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Revista da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia

versão impressa ISSN 2182-2395versão On-line ISSN 2182-2409

Rev Soc Port Dermatol Venereol vol.78 no.4 Lisboa dez. 2020  Epub 10-Set-2021

https://doi.org/10.29021/spdv.78.4.1265 

Carta ao editor

Terminologia Metafórica ou Descritiva na Dermatoscopia: Qual a Melhor?

Metaphoric or Descriptive Terminology for Dermoscopy: Which is the Best?

1Departmento de Dermatovenereologia, Centro Hospitalar Universitário de São João EPE, Porto, Portugal


Em 2016, a Sociedade Internacional de Dermatoscopia (SID) publicou um documento sobre a padronização da terminologia dermatoscópica, na qual um painel de especialistas propôs um dicionário de termos quer metafóricos quer descritivos.1 Este foi um dos três marcos históricos na dermatoscopia, precedido pelo primeiro sistema de análise de padrões em 1987 e o estabelecimento de um método diagnóstico em 2003.2

A terminologia metafórica é vista por alguns autores como um aspeto natural e inevitável da linguagem humana, enquanto outros a criticam pela falta de clareza e especificidade.3 De facto, termos metafóricos como “áreas tipo folha”, “dedos gordos” ou “véu azul-acizentado” são bastante subjetivos e tornam mais difícil a comunicação racional entre dermatoscopistas.4 Por outro lado, a terminologia descritiva é um conceito relativamente novo que pretende harmonizar o léxico dermatoscópico e classifica todas as estruturas pigmentadas com base em cinco elementos básicos definidos geometricamente, nomeadamente “linhas”, “pseudópodes”, “círculos”, “glóbulos” e “pontos”.1

Um inquérito online anónimo questionou 1093 membros da SID sobre qual a terminologia dermatoscópica que preferiam na prática clínica diária. Um total de 56% dos participantes reportaram usar ambas as terminologias, enquanto 24% usavam preferencialmente a terminologia descritiva e 20% a terminologia metafórica.1 Giacomel J et al consideraram que a terminologia descritiva é mais apropriada para caraterizar achados dermatoscópicos simples e breves, porém torna-se de difícil aplicação quando se lida com achados complexos, nos quais termos metafóricos como “pigmentação em roda-dentada” ou “padrão em morango” podem ser eficazes.3

Independentemente das preferências pessoais, quanto mais específico for o diagnóstico evocado pela metáfora, mais útil ela se torna. Apesar da sua utilidade prática, a linguagem metafórica pode ser uma barreira na aprendizagem da dermatoscopia.

Para os mesmos achados dermatoscópicos, o dermatoscopista pode ser erradamente induzido a atribuir um diagnóstico específico. Apresentamos um exemplo da terminologia metafórica enganadora na Fig. 1 e Tabela 1. Habitualmente, somos induzidos a chamar “áreas tipo folha” a linhas radiadas castanhas conectadas a uma base comum, mas apenas se elas se apresentarem no carcinoma basocelular. O mesmo é válido para termos como “grãos de pimenta”, que pode estar presente no melanoma ou na queratose liquenóide.

A importância da terminologia descritiva é salientada pelos perigosos tumores falso-negativos na dermatoscopia, nos quais neoplasias malignas que mimetizam lesões benignas podem escapar da deteção do médico. Neoplasias como o melanoma, carcinoma espinocelular e carcinoma basocelular são exemplos de lesões que podem apresentar caraterísticas de neoplasias benignas.5 É crucial adotar um método universal e homogéneo de terminologia dermatoscópica, evitando a dificuldade do jargão usado pelos especialistas, que pode ser incompreensível para os principiantes.

Em conclusão, a terminologia descritiva, simples e lógica, cujos termos finais não assentam num diagnóstico específico, pode ser mais adequada para aprender dermatoscopia.

