SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.8 número18La pintura de Damaris Pan: desvíos y anomalíasPrincípio é o fim é o princípio é o fim: Arte e Ciência no trabalho de Cecília Costa índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Revista :Estúdio

versão impressa ISSN 1647-6158

Estúdio vol.8 no.18 Lisboa jun. 2017

 

Artigos originais

Original articles

Felippe Moraes: tudo o que nos ultrapassa

Felippe Moraes: everything that is beyond us

 

Susana Rocha*

*Portugal, artista visual. Mestre em Ensino de Artes Visuais, Universidade de Lisboa. Mestre em Pintura, Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL). Licenciada em Pintura, FBAUL.

AFILIAÇÃO: Universidade de Lisboa, Faculdade de Belas-Artes, Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes (CIEBA). Largo da Academia Nacional de Belas Artes, 1249-058 Lisboa, Portugal.

 

Endereço para correspondência

 

Resumo:

O presente artigo desenvolve uma breve reflexão sobre a obra plástica do artista brasileiro Felippe Moraes, nascida de uma aliança aparentemente paradoxal entre metodologia científica e busca espiritual. Ao longo do texto são analisadas não só as suas motivações como as obras que lhes dão forma. Conclui-se que a obra de Moraes é um elogio singular à condição humana, e ao ímpeto da busca por compreendê-la nas suas distintas dimensões.

Palavras-chave: Felippe Moraes / Arte Contemporânea / Método / Espiritualidade / Paradoxo.

 

Abstract:

The following article develops a brief reflection on the plastic work of the brazilian artist Felippe Moraes, triggered by a seemingly paradoxical alliance between scientific methodology and spiritual search. Throughout the text not only his motivations are analyzed but also the works that were shaped by them. It is concluded that the body of work of Moraes is a singular praise to the human condition, and to the permanent quest to understand it in its distinct dimensions.

Keywords: Felippe Moraes / Contemporary Art / Method / Spirituality / Paradox.

 

Introdução

Arte e ciência têm, ao longo da história, oscilado entre uma relação íntima e convergente e uma relação conflituosa e dissonante, que revela as assimetrias possíveis entre dois grandes campos que acompanham o percurso da humanidade. Se a estes adicionarmos a fé, como uma terceira grande força motriz do ímpeto do ser humano e como um terceiro grande produto do nosso intelecto, estamos perante uma trindade de complexas e profundas relações, com múltiplas nuances e idiossincrasias, que tornam possível formular todas as grandes questões sobre cada uma das equações que nos ultrapassa.

É neste cruzamento de universos que podemos encontrar a obra de Felippe Moraes, artista brasileiro oriundo do Rio de Janeiro, cidade onde nasceu em 1988.

Actualmente doutorando em Arte Contemporânea no Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, Felippe Moraes é um artista plástico representado pela proeminente Galeria Baró de São Paulo, tendo sido, entre outras relevantes distinções, escolhido como finalista do Prémio EDP (SP) e financiado pelo Prémio Arte Monumento 2016 (FUNARTE).

 

1. A ciência como método para questionar a ciência

Nem mesmo catalogando consigo compreender a dimensão subjectiva do mundo.(Moraes, comunicação pessoal)

 

Felippe Moraes tem construído, no decorrer dos últimos anos, uma obra que alia dois aspectos basilares da nossa cultura: uma metódica racionalidade científica focada nos processos e nos valores mensuráveis, e a procura de algo transcendente que explique o que a razão não consegue.

Sentindo o mundo como a continuidade de uma dimensão espiritual, mas ciente de que a sociedade contemporânea tende a valorizar e operar a partir de verdades concretas e absolutas, Felippe Moraes aceita o desafio, e parece partir de um lugar de desconfiança deste sistema estritamente racional – onde tudo precisa de ser logicamente comprovado e respondido – para instrumentalizar e usar regras e processos científicos de um modo subversivo, chegando a um lugar de fé em algo maior e sem nome.

Assim, a matemática enquanto linguagem limitada pelas suas próprias regras e vocábulos torna-se, neste contexto, insuficiente ao invés de uma provedora de verdade absoluta. E a fé, numa crença que não se resume à ideia de Deus, pode traduzir-se apenas num desejo de infinito.

