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CIDADES, Comunidades e Territórios

versão On-line ISSN 2182-3030

CIDADES  no.37 Lisboa dez. 2018

 

RESENHA

 

Recensão do livro "Resilience, Crisis and Innovation Dynamics"

Review of "Resilience, Crisis and Innovation Dynamics"

 

 

Fábio SampaioI

[I]Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Portugal. e-mail: fabio.ffr.sampaio@gmail.com.

 

 

Resilience, Crisis and Innovation Dynamics

Tüzin Baycan e Hugo Pinto

Cheltenham (UK): Edward Elgar Publishing, 2018

 

As crises económicas e financeiras que se desenvolvem cada vez mais recorrentemente poderão dar origens a outro tipo de crises - sociais, culturais e políticas - e têm impactos acentuados nas sociedades contemporâneas. É esta relevância que levou Tüzin Baycan, Professor do Departamento de Planeamento Urbano e Regional da Universidade Técnica de Istambul na Turquia e Hugo Pinto, Investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e Professor Assistente da Faculdade de Economia da Universidade do Algarve em Portugal a organizar o livro Resilience, Crisis and Innovation Dynamics (Baycan & Pinto, 2018), centrado no debate sobre a resiliência, a crise e a dinâmica de inovação. A resiliência é, para estes autores, uma característica de determinados países e regiões, que pode ser usada para combater os efeitos das crises que assolam ciclicamente as economias e as sociedades atuais. O conceito de resiliência remete para a capacidade de um sistema manter as suas relações e propriedades diante de perturbações nesse mesmo sistema. A relação direta do conceito de resiliência com as crises e a inovação emergiu como explicação à forma (mais ou menos inovadora e com maior ou menor sucesso) como os sistemas socioeconómicos territoriais se adaptam a eventos e perturbações negativas.

A visão mais atual do conceito de resiliência invoca a premissa de que a inovação é fulcral, sendo ela uma dimensão essencial para a compreensão e desenvolvimento da resiliência regional (Christopherson, Michie e Tyler, 2010). Desta forma, Baycan e Pinto abandonam a ideia mais tradicional de resiliência e sublinham a nova abordagem de resiliência evolucionista, apontando para a capacidade de uma região sustentar o desenvolvimento de longo prazo e responder positivamente a choques de curto prazo. Nesta abordagem, a resiliência regional é conceptualizada não apenas como a capacidade de uma região acomodar choques de curto prazo, mas alargada à capacidade de uma região conseguir reconfigurar a sua estrutura socioeconómica e institucional para desenvolver novos caminhos de crescimento a longo prazo (Boschma, 2015).

Considerando o conceito de resiliência evolucionista, a inovação deverá ser tomada como uma dimensão crítica do conceito de resiliência. Os sistemas de inovação desempenham um papel fundamental na superação dos efeitos negativos dos impactos das crises, assim como na reconfiguração a longo prazo das regiões, pois combinam as capacidades de uma diversidade de atores, de centros de investigação e desenvolvimento, organizações educacionais, associações industriais, empresas e órgãos governamentais. Em suma, nesta perspetiva mencionada a priori, os sistemas de inovação poderão e deverão ser entendidos como uma unidade analítica para a compreensão da resiliência, por via da exploração das características estruturais das redes de inovação dentro dos territórios, das ligações entre os atores, da sua densidade e papel institucional.

O livro organiza-se em torno de quatro partes, cada parte dividida em vários capítulos que conduzem o leitor à compreensão de como a resiliência regional poderá ser incrementada, quais as principais dificuldades emergentes e como é que, empiricamente, a resiliência e a inovação poderão ser relacionadas.

No seguimento da introdução (Parte I), a Parte II– “ Innovation, Crisis and Resilience”, reúne seis capítulos que expõem uma relação congruente entre a inovação, a desaceleração económica e o conceito de resiliência. No âmbito dos pressupostos teóricos apresentados por diversos autores, defende-se a importância que é dada à inovação no que toca à superação de crises, sendo que, a resiliência dos países e regiões é congruente com o setor tecnológico e inovador. Por um lado, estudos empíricos desenvolvidos em países como Hungria, Indonésia, Eslováquia comprovam essa relação entre resiliência, inovação e crise. Por outro, a demonstração destes resultados ajuda à compreensão dos conceitos e ao tipo de medidas e estratégias a seguir para que as regiões consigam ser sustentáveis, inovadoras e resiliente às crises.

