não só se multiplicaram as fundações de conventos junto às mais importantes cidades da diocese, como Évora e Beja, mas surgiram também novas fundações em localidades onde, até então, não existia qualquer convento: é o caso de Montemor-o-Novo, de Serpa ou de Portel. Cf. Anexos 3, 4 e 5.

60Cf. António Domingues de Sousa Costa, “Trinitários”, in Dicionário de história de Portugal, dir. por Joel Serrão, 6, Porto, Livraria Figueirinhas, 1992, p. 214; Edite Alberto, “Trinitários”, in Dicionário de História Religiosa de Portugal, dir. por Carlos Moreira Azevedo, Lisboa, 2001, p. 305-307; Ordens Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento - Guia Histórico, dir. por Bernardo Vasconcelos e Sousa, Lisboa, Livros Horizonte, 2005, p. 437-447.

61Cf. Ordens Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento - Guia Histórico, dir. por Bernardo Vasconcelos e Sousa, Lisboa, Livros Horizonte, 2005, p. 382.

62A informação dada nesta coluna e designada “Fundação” respeita a bulas de fundação, documentos mais antigos que se conhecem relativamente a determinada casa, início de construção do edifício monástico ou conventual, datas de filiação de determinadas comunidades a uma casa mãe, estabelecimento da primeira comunidade, etc. Como fonte utilizou-se: Ordens Religiosas em Portugal. Das Origens a Trento - Guia Histórico, dir. por Bernardo Vasconcelos e Sousa, Lisboa, Livros Horizonte, 2005.

63O. Cist - Ordo Cisterciensis

64Ordem de São Paulo 1º Eremita da Serra de Ossa

65O.S.H. - Ordo Sancti Hieronymi

66Congregação dos Cónegos Seculares de São Evangelista

67O.F.M. - Ordo Fratrum Minorum

68O.P. - Ordo Fratrum Praedicatorum

69O. Carm. - Ordo Fratrum Beatae Marie Virginis de Monte Carmelo

70O.E.S.A - Ordo (Fratrum Eremitarum) Sancti Augustini

71O. de M. - Ordo Beatae Marie Virginis de Mercede

72Ordem Militar de Avis

73Ordem Militar do Hospital

74Ver: nota 1 do Anexo 1

Anexos

Anexo 1

Anexo 1 Mosteiros e conventos da diocese de Évora. (Fundados até 1540) 

Ordem Invocação do Mosteiro/Convento Ramo “Fundação”
O. Cist. São Bento de Castris F 1275
Paulistas São Paulo da Serra de Ossa (Redondo) M 1366
Nossa Senhora da Azambujeira de Fonte Arcada M 1371
Santo Onofre de Vale de Abraão (Redondo) M 1371
Santo Antão de Vale de Infante (Redondo) M 1372
São Paulo de Elvas M 1380
Santa Margarida do Aivado de Évora M 1385
Nossa Senhora do Amparo de Valbom de Vila Viçosa M 1395
São Paulo de Portel M 1405
Nossa Senhora da Luz de Montes Claros (Borba) M 1407
Santa Cruz de Rio Mourinho (Montemor-o-Novo) M 1410
Santa Catarina de Montemuro M 1415
Nossa Senhora da Junqueira M 1447
Nossa Senhora da Consolação de Serpa M 1494
O.S.H. Nossa Senhora do Espinheiro de Évora M 1457
Lóios São João Evangelista de Évora M 1485
Nossa Senhora da Assunção de Arraiolos M 1526/32
O.F.M. São Francisco de Évora M 1224
São Francisco de Estremoz M 1239
São Francisco de Beja M 1268
Santa Clara de Beja F 1340
Santa Clara de Estremoz F 1424
Santa Clara de Évora F 1468
Nossa Senhora da Conceição de Beja F 1459
Santo António de Serpa M 1463
São Francisco de Montemor-o-Novo M 1496
Nossa Senhora da Piedade de Vila Viçosa M 1500
Santo António de Sines M 1504
Nossa Senhora da Consolação do Bosque de Borba M 1505
Nossa Senhora do Loreto de Santiago do Cacém M 1505
Santa Clara de Moura F 1520
Santo António de Alcácer do Sal M 1524
Salvador de Évora F 1525
Nossa Senhora da Piedade de Viana do Alentejo F 1528
Santo António de Odemira M 1531
Nossa Senhora dos Mártires de Alvito M 1534
Chagas de Vila Viçosa F 1534
Santo António de Estremoz M 1537
O.P. Nossa Senhora dos Mártires de Elvas M 1266
São Domingos de Évora M 1298
Nossa Senhora do Paraíso de Évora F 1496
Nossa Senhora da Saudação de Montemor-o-Novo M 1502
Santa Catarina de Sena de Évora F 1511
Nossa Senhora da Consolação de Elvas F 1528
O. Carm. Nossa Senhora do Carmo de Moura M 1354
Nossa Senhora das Relíquia da Vidigueira M 1496
Nossa Senhora da Tapada de Beja M 1526
São Tomé de Évora M 1531
O.E.S.A Santo Agostinho de Vila Viçosa M 1267
Santa Mónica de Évora F 1380
Nossa Senhora da Graça de Évora M 1512
Santa Cruz de Vila Viçosa F 1525
O. de M. Santa Vitória de Beja M 1300
Avis São Bento de Avis M 1223
Hospital Flor da Rosa M 1338/1375
São João da Penitência de Estremoz F 1480/1519

