Introdução
A autonomia na área da deficiência é muitas vezes descrita como a possibilidade de realização de ações sem a ajuda de terceiros, porém, ainda sujeitas à criação de condições pelo meio ambiente e contexto social.1 Nesse sentido, a presença de uma barreira comunicacional entre o profissional da saúde e um paciente surdo infringe esse conceito, uma vez que o próprio paciente não é ativo no seu tratamento, dependendo de terceiros para a sua realização. Essa limitação restringe a autonomia e liberdade do surdo, sendo que é o acompanhante quem explica ao profissional os problemas apresentados e também quem recebe as orientações, não permitindo que o próprio paciente exponha as suas dúvidas e, por vezes, se sinta constrangido em determinadas ocasiões. 2
Além disso, é importante ressaltar que a definição de surdez consiste numa perda profunda da capacidade de percepção de sons, ou seja, perdas acima de 90 decibéis, enquanto a deficiência auditiva consiste em perda parcial da audição, leve ou moderada, com parte da audição preservada. 3 Logo, o surdo dependerá da comunicação em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), caso seja alfabetizado; escrita, caso seja bilingue; ou por meio de desenhos e sinais, nos casos em que não há conhecimento de LIBRAS ou da língua portuguesa. Entretanto, pelo fato de a linguagem médica ser diferente do léxico apresentado aos surdos durante a vida ainda é necessário o empenho do profissional para se fazer entender, vencendo as barreiras linguísticas e intelectuais, estas últimas já presentes no cotidiano clínico.
Atualmente, novos estudos propõem o Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP, 4) desconstruindo o modelo biomédico, considerando o paciente como um todo. Essa proposta de cuidado pressupõe várias mudanças no atendimento profissional à saúde, como a abolição de hierarquia entre profissional e paciente, prezando pelo compartilhamento de decisões e a necessidade de equilíbrio entre o subjetivo e o objetivo como componentes fundamentais para diagnóstico. 5
Dependência e deficiência estão muitas vezes relacionadas. Assim, avaliar a independência funcional dos usuários é uma estratégia importante que pode estimular ações na direção da autonomia. 6 Do mesmo modo, o uso de ferramentas de avaliação da qualidade de atendimento ao paciente surdo também pode contribuir para a construção da sua independência, uma vez que o resultado obtido poderá inspirar mecanismos de atendimentos específicos a esse público, tornando eficaz a interação entre o paciente e o profissional de saúde, atendendo de forma holística, integrando-o efetivamente em sociedade.
O presente estudo tem como objetivo avaliar o atendimento e a capacidade comunicacional de médicos e enfermeiros a pacientes surdos na atenção primária à saúde (APS) numa cidade de Minas Gerais, Brasil. Dessa forma, esta pesquisa questionará dados fundamentais para o atendimento de pacientes surdos e poderá sugerir intervenções para melhorá-lo, promovendo a melhor inserção desse público na sociedade e assegurando o seu direito de autonomia e liberdade. Além disso, proporcionará sugestões de melhoria da capacitação profissional no atendimento a esses pacientes.
Método
Estudo transversal, de campo, descritivo, de abordagem quantitativa, observacional, realizado de fevereiro de 2020 a janeiro de 2021 com profissionais de saúde (médicos e enfermeiros) atuantes na APS no município de Itajubá, Minas Gerais, Brasil.
O cálculo amostral foi obtido a partir de uma população finita de 85 profissionais atuantes na APS, constantes na lista de profissionais fornecida pela Prefeitura Municipal, considerando um grau de confiança de 95%, p=0,5 e margem de erro absoluta de 5%. Foram recrutados 69 profissionais da saúde (41 médicos e 28 enfermeiros) para a composição da amostra. Os demais profissionais da população (16) não participaram por terem deixado de atuar na APS no período de estudo de campo da pesquisa, sem afetar o cálculo amostral, não inviabilizando o estudo. Ou seja, durante a busca dos profissionais em campo, dos 85 profissionais listados 81,2% participaram da pesquisa, compondo a amostra.
Para esta pesquisa foram definidos os seguintes critérios de inclusão: profissionais médicos e enfermeiros, atuantes nas unidades de APS [Estratégia de Saúde da Família (ESF) e/ou Unidades Básicas de Saúde (UBS)], independentemente de género, idade acima de 18 anos, que tenham concordado em participar da pesquisa por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os critérios de exclusão foram médicos e enfermeiros que deixaram de trabalhar nas unidades de APS.
Inicialmente a aplicação dos formulários foi feita presencialmente nas unidades de APS onde, após o esclarecimento da pesquisa pelos próprios pesquisadores e obtenção do TCLE, foram entregues os questionários aos profissionais para a recolha de dados. Os pesquisadores aguardaram na sala, juntamente com o profissional de saúde, para esclarecimento de possíveis dúvidas em relação ao formulário.