Aparentemente paradoxais, as duas ambivalências, imperativo metodológico-científico e vontade de crença numa transcendência infinita, sustentam uma procura métrica e processual, que questiona a ciência através da própria ciência. Nesse processo começamos a compreender que, também no domínio cientifico, existem perguntas às quais não é dada resposta por exiguidade de um conhecimento inerentemente racional no qual nos habituamos a confiar como único e constante emissor de respostas, hábito que Moraes permanentemente contraria, esforçando-se por tornar visíveis as forças imateriais que participam e, quiçá, sustentam a nossa existência.

Numa poética delicada e atenta às pequenas subtilezas, as formulações científicas evocadas tornam-se ficções entrópicas, e desse modo absolutamente contrarias ao positivismo que se poderia deduzir do aspecto formal das obras criadas pelo artista (Figura 1). No final, o que mais parece importar a Moraes é a busca por respostas, o desencadear de ressonâncias internas que despertem as questões mais profundas e universais da humanidade – e para as quais não é necessariamente oferecida uma resposta verificável.

 

 

Nas palavras do curador Alexandre Sá, o trabalho de Felippe Moraes:

 

(...) tem como material semântico a ciência. Suas fórmulas e suas fabulações estão ali. As equações matemáticas, as topologias do terreno (subjectivo e objectivo), a geologia do espaço (entre o eu e o tu) e todas as outras possibilidades de compreensão e utilização do afã quantitativo que se estabelece enquanto pesquisa. Contudo, Felippe Moraes faz uso deste material de maneira lúdica, consideravelmente ficcional, como se soubesse da verdade que atravessa tais cálculos e exactamente por isto, optasse assumidamente por desconfiar deles, torcendo-os e aplicando-os já de outra forma, na materialidade refinada dos objectos e proposições; promovendo um tipo de lastro poético que se sustenta pela coragem da sua dúvida, pela certeza inelutável de suas angústias e pela instabilidade de suas formulações plásticas (Sá: 2016).

 

2. Uma rede de referências

A introdução de enunciações matemáticas ou científicas como meio para tentar compreender e expressar o espiritual através da criação artística permite traçar uma extensa e antiga árvore genealógica para a prática de Felippe Moraes.

A influência da teosofia na arte existe desde tempos imemoriais; a representação da geometria sagrada na arte prolongou-se durante séculos; a matemática e a proporção áurea foram essenciais ao Renascimento; o simbolismo geométrico de carácter universalizante participou do Construtivismo; a métrica musical esteve profundamente associada à Abstracção Lírica... Porém todos estes momentos fazem parte de uma história longa e já bem contada.

Apesar de claramente se denotar a influência de antigos génios, como Euclides ou Leonardo Da Vinci, na obra de Moraes, bem como a influência posterior de Kasimir Malevich ou mesmo de Piet Mondrian, se quisermos nomear parentes artísticos menos distantes de Felippe Moraes temos que focar, sobretudo, a contemporaneidade.

Artistas conceptuais como Walter de Maria, Joseph Kosuth e Sol Lewitt abriram caminho e revelaram-se marcantes na aceitação do método enquanto possibilidade artística, e é neles que a rede de referências de Felippe Moraes verdadeiramente se enraíza.

Acredito que, sem esses artistas, talvez não tivesse chegado às minhas conclusões. Acontece como na metáfora de estarmos sentados sobre os ombros de gigantes: só vemos alguns horizontes em dado momento histórico, porque outros estabeleceram uma estrada para que caminhássemos por ela.
Walter De Maria é particularmente importante para mim pelo trabalho "Broken Kilometer", que discute a noção de tamanho, de proporção e de arbitrariedade das unidades de medida. Sol Lewitt interessa-me muito no sentido das regras que estabelece para desenhar e como, dessa forma, o desenho é uma manifestação directa da aplicação de um método. Kosuth, por sua vez, interessa-me por reflectir acerca da linguagem e de suas diferentes manifestações. (...)
No sentido mais transcendental do meu trabalho, inseriria, por exemplo Kasemir Malevich, Mondrian, Yves Klein e Anish Kapoor. Acredito que esses, com o passar de pouco mais de um século estão, afinal, a falar das mesmas coisas mas com linguagens próprias dos seus tempos. Falam de uma certa capacidade de ultrapassar o mundo do tangível por meio da forma e da experiência da mesma.
Como referência na arte brasileira, Antõnio Dias sempre foi um artista, como eu dividido entre o pragmatismo e o espiritual. O que me interessa nele, principalmente, são as suas fases mais conceptuais, em que estabelece "grids" convocando relações humanas e mapas estelares (Moraes, comunicação pessoal).