2

Anexo 2

Anexo 2 Evolução cronológica da implantação das ordens religiosas na diocese de Évora 

Século Invocação do Mosteiro/Convento Ramo Ordem “Fundação”
XIII São Bento de Avis M Avis 1223
São Francisco de Évora M O.F.M. 1224
São Francisco de Estremoz M O.F.M. 1239
Nossa Senhora dos Mártires de Elvas M O.P. 1266
Santo Agostinho de Vila Viçosa M O.E.S.A. 1267
São Francisco de Beja M O.F.M. 1268
São Bento de Castris F O. Cist. 1275
São Domingos de Évora M O.P. 1286
Santa Vitória de Beja M O. de M. 1300
XIV Flor da Rosa M Hospital 1338/1375
Santa Clara de Beja F O.F.M. 1340
Nossa Senhora do Carmo de Moura M O. Carm. 1354
São Paulo da Serra de Ossa M Paulistas 1366
Nossa Senhora da Azambujeira de Fonte Arcada M Paulistas 1371
Santo Onofre de Vale de Abraão M Paulistas 1371
Santo Antão de Vale de Infante M Paulistas 1372
Santa Mónica de Évora F O.E.S.A. 1380
São Paulo de Elvas M Paulistas 1380
Santa Margarida do Aivado de Évora M Paulistas 1385
Nossa Senhora do Amparo de Valbom de Vila Viçosa M Paulistas 1395
XV São Paulo de Portel M Paulistas 1405
Nossa Senhora da Luz de Montes Claros M Paulistas 1407
Santa Cruz de Rio Mourinho M Paulistas 1410
Santa Catarina de Montemuro M Paulistas 1415
Santa Clara de Estremoz F O.F.M 1424
Nossa Senhora da Junqueira M Paulistas 1447
Nossa Senhora do Espinheiro de Évora M O.S.H. 1457
Santa Clara de Évora F O.F.M 1458
Nossa Senhora da Conceição de Beja F O.F.M 1459
Santo António de Serpa M O.F.M 1463
São João da Penitência de Estremoz F Hospital 1480/1519
São João Evangelista de Évora M Lóios 1485
Nossa Senhora da Consolação de Serpa M Paulistas 1494
Nossa Senhora das Relíquia da Vidigueira M O. Carm. 1496
Nossa Senhora do Paraíso de Évora F O.P. 1496
São Francisco de Montemor-o-Novo M O.F.M 1496
Nossa Senhora da Piedade de Vila Viçosa M O.F.M 1500
XVI Nossa Senhora da Saudação de Montemor-o-Novo F O.P. 1502
Santo António de Sines M O.F.M. 1504
Nossa Senhora do Loreto de Santiago do Cacém M O.F.M. 1505
Nossa Senhora da Consolação do Bosque de Borba M O.F.M. 1505
Santa Catarina de Sena de Évora F O.P. 1511
Nossa Senhora da Graça de Évora M O.E.S.A. 1512
Santa Clara de Moura F O.F.M. 1520
Santo António de Alcácer do Sal M O.F.M. 1524
Santa Cruz de Vila Viçosa F O.E.S.A. 1525
Salvador de Évora F O.F.M. 1525
Nossa Senhora da Tapada de Beja M O. Carm. 1526
Nossa Senhora da Assunção de Arraiolos M Lóios 1526/32
Nossa Senhora da Consolação de Elvas F O.P. 1528
Nossa Senhora da Piedade de Viana do Alentejo F O.F.M. 1528
Santo António de Odemira M O.F.M. 1531
São Tomé de Évora M O. Carm. 1531
Nossa Senhora dos Mártires de Alvito M O.F.M. 1534
Chagas de Vila Viçosa F O.F.M. 1534
Santo António de Estremoz M O.F.M. 1537

3

Anexo 3

Anexo 3 Ordens religiosas na diocese de Évora - Século XIII 

4

Anexo 4

Anexo 4 Ordens religiosas na diocese de Évora - século XIV 

5

Anexo 5

Anexo 5 Ordens religiosas na diocese de Évora - Século XV 

6

Anexo 6

Anexo 6 Ordens religiosas na diocese de Évora - Século XVI 

Recebido: 01 de Julho de 2009; Aceito: 01 de Julho de 2009

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