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Media & Jornalismo

versão impressa ISSN 1645-5681versão On-line ISSN 2183-5462

Media & Jornalismo vol.24 no.44 Lisboa jun. 2024  Epub 30-Set-2024

https://doi.org/10.14195/2183-5462_44_2 

Varia

Imigrantes e minorias étnicas na pandemia. Estudo de caso da cobertura mediática na imprensa semanal portuguesa - o Expresso e a Sábado

Immigrants and ethnic minorities in the pandemic Case study of the mediatic coverage of the Portuguese weekly press - the Expresso and Sábado

Catarina Magalhães1 
http://orcid.org/0000-0002-1449-596X

Clara Almeida Santos1 
http://orcid.org/0000-0002-9122-387X

1 Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras e CEIS20, Portugal catarina-magalhaes1999@hotmail.com; clara.santos@uc.pt


Resumo

A 11 de março de 2020, a OMS declarou a pandemia de Covid-19, tornando-se os media um recurso de primeira necessidade para agentes de saúde pública. O universo mediático não se reduziu, no entanto, à pandemia. As migrações também estiveram presentes e, num contexto de crise sanitária, são um objeto de estudo importante de analisar. Sendo um vírus cuja propagação se iniciou na China fez regressar indubitavelmente ao debate público o binómio ‘Nós’ e ‘Eles’, característico dos discursos sobre migrantes (Boréus, 2020; Cohen, 2011; Cottle, 2006). Assim, pretendemos avaliar como foram representados os imigrantes e minorias étnicas durante o primeiro ano de pandemia, na imprensa semanal portuguesa, e qual a influência da pandemia na cobertura da temática. Realizamos uma análise de conteúdo quantitativa ao corpus recolhido no jornal Expresso e na revista Sábado composto por 296 peças. Concluímos que a temática se mantém presente na agenda noticiosa, mesmo com a prevalência da pandemia.

Palavras-Chave: representação; pandemia; imigração; minorias étnicas; media

Abstract

On March 11, 2020, the WHO declared the Covid-19 pandemic, making the media a primary resource for public health agents. The mediatic agenda, however, was not limited to the pandemic. Migrations were also present and, in a context of health crisis, they are an important object of study to analyze. Being a virus whose spread began in China, it undoubtedly returned to the public debate the binomial ‘Us’ and ‘Them’, characteristic of discourses about migrants (Boréus, 2020; Cohen, 2011; Cottle, 2006). Therefore, we intend to evaluate how immigrants and ethnic minorities were represented during the first year of the pandemic, in the Portuguese weekly press, and what influence the pandemic had on coverage of the topic. We carried out a quantitative content analysis on the corpus collected in the newspaper Expresso and the newsmagazine Sábado, consisting of 296 pieces. We conclude that the topic remains present on the news agenda, even with the prevalence of the pandemic.

Keywords: representation; pandemic; immigration; ethnic minorities; media

Introdução

A 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a Covid-19 como uma pandemia. Em Portugal, os primeiros dois casos de infeção por coronavírus foram detetados a 2 de março. Os media informativos tornaram-se o “canal privilegiado de comunicação entre poder político e autoridades de saúde e a população” (Lopes et al., 2021a, p. 109). A 18 de março de 2020, Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, decretou o primeiro estado de emergência.

A pandemia passou a governar o debate público. “À medida que o vírus se multiplicava, também a informação em torno da pandemia se multiplicava por diversos canais” (Lopes et al., 2021b, p. 59). Cedo os políticos, líderes de opinião, jornalistas e sociedade civil perceberam que a presença e efeitos da doença não se limitavam aos corredores dos hospitais. Os jornalistas chamaram para si a incumbência do serviço público e procuraram não “apenas dizer o que se passava, mas ajudar as pessoas a encontrar âncoras de segurança para se protegerem” (Lopes et al., 2021b, p. 71). Por outro lado, a aceleração e perfil da comunicação digital contribuiu, de certa forma, para uma visão apocalíptica do tempo presente (Jodelet, 2020) e agudizou alguns sentimentos de insegurança e medo. Ao ritmo a que o número de casos e mortes aumentava, as diferenças socioeconómicas acentuavam-se e os estratos populacionais em condições sociais fragilizadas ficaram ainda mais expostos às dificuldades. Um dos grupos particularmente afetados foi o dos imigrantes e minorias étnicas. Segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) de 2021, o número de cidadãos estrangeiros residentes, no primeiro ano da pandemia, era de 663 095 cidadãos, o que corresponde a cerca de 6% da totalidade da população residente em território nacional (Oliveira, 2021a). Um número que, comparado com a realidade do ano de 2019, representa um crescimento de 12,2%, em contraciclo com a diminuição global dos fluxos migratórios por todo o planeta.

Neste cenário e na expectativa de uma “experiência global partilhada”, assistiu-se a uma “sucessão de incidentes racistas e xenófobos, dirigidos primeiro contra chineses e pessoas de aparência asiática e depois alargados aos ciganos, aos muçulmanos, aos imigrantes de origem africana, aos requerentes de asilo e aos estrangeiros de um modo geral” (Jerónimo, 2020, p. 5). A comunidade cigana, numa fase inicial ignorada, foi alvo de foco mediático, devido a supostos riscos de contágio no seio das comunidades, face a preconceitos como a “falta de higiene, dependência de ajuda estatal, desobediência às autoridades e necessidade de vigilância policial” (Jerónimo, 2020, p. 6). A fim de tentar analisar e compreender a cobertura mediática dos indivíduos e coletivos objeto deste estudo - imigrantes1 e minorias étnicas2 - procedeu-se à análise de conteúdo de artigos de caráter informativo e de peças de opinião publicados no jornal Expresso e a revista Sábado, entre 11 de março de 2020 e 11 de março de 2021. Procura-se responder, fundamentalmente, a duas questões: 1) como foram representados os imigrantes e minorias étnicas, durante o primeiro ano de pandemia,

na imprensa semanal? e 2) qual a influência da pandemia na cobertura do tema?.