 

Cada um destes fortes exemplos ecoa no universo de referências do artista Felippe Moraes, podendo a sua influência ser pressentida no decorrer da descoberta da sua obra. Assim sendo, resta-nos descobri-la.

 

3. O verbo e o seu peso

Em 2009, Felippe Moraes inicia a obra "Verbo" (2009-2010) (Figura 2, Figura 3). Num processo quase ritualista, que demora cerca de 7 meses a ser completado, o artista recorta todas as aparições da palavra "Deus" presentes numa Bíblia.

 

 

 

 

Partindo do conceito formulado no primeiro Evangelho de João: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus" (JO 1:1) "E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós" (JO 1:4), Moraes tenta, através deste fonema, que se torna palavra, e que impresso se materializa, encontrar e extrapolar o "verbo" que é "Deus", para fora do texto – ou seja, materializar este "verbo"; torná-lo "carne"; tornar o imaterial, palpável. De seguida, cataloga as 5101 aparições da palavra, em folhas A4.

Quando confrontados com os espaços vazios do livro, percebemos que a palavra "Deus" parece realmente carregar uma potência que abandonou o texto, e que agora nos confronta, vertical, na parede em frente.

É certo que a ideia de Deus, como acontece com todas as coisas, é mais poderosa que a palavra que possibilita nomeá-la. Porém, a palavra não se dilui quando separada da narrativa. Já a narrativa, com os seus espaços vazios, parece sugerir-nos poder ser preenchida com qualquer outra designação deste mesmo, ou de um outro qualquer Deus.

Num momento posterior, Felippe Moraes cria um desdobramento desta obra. Designa-o "O Peso do Verbo" (2010-2014). Numa contínua procura por dar forma ao espiritual, o artista apresenta-nos uma balança que equilibra o peso dos 5101 recortes da palavra Deus, com 15g de sal. Na parede atrás da balança, são também dispostos em frascos de vidro, mais 71 reagentes químicos. Desta forma, Moraes parece evocar a possibilidade de Deus se encontrar em potência, nas reacções químicas para as quais os vários reagentes remetem.

Neste jogo metafórico, digno de um incansável alquimista, onde o artista evidencia que tudo o que tem um peso, e que reage quimicamente, inevitavelmente existe, são usados métodos considerados científicos, que, no entanto, nos conduzem a descobertas sem resultados maiores. Embora "Deus" possa ser contabilizado, materializado e até pesado... continuamos no final do processo, precisamente onde começamos: com a desconfiança de que para verdadeiramente tornar Deus em algo concreto a metodologia cientifica não servirá. O trabalho de Felippe Moraes, pertence deste modo ao domínio da fenomenologia, mas remete-nos sempre para o que está para além dela. É desse modo um trabalho de evocações, onde os fracassos da ciência se tornam evidência de transcendência. Onde o relevante está para além de nós.

Porém, Moraes não desiste dos números.

 

4. Números, infinitos e divisões

Ainda que a relação entre ciência e espiritualidade se revele por vezes difícil, Felippe Moraes desvenda formas de fazer um permanente elogio à matemática, quando esta nos remete para o sublime infinito. É isso que acontece com a obra "π" (2010-2011), onde podemos observar alguns algarismos, deste número interminável, escritos a dourado sobre uma parede branca.

