O PET-CT com [18F]FDG permite o estudo de patologias de etiologia benigna e maligna que apresentam um aumento do metabolismo da glicose. A biodistribuição habitual deste radiofármaco é caracterizada por maior captação no cérebro e no fígado, captação variável no coração, e visualização de actividade renal e vesical pela sua excreção renal. A acumulação anómala de [18F]FDG ocorre em tecidos com aumento dos transportadores da glicose e alterações enzimáticas que promovem a retenção do radiofármaco no interior das células. No entanto podem ocorrer artefactos incidentais de acumulação do radiofármaco que desafiam a acuidade diagnóstica deste exame. Um dos exemplos é a activação de gordura castanha com aumento de captação do radiofármaco dificultando a correcta avaliação da actividade metabólica nessas localizações. A gordura castanha é responsável pela termogénese corporal que ocorre à custa de consumo de glicose. Com maior frequência a gordura castanha localiza-se em topografia cervical, supraclavicular e paravertebral torácica, sendo também observada em topografia axilar, mediastínica e abdominal, de modo mais frequente nas regiões supra-renais.1 A gordura castanha activada é caracterizada imagiologicamente por aumento de captação em imagem de PET correspondendo em TC a locais com densidade de gordura. O mecanismo de activação não é totalmente conhecido, no entanto, estão descritos factores que predispõem para maior grau de activação de gordura castanha. Nomeadamente, género feminino, idade jovem, baixo índice de massa corporal, temperatura exterior e glicémia.2
Na Figura 1 observam-se cinco estudos de PET-CT da mesma doente com 56 anos de idade, antecedentes pessoais de carcinoma da mama e indicação clínica para a realização de PET-CT para seguimento e avaliação da resposta ao tratamento em doente com carcinoma da mama com metastização óssea (estadio IV). Nos cinco estudos foram adquiridas imagens da cabeça até ao terço proximal superior dos membros inferiores, 1 hora após administração do radiofármaco. Nas imagens adquiridas observa-se variabilidade de activação de gordura castanha entre os diferentes estudos, sendo esta mais intensa nos estudos decorridos no período de menor temperatura exterior (meses de Janeiro, Outubro e Dezembro) e praticamente ausente nos estudos adquiridos no período de maior temperatura exterior (meses de Julho e Agosto). Esta variabilidade de captação da gordura castanha está de acordo com o descrito na literatura, verificando-se maior captação nos períodos com temperaturas exteriores mais baixas. Nesta doente a presença de factores adicionais favorecem a activação de gordura castanha, especificamente, género feminino, baixo índice de massa corporal, normoglicémia, antecedentes de carcinoma da mama e activação de gordura castanha em estudos prévios. De acordo com a literatura outros factores poderão também alterar a activação de gordura castanha, como toma prévia de diazepam, frequentemente utilizado para minorar o problema. Na grande maioria dos estudos de PET-CT com [18F]FDG em que ocorre este aumento de captação com algum grau de facilidade se atribui ao processo de activação de gordura castanha. No entanto, em determinados exames poderá ser indeterminada a caracterização e detecção de lesões de pequena dimensão nessas localizações. Em alguns estudos sugere-se a prevenção deste fenómeno com aquecimento dos doentes no período pós-injecção ou administração de beta-bloqueantes, como o propranolol.1