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Medievalista

versão On-line ISSN 1646-740X

Medievalista  no.35 Lisboa jun. 2024  Epub 31-Dez-2023

https://doi.org/10.4000/medievalista.7734 

Artigos

Do Akhbār Mulūk al-Andalus [Notícias dos Monarcas da Hispânia] à Crónica do Mouro Rasis:o percurso milenar de um texto mítico (séculos X - XXI)

From Akhbār Mulūk al-Andalus [News from the Monarchs of Hispania] to Crónica do Mouro Rasis: the millenary journey of a mythical text (10th - 21st centuries)

1. NOVA FCSH - Instituto de Estudos Medievais Campus de Campolide, 1099-085 Lisboa, Portugal; antoniorei@fcsh.unl.pt


Resumo

Uma obra e um mito, cujo percurso começou no século X, nos meios da Chancelaria Califal de Córdova, durante o reinado de ‘Abd al-Raḥmān III, e cujos conteúdos e informações ainda hoje se mantêm válidos e suscitando vários e variados estudos.

Obra a que está vinculado um nome, “al-Rāzī”, cuja versão latinizada, “Rasis”, acabou colada à primeira tradução para português, que desde o século XIII passou a transmitir aquela memória, e depois para a tradução da versão portuguesa para castelhano, onde se fixou.

O texto que serviu de base àquela primeira tradução portuguesa, e a partir da qual surgiu a atribuição a “Rasis”, já era, de facto, a obra de Ibn Ġālib, uma refundição do século XII.

O texto da primeira tradução passou por várias mãos, lugares e situações até desaparecer no Terramoto de 1755.

A tradução castelhana e a Crónica Geral de Espanha de 1344, que teve aquela primeira como fonte, permitiram reconstituir o texto da tradução perdida.

Ao longo dos séculos XIX e XX, edições e traduções de textos árabes suscitaram a ideia de uma possível recriação da matriz árabe perdida.

Palavras-chave: al-Rāzī; Rasis; Akhbār Mulūk al-Andalus; Livro de Rasis; Crónica do Mouro Rasis

Abstract

A work and a myth, whose journey began in the 10th century, in the Califal Chancellery of Córdoba, during the reign of ‘Abd al-Raḥmān III, and whose contents and information are still valid today and giving rise to several and varied studies.

A work to which a name is linked, “al-Rāzī”, whose Latinized version, “Rasis”, ended up being glued to the first translation into Portuguese, which since the 13th century began to transmit that memory, and then to the translation of the Portuguese version into Castilian, where it settled.

The text that served as the basis for that first Portuguese translation, and from which that attribution to “Rasis” arose, was already, in fact, the work of Ibn Ġālib, a 12th century recast.

The text of the first translation passed through several hands, places and situations until it disappeared in the earthquake of 1755.

The Castilian translation and the Crónica General de Espanha of 1344, which had the former as its source, allowed us to reconstruct the text of the lost translation.

Throughout the 19th and 20th centuries, editions and translations of Arabic texts raised the idea of ​​a possible recreation of the lost Arabic matrix.

Keywords: al-Rāzī; Rasis; Akhbār Mulūk al-Andalus; Livro de Rasis; Crónica do Mouro Rasis

Introdução

O percurso textual que nos ocupa teve o seu início no labor literário que se desenvolveu nos círculos letrados próximos a ‘Abd al-Raḥmān III e contemporâneos do início do poder califal no al-Andalus.

Tomou forma integrando fontes de cariz historiográfico e geográfico, e entre as quais foram incorporadas, por via moçárabe, informações provenientes de fontes latinas tardo-antigas e visigóticas, procurando ligar dessa forma o novo poder califal islâmico aos anteriores poderes, de tipo “imperial”, que tinham vigorado na Hispânia, respetivamente o romano e o visigótico1.

Além da argumentação jurídica islâmica que teria de justificar o porquê do surgimento de um califado quando existia um outro califa sunita em Bagdad2, argumentação essa que fala na fraqueza do califado abássida ante a emergência xiita fatímida no Norte de África3, constata-se a busca de recuperação e apropriação das anteriores memórias imperiais ligadas à Hispânia, quer fossem memórias de origem romana quer fossem de origem visigótica.

Fig. 1 Estema dos percursos textuais das heranças dos Al-Rāzī 

1- Percursos andalusis

Akhbār Mulūk al-Andalus [Notícias dos Monarcas da Hispânia] (AMA)

Esta obra, cujo texto árabe original é dado por perdido, tratar-se-ia de uma coletânea de Crónicas califais, dos reinados de ‘Abd al-Raḥmān III (912-961), de al-Ḥakam II (961-976), e chegaria, pelo menos, ao início do reinado seguinte, o de Hišām II, atendendo a que não se constata qualquer notícia referente a este último monarca, se tomarmos o que sobreviveu nas crónicas romances4.

A obra procuraria, para além dos relatos respeitantes aos reinados em causa, ir mais longe, a montante, buscando descrever geograficamente a Península Ibérica e, simultaneamente, historiar todos os povos que antes do califado andalusi aqui tinham estado e vivido “desde a descendência de Noé”5.

A essa obra ficou associado indelevelmente o nome al-Rāzī, nome de família dos dois cronistas, respetivamente, Aḥmad (888-955) e ‘Īsā (925-989) al-Rāzī, pai e filho6, o qual acabou fazendo história, até ao presente.

A coletânea em causa veio a ser fonte para obras andalusis posteriores, entre as quais sobressaem duas do século XI: a obra historiográfica Al-Muqtabis, de Ibn Ḥayyān, que era filho de um secretário do ḥājib al-Manṣūr7; e uma segunda obra, esta geográfica e que aqui e agora nos interessa mais, o Kitāb al-Masālik wa l-Mamālik, obra geográfica de Al-Bakrī, diplomata, geógrafo, poeta, filólogo e botânico. Sendo esta última uma obra vasta, infelizmente até ao presente não se conhece qualquer manuscrito onde a parte relativa a al-Andalus não esteja omissa, ou seja, também esta é dada por praticamente perdida8.

No século XII, os chefes do movimento almóada, quando se estabeleceram em al-Andalus, perceberam que aquele movimento tinha que abandonar as suas origens algo heterodoxas, e procurar uma legitimação islâmica através da associação do seu poder à memória do passado califal omíada andalusi9.

