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Revista Internacional em Língua Portuguesa

versão impressa ISSN 2182-4452versão On-line ISSN 2184-2043

RILP vol.44  Lisboa dez. 2023  Epub 14-Dez-2023

https://doi.org/10.31492/2184-2043.rilp2023.44/pp.43-56 

Artigo Original

Movimentos Sociais e Pandemia: Lições de anos em turbulência

Nadejda Marques1 

José Manuel Mendes1 

1Universidade de Coimbra.


Resumo

A pandemia da COVID-19 acelerou complexas transformações sociais que ocorriam na sociedade há décadas. As principais políticas de contenção da pandemia, do isolamento físico/social ao lockdown, representavam barreiras significativas à organização de protestos nas ruas. Nesse contexto, organizações e movimentos sociais precisaram se adaptar e evoluir rapidamente para garantir sua sobrevivência, relevância e realizar suas demandas. Este artigo demonstra que apesar dessas dificuldades, durante os anos da pandemia, de 2020 a 2022, vários movimentos sociais não somente se fortaleceram como tiveram considerável êxito. Isso se deu principalmente para movimentos já estabelecidos que conseguiram alavancar e combinar uma série de táticas de mobilização inclusive com uso de ferramentas tecnológicas para canalizar o descontentamento social através de redes de solidariedade e aproveitar oportunidades políticas. A análise desse contexto e dessas experiências globais oferecem lições valiosas através das quais os movimentos podem dialogar e ajudarem-se mutuamente, além de promoverem lições de sustentabilidade para o processo de contestação social ao longo prazo.

Palavras-chave: movimentos sociais; pandemia COVID-19; mobilizações e protestos

Abstract

The COVID-19 pandemic accelerated complex social changes taking place in society for decades. Policies and practices implemented to contain the pandemic and restrict the spread of the vírus - from physical/social isolation to lockdowns - have posed significant obstacles to the organization of public protests. To confront this new context, social movements and activists were forced to adapt and evolve quickly to ensure their survival and relevance, and to fulfill their demands. Despite difficulties, this article argues that in the period of 2020 to 2022, many social movements both became stronger and achieved considerable advances by using a combination of mobilization tactics including leveraging technology to channel popular discontent through networks of solidarity and political opportunities. Analyzing the contexts and experiences from around the world provides valuable lessons on how movements can dialogue and support each other and develop more durable sustainable forms of contestation processes.

Keywords: social movements; COVID-19 pandemic; mobilizations and protests

Introdução

No início da pandemia e em resposta a características próprias de transmissibilidade e letalidade do SARS-CoV-2, para a prevenção e contenção do novo coronavírus, autoridades e profissionais de saúde fizeram recomendações e instituíram medidas e políticas de saúde pública que alteravam profundamente os padrões de interação e comportamento social. O Estado passou a exercer ostensivamente tanto biopolítica quanto biopoder expondo as tensõesentre os ideais de segurança sanitária (ser biológico) e cidadania (ser sociopolítico) e entre a liberdade individual e a responsabilidade para com os outros (Jasanoff, 2020). Dessa forma, buscando controlar não somente a circulação das pessoas, mas também seus corpos, o Estado provoca profundas mudanças na dinâmica e operacionalidade dos movimentos sociais.

Da perspectiva dos movimentos sociais - sobretudo quando o acesso aos espaçospolíticos se encontra obstruído ou dificultado por autoridades - era difícil imaginar um contextomais desfavorável à sua atuação e à organização de ações coletivas pois, tradicionalmente, o trabalho de base é viabilizado pela aproximação de corpos, pela relação corpo-a-corpo, e de corpos em comunidade. O corpo tem uma função política muito importante nos movimentos de reivindicação e é indispensável na construção de autoridade e na ocupação de espaços (Coelho e Víctora, 2017). Além disso, o corpo em movimento, na tomada das ruas em protestos, é aindaum dos métodos mais eficazes de ativismo através do qual movimentos sociais tornam públicasas suas demandas.

