As Ordens Religiosas na Diocese de Évora 1165 - 15401
Dominada pelos muçulmanos desde 715 e sob a sua influência durante quatro séculos e meio, a cidade de Évora foi definitivamente reconquistada pelas forças cristãs, lideradas por Geraldo, Sem Pavor, em 1165. Pouco tempo depois, no âmbito da política de reconstituição do mapa de dioceses de origem suevo-visigoda2, levada a cabo por D. Afonso Henriques, com vista à ordenação eclesiástica do território, a Sé de Évora encontrava-se já restaurada3. Contudo, a nova diocese veio a ser bastante mais alargada que a primitiva. Sob o seu domínio jurisdicional ficou um vasto território que a sul veio a ser delimitado pela fronteira da diocese de Silves, restaurada em 11894, a norte, pelos limites meridionais da diocese da Guarda, para onde foi transferida a antiga catedral da Egitânia, ou Idanha, depois de 11995, a oeste e noroeste, pelos limites da diocese de Lisboa6, restaurada em11487 e a leste pela fronteira com Espanha8.
É nesta vasta região que nos propomos observar o processo de implantação do clero regular, num período cronológico que medeia entre a data de restauração da diocese de Évora e a data de elevação da sua catedral à dignidade de metrópole, ou seja, entre 1165 e 1540, fase que Joaquim Lavajo identifica como um terceiro período da “Época dos Bispos” da diocese de Évora, depois do período de domínio romano-visigótico e do período de domínio islâmico9.
Naturalmente, ao longo deste tempo, e em época de ordenação eclesiástica do território, de definição de poderes e de órbitas de influência, os limites da diocese não se mantiveram inalteráveis e a obediência do bispo de Évora passou do metropolita de Braga ao de Compostela, em 119910, e deste ao de Lisboa, em 1394, com a elevação da Sé à dignidade de metrópole11. No que respeita aos limites do espaço, se as fronteiras com as dioceses de Lisboa e do Algarve foram relativamente estáveis, o mesmo não aconteceu com a orla de contacto com a diocese da Guarda. Relativamente a esta última os conflitos, de meados do século XIII12, pela disputa de territórios a sul do Tejo, hoje pertencentes à diocese de Portalegre, deram origem à assinatura de um acordo, em 1260, no qual foram reconhecidas como definitivamente pertencentes a Évora as povoações e termos de Elvas, Arronches, Monforte, Assumar, Alter do Chão, Crato, Arês e Amieira, bem como todas as posses da Ordem de Avis situadas na área que então se definia13. Depois deste acordo, as alterações de limites mais significativas verificaram-se, já, posteriormente a 154014 e tiveram a ver com a criação da diocese de Portalegre, em 1549 e da diocese de Elvas, em 1570. Assim, tomando por base, para definição dos limites da diocese, a fronteira com as áreas jurisdicionais das dioceses de Lisboa e do Algarve, o acordo entre os bispos da Guarda e de Évora, de 1260, e a informação sobre os bispados e seus territórios fornecida pelo Catálogo das igrejas de 1320-2115, identificámos na diocese de Évora, ao longo do período considerado, a presença de onze ordens religiosas16 com um total de cinquenta e seis casas17.
A condição de território de fronteira e de espaço de confronto entre as forças cristãs e muçulmanas, que caracterizou a diocese de Évora até à conquista definitiva do Algarve, em 1249, marcou definitivamente os primeiros tempos de ocupação cristã e veio também a influenciar todo o processo de implantação do clero regular na região de além Tejo, o qual assumiu características bem distintas do quadro existente a norte do país e até à fronteira geográfica natural definida pela linha do Tejo18.
A necessidade de assegurar a defesa das terras reconquistadas levou os primeiros monarcas a incentivar a implantação das ordens religiosas militares na região sul do reino19, através de importantes concessões patrimoniais e benefícios senhoriais20. A Ordem de Avis, presente em Évora a partir de 1176, viria, com as suas possessões e jurisdições, a influenciar fortemente a zona de fronteira a norte da diocese, enquanto a Ordem Militar de Santiago, já fixada em Alcácer, pelos anos de 1175, ocupou uma larga faixa de território, ao longo de todo o litoral alentejano e até à península de Setúbal21. A sujeição destas zonas à influência das ordens militares terá, também, vindo a condicionar a penetração e instalação das outras ordens religiosas, as quais quase esqueceram a região norte e oeste da diocese22.