Para concretizar esse objetivo, e entre outras iniciativas, foi encarregado Ibn Ġālib, letrado andalusi que viveu no século XII, de dedicar-se à composição de uma grande obra (Farḥat al-anfus), geográfica e historiográfica, sobre al-Andalus10. Para essa composição, Ibn Ġālib tomou como modelo as antes referidas Crónicas califais, as Akhbār Mulūk al-Andalus, e delas terá reproduzido a organização textual, para além de muitos conteúdos provenientes dos dois al-Rāzī. No entanto, por Ibn Ġālib ter usado também conteúdos provenientes da obra Kitāb al-Masālik wa l-Mamālik, de al-Bakrī, acabou por complexificar, para futuro, e até ao presente, as questões em torno da estratigrafia textual da sua própria obra11.

Da obra de Ibn Ġālib evidenciam-se dois aspetos principais: uma função jurídica-teológica, buscando ligar-se diretamente à memória do califado omíada, certificando a nova “ortodoxia” do movimento almóada; e uma função pragmático-administrativa, pois ao descrever pormenorizadamente o espaço peninsular, suas regiões, núcleos urbanos, eixos viários e riquezas naturais, permitia uma mais fácil taxação fiscal de cada região12.

O facto de fazer a descrição do al-Andalus “no ano de 400 h. [1009 d.C.]”, como surge no título que, na fonte, antecede todo o périplo discursivo e descritivo, remete para o momento último do grande poder omíada em al-Andalus, já que a realidade territorial andalusi em meados do século XII era bastante menos extensa do que um século e meio antes13.

O texto árabe da obra de Ibn Ġālib também se considera perdido14, subsistindo apenas um resumo da mesma. A versão mais extensa dessa obra será a que foi traduzida, de árabe para português, e que ficou conhecida como “Livro de Rasis”.

O Livro de Rasis

O chamado Livro de Rasis15, que desta forma seria designado no texto da tradução original portuguesa, traduzindo corretamente a expressão árabe Kitāb al-Rāzī, foi o produto de uma tradução de árabe para português, de um exemplar da obra de Ibn Ġālib, levada a cabo no âmbito da corte senhorial dos Aboim-Portel, João Peres de Aboim (m. 1281) e seu filho Pero Eanes de Portel (m. 1314)16.

É possível que a obra tivesse chegado às mãos daqueles Senhores em Silves, algures entre 1264 e 1267, durante o período em que ambos foram os “tenentes do Algarve”, em pleno diferendo entre Afonso III de Portugal e Afonso X de Leão e Castela, relativamente à posse do Algarve17.

Aquela tradução decorreu dentro de uma orgânica colegial, seguindo o modelo afonsino: com um leitor e um redator, e sendo a tradução feita diretamente para a linguagem vernácula18.

A tradução, e principalmente a redação, terá decorrido entre 1279, após a morte do Rei Bolonhês, e 1314, quando faleceu Pero Eanes de Portel19.

Sendo João Peres alguém que tudo devia a Afonso III, não seria pacífica uma exaltação daqueles senhores em função do seu papel no Algarve, face ao valor político e diplomático do monarca para conseguir, de facto, aquele disputado território a sul.

Sublinhamos este aspeto porque se constatam, no texto do Apartado Geográfico, algumas interpolações textuais de cariz laudatório para com os Aboim-Portel, destacando as regiões de maior importância para a construção da memória senhorial daquela linhagem, com especial relevo o Algarve20.

Esta obra, direta ou indiretamente, acabou por vir alterar o modo como, em parte da cronística peninsular posterior, se concebe o elogio e a descrição da Espanha, levando ao abandono, definitivo, do modelo textual que se iniciara com a Crónica Moçárabe de 754 e que chegara até às grandes produções historiográficas do Rei-Sábio, em que a Laude isidoriana surge acompanhada do dolo moçárabe. No pós-1344, e remontando ao traduzido Livro de Rasis, encontramos em algumas crónicas da Baixa Idade Média Peninsular a laude islâmica, de origem califal21, num novo modelo textual, digamos que mais “raziano”, da cronística cristã peninsular22.

3- Na Cronística Peninsular Baixo-Medieval

Entre o Livro de Rasis e a Crónica do Mouro Rasis

O Livro de Rasis, com origem no âmbito senhorial dos Aboim-Portel, não terá sido o produto de uma empresa literária desconhecida de um genro de Pero Eanes de Portel, o letrado historiador e genealogista D. Pedro Afonso, filho ilegítimo do rei D. Dinis e mais tarde 3.º Conde de Barcelos23.

Alguns momentos marcantes da vida de D. Pedro terão originado algumas das diferentes cópias da obra, que resultaram em diferentes trajetos futuros e das quais conseguimos identificar, pelo menos, três variantes textuais com origem na tradução de Livro de Rasis, e que identificámos como α, β e γ24.

Testemunho α: o texto original de Livro de Rasis, que depois terá sido confiscado ao Conde D. Pedro, quando este, em virtude da sua posição durante a guerra civil que confrontava seu pai D. Dinis com o seu irmão e herdeiro D. Afonso, se exilou em Castela, entre 1317 e 132225.

O Livro de Rasis terá ficado nos meios literários da Corte Régia, e a sua presença constata-se lá, um século mais tarde, dentro dos labores literários que tomaram forma na fase pós-conquista de Ceuta, quando há que começar a construir uma nova historiografia para uma nova dinastia que acabara de se legitimar em África. O Livro de Rasis foi usado como fonte, numa dupla elaboração que terá decorrido praticamente em simultâneo: uma, a da chamada Crónica de Portugal de 1419; e a outra, mais extensa, a da versão de 1420 da Crónica Geral de Espanha de 1344, a qual apresenta particularidades textuais que se vão reproduzir nos testemunhos portugueses posteriores, Li e Ev, mas que já não se voltam a encontrar nas Crónicas castelhanas posteriores com origem comum na C134426.

Veremos mais adiante o trajeto deste testemunho original do Livro de Rasis.

Testemunho β: a cópia que o Conde D. Pedro terá levado para o seu exílio em Castela. Quando perdoado por seu pai D. Dinis e preparado para regressar a Portugal, D. Pedro terá deixado aquele texto a D. João Manuel, Senhor de Vilhena (1282-1349), o qual depois o terá traduzido para castelhano27. Desta primeira tradução castelhana terá saído o ms. Ca, (redigido por volta de 1430) e, mais tarde, sucessivamente, os mss. Mo e depois o Es28 .