Apesar dessa conjuntura antagonista que se deu sobretudo no início da pandemia, alguns movimentos sociais progressistas lograram conquistas importantes especialmente nasAméricas. Em 2020, na Bolívia, a mobilização de camponeses e indígenas em protesto contra atos de violência de agentes do Estado que visavam políticos da oposição, jornalistas e cidadãosmotivou eleitores que se apresentaram em massa às eleições presidenciais e elegeram Luis Arcee David Choquehuana, do Movimiento al Socialismo, com 55% dos votos. No mesmo ano, após manifestações de tamanho recorde, o Chile aprovou um referendo histórico a favor de uma reforma constitucional que modificará a Constituição do ex-ditador Augusto Pinochet de 1980.

No Peru, jovens da geração bicentennial tomaram as ruas e conseguiram, após a remoção do Presidente Martín Vizcarra, a renúncia em cerca de cinco dias do governo ilegítimo de Manuel Merino, garantindo a nomeação de Francisco Sagasti como presidente interino. Com milhares de mulheres portando lenços verdes, movimentos sociais como o Ni Una A Menos, na Argentina, em apoio às campanhas históricas pelos direitos reprodutivos das mulheres, foram essenciais na legalização e descriminalização do aborto.

Nos Estados Unidos, a rede do Black Lives Matter (Black Lives Matter Network) não só organizou a maior mobilização social da história do país desde os anos 60 como também foi fundamental para vencer Donald Trump nas eleições presidenciais. Após dois anos de pandemia, em 2022, na Colômbia, organizações que se organizavam desde 2019 contra a violência e o paramilitarismo e mobilizavam os colombianos contra políticas neoliberais, ajudaram a eleger Gustavo Petro e Francia Marquez revertendo um histórico de políticos de direita na presidência do país.

Esses exemplos ilustram o paradoxo pandêmico onde as ruas se mantiveram relevantes no processo da política institucional sobretudo na primeira fase da pandemia apesar das medidas restritivas de prevenção e contenção contra a COVID-19 como o uso obrigatório de máscaras, o distanciamento físico, a quarentena, o toque de recolher e o lockdown (Szwako, Dowbor e Pereira, 2020). Por sua vez, esse paradoxo se explica pelo efeito intensificador que a pandemia teve sobre diversas crises mundiais que se alastram nas últimas décadas, seja em termos da desigualdade na distribuição da riqueza, da mudança climática ou do crescimento do etnonacionalismo em nível global.

Embora essas crises, em particular, as crises do Estado (Nilsen, Berdnikovs e Humphrys, 2010), estejam diretamente ligadas às condições estruturais que fomentam movimentos sociais (Kerbo, 1982), não servem como explicação suficiente. Assim, partindo do entendimento de que a força de um movimento social está ligada à reivindicação de um coletivo organizado, à união e ao comprometimento de indivíduos a essa reivindicação e a condições e contextos favoráveis, inclusive em termos de possibilidade política (Snow e Soule, 2010), buscando contribuir para o debate sobre movimentos sociais através de uma perspectiva global e complementar aos trabalhos publicadas sobre o tema (Pleyers, 2020; Pressman & Choi-Fitzpatrick, 2020; Kowalewski, 2020), identificamos cinco elementos que possibilitaram aos movimentos sociais por democracia e justiça social alcançar vitórias significativas durante o período da pandemia. São eles:

  1. Continuidade das lutas sociais;

  2. Contexto político favorável;

  3. Redes solidárias eficazes;

  4. Combinação de táticas de mobilização;

  5. Excedente populacional em ócio forçoso disposto a participar de discussões estruturais.

Foi o alinhamento desses cinco elementos fundamentais que permitiu que, apesar da pandemia histórica, o biênio 2020-2022, fosse um período de grande mobilização social com elevado número de protestos a nível mundial e também um período em que movimentos sociais progressistas alcançaram objetivos específicos.

