INTRODUÇÃO
A fototerapia é uma modalidade terapêutica empregada para tratamento de várias dermatoses. Essa prática existe desde 2000 AC. quando a helioterapia foi usada para tratar algumas doenças no Egito, Grécia e Índia, como o vitiligo.1,2Consiste em exposição à radiação ultravioleta (UV)A ou UVB, no primeiro caso após administração de substância fotossensibilizante oral (psoraleno) - PUVA.1
Psoríase, vitiligo, linfoma cutâneo de células T, parapsoríase, dermatite atópica e outras dermatoses de caráter crônico podem ser tratadas com resultados satisfatórios.3-13Para melhores resultados, pode ser associada a outros medicamentos sistêmicos, como os retinóides, especialmente no caso de psoríase, e menos frequentemente ao metotrexato ou ciclosporina, visando controle das dermatoses com doses menores desses medicamentos.3,7
São limitações da fototerapia a disponibilidade do equipamento, adesão do paciente, e considerações clínicas, como a dose cumulativa total dos raios UV e suas consequências.3 O efeito colateral agudo mais comum da terapia com UVB ou PUVA é a “queimadura solar” que ocorre cerca de 24 horas após o tratamento,8,9mas pode também ocorrer uma erupção polimórfica à luz ou fotossensibilidade induzida por medicamentos. Os efeitos colaterais crônicos incluem lentigos, fotoenvelhecimento, queratoses actínicas e câncer de pele.8,9
Apesar do uso da fototerapia em diversas dermatoses e em vários centros pelo mundo, são poucos os dados consistentes sobre a população que utiliza esta terapêutica,10-12sendo importantes estudos semelhantes para o planejamento de unidades que desejam implantar este método, além de esclarecer o tipo de paciente a selecionar e as dermatoses mais comumente tratadas.11,12No departamento de Dermatologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto do Rio de Janeiro, onde se utiliza fototerapia com UVA e UVB pelo há mais de 20 anos, este estudo foi realizado entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019 com a finalidade de caracterizar a população beneficiada com a fototerapia e o seu grau de satisfação.
MATERIAL E METÓDOS
Trata-se de um estudo observacional, transversal e descritivo realizado no setor de fototerapia do Serviço de Dermatologia de um hospital universitário de alta complexidade.
Dispomos de dois equipamentos de radiação UV, uma cabine com 42 lâmpadas de 100W UVA (340 a 400 nm) e outra com 6 lâmpadas UVB narrow band (banda estreita) de 100W (311 a 312 nm).
A colheita de dados foi realizada nos 3 meses entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019 entrevistando os pacientes em tratamento naquele período. Os dados foram obtidos através do preenchimento de um questionário aplicado por um dos pesquisadores. Nesse questionário os pacientes forneceram informações pessoais como idade, gênero, fototipo, diagnóstico, tempo para chegar ao hospital da sua casa, quantas sessões semanais, eventos adversos, comorbidades, se em algum momento este tratamento prejudicou atividades laborativas, qual a importância desse tratamento, como caracteriza a resposta, descrição de tratamentos prévios, beneficio secundário, satisfação com o tratamento, dentre outras.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição (nº 17321219.3.0000.5259). Os critérios de exclusão foram: menos de 10 sessões de fototerapia ou preenchimento incompleto do questionário aplicado.
RESULTADOS
Foram incluídos 51 indivíduos, 69% do sexo feminino, com uma idade média de 49 anos, variando de 10 a 81 anos, com predomínio de indivíduos na faixa etária dos 61 aos 75 anos (Fig. 1). O fototipo III foi o mais prevalente na amostra (55%) (Fig. 2). Em relação ao tipo de fototerapia, a maioria dos pacientes (63%) é submetida à radiação ultravioleta B de banda estreita (UVB-NB). No estudo 96,1% dos pacientes realizam as sessões de fototerapia no setor duas vezes por semana, raramente uma vez/semana. Em média, os pacientes estavam em tratamento entre três anos a cinco meses, a maior parte dos pacientes do estudo estão em tratamento mais de 2 anos.
