Introdução
A terminologia laissez-faire é um conceito de liderança, oriundo do francês que corresponde a “deixar fazer”. Esta prática é caracterizada pela ausência de intervenções diretas e pelo distanciamento em relação à supervisão ativa (Norris, Ghahremani, & Lemoine, 2021; Zhang, Wang, & Gao, 2023). Este modelo de liderança é tradicionalmente utilizado no contexto das organizações de trabalho, e tem implicações que podem ser tanto positivas quanto negativas no desempenho e na satisfação dos indivíduos subordinados (Zhang, Wang, & Gao, 2023; Kamal, Ridwan, & Kesuma, 2024).
A despeito desse estilo ser articulado ao ambiente organizacional, ele também se manifesta em outros contextos, como no meio acadêmico, uma vez que orientadores de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) assumem função de liderança no processo de formação de novos pesquisadores (Pine, 2020; Urquiola, 2023). No âmbito da pós-graduação, os orientadores têm a responsabilidade de direcionar os estudantes ao longo de sua trajetória acadêmica, oferecendo suporte na condução de projetos de pesquisa, desenvolvimento de competências e superação de desafios (Cassiano, Guimarães, & Gonçalves, 2023; Frisby, 2022).
Nessa perspectiva, ao adotar o estilo de orientação laissez-faire, esses orientadores podem propiciar maior autonomia ao aluno, conferindo-lhe liberdade para
a tomada decisões, gerir o tempo e estruturar o trabalho de acordo com suas próprias estratégias (Jamali, Bhutto, Khaskhely, & Sethar, 2022; Oliinyk, 2024). Essa independência e protagonismo pelo próprio trabalho (dissertação ou tese), enquanto essencial para o desenvolvimento de habilidades como responsabilidade, resolutividade e tomada de decisões (Macleod et al., 2020) e criatividade (Kamal, Ridwan, & Kesuma, 2024), também pode gerar efeitos adversos ao estudante, caso não possua as condições, conhecimentos ou recursos necessários para lidar com a ausência de supervisão ativa (Corcelles-Seuba, Suñé-Soler, Sala-Bubaré, & Castelló, 2023; Tuấn, Lan, & Tuấn, 2022). Destarte, embora possa haver potencialidades, essa orientação está diretamente relacionada à saúde mental dos estudantes, pois a falta de suporte ativo, feedback e direção por parte do orientador pode intensificar sentimentos de isolamento, insegurança e ansiedade. Em um ambiente acadêmico já caracterizado por alta pressão e demandas intelectuais intensas, como os cursos de mestrado e doutorado, a ausência de uma liderança estruturada aumenta os níveis de estresse, comprometendo a saúde mental e podendo deflagrar o surgimento de problemas como estresse, ansiedade, depressão (Urquiola, 2023) e esgotamento (Klasmeier, Schleu, Millhoff, Poethke, & Bormann, 2021). A incerteza em relação às expectativas e a ausência de uma rede de apoio podem agravar o quadro, já que, a orientação negligente pode reverberar na saúde mental negativamente e no percurso acadêmico.
Outrossim, faz-se relevante descrever as influências desse modelo de orientação sobre a saúde mental dos estudantes de pós-graduação. Nesse sentido, o emocional dos estudantes podem estar fragilizados pelas pressões do ambiente acadêmico, e podem ainda ser influenciados tanto pelo excesso de autonomia quanto pela ausência de orientação.
Mas ainda há lacuna na literatura científica de modo a esclarecer esse estilo laissez-faire de orientação e as suas implicações na saúde mental dos orientandos, tanto de forma positiva, quanto negativa. Desta forma, este estudo apresenta a seguinte questão de norteadora: “Como a orientação acadêmica do tipo laissez-faire afeta a saúde mental, segundo a percepção de estudantes de pós-graduação stricto sensu?”.