Com efeito, das formas de vida religiosa que se praticavam no reino de Portugal e por todo o Ocidente, ficaram longe da diocese de Évora as variantes do modelo monástico protagonizadas pelos beneditinos e cistercienses. Os Eremitas de São Paulo da Serra de Ossa e os Jerónimos, duas novas famílias de origem eremítica que em finais do século XIV integraram a forma de vida monástica, constituiram, quase exclusivamente, a única representação deste modelo de vida no além Tejo já que, apesar de se tratarem de instituições que adoptaram observâncias influenciadas pelas práticas mendicantes, não devem deixar de se considerar ordens monásticas23, pelo valor que ambas conferiram ao afastamento do “mundo”, à vida contemplativa e de oração e à vida comunitária, desde que consumada a renúncia ao eremitismo.
Os beneditinos nunca chegaram a ter qualquer mosteiro na diocese e a presença dos cistercienses ficou atestada por uma única fundação, a do mosteiro feminino de São Bento de Cástris que, mais do que reflexo do interesse de Cister pelos territórios do sul, correspondeu a uma necessidade prática de enquadramento institucional de um grupo de mulheres piedosas que viviam em comunidade, num local, junto às muralhas de Évora e que, a conselho do cardeal Pedro Julião, futuro papa João XXI, terão tido a iniciativa de desencadear o processo de filiação da sua comunidade à abadia cisterciense de Alcobaça24.
Quanto aos Jerónimos, uma ordem que se instalou em Portugal a partir de 1400, a sua presença na diocese ficou marcada pela fundação do cenóbio masculino de Nossa Senhora do Espinheiro de Évora. Neste caso, uma fundação levada a cabo pelo bispo metropolita D. Jorge Perdigão e que correspondeu à concretização do projecto de um seu antecessor, D. Pedro de Noronha25. Fundado por bula de Calisto III, de 25 de Novembro de 1457 (bula Pia Deo), o mosteiro foi edificado na periferia de Évora, no lugar onde já existia uma capela dedicada a Nossa Senhora do Espinheiro e veio a destacar-se, entre as várias fundações monástico-conventuais da diocese, pela protecção e frequência de monarcas como D. Afonso V, D. João II e D. Manuel, por ter sido o local eleito para realização das cortes de 1481 e pela importante oficina de pintura que albergou26.
Ainda no seio da grande família monástica, resta-nos a Congregação dos Eremitas de São Paulo da Serra de Ossa27, um movimento de cariz eremítico surgido no Alto Alentejo a partir da segunda metade do século XIV, que embora enquadrado na forma de vida monástica, foi fortemente influenciado por práticas mendicantes, como a autoridade centralizada, a realização de capítulos gerais e de visitações ou a eleição de superiores temporários e não vitalícios, como era prática entre as outras variantes do modelo monástico. Daí podermos sublinhar para a diocese de Évora a implantação de um clero regular com uma configuração bastante distinta do tradicional monaquismo.
Com uma rápida expansão a partir da Serra de Ossa, local de onde partiram vários pobres para reformar alguns lugares ou para fundar novas casas, os homens da pobre vida em pouco mais de um século, entre 1366 e finais do século XV28, instalaram, na diocese de Évora e sobretudo no Alto Alentejo, um total de treze eremitérios. Depois da Serra de Ossa, pelos anos de 1371, fixaram-se no actual concelho de Avis, dando origem ao Mosteiro de Nossa Senhora da Azambujeira de Fonte Arcada, do qual se desconhece a localização precisa; daí, passaram ao Redondo, mais especificamente a Vale Abraão e Vale de Infante, onde fundaram dois eremitérios, respectivamente em 1371 e 1372; depois, instalaram-se em Elvas, Évora, Vila Viçosa, Portel, Borba, Montemor-o-Novo, Guadalupe, na periferia de Évora, Sines e, por fim, Serpa. Nas imediações de vilas e cidades, em locais ermos que designavam como “provenças” e com a protecção régia da dinastia de Avis e o apoio dos concelhos, os eremitas tiveram, de facto, uma expansão espectacular.