É a partir desta sequência textual castelhana que surgiu a designação, que perdurou, de Crónica do Mouro Rasis, e de tal forma se popularizou que remeteu para a sombra a designação portuguesa original de Livro de Rasis.

Testemunho γ: a cópia que D. Pedro, após o seu regresso de Castela, terá obtido e que veio a usar, mais tarde, na composição da sua Crónica de 1344.

A Crónica Geral de Espanha de 1344 (C1344)

A Crónica Geral de Espanha de 1344 no seu apartado historiográfico apresenta significativas diferenças relativamente a outras crónicas gerais anteriores, nomeadamente até Afonso X, no entanto, a descrição geográfica é uma cópia praticamente textual do que surgia no Livro de Rasis.

Relativamente à Crónica original, do Conde D. Pedro de Barcelos, de 1344 (C1344p), não subsiste qualquer testemunho português.

Da tradução castelhana da anterior (C1344e), conhecem-se apenas dois testemunhos, o ms. M e o ms. E29.

No final do século XIV foi redigida uma segunda versão portuguesa da C1344, de autor anónimo, e que apontamos para cerca de 1400 (V1400p&e)30. Esta versão também foi traduzida para castelhano. Não se conhece qualquer testemunho português desta versão. Subsistem, entre outros mais recentemente identificados, os mss. castelhanos U, S, V e Q31.

No final da segunda década do século XV, e em consequência da vitoriosa empresa portuguesa em África com a conquista de Ceuta, teve lugar uma terceira versão da C1344 (V1420p), que terá sido levada a cabo, conjuntamente ou em paralelo, com a produção da Crónica de Portugal de 141932. A versão de 1420 foi retocada a partir do Testemunho α do Livro de Rasis, pois os textos portugueses que remontam àquela versão, ao menos no apartado geográfico, são mais completos do que os das anteriores versões. Daquela versão, da qual não há testemunhos castelhanos, subsistem dois mss. pouco posteriores, dos meados do século XV, mss. L e P; e ainda dois outros, mais tardios, do século XVII, os mss. Li e Ev33.

Historia del Moro Rasis, (HMR) foi nome com que Ambrosio de Morales (1513-1591) identificou a obra de onde copiou o excerto do ms. E. A HMR, entendida então como uma cópia parcial da primeira tradução castelhana do Testemunho β, seria, de facto uma cópia parcial de um dos mss. castelhanos da C1344, eventualmente o ms. M34. Este ms. E de Ambrosio de Morales virá a ter um papel importante no século seguinte, como veremos adiante.

4- Entre o Humanismo e o Cataclismo

A saga do ms. inicial do Livro de Rasis

O testemunho α, que seria o texto original ou o mais próximo do LR e que tinha sido usado nos meios cronísticos régios portugueses do início do século XV, chegou à posse do humanista André de Resende no século seguinte, provavelmente durante o período entre 1533 e 1540, quando o erudito eborense esteve na Corte portuguesa, onde foi mestre de línguas clássicas e teólogo de vários dos filhos do rei D. Manuel, designadamente os Infantes D. Duarte, D. Afonso e D. Henrique35.

Daquele texto Resende traduziu alguns excertos para latim. O envio que Resende fez de excertos do LR, em latim, a alguns humanistas europeus, como João Vaseo e Bartolomeu Quevedo36, deu azo a que, mais tarde, fosse aventada a hipótese de que, entre os séculos XIII e XIV, durante a fase inicial de tradução, tivessem existido duas traduções, uma para português e outra para latim. A confirmar-se, terá sido uma metodologia já então ultrapassada, mesmo em Leão e Castela37.

O manuscrito em causa ficou em herança ao filho de André, Barnabé de Resende, que o terá facilitado a Duarte Nunes de Leão, que o usou38.

Após a morte de Barnabé de Resende, em 159639, grande parte do espólio, que lhe chegara de seu pai, foi posto em venda, e aquele ms., logo nos primeiros anos do século XVII, já estava na posse do erudito e polígrafo Manuel Severim de Faria, Chantre da Sé de Évora40. Tendo este falecido em 1655, a sua extensa biblioteca e as suas coleções passaram ao seu sobrinho, Gaspar de Faria Severim, que a estimou e ampliou41. Por intermédio do casamento da filha de Gaspar, D. Maria Francisca de Noronha, na casa dos Condes do Vimieiro, todo aquele extenso espólio bibliográfico, em que se incluía o manuscrito que fora de Resende, passou para a posse dos Condes do Vimieiro42.

A presença daquele manuscrito na biblioteca do Palácio dos Condes do Vimieiro, em Lisboa, foi referida em 1724 na então muito recente Real Academia da História. Aquela notícia bibliográfica foi feita pelo Conde da Ericeira, que sucintamente identificou e descreveu o manuscrito em causa. A destruição daquele Palácio no vórtice do Terramoto de 1755, e da perda de grande parte da sua biblioteca, levou ao desaparecimento do manuscrito em causa43.

5- A dinâmica da erudição barroca espanhola

Nos meios letrados espanhóis do séc. XVII foi levado a cabo um empreendimento literário e erudito, e o objetivo do mesmo era reconstituir, o mais completamente possível, o texto “original” da já então designada Crónica del Moro Rasis (CMR), a partir de dois mss.: o Ca (de Toledo) e o E (de Ambrosio de Morales), considerados os mais completos, em conteúdos e na correção textual.

O método era comparar ambos os mss. e procurar suprir as lacunas de um, pelo que a mais se encontrasse no outro, ou seja, buscar produzir um género de “somatório textual” assim considerado mais completo, da CMR.

Os vários exemplares que foram produzidos por aquele processo, ficaram designados como “os híbridos do século XVII”, e até meados da década de 70 do século XX, conheciam-se quatro: um em Copenhaga, dois em Madrid e um em Paris. Um número hoje largamente ultrapassado44.

Em forma propedêutica, prévia àquela pretendida reconstituição, foi feita uma redação-sondagem comparativa entre ambos os textos referidos. Um exemplar, o único conhecido até hoje, daquela redação prévia é o que consta no ms. LV, texto castelhano, que está no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa.