Para a viabilização da aplicação do formulário foi adaptado um questionário, retirado do artigo A dificuldade no atendimento médico às pessoas surdas,7 o qual avalia a qualidade de atendimento médico na visão do paciente surdo e que foi utilizado posteriormente como objeto de discussão deste artigo. Por outro lado, o questionário utilizado no presente estudo avalia a percepção do profissional de saúde sobre a qualidade de atendimento e capacidade comunicacional destes. Para este fim foram adaptadas e aplicadas 22 perguntas de múltipla escolha.
As respostas foram estudadas descritivamente através da criação de um banco de dados das variáveis investigadas no estudo, através do Microsoft Excel ® 2016 e, posteriormente, convertidas em tabelas e descrições. Realizou-se a verificação quanto à concordância ou discordância das questões avaliadas, sendo as variáveis categóricas apresentadas como frequências absolutas e relativas.
O estudo foi aprovado pelo Comité de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Medicina de Itajubá (FMIT-MG), sob parecer n.º 4.220.840. O recrutamento de participantes e recolha de dados iniciou-se somente após aprovação da pesquisa no CEP. Atendendo às normas éticas para pesquisas envolvendo seres humanos - Resolução n.º 466/2012 -, a aplicação dos questionários foi precedida da assinatura do TCLE.
Os resultados obtidos serão apresentados de forma descritiva e em tabelas, contendo o número e a percentagem de profissionais que responderam às alternativas presentes no questionário, o qual foi dividido em duas partes. Na primeira etapa, constituída por sete perguntas, todos os profissionais participantes podiam responder (n=69). Já na segunda etapa, constituída por quinze perguntas, apenas os profissionais que atenderam pacientes surdos (n=42) podiam responder. Desta forma, os demais participantes deixaram as questões seguintes em branco.
Resultados
Observou-se que grande parte da amostra (78,3%; n=54) «nunca ou raramente” atendeu pacientes surdos na APS, 18,8% (n=13) afirmaram ter atendido às vezes e 2,9% (n=2) responderam que quase sempre/sempre atende esse público.
Os dados das questões em relação à avaliação da compreensão e grau de satisfação do atendimento ao paciente surdo estão apresentados na Tabela 1. Grande parte dos profissionais (43,5%; n=30) afirmou não compreender «nada/quase nada» da queixa de saúde apresentada pelo paciente surdo durante a consulta. Ademais, 34,8% (n=24) dos profissionais se apresentaram «moderadamente/totalmente satisfeitos» quanto à comunicação estabelecida com o surdo.
É importante ressaltar que no formulário aplicado algumas questões não puderam ser respondidas, uma vez que o profissional participante da pesquisa não atendeu nenhum paciente surdo na atenção primária (n=16). Por esse motivo, quanto ao grau de satisfação em relação à comunicação estabelecida com o surdo 39,1% (n=27) dos participantes não responderam a essa questão.
Dos profissionais participantes, 87% (n=60) relataram possuir «nada/quase nada» de domínio da LIBRAS. Aqueles que a dominam, 10,1% (n=7) empenham-se em tentar comunicar-se com ela, conforme observado na Tabela 2. Contudo, de entre a parcela de indivíduos que não dominam a LIBRAS observou-se a utilização de métodos alternativos para a comunicação com o doente surdo, como: gestos, escrita, falar devagar, uso de Internet, auxílio do acompanhante, formação de palavras com o alfabeto de LIBRAS e recursos visuais.
Questionados sobre o conhecimento da dificuldade dos surdos em relação à língua portuguesa, 40,6% (n=28) referiram o desconhecimento acerca do assunto. Por outro lado, 58% (n=40) dos participantes alegaram estar cientes de que muitos surdos possuem dificuldade na língua portuguesa.
Informações sobre o grau de constrangimento e desconforto durante o atendimento ao surdo são apresentadas na Tabela 3, na qual se verifica que 30,4% (n=21) dos profissionais responderam perceber «nada/quase nada» de desconforto durante a consulta. Além disso, 50,8% (n=35) responderam que os pacientes surdos se sentem à vontade na presença de terceiros (acompanhantes) «quase sempre/sempre». Por fim, 46,4% (n=32) afirmaram «nunca/raramente» ter percebido constrangimento devido à falta de privacidade estabelecida por uma terceira pessoa na consulta/atendimento.
Na análise do atendimento médico em relação à integralidade, de acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), exposta na Tabela 4, 30,6% (n=21) dos profissionais sentiram interação efetiva com o paciente «quase total/totalmente».
Entretanto, 23,3% (n=16) consideram que a consulta/atendimento abrange a integralidade e equidade de forma moderada.