Isentos da observação de qualquer regra monástica até 153629, em termos institucionais, estes eremitas, só a partir de 1407 ficaram sujeitos à obediência dos respectivos prelados diocesanos30. Em 1452, receberam, de D. Afonso V, o seu primeiro regimento e, de certo modo, em consequência deste documento normativo, em 1466, as várias casas, vieram a constituir uma irmandade31. Alguns anos mais tarde, a partir de 1482, a congregação era já regida por um provincial, eleito pelos eremitas, para um mandato de três anos, e com incumbências de visitar anualmente as diversas casas32.
Do ponto de vista da vida quotidiana, além de se ocuparem num conjunto de actividades indispensáveis à sua auto-suficiência, como o cultivo das terras em redor das provenças, a criação de gado, os trabalhos de apicultura e de aproveitamento dos recursos das matas e terras baldias, os eremitas dedicaram-se também, e especialmente, a uma intensa actividade de ascetismo e de oração. A prática litúrgica, comprovada pela multiplicação de concessões pontifícias para que os eremitas pudessem ter altar portátil e sacerdote que lhes ministrasse os sacramentos e servisse como confessor, sobretudo a partir dos primeiros anos do século XV, foi também uma realidade do seu dia-a-dia33.
A forma de vida canónica, nascida da aplicação do ideal monástico à vida clerical34 e de que foram especiais protagonistas, em Portugal, os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, tal como o monaquismo beneditino, difundiu-se, desde cedo, nos territórios portucalense e conimbricense. Para sul, ainda que com um acesso teoricamente facilitado à região de Évora, pela presença de um significativo património dos mosteiros de cónegos de Santa Cruz e de São Vicente de Fora35, o Tejo parece ter funcionado como uma barreira intransponível a estas instituições, já que para lá da sua linha, até 1540, com excepção da Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista (Lóios), nunca nenhuma outra Ordem da família canónica fundou qualquer casa36.
A congregação, dos Cónegos Seculares de São João Evangelista, uma ordem portuguesa fundada, na região de Lisboa, no início do século XV e com o objectivo de contribuir para a reforma do clero em Portugal, até ao início do século XVI, viveu a sua fase de maior esplendor. Foi, precisamente, durante esse período de afirmação que os Lóios puseram em funcionamento o seu convento de Évora (149137) e pouco mais tarde, entre 1526 e 1532, o convento de Nossa Senhora da Assunção de Arraiolos. Ambas as casas fundadas por iniciativa de membros da nobreza e, desde cedo, agraciadas pelo poder régio38.
Mas, o Sul das planícies, da falta de chuva, das poucas correntes fluviais, das culturas de sequeiro e dos oásis urbanos no meio de vastas planuras39, foi especialmente marcado pelos movimentos religiosos mendicantes, surgidos no século XIII e que traziam a novidade de uma nova forma de vida religiosa. Esta, “reproduzia e readaptava, em face de novas exigências, duas das tradicionais expressões da vida religiosa associada: a canónica e a eremítica, que surgiam renovadas pela insígnia da pobreza mais absoluta, até à total expropriação, mesmo comunitária, à qual se foram acolhendo os diversos grupos mendicantes que entretanto se constituíram”40. Três características fundamentais sintetizavam a forma de vida mendicante: primeiramente, a ideia de pobreza colectiva e de renúncia a qualquer tipo de propriedade terrena, a qual era substituída pela mendicidade; depois, a novidade de que os mendicantes não eram monges e que, com uma vocação fundamentalmente assente sobre o apostolado, a palavra e a acção, os novos religiosos rejeitavam a clausura e por isso se instalavam entre os homens, tentando dar uma resposta diferente aos desafios colocados pelo incremento urbano e, por fim, outra das características mais originais dos mendicantes teve a ver com a sua estrutura organizativa, a qual esteve na origem da noção canónica de ordo41. Na base das instituições religiosas fundadas anteriormente, não existia a noção de Ordem42 mas sim a de mosteiro, de comunidades locais organizadas sob a autoridade de um abade que, mais do que Ordens, constituíam federações de mosteiros autónomos.
