Introdução
O presente artigo sintetiza um processo de trabalho desenvolvido no contexto da licenciatura em Artes Visuais e Tecnologias, o qual assume como eixo central os possíveis cruzamentos entre a prática nas artes visuais e no design. Este processo de trabalho desenvolveu-se no âmbito da Unidade Curricular (UC) de Estudos de Arte e Design, que integra o último ano do ciclo de estudos e procura constituir-se como um espaço de iniciação à investigação nestas áreas. Considerando que a licenciatura assume características de banda larga, estrutura-se em torno de três grandes eixos: as artes visuais (desenho, pintura, escultura, fotografia, ...), o design (design de produto e design de comunicação) e as tecnologias multimédia. Através da construção de um plano de estudos que procura articular as áreas agregadas aos três eixos anteriormente mencionados, procura-se a formação de profissionais capazes de articular os vários saberes de modo flexível, por forma a dar resposta a solicitações provindas de contextos tão diversos como o do trabalho de enquadramento empresarial, do âmbito do associativismo cultural ou da educação não formal, entre outros. Atendendo a estas características, desenvolveram-se metodologias de iniciação à investigação baseadas na prática, que observaram a diversidade de contextos de atuação possíveis, bem como a transversalidade das aprendizagens desenvolvidas e respetiva aplicação.
Investigação em arte e design baseada na prática
A prática em arte e design pressupõe, desde logo, o desenvolvimento de pesquisa que se configura enquanto parte integrante de um processo criativo mais amplo e que conjuga conhecimentos de natureza técnica e teórica, experimentação (material e técnica), estudo de documentação visual, literária, histórica, trabalho de campo, bem como opções de natureza metodológica e conceptual. Na verdade, a demanda do conhecimento inerente à prática artística em artes visuais tem assumido, ao longo das últimas décadas, uma crescente afirmação, ainda que, não raras vezes, tenha colidido com a legitimação e os protocolos da investigação académica (Nelson, 2013). A investigação pela prática ou a prática como investigação (Sullivan, 2009) revelaram-se núcleos centrais de atuação, capazes de cruzar as áreas da educação, da investigação em arte e design e as respetivas práticas, consideradas num espetro mais alargado e transdisciplinar. Esta modalidade de investigação requer uma redefinição dos papéis atribuídos não só ao estudante, mas igualmente ao professor, na medida em que os processos criativos e educativos integram, em si próprios, uma dimensão reflexiva e discursiva, ao mesmo tempo que observam realidades mais alargadas do conhecimento, da sociedade e da cultura. Todavia, há que salvaguardar a distinção entre a pesquisa desenvolvida no âmbito de um processo criativo de natureza puramente individual, por conseguinte subjetiva, e a produção de conhecimento com valor social e com uma finalidade pública. Na primeira situação, a criação de um objeto de arte ou de design, embora envolva pesquisa e experimentação, poderá acrescentar conhecimento apenas ao seu autor. Já na segunda, verifica-se uma efetiva procura de saber onde ele não existe. Neste segundo caso, o resultado poderá consistir no conhecimento em si mesmo (traduzido sob a forma de artefacto, sistema, projeto, discurso teórico, … ), validado enquanto resultado de uma ação com finalidade pública. Espera-se que produza algo considerado como relevante, útil e inovador, e que, tanto ao nível dos resultados como da metodologia de trabalho, possam ser apresentadas evidências, disponíveis para exame e escrutínio.
Assumindo como cenário de fundo estes pressupostos, procurámos delinear uma abordagem à UC de Estudos de Arte e Design capaz de conciliar de forma coerente a teoria e prática investigativa, numa perspetiva experimental e especulativa. Assumimos como suportes teórico-metodológicos a Prática enquanto Pesquisa (PaR, na aceção anglo-saxónica) e a pesquisa em arte e design baseadas na prática e conduzidas pela prática (practice-based e practice-lead) nos moldes em que a definem, respetivamente, Nelson (2013), Smith e Dean (2009), ou Margolin (2002), este último por via dos “design studies”. Neste caso, considera-se o design como uma prática transversal, socialmente construída e capaz de atravessar as fronteiras disciplinares impostas por uma certa especialização e atomização. Ou seja, para a produção de conhecimento não podem as teorias e os argumentos ser considerados de forma isolada. Desafia-se, em última instância, a criação de comunidades plurais e de interconexões entre grupos de investigadores diversos. Smith e Dean (2009) propõem um modelo iterativo de pesquisa conduzida pela prática e de prática conduzida por pesquisa, segundo o qual as etapas dentro de cada grande ciclo de atividades (produção de ideias, seleção desenvolvimento, teorização, aplicação, síntese...) envolvem iterações múltiplas e de sentido recíproco. Este modelo, atendendo à sua validade para o prosseguimento da investigação, permite uma análise crítica e uma avaliação sistemática dos resultados de cada tarefa realizada, regulando a tomada de decisões (figura 1).