44 anos de idade, com evolução de 2 anos, cuja histopatologia confirmou melanoma com Breslow 1,6 mm. Legenda: retângulo - rede pigmentada/ linhas reticulares; elipse - mancha/ zona sem estrutura preta; linhas - disseminação radial/ linhas radiais e segmentadas. 

Tabela 1 Terminologia metafórica e descritiva aplicada à HYPERLINK "#f1" . 

Figura Terminologia metafórica Terminologia descritiva Diagnóstico dermatoscópico Diagnóstico histopatológico
1A Ninhos ovóides azul-acinzentados Glóbulos grandes agrupados azuis Carcinoma basocelular Carcinoma basocelular
1A Áreas tipo folha Linhas radiais conectadas a uma base comum Carcinoma basocelular Carcinoma basocelular
1A Grãos de pimenta Pontos cinzentos Melanoma, queratose liquenóide Carcinoma basocelular
1A Despigmentação de tipo cicatricial Zona sem estrutura branca Melanoma Carcinoma basocelular
1B Rede pigmentada Linhas reticulares Lesões melanocíticas, dermatofibroma, lêntigo solar Melanoma
1B Mancha Zona sem estrutura preta Se centrado hipermelanótico - nevo de Clark; se excêntrico - melanoma Melanoma
1B Disseminação radial Linhas radiais e segmentadas Melanoma, nevo recorrente Melanoma

REFERÊNCIAS

1. Kittler H, Marghoob AA, Argenziano G, Carrera C, Curiel-Lewandrowski C, Hofmann-Wellenhof R, et al. Standardization of terminology in dermoscopy/dermatoscopy: Results of the third consensus conference of the International Society of Dermoscopy. J Am Acad Dermatol. 2016;74:1093-106. doi:10.1016/j.jaad.2015.12.038. [ Links ]

2. Berk-Krauss J, Laird ME. What's in a Name-Dermoscopy vs Dermatoscopy. JAMA Dermatol. 2017;153:1235. doi:10.1001/jamadermatol.2017.3905. [ Links ]

3. Giacomel J, Zalaudek I, Marghoob AA. Metaphoric and descriptive terminology in dermoscopy: Lessons from the cognitive sciences. Dermatol Pract Concept. 2015;5:69-74. doi:10.5826/dpc.0502a11. [ Links ]

4. Kittler H. Dermatoscopy: Introduction of a new algorithmic method based on pattern analysis for diagnosis of pigmented skin lesions. Dermatopathology. 2007;13:3. [ Links ]

5. Papageorgiou V, Apalla Z, Sotiriou E, Papageorgiou C, Lazaridou E, Vakirlis S, et al. The limitations of dermoscopy: false-positive and false-negative tumours. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2018;32:879-88. doi:10.1111/jdv.14782 [ Links ]

1© Autor (es) (ou seu (s) empregador (es)) 2020 Revista SPDV. Reutilização permitida de acordo com CC BY-NC. Nenhuma reutilização comercial. © Author(s) (or their employer(s)) 2020 SPDV Journal. Re-use permitted under CC BY-NC. No commercial re-use

Recebido: 19 de Agosto de 2020; Aceito: 03 de Outubro de 2020

Correspondência: Nuno Gomes Departmento de Dermatovenereologia Centro Hospitalar Universitário de São João EPE Alameda Professor Hernâni Monteiro 4200-319 Porto E-mail:nunompretogomes@gmail.com

Conflitos de interesse: Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse na realização do presente trabalho. Fontes de financiamento: Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste artigo. Confidencialidade dos dados: Os autores declaram ter seguido os protocolos da sua instituição acerca da publicação dos dados de doentes. Consentimento: Consentimento do doente para publicação obtido. Proveniência e revisão por pares: Não comissionado; revisão externa por pares. Conflicts of interest: The authors have no conflicts of interest to declare. Financing support: This work has not received any contribution, grant or scholarship. Confidentiality of data: The authors declare that they have followed the protocols of their work center on the publication of data from patients. Patient Consent: Consent for publication was obtained. Provenance and peer review: Not commissioned; externally peer reviewed

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