O texto em causa contém uma cópia do ms. E, devidamente identificada na parte introdutória do mesmo, e nas margens da mancha de texto surgem notas informativas, sempre que se constatavam diferenças textuais entre o ms. E e o ms. Ca, geralmente lacunares, de um deles em relação ao outro45.

6- A visão das Luzes

Depois de todo aquele esforço de reconstrução erudita e de uma proto-crítica textual que teve lugar durante o século XVII, em Espanha, o “Século das Luzes” vai proporcionar, relativamente a este tema, um cenário praticamente oposto.

A abordagem crítica e validação documental seguidas pelas Luzes, em grande parte muito mais associadas aos estudos linguísticos do que aos contextos históricos e historiográficos, acabou considerando a Crónica do Mouro Rasis ou Cronicão de Rasis como uma mistificação literária, uma fraude textual medieval e à qual se atribuía uma origem árabe apenas por questões de autoridade.

Entre os principais detratores espanhóis da CMR, no seio dos homens das “Luzes” do século XVIII ao primeiro terço do século XIX, destacam-se Gregorio Mayans (1699-1781), Miguel Casiri (1710-1791), Jose Antonio Conde (1766-1820) e Diego Clemencín (1765-1834)46.

Parecia que o assunto “Crónica do Mouro Rasis” estava definitivamente encerrado, em consequência da grande descredibilização que aquela plêiade de eruditos vinha avolumando ao longo de quase uma centúria.

7- Al-Rāzī / Rasis resgatado

Pascual de Gayangos, arabista espanhol que na década de 30 do século XIX, estudara e traduzira de árabe para inglês, e publicara a obra de al-Maqqarī, autor magrebi do século XVII d.C., e que usara textos remontando aos al-Rāzī47, ao confrontar-se com o texto da Crónica del Moro Rasis, deu-se conta de que havia muitas semelhanças e coincidências textuais entre o texto da Crónica e o que ele conhecia a partir dos textos de al- Maqqarī.

Ou seja, era, de facto, possível identificar a origem árabe do texto da Crónica. Não se tratava, portanto, de um texto ficcionado e a que fora atribuída uma também mitificada autoria árabe, como tinham postulado os homens das “Luzes” em Espanha, numa análise depreciativa e negativista da CMR.

Em consequência daquela identificação, em 1852, Gayangos, com a Memória apresentada à Real Academia da História de Madrid, acabou resgatando, definitivamente, o tema, a obra e a questão da sua autoria. A partir daquele momento o tema ficou, de novo e cientificamente, relançado, após o período sombrio das “Luzes”.

8- Recuperação do tema

Após a recuperação da obra e da área temática por Pascal de Gayangos, não houve, no entanto, avanços muito substanciais, porque então ainda não estavam identificadas, estudadas e publicadas muitas obras árabes que permitissem um consistente estudo comparativo com o texto da CMR.48

Terá que chegar o final da centúria de Oitocentos, e mesmo de entrar já o século XX para que Ramón Menéndez Pidal primeiro, e mais tarde, Claudio Sánchez-Albornoz, confirmassem a origem árabe da História pré-islâmica presente na Crónica, sob a qual até então subsistiam dúvidas49.

9- Em busca do texto perdido

A partir de meados do século XX começou a surgir um volumoso e muito importante conjunto de textos, estudos, edições e traduções, que alteraram substancial e definitivamente o panorama desta área temática.

Entre eles o estudo e a edição da C1344, levados a cabo por L. F. Lindley Cintra (1951-61), a partir da sua tese de doutoramento. O estudo prévio à edição demonstrou a ligação textual direta entre a CMR e a C1344, mas também que a origem da C1344 era efetivamente portuguesa.

Pouco depois e correlacionado com o ponto anterior, em 1953, E. Lévi-Provençal propôs uma reconstituição da parte geográfica da CMR, usando para tal o excerto geográfico da C1344 que Lindley Cintra lhe tinha facultado, e que o investigador francês considerou muito mais próximo do texto da primitiva tradução do que os diferentes testemunhos castelhanos50.

Na primeira metade da década de 70 Diego Catalán Menéndez Pidal e María Soledad de Andrés levaram a cabo duas obras de referência, incontornáveis e monumentais: os estudos e as edições pluritextuais dos diferentes testemunhos da C1344, em 1971, e identicamente para a CMR, em 197551.

Àquelas obras associaram-se, ainda, também durante as décadas de 50 e 60, as edições e as traduções de várias fontes árabes, entretanto identificadas, e com a vantagem de se tratar de autores que tinham sido recetores dos dois al-Rāzī: Ibn Ġālib (1955), Ibn Sa‘īd (1964), al-‘Uḏrī (1965), al-Bakrī (1968), e Ibn al-Šabbāt (1971)52.

Em síntese, durante o período entre 1951 e 1975, assistiu-se globalmente a uma autêntica ‘explosão bibliográfica’, sobretudo ao nível da edição de fontes, tanto romances como árabes.

Por um lado, os vários testemunhos cronísticos cristãos da perdida obra raziana, depois de devidamente analisados e identificados, começaram a ser objeto de edições críticas, por vezes em formato pluritextual.

Por outro, nuns escassos 16 anos, ocorreu um extraordinário ciclo de edição de fontes árabes, direta ou indiretamente devedoras dos al-Rāzī, aumentando em muito o número de textos disponíveis com informações sobre a geografia hispânica, que logo começaram a ser disponibilizados ao conjunto dos medievalistas ibéricos.

Nunca a reconstituição do “al-Rāzī árabe perdido” parecera tão próxima. O meio científico exalava um clima de entusiástica expectativa53.

10- Conclusões no início do século XXI

A reconstrução do texto árabe das Akhbār Mulūk al-Andalus originais é bastante difícil, para não dizer impossível, por uma série de razões. Para uma aproximação textual à matriz árabe, temos que:

  1. Ibn Ġālib, no século XII, usou a obra dos dois al-Rāzī, mas também usou a de al-Bakrī, o qual é igualmente devedor àqueles, causando uma certa “sobreposição textual” difícil de destrinçar;

  2. Na parte historiográfica, nunca poderão ser postos de parte os excertos recolhidos por Ibn Ḥayyān, ainda que este não tenha copiado integralmente o texto dos al-Rāzī;

  3. O apartado historiográfico foi sendo, sucessivamente, muito alterado por várias re-escrituras do texto, já nos âmbitos das cronísticas cristãs peninsulares;

  4. Relativamente ao apartado historiográfico, devem ter-se também em muita atenção as fontes cristãs latinas, romances ou árabes, como os textos de Rodrigo Ximénez de Rada e a Crónica Pseudo-Isidoriana, esta nas várias versões.

