O português, património de vários povos do mundo, é, atualmente, língua oficial de nove países, sendo também língua de trabalho em várias organizações internacionais e regionais. Dada a sua dispersão geográfica no mundo, a língua portuguesa apresenta variedades em todos os países lusófonos. No contexto das línguas, o português é uma das línguas mais faladas no mundo, o que lhe confere o estatuto de língua global. Por isso, tendo em conta a sua importância, o português é ensinado, como língua estrangeira, em diversas universidades de países não-lusófonos, em África, na Ásia, na América, na Europa e na Oceânia. Para além das universidades, várias escolas básicas e secundárias também contemplam, nos seus programas curriculares, o ensino do português como não materna e língua estrangeira.
O ensino do português em universidades estrangeiras é assegurado por Leitores do Camões I.P.- Instituto da Cooperação e da Língua e por Leitores dos Centros Culturais Brasileiros, colocados nas suas Embaixadas. Para esse desafio, os Centros Culturais Portugueses, espalhados pelo mundo, também participam, arduamente, na difusão e promoção da língua de Camões. No entanto, o ensino formal da língua portuguesa, a nível mundial, é realizado em duas variedades: a lusitana e a brasileira. Fora do espaço lusófono, a norma lusitana é a mais ensinada a nível das universidades estrangeiras.
Neste 2º ano em que se comemora o Dia Internacional da Língua Portuguesa, o 5 de Maio, data consagrada pela UNESCO, em reconhecimento da sua importância no mundo, a Revista Internacional em Língua Portuguesa publica este número, dedicado ao ensino do português e suas variedades. Este número de revista é constituído por seis artigos, contribuições de docentes de várias instituições de ensino superior, nomeadamente: do Brasil, dos Estados Unidos da América, da Guiné-Bissau, de Macau, de Moçambique e de Portugal. Os artigos aqui reunidos apresentam métodos, estratégias e tecnologias para o ensino e aprendizagem do português como língua não materna (PLNM) e língua estrangeira (PLE).
No primeiro artigo deste número, discute-se o português como língua pluricêntrica, tendo em conta as diversas formas que a língua portuguesa assume no mundo lusófono. São assinaladas as diferenças entre as duas variedades normalizadas e é proposta a introdução de variedades africanas no ensino formal do português, a nível lexical. Assim, o artigo seguinte é consagrado à análise dos aspectos teóricos sobre o ensino de vocabulário e o uso do dicionário na aula de Português Língua Não Materna (PLNM), bem como são apontados os critérios para a seleção do tipo de dicionário, tendo em conta o perfil da turma e do local onde ocorre o curso. Ainda neste artigo são também indicados dicionários usados para os cursos de português língua não materna, tendo em consideração a variedade do português a ensinar.
O terceiro artigo aborda a questão dos textos que fazem parte do ambiente digital, permitindo o ensino da língua através da exploração dos novos géneros textuais, os chamados digitais. Neste estudo teórico, pretende-se, segundo o autor, reflectir sobre a necessidade de desenvolver nos alunos competências linguístico-discursivas que lhes permitam ler, analisar e produzir textos adequados aos ambientes digitais. Destaca-se também a importância da internet, indicando os tipos de textos digitais, que contribuem para o ensino da língua. O artigo seguinte trata de um projecto de ensino-aprendizagem do português como língua estrangeira, tendo como meio um periódico anual, “O Canto do Mar: jornal criativo em língua portuguesa”, que tem como objetivo principal o ensino, uso e difusão da língua de Camões. O Canto do Mar é um periódico anual promovido e editado pelo Departamento de Espanhol e Português da UW-Milwaukee, nos Estados Unidos da América.
O penúltimo artigo é dedicado à análise de quatro manuais selecionados para o ensino de português língua estrangeira, para os vários níveis. Neste artigo são recomendados os critérios para a melhor seleção e avaliação de manuais para o ensino de português língua estrangeira. Tendo em conta o papel facilitador do manual para o desenvolvimento da competência comunicativa, são assinaladas as funções de um manual didático e a sua importância. Neste estudo são apresentados quatro manuais selecionados para o ensino do português língua estrangeira, usados no curso de Licenciatura em Estudos Portugueses na Universidade de Macau. Finalmente, o último artigo é consagrado à variação léxico-semântica e ao ensino do Guineense, uma variedade do português falado na Guiné-Bissau, que resulta do contacto entre o português e as diversas línguas nativas. O autor deste artigo faz uma análise sociolinguística da Guiné-Bissau, onde o guineense funciona como língua franca e nacional para a maioria da população, apesar de não ter o estatuto de língua oficial, e propõe a valorização e reconhecimento do português guineense no ensino formal.
Os nossos agradecimentos são aqui expressos a todos os autores que submeteram os seus textos à Revista Internacional em Língua Portuguesa, os quais permitiram a concretização deste número; aos revisores que, apesar do momento difícil que o mundo atravessa, analisaram e avaliaram, com rigor científico, os textos ora publicados, e, finalmente, à equipa da RILP pelo trabalho árduo e empenho na organização do presente número.