Ao explorar este estilo de liderança laissez-faire, também incorporado ao ambiente acadêmico, busca-se compreender mais profundamente seus efeitos, e os fatores que podem favorecer ou prejudicar o desenvolvimento pessoal, acadêmico e emocional dos estudantes.
Logo, este estudo objetiva descrever a influência da orientação do tipo laissez-faire na saúde mental, segundo a percepção de estudantes de mestrado e doutorado.
Método
Trata-se de uma investigação qualitativa, realizada em uma universidade pública brasileira da região sudeste. A população-alvo incluiu estudantes matriculados em cinco programas de mestrado ou doutorado da instituição selecionada, no escopo da saúde. Os dados foram coletados entre outubro e dezembro de 2023. A coleta incluiu um roteiro semiestruturado de questões por meio de Grupos Focais (GFs) (Gatti, 2012), selecionados por conveniência e pela técnica snowball (ou bola de neve). Trata-se de um método de amostragem não probabilística em que os participantes indicam novos sujeitos para a pesquisa, formando uma rede de contatos sucessiva. É especialmente útil para populações de difícil acesso (Silva et al., 2022).
Os convites foram enviados presencialmente, por e-mail institucional, além de divulgação em redes sociais como Instagram e WhatsApp. Moderadora e observadora conduziram os GFs, ambas com formação acadêmica e profissional em Enfermagem, além de experiência com a técnica de GFs.
A coleta de dados aconteceu de em salas reservadas, com duração máxima de 60 minutos, foram audiogravadas com gravador, e perguntas como: "Como é cursar mestrado/doutorado?" e "Quais dificuldades você enfrenta?" nortearam as interações. Para este estudo, utilizou-se temas relacionados ao processo de condução da orientação (orientador-aluno). Além disso, utilizou-se notas de campo Hess (2006) para registrar percepções da moderadora e da observadora, reforçando a análise dos dados.
As notas de campo foram utilizadas para a triangulação da informação ao oferecer uma fonte complementar de dados que possibilitou a comparação e a validação dos temas identificados na análise temática indutiva. Durante o processo, as informações obtidas por meio das notas de campo foram cotejadas com os dados dos grupos.
Essa triangulação ajudou a identificar possíveis discrepâncias, reforçar a credibilidade dos resultados e fornecer uma compreensão mais ampla e contextualizada do fenômeno estudado.
A coleta foi encerrada com base no conceito de suficiência teórica, ou seja, quando o volume de poder de informações foi suficiente para atender aos objetivos do estudo (Malterud, Siersma, & Guassora, 2016). As falas gravadas foram transcritas e analisadas com base na análise temática indutiva, um método flexível que permite uma interpretação detalhada e ampla dos dados (Braun & Clarke, 2021).
A técnica de análise temática indutiva proposta por Braun e Clarke (2021) consiste em identificar, analisar e relatar padrões (temas) presentes nos dados. O processo envolve seis etapas: familiarização com os dados, geração de códigos iniciais, busca por temas, revisão dos temas, definição e nomeação dos temas, e produção do relatório. A abordagem indutiva permite que os temas surjam diretamente dos dados coletados, garantindo flexibilidade e profundidade na análise (Braun & Clarke, 2021). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, parecer 6.424.493. Os depoimentos apresentados na pesquisa foram codificados de acordo com o número do grupo focal (GF1, GF2 etc.), nível de formação do participante [(Mestrado (M) ou Doutorado (D)], por exemplo (GF1-M; GF2-D).
Resultados
Dos 145 estudantes convidados, participaram 72, divididos em 13 grupos focais.
Em relação ao perfil dos participantes, observou-se uma predominância de mulheres, representando 76% (n=55) do total. A maioria com formação em Enfermagem, correspondendo a 83,3% (n=60), seguida por graduados em Psicologia, com 6,9% (n=5). Quanto à pós-graduação, 54,2% (n=39) estavam cursando Doutorado e 45,8% (n=33) Mestrado. A faixa etária mais frequente foi de 30 a 39 anos, com 44,4% (n=32) dos participantes. Em relação à área de atuação, 56,9% (n=41) trabalhavam na assistência à saúde, 36% (n=26) na gestão e 29,2% (n=21) na docência; todos os participantes estavam realizando a pós-graduação concomitante a um vínculo profissional remunerado.