Relativamente à parte geográfica do Livro de Rasis, ao menos a matriz árabe (proveniente de IG) do texto do Apartado Geográfico, e que subsiste nas CMR e C1344, pode ser reconstruído, com grande proximidade, a partir das fontes geográficas árabes, em especial as andalusis e ou magrebis54.

11- A força do mito

Subsistem, é certo, possibilidades de reconstruções textuais, ainda que no mito a sua força e o seu desafio se reforcem pela quase intangibilidade.

Tantas perdas textuais, uma quase aparente maldição, ao longo de tantos séculos, avolumaram as dificuldades ao propósito reconstrutivo, mas poder tocar o mito de perto, de forma algo reiterada, é por vezes mais apetecível do que resolver o próprio mito, para que o mesmo não perca o seu encanto.

Contribuamos, pois, para procurar esclarecer o mito, mas façamos com que o mesmo possa subsistir.

Fontes

Fontes impressas

AL-MAQQARĪ - History of the Mohammedan Dynasties of Spain. Trad. Pascual de Gayangos. Londres, 1840-1843.

Crónica de Portugal de 1419. Edição crítica com introdução e notas por Adelino de Almeida Calado. Aveiro: UA Editora, 1998.

Crónica del Moro Rasis. Ed. Diego Catalán e María Soledad de Andrés. Madrid: Gredos, 1975.

Crónica Geral de Espanha de 1344. Ed. L. F. Lindley Cintra. 3 vols. Lisboa: Academia Portuguesa de História, 1951-1961.

IBN ĠĀLIB - Farḥat al-anfus. Ed. Luṭfī ‘Abd Al-Badī. Revista del Instituto de Manuscritos Arabes I/2 (1995), pp. 272-310.

IBN ĠĀLIB - “Una descripción de España de Ibn Gâlib”. Trad. parc. cast. Joaquín Vallvé Bermejo. Anuario de Filología 1 (1975), pp. 369-384.

I edición crítica del texto español de la Cronica de 1344 que ordenó el Conde de Barcelos don Pedro Alfonso. Ed. Diego Catalán e María Soledad de Andrés. Madrid: Gredos, 1971.

Financiamento

“Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito da Norma Transitória - DL 57/2016/CP1453/CT0072”

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1 REI, António -O Louvor da Hispânia na Cultura Letrada Peninsular Medieval. Das suas origens discursivas ao Apartado Geográfico da Crónica de 1344. Lisboa: Universidade Nova de Lisboa, 2007.Tese de Doutoramento, pp. 36-37 e 121-123.

2A transgressão da ordem islâmica desobedecendo ao ‘vigário do Profeta’ (Khalīfa) canonicamente reconhecido, foi transposta e anulada através da assunção, por parte de ‘Abd al-Raḥmān III, da titulatura de “Al-Qā‘im bi amri-llah (“O que se ergue pelo Poder de Deus” ou “O que se ergue com o Poder de Deus”); LÉVI-PROVENÇAL, Evaristo - España Musulmana (711-1031). Vol. IV de Historia de España. Dir. Ramón Menéndez Pidal (HE-MP), 4.ª ed. Madrid: Espasa-Calpe, 1976, p. 366, n. 125) e dessa forma assumir uma condição de “Mahdī bi’llah” (“O Guiado [por Deus]”), o personagem de cariz escatológico e messiânico que restabelecerá a justiça no mundo (sobre o ‘Mahdī’, v. MEDELUNG, W. - “Al-Mahdī”. In Encyclopedia of Islam, 2.ª ed., 13 vols. Eds. H. A. R. Gibbs et al., Leiden-Paris: E. J. Brill & Maisonneuve et Larose, 1960-2006 (E.I.2), vol. V (1986), pp. 1230-1238; LAOUST, Henri - Les schismes dans l’islam. Paris: Payot, 1977. Ainda sobre as estratégias de legitimação e as titulaturas assumidas por ‘Abd al-Raḥmān III, ver, respetivamente, SAFRAN, Janina M. - The Second Umayyad Caliphate. The Articulation of Caliphal Legitimacy in al-Andalus. Harvard: Middle Eastern Monographs 33, 2001 e FIERRO, Maribel - Abd Al-Rahman III: The First Cordoban Caliph. London: Oneworld Publications, 2012.

3Diante dos progressos dos Fatímidas no Norte de África, “ ‘Abd al-Raḥmān III “constatant l’extreme faiblesse du califat de Bagdad” prenait le titre califien “d’émir des croyants” ” (LAOUST, Henri - Les schismes dans l’islam, p. 143). Ver também sobre esta questão LÉVI-PROVENÇAL, E. - “Omeyyades d’Espagne”. In E.I. 2 , IV (1978), p. 1062; LÉVI-PROVENÇAL, E. - HE-MP, IV, pp. 321-325. Para uma visão global de todo o fenómeno fatímida, v. EL FASI, Mohammed; HRBEK, Ivan (eds.) - História Geral da África. Vol. III: África do século VII ao XI. UNESCO - Brasil / Ministério da Educação do Brasil / Universidade Federal de São Carlos, 2010.

4Cronica del Moro Rasis. Ed. Diego Catalán e María Soledad de Andrés [CMR]. Madrid: Gredos, 1975, p. 376; Crónica Geral de Espanha de 1344. Ed. Luís Filipe Lindley Cintra. 3 vols. [C1344]. Lisboa: Academia Portuguesa de História, 1951-1961, vol. II, p. 378; I édición crítica del texto español de la Cronica de 1344 que ordenó el Conde de Barcelos don Pedro Alfonso. Ed. Diego Catalán e María Soledad de Andrés. Madrid: Gredos, 1971, p. 196;GAYANGOS, Pascual de- “Memoria sobre la autenticidad de la Crónica denominada del moro Rasis”. Memorias de la Real Academia de la Historia 8 (1852), pp. 1-100, pp. 99-100;VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de- “André de Resende e a Crónica do Mouro Rasis”. O Archeologo Português 24 (1920), pp. 177-193, pp. 177-178.