As dermatoses em tratamento mais prevalentes durante a pesquisa foram: o vitiligo (62,5%), a micose fungoide (13,73%) e a psoríase (7,48%). Outras dermatoses como parapsoríase, granuloma anular e esclerodermia tiveram menor prevalência (Fig. 3).
Em relação aos doentes com terapêuticas combinados nesse trabalho 78,43%, faziam a fototerapia adjuvante a outras medicações como, por exemplo, tacrolimus ou metotrexato.
O grau de melhora das dermatoses em tratamento com fototerapia foi de 98,0%, sendo descrita uma melhora parcial ou significativa pelo paciente, isso corrobora com a satisfação do tratamento, que foi superior a 95%.
Quanto aos efeitos colaterais da fototerapia, 78% dos pacientes afirmaram que durante o tratamento houve um evento adverso, na sua grande maioria, a queimadura de primeiro grau (90%).
Apenas 31% possuem um emprego formal, sendo que 88% afirmaram que não possuem restrições dentro do ambiente de trabalho devido ao tratamento. Quando questionados em relação ao nível de satisfação com o tratamento, 72% se declararam satisfeitos e 26% muito satisfeitos. Dentre os motivos pelos quais a fototerapia tem tal índice de satisfação além dos resultados terapêuticos objetivos, 22% dos pacientes mencionaram a socialização com os outros pacientes, constituindo praticamente um grupo terapêutico na sala de espera.
DISCUSSÃO
A prevalência de mulheres e fototipos mais baixos foi concordante com os achados de Casara et al e Ujihara et al, possívelmente, pela maior preocupação feminina com a saúde, estética e, ainda, perfil da população na região.11,12
A predominância de idosos nesse estudo é concordante com o trabalho de Ujihara et al e pode ser justificada pela presença de maior número de comorbidades nessa faixa etária, havendo assim mais contra-indicações aos tratamentos convencionais, além da maior disponibilidade de tempo do paciente, tornando a fototerapia uma opção terapêutica isolada ou adjuvante.11
Com relação a maior prevalência do vitiligo na amostra estudada, há concordância com os estudos Casara et al e Ujihara et al.11,12A segunda dermatose mais prevalente em nosso estudo foi micose fungoide, o que difere dos estudos que avaliaram a prevalência das dermatoses tratadas com fototerapia e que apresentaram como segunda dermatose mais prevalente ou até a primeira, a psoríase.11,12,14-16A justificativa para tal fato, é a disponibilidade de outras modalidades terapêuticas no tratamento da psoríase, permitindo que outras dermatoses beneficiem com a fototerapia, dada a limitação no número de vagas para o tratamento com fototerapia, no setor.11-13
Para submeter-se a fototerapia é necessária a disponibilidade de tempo e/ou condição social do paciente, mas em alguns casos essa é a única opção de tratamento seja por contraindicações a outras terapias coadjuvantes ou por limitadas opções terapêuticas.11,12
O efeito adverso mais prevalente, o número de sessões semanais, o uso da radiação UVB-NB e o uso combinado da fototerapia com outros medicamentos, são semelhantes com os dados da literatura.11,12
A fototerapia foi caracterizada como bem tolerada, segura e eficaz, semelhantes com os dados de Powell et al, sugerindo um provável aumento futuro na indicação e adesão a essa modalidade terapêutica.10
Embora o acesso à unidade de fototerapia constitua um importante fator limitante, o grau de satisfação e a socialização entre os pacientes, motivam o uso do método. Em relação ao grau de satisfação com o tratamento, nossos dados vão de acordo com a literatura, em que mais de 90% dos pacientes da amostra estavam satisfeitos com esta modalidade terapêutica.11
CONCLUSÃO
O uso da fototerapia como modalidade terapêutica na Dermatologia é uma opção na atualidade e fornece resultados satisfatórios e o grau de satisfação dos doentes é elevado.
Este estudo permitiu descrever o perfil de um setor de fototerapia de um centro de dermatologia de referência, com dados importantes para o planejamento tanto de serviços que já dispõem dessa modalidade terapêutica quanto das unidades que desejam implantá-la.