Quem aprecia a ciência ou tem necessidade dela depara-se, frequentemente, com novos conceitos e metodologias de trabalho, algo que é positivo!
Mostrando que estamos a evoluir, a refletir sobre as necessidades e a procurar soluções. O conceito de Ciência Aberta é um caminho a seguir na ciência em geral e, por conseguinte, é um tema de grande interesse para a investigação que se faz em enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica.
Ciência Aberta, o que é?
Ciência Aberta reflete um contexto de acesso aberto à informação, possibilitando aos investigadores um espaço de partilha em ambiente aberto e de livre acesso ao público. Nesta conjuntura, a Ciência Aberta torna-se uma ferramenta de partilha de conhecimento entre os membros da comunidade científica e a sociedade, com um alto impacto social e económico, o que também lhe dá um caracter de maior proximidade com o cidadão.
Com a Ciência Aberta é possível aos investigadores moverem-se, de uma zona restrita e fechada, para a utilização de ferramentas que fomentem a uma maior divulgação do trabalho científico desenvolvido, imprimindo maior rigor e transparência aos processos. Segundo a Comissão Europeia (2016), esta apresenta uma nova perspetiva do processo científico, baseada no trabalho cooperativo e em novas formas de disseminação do conhecimento, utilizando tecnologias digitais e ferramentas colaborativas, contribuindo assim para uma ampla divulgação científica, ou seja, partilhando o trabalho científico com a sociedade, seja ela um público especializado ou não.
Em Portugal, com a entrada em vigor da Lei da Ciência (Decreto-Lei n.º 63/2019), aprovada em Conselho de Ministros a 21 de fevereiro de 2019, a 17 de maio de 2019 e com a reformulação do regime jurídico das instituições que se dedicam à investigação científica e ao desenvolvimento tecnológico, procura-se alcançar, entre outros objetivos, o estímulo para a adoção de práticas e processos abertos de criação, partilha e utilização do conhecimento científico pelas instituições de I&D, tendo por base as estratégias de "Ciência Aberta" e o "Direito à Ciência", especialmente em relação ao acesso e à participação. No âmbito do artigo 8º, é esperado que as instituições de I&D contribuam para a promoção de uma ciência aberta, em conformidade com as melhores práticas internacionais. Isso implica garantir o acesso livre e aberto do conhecimento científico ao público, além de promover o envolvimento e a interação com a sociedade. (Portugal, 2019).
Portanto, a Ciência Aberta contribui para a terceira missão das universidades e/ou instituições de ensino superior, que é o retorno do seu produto à sociedade, tendo em vista a responsabilidade social (Silva et al., 2021).
Quais são as vantagens da Ciência Aberta?
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OECD, 2015) refere que a Ciência Aberta tem como benefícios: redução de custos de criação, transferência de dados, reutilização de dados para mais ciência, oportunidades de parcerias efetivas em equipas de investigação, aumento de qualidade e transparência no processo de validação, transferência de conhecimento com maior rapidez e envolvimento dos cidadãos na ciência. Em linha com este pensamento o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (2016) menciona que as principais vantagens da Ciência Aberta incluem: a divulgação do trabalho científico, o aumento da eficiência na investigação, a criação de novas áreas de pesquisa, a promoção do rigor académico, o envolvimento da sociedade e a cultura científica, o maior impacto social e económico da ciência, o retorno científico para as instituições e a valorização do património cultural.
Quais são os princípios subjacentes à Ciência Aberta?
Transparência nas práticas, metodologia, observação e recolha de dados;
Disponibilização, acesso público e reutilização dos resultados da investigação (publicações e dados);
Transparência na comunicação científica;
A utilização de ferramentas baseadas na web para facilitar a colaboração científica (European Commission, 2016).
A Ciência Aberta na Investigação em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica
A Ciência Aberta na Investigação em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica será uma oportunidade de se acelerar o seu rápido crescimento e utilidade social. A Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental - é um bom exemplo de prática de acesso aberto, que permite a disponibilização online e sem limitações aos resultados científicos, com prévia revisão por pares. Revisão esta que, ainda não é aberta, mas que será certamente o caminho a seguir, à semelhança outras publicações científicas. No entanto a Ciência Aberta em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica não se pode reduzir à disseminação aberta dos resultados científicos. É também esperado que os investigadores partilhem dados, o que implica a publicação online para acesso e reutilização desses dados recolhidos durante um projeto de investigação; o código aberto, que se refere a um software que pode ser acedido de forma livre com uma licença de código fonte; a investigação replicável aberta que consiste no ato de praticar a Ciência Aberta para permitir a replicabilidade independente dos resultados de investigação e, ainda permitir que o conhecimento produzido pelos enfermeiros de saúde mental e psiquiátrica se encontre nas redes abertas de ciência e, ainda caminhar para a Ciência Cidadã.
A investigação em enfermagem tem adotado crescentemente os princípios e práticas de abertura, transparência e partilha de informações. Por isso, as práticas da Ciência Aberta têm vindo a ter grande destaque nesta disciplina científica, desta forma a Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica precisa também de entrar neste movimento que promove a colaboração, a acessibilidade e a reprodutibilidade dos resultados dos processos de investigação que os enfermeiros desenvolvem nos seus processos académicos e noutros tipos de projetos.
Em síntese, consideramos que a Ciência Aberta na Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, procurará:
O acesso aberto: o que significa que artigos científicos, teses e dissertações devem ser disponibilizados gratuitamente, sem barreiras financeiras, para que todos possam ler, transferir, distribuir e utilizar os resultados da pesquisa.
A partilha de dados: que, permita aos investigadores aceder, analisar e reutilizar esses dados. Ajudando a promover a transparência, a verificabilidade e a reprodutibilidade dos estudos realizados em enfermagem.
A reprodutibilidade: Os investigadores são encorajados a fornecer informações detalhadas sobre os seus métodos de investigação, protocolos e análises, permitindo que outros investigadores reproduzam e verifiquem os resultados.
A colaboração: inclui a partilha de ideias, dados e recursos para promover a produção científica conjunta e o avanço do conhecimento em enfermagem.
A Ciência cidadã: ou seja, procura envolver o público em geral e os utilizadores dos serviços de saúde de saúde. Isso pode incluir a participação de doentes, familiares, e outras partes interessadas no processo de investigação, desde a definição de prioridades até à disseminação dos resultados.
Portanto, nesta ótica, os profissionais de enfermagem e investigadores em enfermagem de saúde mental e psiquiatria, e o cidadão, podem beneficiar de uma divulgação mais eficiente do conhecimento produzido, transparência e colaboração nos processos de investigação. Essa abordagem contribui para o avanço do conhecimento, a melhoria da qualidade dos estudos e o envolvimento ativo da sociedade no processo científico.