5CMR, pp. 118-125; C1344, vol. I, p. XXXVII, vol. II, pp. 8-15.

6 REI, António - O Louvor da Hispânia, pp. 120-127; REI, António - O Gharb al-Andalus al-Aqsā na Geografia Árabe (séculos III h. / IX d.C. - XI h. / XVII d.C.). Lisboa: Instituto de Estudos Medievais - NOVA FCSH, 2012, pp. 80-87; GAYANGOS, Pascual de - “Memoria sobre la autenticidad de la Crónica denominada del moro Rasis”, pp. 41-54.

7 VALLVÉ, Joaquín - “La primera década del reinado de Al-Hakam I (796-806), según el Muqtabis de Ben Hayyan”. Anaquel de Estudios Arabes 12 (2001), pp. 769-778, p. 769.

8 REI, António - O Gharb al-Andalus al-Aqsā na Geografia Árabe, pp. 88-90. REI, António - O Louvor da Hispânia, pp. 132-135.

9 REI, António - “A Legitimação Califal do Poder Almóada na ‘Geografia’ de Ibn Ghâlib”. Xarajîb 5 (2006), pp. 71-77; REI, António - “A Crónica do Mouro Rasis: repositório do programa almóada de reconquista”. In Del Nilo al Ebro I. Estudios sobre las fuentes de la conquista islámica. Alcalá de Henares: Universidade de Alcalá de Henares, 2009, pp. 229-243; REI, António - O Gharb al-Andalus al-Aqsā na Geografia Árabe, pp. 96-100. REI, António - O Louvor da Hispânia, pp. 128-132.

10IBN ĠĀLIB - Farḥat al-anfus. Ed. Luṭfī ‘ABD AL- BADĪ ‘. Revista del Instituto de Manuscritos Arabes, I / 2 (1995), pp. 272-310, p. 282; VALLVÉ BERMEJO, Joaquín, trad. parc. cast. - “Una descripción de España de Ibn Gâlib”. Anuário de Filologia da Universidade de Barcelona 1 (1975), pp. 369-384, p. 372.

11 REI, António - O Gharb al-Andalus al-Aqsā na Geografia Árabe, pp. 22 e 88-90; REI, António - O Louvor da Hispânia, pp. 132-135.

12 REI, António - O Louvor da Hispânia, p. 214.

13 REI, António - O Gharb al-Andalus al-Aqsā na Geografia Árabe, p. 99; REI, António - “A Crónica do Mouro Rasis: repositório do programa almóada de reconquista”, pp. 240-243.

14 REI, António - O Louvor da Hispânia, p. 131.

15Como “Kitāb al-Rāzī [Livro de al-Rāzī]” aparece designado em Ibn Sa‘īd, Al-Muġrib fî ḥulā-l-Maġrib, Ed. DAYF, Shawqī, 2 vols., Cairo: Dār-al-Ma‘ārif, 1964, vol. I, pp. 321, 339, 361, 363, 381, 403, 411, 417; vol. II, pp. 51, 75, 193, 245, 298. No testemunho português mais antigo, o de André de Resende, encontramos para referir a obra, a expressão latina “librum Rases”, “liber Rasae” (C1344, vol. I, pp. CDLXVIII-CDLXXIX; CMR, p. 3, n. 1-3; VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de - “André de Resende e a Crónica do Mouro Rasis”. O Archeologo Português 24 (1920), pp. 177-193, p. 182), enquanto em português surge “liuro” (C1344, p. CDLXVIII; CMR). No ms. castelhano Ca encontramos a palavra “libro” (CMR, p. 10), que também aparece no ms. usado por Gayangos (GAYANGOS, Pascual - “Memoria sobre la autenticidad de la Crónica denominada del moro Rasis”, p. 34), enquanto em dois outros testemunhos manuscritos castelhanos posteriores, ms. Mo, e mais tarde o ms. Es, surge a palavra ‘coronica’ (CMR, p. 4). Assim, a tradução original portuguesa teria em “Livro” o seu provável título, tal como surge no testemunho árabe atrás referido (séc. XII-XIII), e que a designação ‘Crónica’ lhe foi atribuída mais tarde, a partir das cópias castelhanas. Carolina MIchaëlis, na obra citada, usou profusamente a designação: “Livro de Rasis”. A autora preferiu-a claramente à expressão “Crónica do Mouro Rasis”, pois enquanto apenas a utilizou no título do seu trabalho, no texto só duas vezes falou em “Crónica de Rasis”, a expressão “Livro de Rasis’ aparece dezassete vezes, e só a palavra “Livro” mais três vezes. Talvez a tenha adotado a partir da transcrição do latim de Resende (VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de - “André de Resende e a Crónica do Mouro Rasis”, pp. 177-193). Também José Leite de Vasconcelos hesitou entre “Livro, Geografia ou Crónica do Mouro Rasis” ao identificar um excerto da parte geográfica da C1344 que ele incluiu nos seus Textos Arcaicos (5.ª ed. Lisboa: Liv. Clássica Editora, 1970, p. 54).

16 REI, António - Memória de Espaços e Espaços de Memória, pp. 69-85; REI, António - “A tradução do Livro de Rasis e a construção da memória da Casa Senhorial de Aboim-Portel”. Cahiers d’Histoire Hispanique Mediévale 33 (2010) - “Traduction et pouvoir a la Péninsule Ibérique au Moyen Âge”, pp. 155-172, pp. 160-164. As questões relativas ao envolvimento do Rei D. Dinis nesta empresa da tradução do Livro de Rasis, embora continuem sendo objeto de estudo de vários investigadores, portugueses e estrangeiros, são colaterais ao que aqui nos propomos.

17V. nota anterior.

18 MENÉNDEZ PIDAL, Gonzalo - “Cómo trabajaron las Escuelas Alfonsíes”. Nueva Revista de Filología Hispánica. 5/4 (1951), pp. 363-380; CATALÁN, Diego - “El Taller Historiográfico Alfonsí. Métodos y problemas en el trabajo compilatorio”. Romania 89 (1963), pp. 354-375; MILLÁS VALLICROSA, José Maria - “El Literalismo de los Traductores de la Corte de Alfonso el Sabio”. Al-Andalus 1 (1933), pp. 155-187; ALONSO ALONSO, Manuel - “Tecnicismos Arábigos y su Traducción”. Al-Andalus 19 (1954), pp. 103-127.