Atendendo à perspetiva destes autores, há que distinguir entre a ‘pesquisa baseada na prática’ e a ‘pesquisa conduzida pela prática’, considerando que: i) se um artefacto criativo é o suporte que garante a contribuição para o conhecimento, a pesquisa é baseada na prática (practice-based research); ii) se a pesquisa leva essencialmente a novos entendimentos sobre a prática, ela é conduzida pela prática (practice-led research). Deste modo, através de um enquadramento que possibilita múltiplas ligações entre o saber e as práticas, são convocadas relações entre pensamento criativo, reflexão crítica e estética.
Aos estudantes foi proposto o desenvolvimento de um trabalho em equipa alicerçado em contextos reais de atuação e que, grosso modo, compreendeu a proposta de intervenção em espaço público. Considerou-se a fluidez possível entre as áreas das artes visuais e do design, encarando as suas práticas no contexto de espaços de atuação socialmente construídos, numa convergência entre prática projetual e prática investigativa. Através da articulação entre a produção de conhecimento, aliada a uma ação culturalmente envolvida e socialmente contextualizada, promoveu-se a desconstrução de uma perspetiva acrítica e formalista das práticas e da reprodução de saberes (teóricos, técnicos, estéticos, …).
Este encadeamento coerente entre teoria e prática permite, em nosso entender, dar resposta a múltiplos desafios de modo fundamentado, flexível, crítico, aberto a contributos e insights vindos da comunidade envolvente (contributos culturais, sociais, tecnológicos, académicos, entre outros). Mostra-se igualmente capaz de consolidar as práticas de futuros profissionais no âmbito das artes visuais, design, multimédia ou educação artística. Os processos de trabalho levados a cabo procuraram articular um conjunto de saberes de natureza artística, funcional e comunicacional, com vista à construção de um potencial de conhecimento social e culturalmente relevante, em resposta a situações reais de atuação. Neste sentido, foi nossa intenção incorporar nos processos de ensino-aprendizagem uma perspetiva cultural, social e ambiental que, em simultâneo, pudesse contribuir para a compreensão de problemáticas atuais, considerando as múltiplas ligações entre dinâmicas locais e globais. Por conseguinte, facultou-se a introdução de metodologias de pesquisa e comunicação de conhecimento, inerentes a processos de investigação próprios e válidos, porquanto não subjetivamente condicionados.
O projeto que aqui divulgamos consistiu finalmente no desenvolvimento de um exercício de base projetual, com vista a um entendimento alargado acerca do objeto de arte e/ou de design, centrado na dimensão relacional da prática criativa. Deste processo, enfatizamos as possibilidades de gerar conhecimento não subjetivo, considerando formas de trabalho participativo ou colaborativo, na produção de sentido(s), bem como nas estratégias de comunicar conhecimento, designadamente através da curadoria, entendida esta enquanto campo transdisciplinar.
Se esta rua fosse minha…
A intervenção em espaço público, preconizada a partir das áreas das artes visuais e/ou do design supõe, desde logo, que este se configure como um lugar de/para as imagens (Campos, 2011) como um cenário de vivências quotidianas, que integram um espetro ENT#091;sicENT#093; mais amplo daquilo que Campos designa como “ecologia visual urbana” (Campos, 2011, p. 4). Num mesmo sentido, a ação social e culturalmente estruturada (Appadurai, 2004) não está isenta de uma dimensão imagética. A imaginação, enquanto “campo organizado de práticas sociais” (Appadurai, 2004, p. 48) comporta um consumo visual que molda a forma como projetamos o mundo e que funde memória, experiência, realidade, ficção, identidade, conflito, negociação. A imaginação compreende, assim, a incorporação sensorial, simbólica e afetiva de imagens que, ao transpor a esfera da mediação, assumem uma dimensão atuante, transformando-se em agentes operantes. Brighenti (2011) utiliza o termo imaginacção para definir um plano de convergência entre imaginação, imagem e ação, considerando que “as imaginacções correspondem à imaginação social e ao próprio processo de formação dos territórios urbanos” (Brighenti, 2011, p. 31).