A partir da análise qualitativa, percebeu-se que orientadores que possuem estilo de orientação laissez-faire podem influenciar positivamente ou negativamente na saúde
mental do estudante de pós-graduação, sendo formadas duas categorias: (1) Influências Positivas da Orientação Laissez-Faire; e (2) Influências Negativas da Orientação Laissez-Faire, representadas esquematicamente na Figura 1.
Categoria 1: Influências Positivas da Orientação Laissez Faire para a Saúde Mental
Em relação às influências positivas desse estilo de orientação, com ênfase na saúde mental, possibilitam ao aluno o desenvolvimento de autonomia, incentivo à criatividade, à flexibilidade, à responsabilidade, ao domínio e à condução do projeto, o que possibilita a preparação para o mercado de trabalho acadêmico. Aqueles que possuem motivação intrínseca, disciplina e têm clara visão de suas metas de pesquisa e de carreira podem prosperar sob esse estilo de orientação, o que beneficia a saúde mental pelo fortalecimento de suas capacidades e sua autonomia:
Os orientadores são bem ocupados, então você acaba tendo que ir fazendo as coisas, usando criatividade, e se virando como pós-graduando mesmo, buscando conhecimento, buscando, fazendo. Quando a gente é pós-graduando, a gente tem que tomar esses conhecimentos, ninguém vai pegar na sua mão aqui na escola. Desde que eu entrei na faculdade, sempre fui meio autodidata, desde a Iniciação Científica, então eu sempre busquei sozinha, as questões de conhecimento e tal [GF9-D].
Eu fico assim: ‘Não vou incomodar ela [orientadora] com isso aqui, não, vamos virar...’ aí eu vou me virando, vou me virando. Não existe cobrança da parte dela, às vezes eu envio alguma coisa pra ela olhar e ela fica de olhar e ela esquece, eu dou aquela cobradinha ali: ‘ah, a professora você olhou?’ então assim, acaba que eu que corro mais atrás dela [GF1-M].
Eu tento ser bem autônoma na pós-graduação e não dar trabalho mesmo. Tudo o que eu consigo ir fazendo sozinha eu vou fazendo, de forma que eu só aciono a minha orientadora para as revisões finais. Claro que já ter um domínio me ajuda bastante e quando eu tenho dúvida, vou me guiando por artigos, outras teses... trabalho mais sozinha mesmo. Mas isso é bom, porque tenho uma certa flexibilidade e vou me sentindo mais capaz também [GF3-D].
A despeito disso, há de se considerar, que mesmo estudantes que são autossuficientes, também precisam de comunicação, feedbacks e reforço positivo dos orientadores em alguns momentos, já que os estudantes estão em processo de formação. Isso pode corroborar com o engajamento, afetividade, o sentimento de pertencimento e satisfação no âmbito acadêmico, beneficiando, consequentemente, a saúde mental:
Eu gosto muito de conversar e debater pra ver se eu estou indo pelo caminho certo. Então esse distanciamento do orientador, esse problema se resume em comunicação mesmo, algumas falhas de comunicação [GF6-D].
Faz falta às vezes um elogio, reconhecimento pelo o que a gente consegue fazer sozinho, até pra motivar mais a gente. É só isso que eu sinto falta mesmo, reconhecimento, me sentir mais valorizada por ser uma aluna autossuficiente e que não dou tanto trabalho para o meu orientador [GF8-M].
Desse modo, a orientação laissez-faire pode ter efeitos positivos quando aplicada a estudantes que possuem maior autonomia e autossuficiência. Assim, permite que os alunos desenvolvam independência, pensamento crítico e habilidades de autogerenciamento. A liberdade para explorar caminhos próprios pode aumentar a confiança e a satisfação, sobretudo quando combinada com momentos de comunicação, feedback e reforço positivo com o orientador. Tais elementos podem favorecer o engajamento, a afetividade, bem como a saúde mental e o êxito na formação acadêmica.