É também o que é deduzido dos painéis LED designados "π" (2016), "φ" (2016) e "Primos" (2016) (Figura 4, Figura 5). Neles vemos uma vez mais os algarismos do número pi (número infinito e por isso designado de irracional), os algarismos do número fi (número correspondente à proporção áurea) e diferentes números primos (números apenas diviseis por 1 ou por si mesmos, dando resultados inteiros), respectivamente.

 

 

 

 

Através destes números estranhos, carregados de poder simbólico, somos uma vez mais conduzidos a um questionamento sobre o funcionamento do universo, sobre a nossa capacidade de compreensão sobre que nos rodeia e a nossa dificuldade em aceitar a inexistência de explicações verificáveis.

Felippe Moraes atraiçoa a nossa sensação de segurança e estabilidade revelando-nos um mundo onde não só o universo macro dos números infinitamente grandes nos parece espantar, mas também um mundo onde a tendência para o sublime pode ainda ser encontrada na incomensurável divisão das coisas.

Partindo em direcção a este contexto atómico, onde todos somos feitos da mesma matéria basilar, interessa reflectir sobre "Divisão" (2011) (Figura 6). Nela, uma unidade (um tronco), é apresentada inteira, em 13 partes iguais, dividida ao meio e dividida em quartos. Uma unidade nunca é só uma unidade, mas sim todas as divisões possíveis em direcção ao átomo. E ainda assim... parece pairar a pergunta: num conhecimento em constante evolução, o que poderemos encontrar depois do átomo? O nada? Ou será que é o tudo que reside nessa possível descoberta?

 

 

Nem mesmo Felippe Moares se atreveria a reduzir um tronco a um átomo na sua procura obstinada por respostas. Mas a sugestão dessa ambição reside nesta sensação de progressão que nasce da crescente divisão da unidade e que a reduz, nas palavras de Raphael Fonseca, "a índices de existência que não são capazes de substituir os nomes próprios" (Fonseca: 2012).

 

5. Padrões invisíveis

Na sua contínua e curiosa demanda em conhecer a face oculta do mundo, Felippe Moraes tem-se focado, mais recentemente, em descobrir os padrões invisíveis que nos rodeiam. As premissas que usa são as mesmas que até aqui usou. Porém, a semântica científica fica, por hora, apenas subentendida, possibilitando um lugar de destaque a aspectos mais sensitivos, que dão origem a seduções hipnóticas originadas por movimento ou som.

Em "Movimento Pendular #1" (2014) (Figura 7), o artista solta um pêndulo de vidro que, perdendo areia, forma no chão desenhos circulares concêntricos, com uma amplitude cada vez menor. A dança deste pêndulo prende o olhar de cada espectador e fixa-o no processo deste desenho ordenado e preciso, criado pelas leis da física.

 

 

O resultado final revela uma sobreposição complexa de curvas, que nos conduz o olhar para o centro vazio. A nossa memória cria, através do pensamento rizomático que lhe é característico, relações com movimentos cósmicos, com buracos negros, ou implosões de universos inteiros. Ao contrário do pêndulo de Foucault, aqui, o movimento da terra não parece o destino final.

Em "Tubos Sonoros" (2014) (Figura 8) é a variação do som que nos desperta para o mistério que parece esconder-se dentro de cada tubo. Numa lógica que dita o funcionamento de qualquer instrumento musical de sopro, os diferentes comprimentos produzem diferentes variações sonoras.

 

 

O artista dá deste modo, e uma vez mais, forma ao imaterial. Convoca-o a revelar-se e a participar das suas obras, permitindo que o público faça a sua própria descoberta de um modo activo e participante.

Tanto "Movimento Pendular #1" como "Tubos Sonoros" são potentes experiências que parecem nascer do exterior para o interior. Hipnóticos, ressoam visual e auditivamente em cada espectador, ecoando muito para além do tempo em que nos confrontamos com as obras. São dois exemplos, nos quais Felippe Moraes se torna, por momentos, "um revelador, mais que um criador" (Moraes, comunicação pessoal).

 

6. Horizonte

Para terminar este breve percurso pela profícua obra de Felippe Moraes, é indispensável dedicar atenção a uma das suas obras mais recentes, "Monumento ao Horizonte" (2016) (Figura 9, Figura 10), que pode ser encontrada no pontão Caminho Niemeyer, em Niterói – Rio de Janeiro. De certo modo, esta obra é a súmula de todos os princípios que guiam a prática deste autor, até este momento.

