Em 2016, a Sociedade Internacional de Dermatoscopia (SID) publicou um documento sobre a padronização da terminologia dermatoscópica, na qual um painel de especialistas propôs um dicionário de termos quer metafóricos quer descritivos.1 Este foi um dos três marcos históricos na dermatoscopia, precedido pelo primeiro sistema de análise de padrões em 1987 e o estabelecimento de um método diagnóstico em 2003.2
A terminologia metafórica é vista por alguns autores como um aspeto natural e inevitável da linguagem humana, enquanto outros a criticam pela falta de clareza e especificidade.3 De facto, termos metafóricos como “áreas tipo folha”, “dedos gordos” ou “véu azul-acizentado” são bastante subjetivos e tornam mais difícil a comunicação racional entre dermatoscopistas.4 Por outro lado, a terminologia descritiva é um conceito relativamente novo que pretende harmonizar o léxico dermatoscópico e classifica todas as estruturas pigmentadas com base em cinco elementos básicos definidos geometricamente, nomeadamente “linhas”, “pseudópodes”, “círculos”, “glóbulos” e “pontos”.1
Um inquérito online anónimo questionou 1093 membros da SID sobre qual a terminologia dermatoscópica que preferiam na prática clínica diária. Um total de 56% dos participantes reportaram usar ambas as terminologias, enquanto 24% usavam preferencialmente a terminologia descritiva e 20% a terminologia metafórica.1 Giacomel J et al consideraram que a terminologia descritiva é mais apropriada para caraterizar achados dermatoscópicos simples e breves, porém torna-se de difícil aplicação quando se lida com achados complexos, nos quais termos metafóricos como “pigmentação em roda-dentada” ou “padrão em morango” podem ser eficazes.3
Independentemente das preferências pessoais, quanto mais específico for o diagnóstico evocado pela metáfora, mais útil ela se torna. Apesar da sua utilidade prática, a linguagem metafórica pode ser uma barreira na aprendizagem da dermatoscopia.
Para os mesmos achados dermatoscópicos, o dermatoscopista pode ser erradamente induzido a atribuir um diagnóstico específico. Apresentamos um exemplo da terminologia metafórica enganadora na Fig. 1 e Tabela 1. Habitualmente, somos induzidos a chamar “áreas tipo folha” a linhas radiadas castanhas conectadas a uma base comum, mas apenas se elas se apresentarem no carcinoma basocelular. O mesmo é válido para termos como “grãos de pimenta”, que pode estar presente no melanoma ou na queratose liquenóide.
A importância da terminologia descritiva é salientada pelos perigosos tumores falso-negativos na dermatoscopia, nos quais neoplasias malignas que mimetizam lesões benignas podem escapar da deteção do médico. Neoplasias como o melanoma, carcinoma espinocelular e carcinoma basocelular são exemplos de lesões que podem apresentar caraterísticas de neoplasias benignas.5 É crucial adotar um método universal e homogéneo de terminologia dermatoscópica, evitando a dificuldade do jargão usado pelos especialistas, que pode ser incompreensível para os principiantes.
Em conclusão, a terminologia descritiva, simples e lógica, cujos termos finais não assentam num diagnóstico específico, pode ser mais adequada para aprender dermatoscopia.
Figura | Terminologia metafórica | Terminologia descritiva | Diagnóstico dermatoscópico | Diagnóstico histopatológico |
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1A | Ninhos ovóides azul-acinzentados | Glóbulos grandes agrupados azuis | Carcinoma basocelular | Carcinoma basocelular |
1A | Áreas tipo folha | Linhas radiais conectadas a uma base comum | Carcinoma basocelular | Carcinoma basocelular |
1A | Grãos de pimenta | Pontos cinzentos | Melanoma, queratose liquenóide | Carcinoma basocelular |
1A | Despigmentação de tipo cicatricial | Zona sem estrutura branca | Melanoma | Carcinoma basocelular |
1B | Rede pigmentada | Linhas reticulares | Lesões melanocíticas, dermatofibroma, lêntigo solar | Melanoma |
1B | Mancha | Zona sem estrutura preta | Se centrado hipermelanótico - nevo de Clark; se excêntrico - melanoma | Melanoma |
1B | Disseminação radial | Linhas radiais e segmentadas | Melanoma, nevo recorrente | Melanoma |