Em suma, os vários capítulos da Parte II da obra, focam a transversalidade, resiliência e inovação, demonstrando a partir destes conceitos que a formulação de políticas de inovação regional poderá ser baseada na governança não linear, lateral e interativa e na interação e colaboração dos vários atores do sistema. Durante os capítulos foi ainda possível observar uma preocupação por parte dos autores ao elaborarem uma revisão teórica do conceito de resiliência e da sua relação com os sistemas de inovação a nível regional, permitindo compreender alguns dos conceitos básicos de resiliência no que toca a sua aplicação em regiões que sofreram choques. Esta abordagem inicial permitiu compreender o comportamento dos ecossistemas que estão sob stress e de que forma estes contextos poderão ser adaptáveis a esses stresses e choques externos sofridos a partir de políticas de resiliência. Por fim, tornar-se fácil para o leitor compreender e verificar estes pressupostos teóricos, pois, no decorrer da parte II subsistiu um cuidado em comprovar empiricamente a suposta relação teórica entre resiliência, inovação e crise a partir de estudos de caso e de analises estatísticas dos países previamente mencionados.

A Parte III- “Labor Markets, Employment and Resilience” - consiste em cinco capítulos que pretendem analisar os efeitos da crise no mercado de trabalho e nas dinâmicas de emprego. Nesse âmbito focam-se fatores exógenos e endógenos que poderão afetar o desempenho económico e o mercado de trabalho das sociedades, assim como formas de reorganização socioeconómica das sociedades para superar este tipo de choques. Na trajetória da parte III da obra, pretende-se compreender como é que os diferentes fatores exógenos e endógenos têm influências distintas e soluções distintas nos diferentes países, regiões, territórios e cidades, tendo em conta os pressupostos teóricos de resiliência. São novamente utilizados casos de estudo empíricos (no Chile na Turquia na Grécia e em Itália) para demonstrar como os choques podem influenciar as economias e o mercado de trabalho e de que forma é que se pode superar esses impactos a curto e longo prazo.

A Parte IV do livro, intitulada " Clusters, Industrial Dynamics and Resilience”, integra cinco capítulos e aborda a questão da resiliência regional no que toca à importância das características no tecido económico das regiões, assim como no surgimento de clusters. A partir de abordagens teóricas dos conceitos de resiliência, os vários autores realizam uma interligação empírica a partir de estudos de casos (em Portugal, Turquia e Reino Unido) com o surgimento de cluster, visando, desta forma, reunir e interligar os conceitos de clusters e resiliência, fornecendo ao leitor uma reflexão clara da conexão entre clusters, especialização inteligente, transferência de conhecimento e resiliência. O foco é posto em questões como; a resiliência a partir da criação e transferência do conhecimento; a formação de clusters e indústrias criativas; as potencialidades da criação de learning regions a partir do triângulo virtuoso do governo – industria – universidade e qual a preponderância para o seu surgimento.

Concluindo, para Tüzin Baycan e Hugo Pinto as crises, os seus choques e impactos nas sociedades contemporâneas determinam o surgimento de problemas e desafios económicos e sociais, sendo que a especialização inteligente, a inovação, a variedade, a transversalidade e reorganização dos setores deverão ser uma solução para a resiliência económica dos países e regiões. O livro tenta compatibilizar e expor, de uma forma crítica, mas bastante objetiva, as abordagens teóricas dos estudos da resiliência com as abordagens empíricas a partir de estudos de caso que proporcionam uma vasta gama de material quantitativo e qualitativo que permitiu examinar, testar e propor soluções de resiliência regional. Os vários autores dos dezassete capítulos que integram este livro apresentam várias conceções de resiliência e das suas dinâmicas intrínsecas, assim como o uso que é feito deste conceito. Uma das ideias fundamentais a reter deste livro é a abertura para soluções em épocas de crise na economia e na sociedade, que permitam a capacidade de adaptação dos países e regiões, como o caso das dinâmicas de resiliência, capazes de colmatar as incertezas e dificuldades imediatas de curto prazo a partir de uma visão futura e de sustentabilidade de longo prazo. Finalizando, esta leitura é de extrema relevância e recomendada a todos os estudantes da área das ciências socio económicas que pretendam adquirir conhecimentos mais aprofundados nas questões da inovação e resiliência, assim como, a todos os decisores políticos e stakeholders ligados a políticas públicas e ao empreendedorismo que pretendam dinamizar os seus territórios.

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