 

 

 

 

Partindo de uma obra anterior, "A Distância do Horizonte" (2010), onde o artista desenvolve uma fórmula matemática para calcular a distância entre o olhar do observador e o seu horizonte óptico, sendo a altura dos olhos de cada observador que determina a distância que o seu olhar pode alcançar, Moraes oferece com "Monumento ao Horizonte", um olhar mais grandioso que qualquer outro.

Esta estrutura em aço eleva-nos, através de uma escada interior, até uma fenda que, fixando-nos o olhar, oferece um horizonte cerca de 7 km mais longínquo do que aquele que seria possível ver a partir de uma altitude de 0 metros.

Esta estrutura que nos eleva parece não só homenagear o horizonte, mas sobretudo a admirável busca humana por "ver mais longe", por descobrir novas costas, olhar para lá de fronteiras, e conquistar o direito a um mundo onde é a nossa latitude de conhecimento que permite que sejamos grandes; e é a eterna busca por ampliá-la que nos orienta através do tempo.

 

Seu acabamento já riscado e marcado denota a ação de um tempo que ainda não passou, sugerindo sua existência no mundo desde muito antes de sua instalação. Este proto-mirante está voltado para o oeste, como se fosse a agulha de uma bússola poente, e nada mais poético do que construir um aparato que desafia o tempo cronológico apontando sempre para o anoitecer (afinal, é no Rio que inventaram o aplauso ao pôr do sol).

De forma alongada, quando visto de frente seu aspecto oscila entre o totem e o monólito: pode ser visto como um objeto cuja presença é ancestral, ou então como elemento natural; algo construído por uma civilização antiga ou matéria orgânica que brota da própria terra, irrompida do chão. Por outro lado, também parece erguer-se como lugar artificial criado fora de nosso tempo, como se trazido para o passado-presente para suscitar o porvir e nos fazer encarar o futuro – em cada esfera distinta de apreensão da obra ativamos diferentes modos de ser, estar e se perceber no mundo. (Lima, 2016)

 

Esta obra sem tempo, sem época, e por isso ruína eterna e futurista, que estruturalmente oferece uma possibilidade real (a de ver mais longe), mas que não parece sustentar qualquer consequência pragmática, vale-se do seu intuito poético para nos lembrar que as descobertas de novos horizontes nem sempre devem ser comandadas por propósitos funcionais, mas por chamamentos interiores, por pulsões em direcção a este infinito, que o horizonte também é.

 

Conclusão

Felippe Moraes propõe pensar a arte como um diálogo entre a ciência e a espiritualidade, numa constante descoberta que nos revela seres orientados para o conhecimento mas também impelidos para uma crença espiritual.

Convocando um vasto leque de referências e auto-referências, o artista cria uma obra poética, que formalmente apresenta uma linguagem científica na sua busca metodológica por algo maior do que a razão poderá explicar. Nesta ambivalência, Felippe Moraes presta tributo a uma grande dualidade da condição humana: a constante procura de conhecimento, concreto e transcendente, sobre tudo o que parece ultrapassar-nos.

 

Agradecimentos

Bolseira Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

 

Referências

Fonseca, Raphael (2012) 1,04 Centímetros. [Consult. 2017-01-04] Disponível em URL: http://www.mkgallery.org/downloads/137/104centmetrospt.pdf        [ Links ]

Lima, Júlia (2016) Monumento ao Horizonte. [Consult. 2017-01-09] Disponível em URL: http://cargocollective.com/felippemoraes/Monumento-ao-Horizonte        [ Links ]

Sá, Alexandre (2016) Felippe Moraes. [Consult. 2017-01-03] Disponível em URL: http://cargocollective.com/felippemoraes/Obras/Texto        [ Links ]

 

Artigo completo submetido a 19 de janeiro de 2017 e aprovado a 5 de fevereiro 2017

 

Endereço para correspondência

 

Correio eletrónico: susanavrocha@gmail.com (Susana Rocha)

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons