Este número temático da revista Da investigação às práticas nasce da realização do I Congresso Internacional de Mediação Artística e Cultural realizado na ESELx entre os dias 11 e 12 de Julho de 2022 no âmbito do Projeto PI&CA 2021-2023 “Entre: investigação em Mediação Artística e Cultural” financiado pelo Centro de Interdisciplinar em Estudos Educacionais da ESELx.
No âmbito deste congresso procurámos explorar aquela que seria a especificidade da função social dos mediadores artísticos e culturais, quais os seus saberes e competências específicas, qual a autonomia e responsabilização a que devem estar sujeitos. Este exercício coletivo pareceu-nos relevante quer no contexto da formação, quer no âmbito das práticas na medida em que se trata de uma área de investigação e intervenção emergente. Para além disto, a Mediação Artística e Cultural assume-se como uma área de fronteira de saberes e experiências e por isso gera indefinições no processo da sua afirmação nas suas dimensões teóricas e metodológicas tornando assim, o exercício coletivo de reflexão sobre as práticas e o pensamento um processo sempre enriquecedor. Assim, ao longo de dois dias foi possível ouvir mais de 30 comunicações realizadas por participantes vindos de 5 países diferentes, garantindo-se assim uma grande diversidade de enquadramentos teóricos e de práticas, fundamentais para o desenvolvimento desta área de atuação de natureza educativa e social.
Neste volume da revista, encontram-se algumas das comunicações que foram apresentadas. Desde logo, destaca-se a contribuição dada com o artigo intitulado “Envolvendo o poder cultural dos mediadores num véu de profissionalidade”. Neste artigo o autor oferece-nos uma perspetiva histórica sobre as práticas de mediação pontuando a sua análise com a evolução e transformação dos paradigmas que regem estas práticas e esta classe de profissionais ao longo do tempo, tendo como contexto de estudo, o território Canadiano, um dos berços da Mediação Artística e Cultural. Ainda no campo da reflexão sobre a profissionalidade destes agentes educativos e culturais, surge o artigo com o título “Contextos, práticas e conceções em torno da Mediação Artística e Cultural: resultados das pesquisas desenvolvida por futuros profissionais”. Este trabalho resulta de uma recolha de dados realizada por estudantes finalistas da licenciatura em Mediação Artística e Cultural (LMAC), ao longo de quatro anos, que são reflexo das preocupações e conceções destes estudantes em relação ao seu futuro profissional enquanto mediadores.
Os artigos seguintes refletem perspetivas de intervenção na primeira pessoa. Em “Mapa de Olhares: Práticas de intervenção em Mediação Artística e Cultural no Espaço Artes do Instituto Politécnico de Lisboa” é apresentado um projeto de Mediação desenvolvido por uma estudante finalista da LMAC em contexto de pandemia, demonstrando o potencial da MAC como agente de aproximação e reforço social em momentos em que os laços sociais estão fragilizados. Também “A Mediação Cultural e Artística na Escola - Perspetivas na primeira pessoa ou um lugar de fala para o mediador artístico-cultural a operar em contexto educativo e comunitário” a autora apresenta e reflete sobre o impacto da sua experiência enquanto agente de mediação entre o contexto escolar e a comunidade. Já em “A mediação e o mediador: reflexões sobre experiências artístico-pedagógicas” a proposta parte da ação do artista, em particular no campo das artes visuais e do teatro, com especial relevância na perspetiva teórico-metodológica da mediação teatral.
Numa abordagem mais teórica e conceptual é apresentado o artigo “Quand les projets culturels intersectoriels interrogent la définition de la médiation” que aborda as questões da articulação entre os setores da saúde e do care com o da cultura, nomeadamente as transformações operadas tanto nas práticas dos profissionais da saúde como da mediação artística e cultural. Já em “Divisões espaciais do trabalho. O caso da mediação cultural em museus e instituições de arte europeus” a reflexão sobre a marginalização associada ao género é trazida para o debate a partir da ação da mediação e da mediadora em contextos artísticos e em espaços de museus, procurando-se uma linha de pensamento e transformação que possa contribuir para uma maior simetria nestes contextos culturais. Continuando com o artigo “Un médiateur augmenté de compétences sociales pour une inclusion muséale ?”, prossegue-se a reflexão sobre as transformações e as especificidades da função de mediação artística e cultural em contexto específica, aqui em museus com públicos fragilizados, com a proposta de uma profissão híbrida: o remediador. Outro contexto específico, o confinamento devido à COVID, levou a “Analisar a adaptabilidade dos mediadores culturais num contexto de mudança face à ascensão das práticas digitais”, identificando mudanças de práticas e mostrando como as adversidades permitiram aos mediadores ganharem legitimidade através do uso das tecnologias digitais ao manter a sua função de criadores de laços.
No artigo “Da indeterminação à reconsideração da mediação cultural: Abordagem ecossistêmica de uma prática profissional”, a autora, salientando a natureza híbrida da mediação cultural da arte, propõe-nos perspetivar a constante modulação dos contornos desta profissão em função da situação, através de um modelo ecossistémico orgânico. Finalmente, adotando uma perspetiva histórica, em “A mediação cultural como cidade subjetiva”, são interrogados os desafios e implicações ideológicas, políticas e éticas das práticas de intervenção em mediação artística e cultural encarada como forma de atuar sobre a relação com a arte, levando-nos a uma ética da conscientização da subjetividade e do cuidar de si próprio e do outro através da relação com a arte.
Este volume apresenta um conjunto de perspetivas diversas sobre a ação e influência do trabalho da Mediação e dos Mediadores artísticos e culturais que será relevante no contexto do exercício profissional, mas também, se assume como uma mais valia nos processos formativos dos futuros mediadores. A qualidade e a pertinência deste número devem-se à preciosa contribuição da comissão científica que participou na revisão das propostas de comunicação do congresso, mas também deste número. Assim, é devido um agradecimento à equipa que de forma diligente e rigorosa apreciou os artigos que aqui se compilam: Ana Luísa Oliveira Pires, Alix Didier Sarrouy, Cláudia Carvalho, Elisabete Gomes, François Mairesse, Gilles Suzanne, Joana Campos, Jean-Marie Lafortune, Judith Dehail, Mathieu Menghini, Matilde Artiaga Viera Caldas, Martin Lussier, Miguel Falcão, Pedro Moreira, Robson Rosseto, Teresa Fradique, Teresa Santos Leite e Zara Pinto-Coelho.