De acordo com a Tabela 5, 26,1% (n=18) dos profissionais afirmaram que os pacientes surdos «nunca/raramente» costumam levantar dúvidas durante o atendimento. Da mesma forma, 33,3% (n=23) referem que tais pacientes «nunca/raramente» procuram atendimento à saúde com frequência similares aos demais pacientes e 37,7% (n=26) referem que «quase sempre/sempre» os surdos procuram atendimento à saúde com motivos similares aos demais pacientes.
Ademais, ao serem questionados sobre o grau de necessidade da presença de um acompanhante no atendimento ao paciente surdo observou-se que 44,4% (n=31) dos profissionais referem que os pacientes surdos geralmente costumam vir acompanhados na consulta e 49,2% (n=34) afirmam que estes realmente auxiliam no processo de comunicação.
Já em relação à percepção de omissão de informações relevantes acerca da queixa da doença pelos surdos, 36,2% (n=25) dos participantes relataram que os pacientes surdos «nunca/raramente» omitem informações importantes sobre sua queixa/doença e 23,1% (n=16) demonstraram já ter percebido a omissão.
Além disso, sobre o empenho dos profissionais para comunicar o diagnóstico ao paciente surdo, apresentado na Tabela 6, 59,5% (n=41) «quase sempre/sempre» referem possuir essa conduta.
Discussão
O presente estudo explorou a habilidade dos profissionais de saúde da APS em estabelecerem uma comunicação efetiva com pacientes surdos, considerando-os em sua totalidade e fornecendo um acesso à saúde de forma igualitária.
O atendimento na APS busca a prevenção de doenças e agravos, além da restauração e manutenção da saúde. 8 Dessa forma, os profissionais de saúde que atuam nessa esfera devem compreender o processo de adoecimento do paciente a partir de percepções sobre o seu e, principalmente, pelo diálogo estabelecido durante o atendimento. Esse objetivo é conquistado através da criação de vínculo com o paciente, o qual se dá por meio da comunicação e dos mecanismos de transferência e contratransferência. 9-10
No presente estudo observou-se que a maioria dos profissionais (44,4%; n=31) afirma que os surdos vão acompanhados às consultas. A presença de um terceiro indivíduo nos atendimentos entre pacientes que usam a língua de sinais e profissionais que a desconhecem possibilita, por um lado, a facilitação da interação médico-paciente ou enfermeiro-paciente. 12-13 Entretanto, a presença do acompanhante ocasiona falta de autonomia e privacidade ao surdo que, por constrangimento e vergonha, pode omitir informações valiosas sobre o seu próprio processo saúde-doença. 7,14
Ao analisar o grau de necessidade da presença de um acompanhante no atendimento ao surdo, 49,2% (n=34) relatou que o acompanhante realmente auxilia no processo de comunicação. Compreende-se, dessa forma, pelos dados levantados, tal como a incompreensão da queixa de saúde apresentada pelo surdo (43,5%; n=30), que não há vínculo efetivo entre profissional e paciente, visto que os surdos apresentam restrições diante de uma sociedade ainda precária no conhecimento de sua cultura, fator que compromete a assistência prestada, do diagnóstico ao tratamento. 7,12
Considerando os resultados obtidos na frequência com que pacientes surdos são atendidos na APS, em relação a pacientes não deficientes, observou-se que a procura por profissionais da saúde e a frequência nas consultas médicas por parte dos surdos não é significativa, uma vez que as respostas mais prevalentes foram «nunca» e «raramente» (33,3%; n=23). Ao encontro dos estudos de Steinberg e colaboradores 15 e de Pereira e colaboradores 16 é demonstrado que, devido à precariedade de comunicação efetiva na assistência à saúde oferecida a essa classe, é desencadeada uma menor frequência pela busca dos serviços ofertados de saúde.