Certamente, durante o mesmo período, outros tantos movimentos e organizações se desarticularam em função do isolamento ou porque perderam suas fontes de recursos, pessoal ou a possibilidade de manter suas atividades comunitárias. Nesta análise, utilizamos exemplos de ativismo tirados de diversos movimentos sociais que existiam antes da pandemia e que foram responsáveis pela organização de protestos de grande escala durante os anos de 2020 a 2022. Tratamos com destaque casos onde movimentos sociais obtiveram reconhecimento internacional através de agências específicas ou da mídia e alcançaram seus objetivos específicos apesar da pandemia. De maneira alguma pretendemos analisar de forma cabal nem exaustivamente nenhum dos movimentos sociais citados. Tampouco avaliamos protestos anti-lockdown ou anti-medidas preventivas contra a COVID-19 organizados ou espontâneos que ocorreram em diversos países durante o mesmo período.

1.Continuidade das lutas sociais

Desde as décadas anteriores, observa-se uma tendência de aumento de protestos como forma de apresentar reivindicações políticas (Meyer e Tarrow, 1998; Park e Einwohner, 2019). É preciso destacar que o número de protestos por todo o mundo triplicou entre 2006 e 2020 (Ortiz et al 2021). Em termos globais, essa tendência de aumento dos protestos tornou-se mais evidente sobretudo desde a Primavera Árabe (2010-2012) com protestos contra injustiças, desigualdade e corrupção no Norte da África e Oriente Médio que desencadearam uma série de acontecimentos e consequências que afetaram todo o mundo. Desde então, vários protestos deram início a movimentos sociais de dimensão considerável culminando com o ano de 2019 sendo um dos mais ativos em termos de protestos por todo o mundo (Pleyers, 2020). Além disso, observamos que os fatores que geram insatisfação e motivam a mobilização social alcançaram um novo auge nos últimos anos. Às vésperas do 50o. Fórum Econômico Mundial em Davos, em janeiro de 2020, o número de países em suposto risco extremo de inquietude social1 atingia os 66.7%, passando de 12 para 20 países. A concentração de renda mundial batia recordes (Oxfam, 2020), a democracia enfrentava uma recessão aguda, a maioria dos países que fazem parte do Índice de Percepção da Corrupção ainda convivia com inaceitáveis níveis de corrupção no setor público (Transparency International, 2019) e, em várias partes do mundo, conflitos e migrações se acentuavam, em parte, em decorrência de uma crise climática responsável por temperaturas extremamente.

O termo utilizado pelo índice citado, Global Unrest foi traduzido pelos autores como índice de inquietude e não pela tradução literal para o português que seria índice de agitação social por entenderem que a tradução literal carrega um viés que pode ser desfavorável a movimentos e mobilizações sociais emancipatórios e progressistas, assim como reforça a narrativa de que protestos perturbam o funcionamento perfeito de uma sociedade.

altas, secas prolongadas, incêndios persistentes e outros desastres nunca antes vividos com tamanha intensidade. A partir de 2021, acrescenta-se ainda a essa lista de insatisfação social o fenômeno inflacionário vivenciado em países do norte global e agravado em países mais pobres.

A continuidade em termos dos fatores que motivam uma mobilização plural também se dá em termos da evolução e do trabalho desenvolvido por movimentos sociais. A experiência obtida ao longo dos anos possibilita a cristalização de uma forma de organização e estrutura, assim como suas metas e objetivos (Gohn, 1997). Esse ativismo social contínuo possibilita a percepção de legitimidade perante a sociedade tanto das demandas e manifestações quanto também dos movimentos. A Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto Legal, Seguro e Gratuito na Argentina é um dos exemplos mais emblemáticos nesse sentido pois seus esforços levaram a proposta de projetos de lei sobre o aborto e direitos reprodutivos nada menos do que sete vezes (2005, 2006, 2007, 2009, 2018, 2019) antes da aprovação em 2020. O movimento Black Lives Matter nos Estados Unidos vem apresentando uma agenda de reivindicações contra a violência policial, contra o racismo institucional e trabalhando na construção de um movimento de liberação desde o assassinato de Trayvon Martin no início de 2012. O ativismo contínuo com aumento de protestos e manifestações sugere que, em um ambiente democrático, em algum momento, os movimentos vão conseguir pelo menos alguma coisa do que pedem nas ruas.