Categoria 2: Influências Negativas da Orientação Laissez-Faire para a Saúde Mental
As influências negativas podem interferir substancialmente na saúde mental, devido à falta de direcionamento, clareza, sentimento de abandono, improdutividade, desmotivação e atrasos nas pesquisas. Assim os estudantes que podem não ter tido tanto conhecimento e experiência prévia em pesquisa, precisam de mais estrutura, isto é, suporte, feedback constante, direcionamento e presença do orientador:
Sinto um abandono por parte da orientadora, mas entendo que ela tem os compromissos e como eu estou no doutorado, vou tentando me virar mais autônoma, mas é muito difícil [GF-6-D].
O que eu sinto um pouco de falta é que eu sinto ela um pouco distante, às vezes eu fico meio largada. Eu imaginava que na pós-graduação o professor estivesse mais lado a lado ali com você, então não sei se isso é de uma forma geral, mas eu percebo que não, que você fica meio solta [GF1-M].
A gente se sente no mestrado meio abandonado, sabe? Porque como você não tem essa rotina e não conhece, porque eu não sou da escola, essa rotina dos professores, de encontrá-los, você
se sente um pouco abandonado, e às vezes tem dificuldade do que fazer, como fazer, se está certo... [GF13-M].
Apesar de não haver uma supervisão constante, ratificando o perfil laissez-faire, a cobrança por resultados existe, por parte do orientador, deixando o aluno com a sensação de estar desamparado:
Ela [orientadora] não consegue sentar comigo pra me ajudar, pra me orientar, então eu me sinto pressionada disso, que é a minha responsabilidade fazer, então de vez em quando ela manda pra mim: ‘e aí como é que tá? Manda pra mim algum produto.’ E assim, eu mando, mas eu que estou fazendo sozinha, né? Sem ajuda nenhuma dela, nem mesmo uma orientação adequada. Eu estou muito atrasada, muito mesmo... e vou ter que pedir prorrogação de prazo [GF5-M].
Consequentemente, os alunos que possuem dificuldades podem se beneficiar de um estilo de orientação mais aproximada, sendo que quando há esse estilo de orientação laissez-faire para esse perfil de estudantes, pode-se ter implicações negativas na saúde mental:
Eu me sinto ansiosa, depressiva, estou com muita dificuldade agora. Não tenho o apoio da minha orientadora como eu gostaria... Acho que por ser doutorado, a gente tem que ser mais independente, autônomo, mas está me afetando muito [GF5-D].
Esse abandono me deixa bem desmotivada até com o curso, porque eles não se importam, só querem o trabalho pronto, mas a orientação mesmo não é feita. Então eu fico muito ansiosa, estressada, porque eu não tenho um direcionamento e eu acabo recorrendo a outras pessoas pra me ajudar [GF7-M].
Frente ao exposto, a orientação de estilo laissez-faire, caracterizada pela falta de apoio direto e contínuo, pode gerar influências adversas na saúde mental dos estudantes, especialmente aqueles que enfrentam dificuldades acadêmicas.
Discussão
Os resultados deste estudo aludem que o estilo de orientação laissez-faire pode ser benéfico ou maléfico na trajetória dos estudantes de pós-graduação, a depender do perfil, assim como também reverberar na saúde mental dos mesmos.
A autonomia deflagrada por esse estilo, destacada por estudantes autossuficientes, é uma influência positiva. A partir da análise qualitativa, ficou evidente que, para indivíduos com maior conhecimento, experiência e autodisciplina, esse estilo pode ser um catalisador de habilidades para o mercado acadêmico, como responsabilidade, iniciativa, flexibilidade, tomada de decisão, liderança e independência. Esse grupo destacou a oportunidade de crescimento proporcionada pela necessidade de buscar soluções e conhecimentos, fatores que interferem positivamente na saúde mental.