Atendendo às complexas ligações entre as práticas da imagem (as quais compreendem, entre outras, as dimensões material, imaterial, estética, simbólica, tecnológica e funcional) e as da intervenção em espaço urbano, foi desenhada uma proposta de trabalho sob o mote “Se esta rua fosse minha…”. Assumindo como pressuposto base a apropriação/intervenção em espaço urbano, por forma a colocá-lo ao serviço da comunidade, constatou-se o desenvolvimento de projetos que, de forma plural, ensaiam de facto as múltiplas possibilidades de uma imaginacção colocada ao serviço da investigação em arte e design baseadas na prática e socialmente implicadas.
O processo de trabalho proposto comportou um conjunto sequencial de etapas e foi alicerçado em pontos de convergência entre teoria e prática, considerando modalidades de diagnóstico, recolha, sistematização, análise e interpretação de dados e comunicação. Esta última etapa contou com o desenvolvimento do projeto curatorial (multidisciplinar), com vista à fruição e à pluralidade de respostas para problemáticas emergentes. O projeto, realizado em equipa, culminou na apresentação de um poster científico em formato digital, documento que ficou na posse dos estudantes como objeto síntese, cientificamente sustentado.
Metodologia proposta para a dinamização do projeto
Considerando a reciprocidade entre as diferentes etapas do processo investigativo, nos moldes propostos pelo modelo de Smith e Dean acima referido (figura 1), foram definidas treze etapas para o desenvolvimento do projeto de intervenção em espaço público (tabela 1).
As etapas acima descritas foram acompanhadas de uma avaliação sistemática, com base na matriz de análise SWOT. Tal avaliação permitiu que, a cada momento do processo, fosse realizada uma apreciação fundamentada dos aspetos positivos e negativos das ações desenvolvidas, bem como das oportunidades e constrangimentos. Deste modo, foi estimulada a visão crítica e a autorreflexão acerca do trabalho realizado, mas igualmente o pensamento divergente, a flexibilidade das respostas e a capacidade de elaborar, comunicar e discutir ideias entre pares.
Análise dos processos e dos resultados
Para a observação e análise qualitativa dos resultados obtidos pela via que vimos enunciando, assumimos como fonte primária os posters científicos elaborados pelos diversos grupos de trabalho como documento síntese do processo, do projeto desenvolvido e do plano para a sua comunicação. Procede-se agora à análise do conteúdo dos mesmos, para a identificação e categorização de: i) problemáticas emergentes dos contextos de atuação escolhidos pelos estudantes; ii) metodologias e instrumentos de recolha de informação; iii) estratégias e modalidades de atuação.
Problemáticas emergentes dos contextos de atuação escolhidos pelos estudantes
Assinaláveis dentro deste campo, observam-se problemáticas relacionadas com: o património (histórico, artístico e cultural), nas suas dimensões material e imaterial; a memória; a identidade pessoal, social e do lugar; a diversidade cultural; a inclusão; a intergeracionalidade; a gentrificação; a biodiversidade; a sustentabilidade; a educação não formal, considerando-se neste âmbito a educação estética (figura 2). Esta última, fazendo jus ao potencial transformador de uma perceção crítica da(s) realidade(s), operada a partir da experiência estética (naquilo que ela comporta de redefinição do sujeito), é transversal a praticamente todos os trabalhos desenvolvidos, um sinal ainda da mobilização de metodologias e conhecimentos transversais e inerentes a processos de investigação próprios, quer das artes visuais quer do design.
Metodologias e Instrumentos de recolha de informação
No campo das metodologias e dos instrumentos de investigação, identificou-se o recurso a: entrevista; pesquisa documental; questionário; contatos informais com a comunidade e processos colaborativos/participativos diversos. De entre estes, ressalva-se que uma parte significativa do processo de trabalho decorreu em regime de confinamento ditado pela conjuntura pandémica. Deste modo, assumiram maior relevo a entrevista e a pesquisa documental de fonte bibliográfica e arquivística, fosse ela de cariz escrito, iconográfico ou objetual. A informação decorrente desta recolha foi interrogada e hermenêuticamente tratada por ação de processos criativos, metodologias baseadas na prática e conduzidas pela prática, nos moldes definidos no primeiro ponto deste artigo.
