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Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar
versão impressa ISSN 2182-5173
Rev Port Med Geral Fam vol.28 no.2 Lisboa mar. 2012
EDITORIAL
Repensar o Encontro Nacional
Raquel Braga*
*Directora da Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar
Endereço para correspondência | Dirección para correspondencia | Correspondence
O 29.o Encontro Nacional de Medicina Geral e Familiar que decorreu em Vilamoura de 14 a 17 de Abril, como a Associação e a Revista, também mudou de nome e de formato.
Foi um encontro sereno, económico, congregador. Soube aliar um programa científico interessante a uma componente de discussão de questões políticas e organizacionais relevantes e necessárias ao momento que vivemos.
Contou com a presença do Ministro da Saúde, o Dr. Paulo Macedo, que sublinhou que «as crises não são desculpa para o que não se faz, mas que deverão servir de motivação para fazer melhor com maior eficiência e com consciência dos nossos atos»1 e do Prof. Roberto Carneiro que emocionou a plateia com uma magnífica conferência inaugural subordinada ao tema «Liderança e Mudança».
Em ambas as intervenções a importância do Médico de Família foi realçada e o seu papel foi enaltecido enquanto líder motivado e motivador e como potenciador do equilíbrio necessário a uma sociedade fragilizada e em mudança.
Longe vai a multidão ruidosa do velho «Encontrão» de anos anteriores. O número de participantes foi também menor.
O espaço que habitámos no clássico Hotel Tivoli Marina Vilamoura tornou-se mais reduzido e calorento, as salas mais cheias de gente, os corredores mais vazios. O ruído ensurdecedor e o ambiente feérico de outros anos deram lugar à conversa animada ou conspiradora dos velhos companheiros que se regozijam com o ansiado encontro anual. A pasta deu lugar a uma sacola leve, a caneta reduziu-se para metade do tamanho, o almoço de trabalho do primeiro dia deu lugar a uma singela e europeia caixa de piquenique. A sessão de inauguração foi empurrada para quinta-feira, querendo talvez demonstrar que a nossa ausência ao trabalho se deveria restringir a dois dias, a menos que houvesse interesse específico na frequência de algum workshop, de inscrição prévia. Em boa verdade, só o livro de resumos, em formato sóbrio, não emagreceu, estava sólido e bem recheado de assuntos interessantes.
Vimos apresentar estudos científicos de boa qualidade e apercebemo-nos da afirmação do trabalho académico que tem vindo a ser desenvolvido por algumas Escolas Médicas a nível de investigação, a par de estudos desenvolvidos por internos e Médicos de Família, trabalhos esses que revelaram maturidade científica.
Se muitos opinam que o Encontro Nacional tem vindo a melhorar o conteúdo programático, sem descurar a discussão política e organizacional no âmbito da saúde, resta perguntar se a diminuição da afluência pelos Médicos de Família resulta apenas da crise económica e da falta de investimento da Indústria Farmacêutica, ou se será uma manifestação de real desinteresse, de desacordo com o novo formato, ou resultado das «novas» exigências condicionadas pela reforma dos Cuidados de Saúde Primários.
Podemos indagar se as exigências assistenciais e o cumprimentos dos indicadores ou o pagamento associado ao desempenho (pay for performance) levam parte importante dos Médicos de Família a ser mais selectivos e restritivos relativamente aos momentos formativos que escolhem e que podem, de facto, aceder. Estarem inseridos em Unidades de Saúde mais pequenas (como as Unidades de Saúde Familiar), com menor possibilidade de intersubstituição e terem a pressão assistencial e a pressão de cumprimento de indicadores poderão ser um facto dissuasor, no momento da escolha de um Encontro, Curso ou Congresso.
É tempo de começarmos a ponderar que influência na formação contínua dos Médicos de Família (e sobretudo na das gerações futuras de Médicos de Família) é que modelos em que o pagamento é associado ao desempenho poderão vir a ter e pensar em desenvolver estratégias para preparar o futuro.2
Podemos também inquirir se o actual formato do Encontro Nacional interessa à maioria, ou se porventura alguns, mesmo apesar das limitações apontadas, se desviarão para outras escolhas, em que o programa seja mais fácil de digerir e o acesso mais facilitado...
Independentemente da importância e da necessidade de reflectir acerca destas questões, é interessante observar o que se perdeu e o que se ganhou com a crise económica, neste repensar e remodelar o Encontro Nacional.
Perdeu-se o ruído, ficou talvez o essencial.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Discurso do Ministro da Saúde no 29.o Encontro Nacional de Medicina Geral e Familiar, Vilamoura 14-17 Abril 2012. Disponível na internet em http://www.portugal.gov.pt/media/541932/20120315_ms_clinica_geral.pdf [acedido em 23/04/2012]. [ Links ]
2. Augustine S, Litaker D. Pay for performance and medical education: strategies for preparing physicians of the future. Qual Manag Health Care 2008 Apr-Jun; 17(2):94-101. [ Links ]
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