A autonomia intelectual, conforme destacado por Martínez e Mireles (2020), pode ser fortalecida por meio de práticas como leituras e produções acadêmicas, formando um habitus investigativo. A liberdade proporcionada pela abordagem laissez-faire também permite que o estudante explore ideias e métodos sem restrições excessivas, favorecendo a criatividade e a formulação de soluções em suas pesquisas. Destarte, a falta de controle rígido sobre prazos e métodos pode permitir ao estudante adaptar seu ritmo de trabalho às suas preferências pessoais, equilibrando a vida pessoal e acadêmica, desde que haja organização (Kamal, Ridwan, & Kesuma, 2024). Contudo, Wang, Xin, Zhang, Du e Wang (2022) apontam que a relação entre supervisor e aluno previne a procrastinação acadêmica, sendo esta problemática uma das razões para a prorrogação de prazo, também evidenciada neste estudo, ocorrida devido à falta de suporte na orientação e que culmina no atraso nas pesquisas e, de certa forma, na procrastinação.
Assim, a orientação laissez-faire, apesar de benéfica pela independência do aluno, ao negligenciar essa relação, pode dificultar o desenvolvimento acadêmico. Sem um suporte e reforço positivo consistente, o estudante pode se sentir desamparado e desmotivado.
Nessa direção, a ausência de feedbacks e interação regular pode ser uma lacuna mesmo para estudantes autônomos. A necessidade de retornos, comunicação e elogios
também denotam que a ausência de reconhecimento ou suporte emocional por parte dos orientadores pode comprometer o engajamento e a satisfação acadêmica. Isso evidencia que, mesmo em um ambiente que valorize a autonomia, a parcimônia entre liberdade e o apoio é relevante para a manutenção da saúde mental, da motivação e da disciplina, com potencial de afetar também a produtividade e qualidade das produções científicas.
Nessa linha de pensamento, vale ressaltar que os pós-graduandos se sentem mais seguros em sua identidade acadêmica quando apoiados por supervisores e validados pela comunidade acadêmica (Phan, 2022). Embora esses benefícios possam ser observados, é relevante que a autonomia incentivada por esse modelo de orientação seja acompanhada, para evitar os riscos à saúde mental e ao desempenho acadêmico. O êxito do estilo laissez-faire depende, portanto, do equilíbrio entre liberdade e acesso a recursos de apoio (Kamal, Ridwan, & Kesuma, 2024), sobretudo por parte do orientador.
Por outro lado, as experiências negativas relatadas pelos participantes que se sentiram abandonados indicam que o estilo laissez-faire pode ser prejudicial para aqueles que carecem de experiência prévia em pesquisa ou que enfrentam dificuldades no percurso acadêmico
Assim, alguns estudantes de pós-graduação enfrentam dificuldades na redação de pesquisas, principalmente nos aspectos de introdução, método e processamento de dados (Sitompul & Anditasari, 2022), cabendo ao orientador avaliar o perfil dos seus orientandos e conceder uma supervisão mais direcionada e atenciosa, e evitar o estilo laissez-faire nesses casos, para também mitigar prejuízos na saúde mental dos alunos. Estudantes que esperam um acompanhamento mais próximo relatam desmotivação, estresse e sentimentos de isolamento. A falta de clareza e direcionamento, acrescida à pressão por produtividade (Tommasi et al., 2022), tem potencial de agravar ansiedade e depressão em alguns casos, sobretudo quando há dificuldade de ajustar expectativas ou a necessidade de buscar ajuda de terceiros.
Assim, monitorar o envolvimento, o progresso e a frequência dos pós-graduandos pode garantir que eles estejam presentes no programa e entreguem os trabalhos no prazo (Brooks, 2023).