Com efeito, os mendicantes assumiam uma configuração bastante distinta do tradicional monaquismo, baseado numa ideia de abandono do mundo em busca da perfeição e da união com Deus. Os mendicantes distinguiam-se dos monges por não dar primazia à vida contemplativa, nem à liturgia, mas por privilegiarem a imitação de Cristo no exercício de actividades caritativas e de pregação e por praticarem uma religião mais humana, afectiva e acessível a todos os fiéis leigos.
Foi, de facto, este novo modelo religioso que dominou a implantação do clero regular em toda a diocese de Évora. Ultrapassada a fase de reconquista dos territórios a sul do Tejo, na segunda metade do século XIII a cidade de Évora foi marcada por uma nova fase de desenvolvimento de que foi testemunho, um crescimento sustentado da população e o incremento da vida económica. Em finais da centúria de duzentos, de acordo com a conjuntura europeia de afirmação do fenómeno urbano, Évora constituía o povoado mais importante de todo o Sul e um dos mais significativos aglomerados urbanos do Reino, a par de cidades como a Guarda ou Coimbra43. Foi neste contexto e, de certo modo, em resposta aos desafios colocados pelo fenómeno urbano que, paulatinamente, as ordens mendicantes se foram instalando por todo o além Tejo.
Os Frades Menores, começando por se fixar, com comunidades masculinas, nas cidades de Évora (1224/1250), Estremoz (1239/1258) e Beja (c.1268), desde os primeiros tempos parecem ter captado uma adesão significativa dos grupos urbanos, já que tanto o convento de Évora como o de Beja corresponderam a instalações propiciadas por doações provenientes de cidadãos locais44. O caso de Estremoz, uma fundação levada a efeito em local doado aos franciscanos pelos freires de Avis, indicia o bom relacionamento encetado entre os frades e um dos principais potentados religioso-militares do além Tejo: a Ordem Militar de Avis45. Até à elevação da catedral de Évora à dignidade metropolítica, os franciscanos fundaram, na diocese, um total de vinte e uma casas, treze para comunidades masculinas e oito para conventos femininos46. O ritmo de implantação não foi homogéneo, intensificando-se, sobretudo, ao longo do século XV e primeira metade do século XVI, em plena fase de afirmação do movimento observante que, em oposição ao conventualismo ou claustra, postulava um respeito integral da regra, pela prática da austeridade e da pobreza no viver quotidiano.
Este ritmo de expansão a Sul do Tejo faz sentido se tivermos em consideração, não só factores de contextualização relativos à história do reino, mas também questões que se prendem com a organização da própria Ordem. No que respeita à história portuguesa do século XIV, vivemos de facto um tempo conturbado e de crise que não foi propício à multiplicação de fundações franciscanas47. Ao longo do século XIV, viveram-se acontecimentos como: a guerra civil de 1319-132448; a última tentativa moura de reconquistar a Península Ibérica, que veio a ser resolvida pela vitória cristã na batalha do Salado, em 134049; a peste negra, de 1348-134950; as guerras fernandinas que se arrastaram entre 1369 e 138251 e, por fim, as guerras entre Portugal e Castela, no contexto da revolução de 1383-138552. Uma sucessão de acontecimentos, que em nada proporcionou estabilidade e uma contextualização favorável à expansão das ordens religiosas53.
No que toca às questões de organização interna dos Frades Menores, estas também terão interferido no ritmo de expansão da Ordem. Integrando a Província de Espanha, desde a sua fundação, em 1219, os franciscanos portugueses vieram a pertencer à Custódia de Portugal da Província de Santiago, que entretanto se constituíra entre 1232 e 1239. A partir de 1272, de acordo com o desmembrar da Custódia de Portugal, os religiosos começaram a dividir-se, datando de 1330, o capítulo provincial em que ficou determinada a constituição da Custódia de Évora. É pois, a partir deste segundo quartel do século XIV que, os frades menores da região a sul do Tejo, institucionalmente começaram a ganhar algum relevo que poderia ser sinónimo de desenvolvimento e expansão, mas a perturbação causada por acontecimentos como a peste negra de 1348-1349, o Grande Cisma do Ocidente, iniciado em 1378, e que levou à divisão da Província de Santiago, ficando as custódias espanholas na obediência do Papa de Avinhão e as portuguesas na do Papa de Roma e, ainda, a agitação proporcionada pelo confronto entre as tendências claustral e observante que, desde os meados do século, se fez sentir no seio da Ordem dos Frades Menores, foram factores de ruptura e instabilidade desfavoráveis à expansão que, então, se poderia esperar.