2.Contexto político favorável

A pandemia da Covid-19 amplifica os fatores de desigualdade e injustiça social de maneira extrema e as desigualdades se tornam uma questão de vida ou morte. O indivíduo corre risco de vida e a noção de comunidade é posta em xeque pelas medidas preventivas contra o contágio do vírus. Evidentemente, alguns indivíduos correm mais risco do que outros pois, como observou Boaventura de Sousa Santos, a pandemia da Covid-19 “não é cega, nem democrática” (Santos, 2020), penalizando de forma desigual pessoas pertencentes a diferentes grupos sociais e, desproporcionalmente, atingindo populações tradicionalmente marginalizadas e vulneráveis.

Embora essa situação extremada seja razão suficiente para motivar protestos atendendo os quesitos das teses de desintegração, privação absoluta e disrupção (Snow e Soule, 2010), é preciso que existam espaços de associação fora do controle estatal, um certo grau democrático e oportunidades políticas na estrutura social e conjuntura sociopolítica (Giugni, 2009). Mais além da existência de um Estado Democrático (Goldstone, 2004), onde o protesto é uma forma expressiva da realização da cidadania, é preciso que as pessoas tenham esperança ou vejam a possibilidade de mudança. Assim, o timing político também foi fundamental e os movimentos mais bem-sucedidos durante a pandemia foram aqueles que ocorreram em países com importantes marcos políticos como eleições, plebiscitos e referendos agendados para o decorrer do ano ou num horizonte próximo.

O momento político também favoreceu uma onda de protestos e greves organizados por sindicatos e associações de trabalhadores de setores antes não organizados, como empacotadores de carne, entregadores da Amazon, funcionários da rede de supermercados (Whole Foods, nos EUA) e motoristas de aplicativos e motoristas de ônibus. Durante muito tempo, várias dessas ocupações eram desprezadas e os funcionários eram tratados como autônomos à margem dos direitos trabalhistas, mas a pandemia garantiu-lhes um status de trabalho “essencial”, trabalho de linha-de-frente e, consequentemente, com maior visibilidade e motivação para que os trabalhadores se organizassem de forma coletiva (por exemplo, o Gig Workers Collective com mais de 17.000 membros que defendem os direitos dos trabalhadores na gig economy). Algumas de suas demandas estão relacionadas ou são específicas à pandemia, como reconhecimento e remuneração condizente aos riscos de saúde que incorrem, equipamento de proteção pessoal contra o vírus e licença médica remunerada, mas outras demandas, como a lista de preocupações do novo sindicato dos funcionários da Google, incluem questões de igualdade do gênero, inclusão e diversidade nas empresas.

Enquanto que o contexto político favoreceu alguns movimentos em certos países, em outros as ações de protesto e ativismo foram duramente reprimidas. Em nível nacional, vários governos, inclusive europeus, passaram a usar a pandemia e medidas como o fechamento de fronteiras, a vigilância, o isolamento, a quarentena e o lockdown como forma de conter a oposição e dissidência (Amnesty Internacional, 2020). Muitos governos esperavam que a pandemia aliviasse o nível de críticas e escrutínio a que estavam sujeitos ou mesmo aproveitaram o momento para silenciar ativistas ou controlar a imprensa (Pleyers, 2020). De maneira geral, persiste a ideia de que uma crise nacional ou estrangeira serve para distrair a mídia, monopolizar as manchetes e enfraquecer os movimentos sociais. A nível exterior, até certo ponto também estavam corretos em suas previsões, pois muitos países que normalmente monitoram e se posicionam contra abusos estavam mais preocupados e/ou distraídos com questões internas devido à pandemia. Essa conjuntura pode ter potencializado situações de confrontos violentos contra protestos pacíficos como ocorreu em Angola, Nigéria e Peru, comprometendo o curso democrático nesses países. De forma semelhante, menor interesse e atuação da comunidade internacional, aliados a um apoio ideológico e de facto do governo Chinês, pode ter propiciado o golpe militar em Myanmar no início do ano 2021 e fortalecido a repressão aos protestos em Hong Kong.