Estratégias e modalidades de atuação
Foram elencadas como modalidades e estratégias de atuação dos estudantes, tendo em conta as problemáticas e as questões de investigação emergentes do respetivo contexto de atuação: a intervenção in loco para a criação de objetos ou ações de natureza física; o desenvolvimento de estratégias de intervenção por via de plataformas digitais; o recurso a modos de intervenção multimeios e o desenvolvimento de ações de natureza física, completadas por recurso a suportes digitais.
Em todas as situações avançadas, e tal como referido anteriormente, a utilização de instrumentos de monitorização dos processos e das estratégias, elaborados com uma matriz SWOT, permitiu a avaliação sistemática das diferentes etapas.
Dos vinte e três projetos propostos e desenvolvidos pelos estudantes, verificou-se que 56,5% estudantes fizeram uso de estratégias de atuação mobilizadoras de conhecimentos, princípios metodológicos ou instrumentos de atuação multidisciplinares, interrelacionando, metodologicamente, os campos científicos das artes visuais e os do design; 26,1% optaram por mobilizar ação e conhecimento da esfera das artes visuais e 17,4% do âmbito do design (figura 3).
Da análise destes resultados, observa-se e destaca-se a flexibilidade na articulação de saberes, mediante a mobilização em modo transversal de processos criativos e de conhecimento das artes visuais e do design, na busca de questões emergentes e hipóteses de resposta a problemáticas diversas. Verifica-se ainda a observação de princípios metodológicos, quer das artes visuais quer do design, não como meios de produção, antes como vias possíveis para a produção de conhecimento crítico - expandindo os limites de outras formas de pensamento e de investigação.
Análise da ação desenvolvida e dos seus efeitos ou dinâmicas de atuação
De entre as ações desenvolvidas pelos estudantes, uma larga maioria centrou-se na criação de um projeto de intervenção artística em espaço público, com recurso a instrumentos multimédia como modo de aumentar e tornar mais participativa a sua ação, um facto a que uma vez mais não será alheia a conjuntura de confinamento na qual nos encontrávamos. Além destes, observam-se ainda: projetos para a criação de roteiros temáticos; websites; aplicações móveis; criação de galerias comunitárias (físicas ou online); o desenvolvimento de atividades de natureza educativa como workshops ou hortas pedagógicas; atividades de natureza lúdica como jogos; projetos para a revitalização do espaço público, através da renovação do equipamento urbano e a realização de exposições, ou ainda a criação de livros de artista (figura 4).
Apresentam-se de seguida quatro exemplos de projetos de intervenção desenvolvidos na UC de Estudos de Artes e Design pelos estudantes de AVT, no âmbito da proposta “Se Esta Rua fosse Minha ...”, para o estudo de um espaço urbano, colocado ao serviço da comunidade.
Do território urbano, humano e cultural da Travessa da Queimada, no Bairro Alto em Lisboa, as estudantes responsáveis pelo projeto diagnosticaram a problemática das ‘Memórias Invisíveis da Rua’ (figura 5). Como proposta, apresentaram a criação de um roteiro da imprensa, baseado na recolha de informação textual e iconográfica de arquivo, bem como nos testemunhos e nas memórias de alguns cidadãos locais. Este projeto, que acabou por estender-se ao bairro como um todo, previu ainda a criação de um arquivo de memória acessível online, aberto à reunião de testemunhos e documentação diversa disponibilizada pelo cidadão comum e acessível em formato digital.
Nota: Autoria e Fotografias - Ailéma Monteiro.
Ainda no território correspondente ao Bairro Alto em Lisboa, a figura de Camilo Castelo Branco, nascido na Rua da Rosa, assume-se como protagonista da pesquisa desenvolvida por Marco Alpoim e Ricardo Almeida (figura 6). Da indagação acerca do lugar emergiu um conjunto de paradoxos (“quanto mais luz existe mais sombras se formam”, “movimentada de noite e calma de dia”) que foram associados à própria obra de Camilo. Através de uma estratégia curatorial que associa a street art ao design de comunicação, o grupo desenvolveu uma abordagem que intentou confrontar a experiência sensorial do transeunte com a integração do discurso literário no espaço urbano.
Nota: Autoria e Fotografias - Ricardo Almeida & Marco Alpoim.
