Ao ser convidada como editora científica deste número da Revista Internacional em Língua Portuguesa (RILP), dedicada ao tema “Ambiente e Economia Azul”, fiquei preocupada pela responsabilidade de rever artigos numa temática que sempre achei pouco compreendida num mundo em que a economia pura é o centro das políticas nacionais e internacionais. A palavra “ambiente” é muitas vezes usada e explorada no mundo das políticas económicas.
A preocupação ainda se agravou por os artigos serem em língua portuguesa, pois sendo bióloga de formação e bióloga marinha de atuação, a língua inglesa é a língua de divulgação científica. No entanto, depressa compreendi a necessidade e importância da divulgação científica em português. Mais que o “medo do português desaparecer”, como por vezes se ouve, (somos das línguas mais faladas no mundo), é a necessidade de rapidamente se compreender, absorver e aplicar de forma correta a informação conseguida pela investigação.
Por estas duas razões de peso aceitei com consciência e responsabilidade tomar conta da edição científica deste número da Revista Internacional em Língua Portuguesa (RILP).
Apesar de ter sido uma iniciativa dos Pequenos Países Insulares em Desenvolvimento (Small Islands Developing States - SIDS), a Economia Azul é relevante a todos os países costeiros.
Atualmente, muito se fala de Economia Azul, mas na realidade pouco se atua respeitando os seus conceitos e princípios. Essencial para o desenvolvimento sustentável dos países insulares e costeiros, a Economia Azul é vista por muitos somente como um investimento no Oceano, desvalorizando a sustentabilidade ambiental e social. Algumas políticas nacionais e regionais apostam simplesmente no Oceano como fonte de financiamento para apoiar as suas economias nacionais, o que é errado e até perigoso.
Os conceitos e princípios da Economia Azul estão bem definidos e descritos, mas a tendência para esquecer ou até ignorá-los é o maior problema. A valorização da biodiversidade, das mudanças climáticas, da poluição e lixo marinho, deve ser posta ao mesmo nível da valorização económica dos recursos marinhos, do turismo e do transporte marítimo. A importância e salvaguarda de cada um dos setores está precisamente na sua interdependência. A importância da preservação da biodiversidade, por exemplo, é crucial para as descobertas quase diárias da biotecnologia e para o uso sustentável dos recursos biológicos, mas também para a possível adaptação às mudanças climáticas e do equilíbrio ambiental.
Aspetos económicos, ambientais e sociais são a base de um desenvolvimento, mas somente quando estes três pilares essenciais se juntam se pode encontrar o verdadeiro desenvolvimento sustentável: 1) o desenvolvimento económico - acesso aos recursos necessários e atividades ao alcance de todos; 2) a proteção ambiental - sistemas ambientais equilibrados, recursos naturais consumidos a um ritmo capaz de se reporem; e 3) progresso social - necessidades básicas acessíveis a todos, direitos pessoais, de trabalho e culturais respeitados e protegidos contra a discriminação.
Foi neste contexto e preocupação que este tema, “Ambiente e Economia Azul”, foi escolhido para o XXXII Encontro da Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP), de 26 a 28 de Junho 2023, em São Tomé e Príncipe. Assim, neste número da Revista Internacional em Língua Portuguesa (RILP), o leitor poderá aperceber-se do potencial, das estratégias e oportunidades da Economia Azul nos países de língua portuguesa.
É um pouco desta comunidade portuguesa dispersa no mundo, mas agregada pela História, que se apresenta neste número, com artigos que demonstram o potencial de certos setores da Economia Azul, como sejam a aquacultura, as pescas, e recursos hídricos, para o desenvolvimento sustentável dos vários países de língua portuguesa. Um pouco mais geral, são também apresentados artigos com alguns princípios e conceitos essenciais, bem como as principais preocupações ligadas à Economia Azul.
Espero que apreciem e desfrutem de cada um dos artigos redigidos e analisados com o maior cuidado e dedicação.
Por último, uma palavra de agradecimento pelo esforço e dedicação da Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP) na organização destes encontros e edição deste número da revista RILP, bem como a todos os autores dos artigos publicados. Sem todos eles nada disto seria possível. Bem hajam!