Ao avaliar o domínio da LIBRAS foi constatado que a maioria dos profissionais de saúde (86,9%; n=60) dominam nada ou quase nada, fato que corrobora outros trabalhos já publicados, que constatam o não domínio e empenho desses profissionais em comunicar-se através da LIBRAS. 7,17-18 Logo, estes comunicam-se com o paciente surdo em sua maioria através da escrita (49,2%; n=34). Entretanto, foi evidenciado que esta não é uma ferramenta adequada para a comunicação com os surdos, já que eles apresentam dificuldade na língua portuguesa por não ser a sua primeira língua. 7
Nesse sentido, observa-se que uma parcela expressiva dos profissionais de saúde não tem conhecimento de que os surdos apresentam dificuldade na língua portuguesa (40,6%; n=28). Para o surdo, o meio de comunicação utilizado pelo ambiente que o rodeia não se apresenta como um instrumento que facilita a permuta de informações com a sociedade, mas uma barreira. 11 Assim, os surdos tentam adaptar-se à sociedade sendo prejudicados quanto à equidade, universalidade e integralidade do SUS. 19
Além disso, 34,8% (n=24) dos profissionais referem estar «moderadamente» ou «totalmente» satisfeitos com o atendimento ao surdo. Porém, de acordo com a literatura, 62,5% dos pacientes surdos declararam-se totalmente insatisfeitos com o atendimento e a comunicação estabelecida durante a consulta.7 Dessa forma, identifica-se uma controvérsia entre a percepção do profissional e do paciente surdo, uma vez que, de acordo com o estudo de Santos e colaboradores, 62% dos pacientes referiram insegurança acerca do atendimento médico quanto ao diagnóstico e tratamento prescrito. 18
A percepção do sujeito é feita a partir de uma comunicação plena; no entanto, após atendimentos em saúde, pacientes surdos permanecem com a incompreensão sobre seus diagnóstico e tratamento, fato que ratifica a dificuldade na comunicação entre surdos e profissionais de saúde. 18 Entretanto, apesar de se destacar a insatisfação dos surdos em relação à comunicação no atendimento nos demais artigos utilizados para o presente estudo (principalmente aqueles que entrevistam pacientes surdos, 7 nesta pesquisa os profissionais de saúde afirmam empenhar-se em comunicar o diagnóstico ao surdo «quase sempre» ou «sempre» (59,6%; n=41), afirmam empenhar-se em comunicar as recomendações e tratamentos «quase sempre» ou «sempre» (59,4%; n=41) e afirmam certificar-se de que o paciente entendeu as recomendações «quase sempre» ou «sempre» (59,4%; n=41).
Ao longo da recolha de dados foram observadas algumas limitações do estudo, como: a presença de contradições entre a resposta dada no formulário e a justificativa do profissional; a breve finalização do formulário por aqueles que nunca atenderam pacientes surdos e a amostra diminuta de profissionais que lidam com surdos, devido a baixa demanda destes pela APS.
No estudo foi observada nitidamente a importância da comunicação para o estabelecimento do vínculo profissional-paciente, entendimento das queixas, diagnóstico e, principalmente, para fazer com que o paciente entenda sua condição e tenha uma adesão ao tratamento, diminuindo a sensação de isolamento e aumentando a satisfação do surdo pelo atendimento ao se sentir incluído e ter sua independência comunicacional conquistada e respeitada. 7 Infelizmente, apesar das afirmativas dos profissionais de se empenhar na comunicação do diagnóstico e tratamento, quanto ao nível de compreensão do indivíduo surdo a partir das estratégias de comunicação usadas pelo profissional de saúde, 82% (n=56) mencionaram não compreender seu diagnóstico e 70% (n=48) disseram não entender as orientações sobre seu tratamento. 18 Isso só evidencia como é falível essa interação profissional-paciente, uma vez que o primeiro acha que a comunicação está sendo eficiente, enquanto o segundo não se sente acolhido.
Conclusão
No presente estudo foi avaliada a qualidade de atendimento de médicos e enfermeiros a pacientes surdos na APS em uma cidade de Minas Gerais, sendo observado que a interação profissional-paciente é estabelecida, porém com dificuldade comunicacional. Dessa forma, a fim de minimizar as disparidades no atendimento ao paciente surdo pode ser útil a inserção de LIBRAS na grade curricular dos estudantes da área da saúde, como disciplina obrigatória, além do investimento na formação em LIBRAS para os profissionais de saúde e presença obrigatória de intérpretes de LIBRAS na APS, os quais devem ter o conhecimento avaliado anualmente através de provas de proficiência. Outra alternativa que poderia ser implementada seria a aquisição de ferramentas virtuais de tradução, especializadas na área médica, que proporcionem o atendimento holístico e satisfatório ao paciente surdo. E, por fim, como o atual estudo foi realizado em apenas uma região limitada no Brasil, para se obter conhecimento das dificuldades enfrentadas na comunicação entre profissionais de saúde e pacientes surdos, considerando aspectos culturais e demográficos e demais regiões, seria de grande importância o desenvolvimento de estudos similares a estes em outras regiões do país, a fim de desenvolver políticas públicas que abranjam de fato a totalidade da comunidade surda presente no Brasil.
Contributo dos autores
Conceptualização, SRMPD, BCPD e FRG; metodologia, BCPD e FRG; validação, SRMPD, BCPD e FRG; análise formal, SRMPD, BCPD e FRG; investigação, BCPD e FRG; recursos, BCPD e FRG; curadoria de dados, SRMPD, BCPD e FRG; redação do draft original, BCPD e FRG; redação, revisão e validação do texto final, SRMPD, BCPD e FRG; supervisão, SRMPD. Todos os autores leram e concordaram com a versão final do manuscrito.