3.Redes de solidariedade eficazes

Muitas vezes, ações de solidariedade como forma de ativismo cotidiano passam despercebidas, mas são fundamentais na construção de um movimento social para além do núcleo de ativistas (Pleyers, 2020). De fato, o princípio da solidariedade faz parte da base de formação dos movimentos e ações coletivas e, durante a pandemia da COVID-19, essa solidariedade foi absolutamente necessária para garantir a sobrevivência dos indivíduos e dos próprios movimentos sociais. Através de redes de solidariedade e cooperação, ajuda mútua e reciprocidade (Santos, 2020), movimentos sociais responderam a problemas estruturais e vulnerabilidades de populações e comunidades onde estão inseridos, algumas carentes inclusive de alimentos e outros produtos básicos como artigos de higiene pessoal. Esses movimentos de base foram responsáveis também pela organização e produção de materiais didáticos e informativos sobre como usar máscaras corretamente, como manter distanciamento físico e como cuidar uns aos outros para a conscientização e educação das pessoas durante a pandemia.

A mobilização frente a omissão e o abandono do Estado não é em si uma estratégia nova. Muitas organizações e movimentos sociais, sobretudo diferentes movimentos feministas (Holanda, 2019; Pleyers, 2020) nas Américas, já tinham essa forma de atuação nas suas origens. Voltar às origens significou voltar a uma lógica de atuação baseada em demandas e no bem-estar de um coletivo ou, como se expressa no termo em espanhol, uma medida de contención. Dentre os exemplos de coletivos de mulheres nas Américas que atuaram nesse sentido durante a pandemia estão organizações como Negrocentricxs, no Chile, Mujeres de Asfalto, no Equador, e Mizangas, no Uruguai. Além de atuarem sobre problemas estruturais nas suas sociedades, seja a regularização de mulheres imigrantes, educação sobre direitos básicos e proteção contra a violência, essas organizações distribuíram alimentos e outros itens essenciais às populações em condições de vulnerabilidade de suas comunidades.

É preciso destacar ainda que as redes de solidariedade criadas pelos movimentos sociais não são uma forma de assistencialismo ou filantropia que também têm a sua importância e tiveram um fortalecimento durante a pandemia. Os movimentos já existentes, não abandonaram suas pautas de questionamento e combate das estruturas de exploração e injustiça, mas entendendo que a pandemia se tratava de um momento extraordinário onde as necessidades de seus membros se intensificava em um sentido adverso, foram flexíveis e capazes de incorporar práticas de auto-ajuda e solidariedade concreta associadas às suas reivindicações sócio-políticas-econômicas. Essa flexibilidade permite que através da solidariedade, os movimentos sociais pudessem manter o contato e, portanto, a colaboração dos já comprometidos à causa (fidelidade), como também abrir espaços para recrutar novas e novos integrantes para um coletivo.

As redes solidárias também funcionavam entre organizações e movimentos nacionais e internacionais. Assim, os protestos organizados pelo Black Lives Matter foram reproduzidos em diversas partes do globo. No Brasil, em resposta a uma ainda maior centralização do poder econômico e do controle da informação gerando um aumento de violações aos direitos humanos e de restrições às liberdades fundamentais, um conjunto de organizações sociais e movimentos populares criou uma iniciativa colaborativa chamada de Observatório dos Direitos Humanos na Crise da Covid-19 (Observatório). O Observatório se organizou para monitorar, formular e sistematizar informações relativas aos direitos humanos no contexto da pandemia de forma que remete às experiências das Comissões da Verdade e Justiça de Transição. Possivelmente, as informações e documentos referentes aos direitos humanos no Brasil durante a pandemia coletados pelo Observatório, incluindo avaliações das medidas adotadas pelo governo na resposta à pandemia, poderão servir na responsabilização de crimes que possam ter sido cometidos pelo Estado nesse período e encaminhadas a instâncias e organizações supranacionais.