19 REI, António - Memória de Espaços e Espaços de Memória, pp. 78-79; REI, António - “O Livro de Rasis e a memória senhorial da casa dos Aboim-Portel”. Callipole - Revista de Cultura 13 (2005), pp. 17-29.

20 REI, António - O Louvor da Hispânia, p. 227; REI, António - Memória de Espaços e Espaços de Memória, pp. 76-77.

21CMR, p. XXX.

22 REI, António - O Louvor da Hispânia, p. 227.

23C1344, vol. I (Conde D. Pedro de Barcelos), pp. CXXVII-CXC; MIRANDA, José Carlos Ribeiro, e FERREIRA, Maria do Rosário - “O projeto de escrita de Pedro de Barcelos”. População e Sociedade 23 (2015), pp. 25-43; REI, António - O Louvor da Hispânia, pp. 170-177, 227-229, 307-313; REI, António - Memória de Espaços e Espaços de Memória, pp. 81-85.

24 REI, António - Memória de Espaços e Espaços de Memória, pp. 172-175.

25 REI, António - O Louvor da Hispânia, p. 321.

26C1344, vol. I (Crónica de Portugal), pp. LXXXVII e DXXV-DXL; REI, António - Memória de Espaços e Espaços de Memória, p. 25, ns. 32 e 33. Sobre a Crónica de Portugal de 1419, ver CRÓNICA DE PORTUGAL de 1419. Edição crítica com introdução e notas de Adelino de Almeida Calado. Aveiro: Universidade de Aveiro, 1998.

27Ambrosio de Morales, os seus exemplares da Historia del Moro Rasis e da Cronica de España de 1344, e as suas informações e considerações acerca de ambos: autoria, composição, datação, permitem colocar D. Juan Manuel nos primórdios das traduções para castelhano de ambas as obras (ver I edición crítica del texto español de la Cronica de 1344 que ordenó el Conde de Barcelos don Pedro Alfonso. Ed. Diego Catalán e Maria Soledad de Andres, pp. LXXIV e LXXXII, e C1344, vol. I, pp. CCCXXXII, n. 39 e CXXIX). Ainda sobre estes contextos e conclusões, v. REI, António - O Louvor da Hispânia, pp. 307-313; REI, António - “O Ms. LV e as suas problemáticas cronológicas e textuais. Estudo prévio à edição crítica”. Arqueólogo Português 26 (2008), pp. 577-596.

28CMR, pp. XIII-XV. Outras identificações mais recentes de manuscritos: https://pb.lib.berkeley.edu/xtf/servlet/org.cdlib.xtf.dyna; e v. também CORTIJO OCAÑA, Antonio - “La Crónica del Moro Rasis y la Crónica Sarracina: dos testimonios desconocidos (University of California at Berkeley, Bancroft Library, MS UCB 143, Vol. 124)”. La Coronica: a Journal of Medieval Hispanic Languages, Literature & Cultures 25/2 (1997), pp. 5-30.

29C1344, vol. I, pp. XXXI-XXXVI; I edición crítica del texto español de la Cronica de 1344 que ordenó el Conde de Barcelos don Pedro Alfonso. Ed. Diego Catalán e María Soledad de Andrés, pp. LXXIII-LXXIV; REI, António - O Louvor da Hispânia, pp. 307-313. Ver ainda BAUTISTA, Francisco; MOREIRA, Filipe Alves - “Para a tradição textual da Crónica de 1344: dois manuscritos da versão original”. Zeitschrift fur Romanische Philologie, 137/1 (2021), pp. 183-216.

30C1344, vol. I, pp. XXXI-XXXVI.

31C1344, vol. I, pp. XXXVI-XXXVIII; I edición crítica del texto español de la Cronica de 1344 que ordenó el Conde de Barcelos don Pedro Alfonso. Ed. Diego Catalán e María Soledad de Andrés, pp. LXXVI-LXXX; REI, António - O Louvor da Hispânia, pp. 175-176. O elenco completo dos manuscritos atualmente conhecidos: MOREIRA, Filipe Alves; ASKINS, Arthur - “A Crónica de 1344 para além de Pedro de Barcelos: perspetivas recentes e novidades”. eHumanista. Journal of Iberian Studies 31 (2015), pp. 64-79; e em: https://pedrodebarcelos.wixsite.com/cronica1344/manuscritos.

32C1344, vol. I, pp. CDII-CDX.

33C1344, vol. I, pp. CDXCIII-DXLVI. Outros manuscritos recentemente identificados, em MOREIRA, Filipe Alves; ASKINS, Arthur - “A Crónica de 1344 para além de Pedro de Barcelos”, pp. 64-79.

34C1344, vol. I, pp. CDXCII - CDXCIII; I edición crítica del texto español de la Cronica de 1344 que ordenó el Conde de Barcelos don Pedro Alfonso. Ed. Diego Catalán e María Soledad de Andrés, p. LXXIV.

35 SERRÃO, Joaquim Veríssimo - “André de Resende. O humanista e o eborense”. A Cidade de Évora 58 (1975), pp. 5-25, pp. 9-14; CRESPO, Hugo Miguel - “André de Resende na Inquisição de Évora e a apologética anti-judaica: ciência teológica, doutrina e castigo (1541)”. In Humanismo, Diáspora e Ciência. Séculos XVI e XVII, Porto: Universidade de Aveiro / Biblioteca Pública Municipal do Porto, 2013, pp. 151-212; PEREIRA, Virgínia S. - “Uma Carta de André de Resende Reconstituída”. Humanitas 39-40 (1987-1988), pp. 211-232.

36C1344, vol. I, pp. CDLXVIII-CDLXX; VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de - “André de Resende e a Crónica do Mouro Rasis”, pp. 180-181.

37 MENÉNDEZ PIDAL, Gonzalo - “Cómo trabajaron las Escuelas Alfonsíes”, pp. 364-367.

38 LOPES, David - “Os Árabes nas Obras de Alexandre Herculano”. Boletim de Segunda Classe da Academia das Sciencias de Lisboa 3 (1909-1910), pp. 50-84, 198-253, 323-377; 4 (1910-1911), pp. 321-405; LOPES, David - Nomes Árabes de Terras Portuguesas. Org. José Pedro Machado. Lisboa: Sociedade de Língua Portuguesa e Círculo David Lopes, 1968, pp. 108 e 191; REI, António - Memória de Espaços e Espaços de Memória, pp. 169-170 e 174; REI, António - O Louvor da Hispânia, pp. 185-186 e n. 28.

