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Medievalista
versão On-line ISSN 1646-740X
Med_on no.21 Lisboa jun. 2017
VARIA
“FÁBULA” – XI Colóquio da Secção Portuguesa da Associação Hispânica de Literatura Medieval (Lisboa, 27 e 28 de outubro de 2016). Comissão Organizadora: Ana Paiva Morais, Margarida Reffóios e Teresa Araújo
Isabel Barros Dias*
* Universidade Aberta, Departamento de Humanidades / Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Instituto de Estudos de Literatura e Tradição; Instituto de Estudos Medievais, 1269-001 Lisboa, Portugal. E-mail: isabel.dias@uab.pt
Nos dias 27 e 28 de outubro de 2016, em Lisboa, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, decorreu o XI Colóquio da Secção Portuguesa da Associação Hispânica de Literatura Medieval. O evento marcou a passagem de 20 anos sobre o primeiro encontro desta secção que, desde 1996 e com uma periodicidade bianual, tem feito um périplo por várias universidades portuguesas.
O tema escolhido para o colóquio foi “Fábula”, em sintonia com um projeto sediado no IELT – Instituto de Estudos de Literatura e Tradição (FCSH/NOVA), “A Fábula na Literatura Portuguesa: Catálogo e História Crítica da Fábula na Literatura Portuguesa”. O projeto foi financiado pela FCT entre 2010 e 2013, mantendo-se a linha de estudos viva e atuante, como este colóquio demonstrou.
A conferência de abertura, intitulada “No tempo em que os animais falavam...” esteve a cargo de Aires A. Nascimento, Presidente da SP, dando o mote aos trabalhos subsequentes. Em termos gerais, as comunicações apresentadas durante os dois dias de trabalhos alinharam por dois grandes vetores temáticos: por um lado, o estudo da Fábula em interação com outras formas literárias, ou nelas inseridas e, pelo outro lado, o estudo do significado da presença de alguns animais em textos literários diversos. Começando por este último vetor, destaque-se o contributo apresentado por Maria Angélica Varandas, que se debruçou sobre a figura da doninha nos bestiários medievais, animal sobre o qual é dito que concebe pelo ouvido, um tema passível de várias leituras, com destaque para as de cariz cristão. Mário Martins, por seu turno, analisou a presença e a função de alguns animais em cantigas satíricas galego-portuguesas. De caráter mais geral foi a comunicação de Marcos Roberto Nunes sobre o papel psicopedagógico da arte nas obras da teatróloga medieval Rosvita de Gandersheim.
Foram vários os estudos que incidiram sobre as relações que a Fábula tem mantido com outras formas literárias. Margarida Alpalhão explorou as fronteiras entre Fábula e Diálogo; Isabel Barros Dias colocou a hipótese de algumas narrativas sobre sonhos que incluem animais, reportadas em crónicas, terem alguns pontos de contacto com a Fábula; e Manuela Faccon analisou as metamorfoses sofridas por algumas fábulas inseridas nas traduções ibéricas da Confessio Amantis. A articulação entre fábulas e romance foram exploradas por Ana Margarida Chora e Ana Rita Martins. Enquanto que o contributo da primeira incidiu sobre o corpus do romance arturiano produzido em França, estudando as fábulas da aventura do Graal, a comunicação da segunda explorou a figura do leão, articulando romances medievais ingleses não arturianos com fábulas e com os significados que os Bestiários atribuem a este animal.
O estudo das funções desempenhadas por fabulários específicos contou com duas comunicações: Luciano Baptista Pereira identificou diversas características ideológicas significativas existentes nas fábulas morais e políticas manuscritas e oferecidas à Seriníssima Senhora Princesa da Beira por Fedro Lusitano, no ano do seu nascimento, em 1793; enquanto que Teresa Araújo analisou três coleções de fábulas impressas com dedicatórias a jovens figuras reais, refletindo sobre as suas finalidades didáticas, em convergência com Regimentos de Príncipes. Dois contributos consideraram ainda a Fábula desde o ponto de vista da retórica. Margarida Espiguinha debruçou-se sobre a funcionalidade semântica e retórica de algumas fábulas inseridas no Horto do Esposo, e Ana Paiva Morais refletiu sobre a articulação entre Fábula, o seu ideal de clareza e a obscuritas, na Idade Média.
A ligação entre a Fábula e outros domínios, onde o seu impacto se fez sentir, foi assegurada pela conferência de Ana Duarte Rodrigues intitulada “As fábulas de Esopo no Jardim. O Jardim nas fábulas de Esopo”. O colóquio terminou com chave de ouro e muito humor, graças à conferência de encerramento apresentada por Vicenç Beltran, Presidente da AHLM, que se debruçou sobre um ciclo de poemas trovadorescos satíricos, passíveis de serem lidos como expressão de um importante conflito que opôs alguns elementos da alta nobreza peninsular ao rei Afonso X.
Graças à diversidade e ao interesse dos contributos e dos debates que tiveram lugar, o colóquio terá enriquecido todos aqueles que participaram no evento, estando, por conseguinte, as suas organizadoras de parabéns. O próximo colóquio da Secção Portuguesa da Associação Hispânica de Literatura Medieval ficou, desde logo, marcado para 2018, tendo como tema “O Medievalismo no século XXI”.
COMO CITAR ESTE ARTIGO
Referência electrónica:
DIAS, Isabel Barros – “FÁBULA” – XI Colóquio da Secção Portuguesa da Associação Hispânica de Literatura Medieval (Lisboa, 27 e 28 de outubro de 2016). Comissão Organizadora: Ana Paiva Morais, Margarida Reffóios e Teresa Araújo”. Medievalista [Em linha]. Nº 21 (Janeiro – Junho 2017). [Consultado dd.mm.aaaa]. Disponível em http://www2.fcsh.unl.pt/iem/medievalista/MEDIEVALISTA21/dias2113.html.
Data do texto: 4 de Novembro de 2016