4.Combinação de táticas de mobilização

Durante todo o ano de 2020, enquanto as medidas de prevenção da COVID-19 exigiam distanciamento social, quarentenas e lockdown, organizações e movimentos sociais propuseram novas formas de mobilização ora inspiradas em experiências passadas ora adotando tecnologias de ponta. Os protestos precisavam ser organizados para preservar a segurança e a saúde dos manifestantes e não expor outros a riscos durante a pandemia. Para isso ajustaram suas táticas, mensagem e locais de atuação (Pressman e Choi-Fitzpatric, 2020). Alguns dos primeiros protestos do ano nos Estados Unidos foram realizados pela Campanha da ONG Never Again que, em março de 2020, ressuscitou o uso de caravanas de pessoas manifestando em seus carros ao redor de centros de detenção para imigrantes (ICE) protestando contra os abusos do sistema e políticas de imigração nos Estados Unidos e demandando a soltura dos imigrantes mantidos presos arbitrariamente e em condições de risco durante a pandemia. As caravanas garantiam o distanciamento social enquanto ampliavam o perímetro coberto pela ação de protesto.

Em Hong Kong, em poucos meses, os protestos evoluíram para um movimento pró-democracia e, pela sua organização, disciplina e coragem, chamaram a atenção mundial e disseminaram a importância da criatividade no domínio de ferramentas tecnológicas. Os manifestantes em Hong Kong utilizavam mobiliário urbano ou mesmo corriqueiro como guarda-chuvas, cones de trânsito e bastões de laser para abafar os efeitos de bombas lacrimogêneas ou despistar as câmeras de identificação facial usadas contra eles pelas autoridades locais. Dentre as táticas utilizadas em protestos durante a pandemia, recuperaram-se algumas noções mais básicas como ter o contato de advogados e outras pessoas que poderiam prestar assistência de urgência de forma memorizada ou sempre à mão, prática que caiu em desuso com o advento do uso de celulares onde todos os números de contato telefônico estão guardados na memória do equipamento.

A organização dos protestos do movimento Black Lives Matter nos Estados Unidos contava também com uma rede de apoio aos manifestantes com postos de distribuição de suprimentos e água, primeiros socorros, e em caso de ocorrerem prisões, organizações de advogados forneciam assistência gratuita para os manifestantes. Assim, movimentos foram capazes de organizar protestos de ruas, protestos virtuais ou híbridos (Castells, 2012) seguindo novos protocolos de segurança pessoal contra o coronavírus, táticas para auto-proteção e solidariedade. O primeiro sucesso dessa organização foi ser constatado que protestos em larga escala como do Black Lives Matter não contribuem para maior contágio pelo coronavírus, ou seja, não foram responsáveis pelos temidos super spreader events (Berger, 2020). Esse fato, e a constatação pública do mesmo, foi essencial para manter o fôlego das manifestações e dos manifestantes.

As táticas e repertórios para mobilização popular estão em um processo contínuo de desenvolvimento e adaptação às forças que os contrapõem, ao contexto e ambiente em que estão inseridos e também às novas tecnologias. Por sua vez, essa transformação influencia e modifica a própria concepção de movimentos sociais. É assim, por exemplo, há vários anos, com o surgimento do que seria um novo tipo de ativismo, o ativismo digital. Acostumados às disputas que se dão em espaços privados e públicos, atualmente são frequentes as disputas no espaço virtual. Cada vez mais, se tornam comum expressões de movimentos espontâneos e de ativismo virtual como potencial substituto para demonstrações e comícios (Pressman e Choi-Fitzpatrick, 2020). Possivelmente, o instante de maior evidência desse ativismo virtual durante a pandemia se deu em junho de 2020, quando adolescentes e fãs do K-Pop sabotaram a convenção da campanha do Presidente Donald Trump em Tulsa, Oklahoma, ao solicitar ingressos inflacionando as expectativas de participação que não corresponderam a presença real no evento desmoralizando e envergonhando a organização e o próprio presidente. Em um outro instante no mesmo ano, num esforço de fazer um contraponto e de captura do hashtag utilizada pelo grupo de extrema-direita americano, Proud Boys, membros da comunidade LGBT inundaram as plataformas de mídia social com imagens de orgulho gay e fotos de seus relacionamentos amorosos.