39 FREIRE, Anselmo Braamcamp - “A suposta fraternidade de Garcia e André de Resende”. In Crítica e História - Estudos. Lisboa: Tip. da antiga Casa Bertrand, 1910, pp. 84-95, pp. 92-94; VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de - “André de Resende e a Crónica do Mouro Rasis”, p. 186.

40 VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de - “André de Resende e a Crónica do Mouro Rasis”, p. 186, n. 2; CMR, p. XIII; C1344, vol. I, pp. CCCXXXI-CCCXXXII; I edición crítica del texto español de la Cronica de 1344 que ordenó el Conde de Barcelos don Pedro Alfonso. Ed. Diego Catalán e María Soledad de Andrés, p. LXII; REI, António - O Louvor da Hispânia, p. 186; AZEVEDO, Ricardo Charters d’ - Manuel Severim de Faria e a sua ida a Maçãs de D. Maria. Leiria: Textiverso, 2015, p. 12.

41 MENDEIROS, José Filipe - “O polígrafo eborense Manuel Severim de Faria”. A Cidade de Évora 67-68 (1984-1985), pp. 5-20, p. 19.

42 ZÚQUETE, Afonso E. M. - Nobreza de Portugal e do Brasil. 3ª ed., 3 vols., Lisboa: Zairol, 2000, [Condes do Vimieiro], vol. III, pp. 535-536; MENDEIROS, José Filipe - “O polígrafo eborense Manuel Severim de Faria”, p. 19; VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de - “André de Resende e a Crónica do Mouro Rasis”, p. 186; CMR, p. XIII; C1344, vol. I, pp. CCCXXXI-CCCXXXII; I edición crítica del texto español de la Cronica de 1344 que ordenó el Conde de Barcelos don Pedro Alfonso. Ed. Diego Catalán e María Soledad de Andrés, p. LXII; REI, António - O Louvor da Hispânia, p. 186.

43 VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de - “André de Resende e a Crónica do Mouro Rasis”, p. 186; CMR, p. XIII; C1344, vol. I, pp. CCCXXXI-CCCXXXII; I edición crítica del texto español de la Cronica de 1344 que ordenó el Conde de Barcelos don Pedro Alfonso. Ed. Diego Catalán e María Soledad de Andrés, p. LXII. REI, António - O Louvor da Hispânia, p. 186; REI, António - Memória de Espaços e Espaços de Memória, p. 35. Um recente estudo (ASKINS, Arthur; SOBRAL, Cristina; ALMEIDA, Isabel - Examinar os manuscritos das livrarias particulares: obra do Conde de Ericeira. Lisboa: Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos: Centro de Linguística da Universidade, 2012) identifica aquele ms. como uma cópia da Crónica de 1344, e não do Livro de Rasis. As proximidades textuais interdependentes entre a CMR e a C1344 (alguns exemplos: Gayangos, em 1852, usou um testemunho da C1344 pensando estar a usar um da CMR; Lévi-Provençal identificou nos textos editados por Lindley Cintra “o melhor testemunho do texto raziano”; Diego Catalán diz ser a matriz Z de Cintra “heredera directa de la originaria traducción de Rasis al portugués hecha por Gil Pérez) têm levado a constatar que os testemunhos da C1344 estão mais próximos da matriz árabe original, pelo menos no que ao Apartado Geográfico diz respeito. O ms. que passou por Resende, pelos Severim de Faria e até aos Condes do Vimieiro, seria mais um daqueles testemunhos.

45 REI, António - O Louvor da Hispânia, [O Ms. LV. Edição crítica e estudo] pp. 297-382.

46 GAYANGOS, Pascual de - “Memoria sobre la autenticidad de la Crónica denominada del moro Rasis”, pp. 37-38; CMR, p. XI.

47AL-MAQQARĪ - History of the Mohammedan Dynasties of Spain. Trad. Pascual de Gayangos. Londres, 1840-1843; GAYANGOS, Pascual de - “Memoria sobre la autenticidad de la Crónica denominada del moro Rasis”, pp. 1-100; CMR, p. XII.

48 REI, António - Memória de Espaços e Espaços de Memória, pp. 36-39.

49 MENÉNDEZ PIDAL, Ramón - El Rey Rodrigo en la literatura. Madrid: Revista de Archivos, 1925; e SÁNCHEZ-ALBORNOZ, Claudio - “La Crónica del Moro Rasis y la Continuatio Hispana”. Anales de la Universidad de Madrid (Letras) 3/3 (1934), pp. 229-265; v. ainda REI, António - Memória de Espaços e Espaços de Memória, pp. 31-36; CMR, p. XII.

50 LÉVI-PROVENÇAL, E. - “La Description de l’Espagne d’Ahmad al-Râzî - Essai de reconstitution de l’original arabe et traduction française”. Al-Andalus 18 (1953), pp. 51-108.

51 REI, António - Memória de Espaços e Espaços de Memória, pp. 39-40 e 45, e v. supra n. 4.

52 REI, António - Memória de Espaços e Espaços de Memória, pp. 40-44 e 46-48.

53Diego Catalán e María Soledad de Andrés afirmam então que “Para la descripción geográfica de España tenemos la fortuna de poder confrontar tres familias de textos: La versión castellana de Ca, Mo, Es [da CMR] y las dos redacciones de la Crónica de 1344. Si a esto añadimos las frecuentes citas de al-Râzî en historiadores musulmanes posteriores (hoy en gran parte publicadas), las perspectivas de llegar a restaurar el texto de Gil Pérez (en versión castellana) son realmente brillantes, aunque la tarea sea, en verdad, bien compleja. A este respecto, conviene notar que en los raros casos en que conocemos las fuentes de al-Râzî su consulta resulta imprescindible” (cf. CMR, p. XXVI).

54 REI, António - O Louvor da Hispânia, [Apartado Geográfico e Confrontação textual do Apartado Geográfico do Livro de Rasis com testemunhos latinos e árabes] pp. 237-295.

Recebido: 15 de Setembro de 2022; Aceito: 06 de Junho de 2023

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