Assim, foi depois da entrada da observância em Portugal (1392), por mão de frei Diogo Árias, de frei Gonçalo Mariño e de outros frades da Província de Santiago54, assim como depois de resolvido o Cisma do Ocidente, em 1415, que o ritmo de fundações franciscanas no Alentejo se acentuou verdadeiramente verificando-se, entre 142455 e 1500, um total de 6 fundações e, de início do século XVI até 1540, onze56.
No que respeita às restantes ordens que compuseram a família mendicante portuguesa até 154057, apenas a Ordem da Santíssima Trindade para a Redenção dos Cativos não fundou qualquer convento na diocese de Évora. Ao longo do século XIII, e em fase ainda muito instável do território da diocese, os Trinitários fundaram apenas três casas, respectivamente em Santarém, Lisboa e Silves. O século XIV como já referimos, em termos de contextualização, não foi propício à expansão das ordens religiosas no Alentejo58 e, o século XV, época em que foi evidente a multiplicação de fundações por toda a diocese59, para a Ordem dos Trinitários foi um tempo conturbado. Sobretudo a partir de meados da centúria de quatrocentos, a Ordem da Santíssima Trindade foi marcada por graves crises internas e pela acusação de desviar para outros fins, as esmolas que obtinha para redenção dos cativos60. O declínio da Ordem foi tão evidente que no século XVI e até 1566, ano em que Pio V, pela bula Quia Libenter, aprovou os novos estatutos que davam por concluída a reforma dos Trinitários, estes apenas realizaram uma fundação, a do Colégio da Santíssima Trindade de Coimbra, que data de 1552.
Os outros mendicantes que se fixaram na diocese, pregadores, carmelitas, eremitas de Santo Agostinho e mercedários, de acordo com a dimensão que as respectivas ordens alcançaram pelo reino, nunca tiveram uma presença tão relevante como a dos franciscanos, mas contribuíram para o acentuar do fenómeno mendicante no além Tejo. A Ordem dos Pregadores, tal como a dos Frades Menores e a Ordem Militar de Avis, esteve entre as primeiras ordens a fixarem-se na diocese de Évora. Começando por se estabelecerem nas proximidades de Elvas, junto à ermida de Nossa Senhora da Graça, a cerca de meia légua da cidade, os dominicanos alcançaram um tal sucesso junto dos fiéis, que a partir de 1266 receberam as primeiras conceções de terras na cidade e, no início de 1267, receberam, em doação de D. Afonso III, a Ermida de Santa Maria dos Mártires onde, com autorização do bispo de Évora, datada do mesmo ano, viria a ser construído o seu novo convento. O impacto da presença da comunidade entre os fiéis foi tal que, logo no ano em que se instalaram, os frades viveram graves diferendos com o clero regular e se viram obrigados a apelar à intervenção do papa Clemente IV61. Ao longo do período considerado, entre Elvas, Évora e Montemor, os dominicanos fundaram um total de seis conventos, dos quais, quatro reservados a comunidades femininas.
A completar o leque de ordens mendicantes a actuar no território da diocese estiveram, ainda, a Ordem do Carmo, com fundações em Moura, Vidigueira, Beja e Évora; a Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, que em Évora e Vila Viçosa fixaram comunidades masculinas e femininas e a Ordem dos Mercedários que, por iniciativa de Isabel de Aragão, a futura Rainha Santa, fundou em Évora o seu único convento de localização conhecida, em Portugal.
Observada a presença do clero regular na diocese de Évora entre 1165 e 1540 e verificada a especificidade das ordens religiosas dominantes, por um lado a Congregação dos Eremitas da Serra de Ossa e por outro um conjunto de ordens mendicantes, entre as quais se destacou a Ordem dos Frades Menores, resta-nos concluir como as cidades, a geografia humana, a história interna de cada Ordem e questões de carácter externo relacionadas, com a história política do reino, com diversos tipos de crise ou com a história religiosa em geral, tiveram um papel determinante na implantação dos mosteiros e conventos por todo o além Tejo.