Esses resultados apontam para a importância de adaptar o estilo de orientação às necessidades individuais dos discentes. Estimular a autoeficácia em pesquisa e relacionamentos de orientação podem ajudar a reduzir a depressão e a ansiedade em estudantes de pós-graduação stricto sensu (Liu et al., 2019). Como o contexto acadêmico frequentemente sobrecarrega os orientadores, intervenções multiníveis, incluindo na gestão acadêmica (Tommasi et al., 2022) a implementação de treinamentos de orientação, estratégias que conciliem produtividade e cuidado com o aluno e o processo de supervisão são prementes. Um sistema de orientação híbrido, que combine autonomia com momentos estruturados de suporte e feedback, pode atender a uma diversidade de perfis.
Considerando os impactos identificados, recomenda-se que futuros modelos de orientação adotem um direcionamento híbrido, que combine a autonomia proporcionada pelo estilo laissez-faire com suporte estruturado e pontual. Os orientadores devem estar atentos às necessidades dos estudantes, possuir comunicação clara, feedback construtivo e reforço positivo.
Além disso, programas de capacitação para orientadores poderiam ser implementados, visando sensibilizá-los para os efeitos negativos da falta de suporte e para a importância de práticas inclusivas e adaptativas.
A combinação de suporte estruturado e liberdade criativa é relevante para o sucesso da relação de orientação e para a formação de profissionais capacitados e resilientes (Kamal, Ridwan, & Kesuma, 2024; Urquiola, 2023). Mas também com saúde mental, a qual é tão relevante e desafiadora de se conquistar no âmbito acadêmico e que pode ser estimulada, sobretudo, a partir do orientador com seu aluno. Este estudo apresenta a limitação de ter sido desenvolvido em uma única instituição de ensino superior e pública localizada no Brasil. Desta forma, sugere-se ampliar o escopo para outras instituições, e profissionais que estão inseridos na pós-graduação, já que a maioria dos participantes são enfermeiros. Ademais também sugere-se a realização de outros estudos em instituições privadas, para ampliar e comparar os resultados.
Conclusões
O estilo de orientação laissez-faire pode apresentar influências positivas ou negativas na saúde mental dos estudantes de pós-graduação, dependendo de suas características e necessidades. Quando aplicado a estudantes autossuficientes e com alta capacidade de autogerenciamento, esse estilo pode favorecer a autonomia, a confiança e a satisfação acadêmica. No entanto, para estudantes que enfrentam maiores dificuldades ou precisam de suporte contínuo, a falta de proximidade e de orientação estruturada pode gerar repercussões na saúde mental deletérias, especialmente ansiedade, estresse, humor deprimido e desmotivação.
Logo, além de considerar o perfil dos estudantes, deve-se avaliar o tipo de pesquisa e o contexto acadêmico. A sobrecarga dos docentes no sistema produtivista pode interferir na proximidade da orientação, mas modelos híbridos, que combinam autonomia com suporte pontual, podem corroborar com trajetórias acadêmicas mais profícuas, evitando a deterioração da saúde mental dos pós-graduandos.
Implicações para a Prática
Os resultados deste estudo oferecem importantes implicações para a prática da enfermagem em saúde mental, com destaque para a promoção do bem-estar psicológico dos pós-graduandos. Os enfermeiros de saúde mental podem colaborar com instituições acadêmicas no desenvolvimento de programas de apoio emocional e psicológico para estudantes que enfrentam dificuldades decorrentes da falta de suporte na orientação. Acresça-se a isso que as intervenções psicoeducativas podem contribuir
com os estudantes para desenvolverem estratégias de enfrentamento, resiliência e habilidades de autogerenciamento.
Outra implicação relevante é a necessidade de capacitar docentes e orientadores para identificar sinais precoces de sofrimento mental nos alunos, o que facilita encaminhamentos adequados para o suporte profissional. A enfermagem em saúde mental pode atuar na elaboração de políticas institucionais com vistas a uma orientação equilibrada e adaptativa, visando reduzir o risco de adoecimento psíquico e melhorar a qualidade de vida acadêmica.