As plataformas digitais também foram uma ferramenta utilizada em grande escala por movimentos sociais já estabelecidos, não necessariamente de forma diferente dos anos anteriores, mas possivelmente de forma mais frequente (Pressman e Choi-Fitzpatrick, 2020). Movimentos mais estabelecidos se adaptaram à conjuntura da pandemia adotando ferramentas digitais como teleconferências, lives e a mídia social e plataformas de streaming antes vistas como despolitizadas como TikTok, Reddit, AirDrop, Pokemon Go e Tinder para a disseminação de informação sobre direitos básicos e proteção em caso de abuso ou violência. No Brasil, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), durante a pandemia, desenvolveu campanhas de solidariedade para auxiliar comunidades carentes e disponibilizou grupos de advogados populares para prestar esclarecimentos de maneira online usando, dentre outras plataformas, o Whatsapp.

A convergência de novas e velhas táticas de mobilização permitiram também manifestações hibridas como o Pañuelazo Virtual na Argentina, no dia 28 de setembro de 2020, pela descriminização e legalização do aborto e com o lema: “Es urgente, es prioridad y es esencial”. O Pañuelazo foi transmitido pelo canal YouTube da Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto Legal, Seguro e Gratuito e contou também com o apoio virtual de manifestantes de diversos países, ao mesmo tempo que dezenas de milhares de manifestantes demonstravam nas ruas e à frente do Congresso Nacional em Buenos Aires.

O uso da mídia digital, em geral de fácil acesso e baixo custo, proporciona um benefício difícil de ser quantificado pois permite que os movimentos através da produção de seu próprio conteúdo se libertem dos canais tradicionais e corporativos de informação que frequentemente lhe são desfavoráveis alcançando um público mais amplo e comunidades e territórios mais distantes. No entanto, para evitar situações de sobrecarga de informação ou de iniciativas muitas vezes repetidas e aparentemente sem coordenação, cada vez mais, a produção de conteúdo de qualidade para canais da mídia digital requer tempo e pessoal designado para essa atividade, gerando novos custos e responsabilidades para os movimentos sociais. Simultaneamente, o conteúdo produzido pode não alcançar o público de forma desejada pois este, perante enorme disponibilidade de diversos tipos de informação e estímulo, pode tornar-se disperso, apático, frustrado ou impotente (Hemp, 2009). Além disso, a falta de regulamentação das plataformas digitais viabiliza a atuação tanto de movimentos sociais progressistas como de movimentos reacionários ou mesmo fascistas. De fato, algumas plataformas como a Parler ou Gab foram utilizadas predominantemente por grupos de extrema-direita inclusive para organizar a invasão do Capitólio nos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021. A compreensão dessa realidade abre um novo campo de atuação pela regulamentação e responsabilização das grandes empresas de mídia digital, o que também passa a ser parte da pauta de demanda de alguns movimentos sociais nesse período.

5.Excedente populacional em ócio forçoso

Garantida a continuidade do ativismo social através da recuperação de antigas formas de organização e mobilização e incorporando novas táticas de atuação e ferramentas tecnológicas, movimentos sociais estabelecidos se deparam com um grande contingente de pessoas insatisfeitas, sem proteção mínima dos seus rendimentos, que se tornaram forçosamente disponíveis por questões de desemprego, criminalização do trabalho informal ou porque suas atividades escolares ou laborais estavam suspensas. O número de desempregados nos Estados Unidos atingiu 14.8% da população em abril de 2020, o nível mais alto desde 1948 (Congressional Research Service, 2021). Com base na redução da jornada de trabalho durante o segundo trimestre de 2020, o FMI calcula que em todo o mundo houve, nessa época, uma perda equivalente a 495 milhões de empregos em tempo integral (Global Finance, 2020). Segundo a UNICEF, cerca de 168 milhões de crianças em todo o mundo tiveram suas escolas fechadas por quase todo o ano (UNICEF, 2021). Essas pessoas em ócio forçado possuem demandas e insatisfações comuns e potencialmente poderiam se tornar aliados ou mesmo ativistas em movimentos sociais.