Um outro exemplo é o do projeto que assumiu como objeto de estudo a Rua Major Augusto Escrivanis, em Cascais (figura 7). Também neste caso, a memória histórica do lugar foi o ponto de partida assumido pelas estudantes responsáveis pelo projeto. A problemática emergente do diagnóstico centrou-se na invisibilidade atual dos vestígios da malha urbana antiga no território ao qual pertence hoje a rua. Deste modo, o projeto procurou evidenciar essa memória, agora invisível, através de um livro de artista. Este suporte comunicacional/estético interpela o observador por via de uma abordagem exploratória, baseada no estudo do documento histórico. A dimensão iconográfica e a recriação, operada por meio da fotografia, da ilustração e da colagem, surge aqui como estratégia simultaneamente plástica/ visual, investigativa e comunicacional.
Nota: Autoria e Fotografias - Matilde Braz e Sara Rodrigues.
Nota: Autoria e Fotografias - Madalena Francisco e Tiago Aires.
O projeto cuja parte do documento síntese se observa na figura 8 assumiu como objeto de estudo o Bairro Almeida Araújo, em Queluz, um lugar popularmente conhecido pelo nome de “Bairro do Chinelo”. Da investigação levada a cabo nos arquivos camarários pelos estudantes, estes apuraram que se tratava de um bairro criado para albergar os trabalhadores das obras de restauro do Palácio de Queluz, ditadas então pelo Estado Novo. Dos factos investigados, emerge como problemática a identidade de um bairro criado, por princípio, para ser invisível. Centrou-se por esta razão a problemática identificada pelos estudantes nesta questão da Visibilidade versus Invisibilidade. Como proposta, definiram um projeto de investigação baseado em fontes de arquivo e no testemunho das gentes do bairro, operacionalizando-a por via do desenho. A abordagem seguida pelos estudantes assumiu um cariz poético/artístico, materializada num Livro de Artista. Este objeto configurou-se em registo da imaginação, da observação, da ação política e da vivência social, na confluência entre o processo criativo, a materialidade do território urbano, a imaterialidade das memórias locais, dos tempos, das identidades e do processo investigativo/criativo.
Nota final
O trabalho desenvolvido na UC de Estudos de Arte e Design permitiu um cruzamento entre o processo de ensino-aprendizagem com um processo investigativo nestas áreas, evidenciando, em primeiro lugar, a diversidade, a flexibilidade das respostas encontradas e, em segundo, o vasto campo de potencialidades que uma abordagem transdisciplinar e/ou interdisciplinar pode oferecer na formação de uma profissionalidade ligada às artes visuais e às tecnologias. Na verdade, todo o processo proposto aos estudantes, o qual vimos descrevendo, pretende culminar, no último semestre do ciclo de estudos, com a integração dos estudantes em práticas profissionais. Estas são caracterizadas pela multiplicidade de áreas de atuação e contextos, incluindo, entre outras, as áreas do design de comunicação, multimédia, design de produto, webdesign, educação não formal, curadoria, artes visuais, sendo desenvolvidas em entidades como associações culturais, desportivas, instituições museológicas ou empresas. No final, ficou patente a vantagem da transversalidade de competências adquiridas ao longo do ciclo de estudos, baseadas em dinâmicas multidisciplinares que permitiram entre outras: i) a possibilidade de mobilizar metodologias e instrumentos que entrecruzam informação diversa; ii) a diversidade de estratégias de atuação e a flexibilidade na articulação entre as áreas científicas e de intervenção; iii) a capacidade de desenvolver formas de comunicação variadas e adequadas a diferentes contextos socioculturais; iv) a fluidez na planificação de etapas de trabalho/ integração em equipas; v) a monitorização sistemática, autorreflexibilidade nos processos.
Com base nos inquéritos realizados aos estudantes (32 respostas), cuja síntese integra o Relatório de Unidade Curricular (RUC), constatou-se: i) que cerca de 70% consideraram como muito adequada a coordenação entre as componentes teórica e prática; ii) que 90% consideraram adequada a articulação entre as atividades propostas e os objetivos da unidade curricular; iii) 78% consideraram adequado o contributo do trabalho desenvolvido na UC para a aquisição de competências associadas ao curso e finalmente iv) 74 % consideraram adequada a dimensão interdisciplinar da UC na ligação com outras unidades curriculares do curso.
Verificaram-se finalmente as vantagens de encetar processos investigativos abertos a uma dimensão experimental e especulativa que, sem a subordinação aos constrangimentos do mercado, são capazes de articular o pensar e o fazer enquanto pilares de uma profissionalidade cada vez mais exigente nas respostas a dar, considerando os desafios da comunicação, do conhecimento, da participação cívica, da inclusão, da inovação e da sustentabilidade.