Além disso, a pandemia não somente afeta a saúde física das pessoas como tem um forte impacto na saúde mental das populações (Magalhães e Garcia, 2021). O distanciamento físico e as medidas de precaução afetam as relações entre as pessoas, a percepção de empatia com outros e alguns grupos como crianças, estudantes universitários e profissionais de saúde ficam mais propensos a desenvolverem síndrome pós-traumática, ansiedade, depressão e outros sintomas de estresse acentuado (Saladino, Algeri, Auriemma, 2020). Manifestações bem organizadas que adotavam medidas de precaução sanitária contra o novo coronavírus ofereciam ainda um escape (outlet) para aqueles que estavam de outra forma privados de contato social e, ainda mais importante, desejavam ser agentes de um processo de transformação social e histórico.

Ao sair às ruas, as pessoas avaliavam os riscos de se manifestar durante uma pandemia e as condições abissais a que estavam sujeitos. Auxiliando na avaliação dessa conjuntura, movimentos sociais lograram realizar alguns dos maiores protestos pacíficos da nossa história recente. Dentre eles, os protestos pela morte de George Floyd, Breonna Taylor, Ahmaud Arbery e tantos outros afro-americanos que foram mortos em casos de brutalidade policial, contra e discriminação racial da polícia nos Estados Unidos. O Black Lives Matter protagonizaram a maior mobilização nos Estados Unidos desde a época do Civil Rights Movement com a participação de cerca de 26 milhões de pessoas por todo o país (Harvard CARR Center, 2020).

Conclusão

Analisar as experiências e o desempenho de movimentos de reivindicação social, por justiça e por democracia, segue a proposta das epistemologias do Sul e de construção de uma ecologia de saberes como destaca Boaventura de Sousa Santos (2014). Fazê-lo durante um momento de crise e transição (Santos, 2020), como a pandemia da COVID-19, significa apoiar de maneira epistemológica a transformação e evolução desses movimentos através da disponibilização de uma narrativa através da qual os movimentos podem dialogar e apoiarem-se mutuamente.

Quando foram detectados os primeiros casos da COVID-19 em Hong Kong, suas ruas estavam tomadas por protestos liderados por estudantes contra o governo chinês, iniciados no ano anterior, sobretudo, em oposição a um projeto de lei que previa a extradição da Região Administrativa Especial de Hong Kong de pessoas acusadas de crimes contra a China. Os protestos em Hong Kong passaram a enfrentar uma série de novos desafios e o mundo passou a assistir uma prévia do que viria a ser um ano de pandemia para movimentos sociais em todas as partes. Depois dos primeiros casos da COVID-19, os protestos em Hong Kong passaram a criticar o adiamento das eleições parlamentares por conta da pandemia e, em seguida, também a criticar a resposta das autoridades à pandemia. Os movimentos sociais por todo o mundo se observam, conversam entre si, aprendem com suas experiências, se inspiram e motivam-se uns aos outros.

No biênio 2020-2022 havia razões e motivos de sobra para descontentamento social e, consequentemente, para ações de protesto e reivindicações. A pandemia ampliou e deu um caráter de urgência às demandas sociais. Em um primeiro momento, as estratégias de prevenção e contenção da pandemia criaram novos desafios para os movimentos sociais. Eram desafios que exigiam uma transformação rápida para garantir a continuidade de trabalhos desenvolvidos há anos e a sustentabilidade de suas organizações. Essa transformação inclui a criação, implementação e fortalecimento de redes solidárias de apoio e estruturas de suporte em nível nacional e internacional. É uma solidariedade concreta a nível pessoal, mas também uma solidariedade entre movimentos e articulação entre diferentes lutas. Nos países em que movimentos já estabelecidos também contavam com uma série de fatores determinantes como o momento político dos ciclos eleitorais, à urgência de suas demandas, somou-se um grande contingente de pessoas atentas ao contexto e momento histórico que também buscavam ser agentes de uma mudança social. As vitórias conseguidas a duras penas durante o primeiro ano da pandemia foram significativas serviram por si mesmas como motivação e inspiração para os protestos durante 2021 e, ao que tudo indica, também dos próximos anos.

Referências

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Recebido: 01 de Setembro de 2022; Aceito: 03 de Dezembro de 2022

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