Breve caracterização da imigração em Portugal o período pandémico em destaque

Através do Gráfico 1 é possível observar que, embora o contexto pandémico, a população estrangeira residente foi aumentando entre 2018 e 2021, atingindo valores máximos a cada ano. No entanto, entre 2020 e 2021 denota-se um ligeiro abrandamento, explicado também pela pandemia, que condicionou os fluxos migratórios e limitou deslocações. O número, em 2020, atingiu, no entanto, mais de 600 mil cidadãos, representando cerca de 6% da população total (Oliveira, 2021a).

Gráfico 1 População estrangeira residente em Portugal, entre 2018 e 2021. Fonte: Relatórios de Imigração, Fronteiras e Asilo 2018, 2019, 2020 e 2021, editados pelo SEF (Produção PrópriaNesse mesmo ano quisemos perceber também quais as nacionalidades mais representadas: 

Gráfico 2 Nacionalidades mais representadas em 2020. Fonte: Relatórios de Imigração, Fronteiras e Asilo 2020, editados pelo SEF (Produção Própria) 

O Brasil destaca-se como o país de origem de uma elevada percentagem de cidadãos estrangeiros residentes em Portugal. A nacionalidade cabo-verdiana ocupa o terceiro lugar e a angolana a décima posição. Já a nacionalidade chinesa e a indiana ocupam o 7.º e o 9.º lugar, respetivamente, demonstrando uma presença mais forte destas comunidades. Destacamos também a presença significativa de cidadãos oriundos de países europeus, como o Reino Unido (2.ª posição), bem como a Roménia, Ucrânia, Itália e França.

A imigração, devido à sua importância histórica em Portugal e ao peso na economia e demografia portugueses nas últimas décadas, tem merecido a atenção dos media (Cunha, 2007b; Hall, 2013/2016). No entanto, verifica-se uma tendência que podemos classificar como negativa: “o potencial para refletir a diferença e para promover a ‘construção do outro’ é mais vendável” (Ribeiro & Torkington, 2019, p. 153). Como destacou Correia (2009), as representações estereotipadas destes outros condicionam a sua plena integração, bem como a perceção da sua imagem, por parte da população que acolhe. Hoje, as tensões entre o “nós” e o “eles” continuam a marcar o discurso público e político de uma percentagem significativa da sociedade civil. “A hostilidade para com os imigrantes deriva não só de condições objetivas (…), como de condições subjetivas, tais como as expectativas e as opções ideológicas” (Cunha, 2007a, p. 200). Num clima político em que se observa a ascensão de partidos de direita radical (Mudde, 2020) e de movimentos fascistas (Mason, 2022), a desconstrução destes discursos discriminatórios é fulcral para uma sociedade humanista e defensora dos direitos humanos (de todos e não só de alguns).

Santos e Santos (2021) procuraram estudar os discursos de securitização nos media informativos em torno de requerentes de asilo, imigrantes e afrodescendentes, durante o período da pandemia. Como principais conclusões, as autoras frisaram que o processo de ‘othering’, ou seja, a representação do outro como sendo Outro, perpetua-se nos imaginários coloniais, particularmente na comunidade de afrodescendentes. Por outro lado, aos diferentes grupos associam-se diferentes questões:

1) imigrantes representados como ameaça; 2) refugiados assumem predominantemente o papel de vítima e 3) afrodescendentes como parte da população portuguesa (Santos & Santos, 2021, pp. 62-63).

Reiteradamente salientamos o papel disruptor da pandemia. “A redução drástica da interação social gerada pela (…) pandemia (…) reforçou o papel crucial da comunicação social na interpretação e produção de realidades, palco de disputas de narrativas de teor sanitário, punitivo e securitário” (Pereira et al., 2020, p. 49). E, para agravar a situação, alguns media “veicularam representações que situavam a origem e disseminação do vírus em pessoas estrangeiras” (Pereira et al., 2020), principalmente cidadãos de origem chinesa. Determinadas comunidades viram-se, como tal, associadas a estereótipos que foram alimentados pelos órgãos de comunicação social. A comunidade chinesa foi responsabilizada pelo surto e, na geografia europeia, a Itália e a Espanha foram considerados os disseminadores do vírus, tendo em conta o elevado número de casos que surgiu nestes países, no início da pandemia. Por outro lado, a comunidade africana era considerada mais resistente, enquanto imigrantes, refugiados e membros da comunidade cigana eram considerados focos de contaminação (Pereira et al., 2020). Ou seja, à narrativa de securitização subjacente à questão das fronteiras, que agora estavam encerradas (ou, pelo menos, parcialmente), agregou-se a narrativa sanitária. “Ao descrever o vírus como um fenómeno externo, o inimigo passa a ser não o vírus em si, mas a sociedade de onde este se originou” (Cravo, 2020, p. 96).

Afinal de contas, “todas as grandes epidemias produziram fenómenos de bode expiatório” (Marques, 2020, p. 37) e, no caso da COVID-19, a associação da origem do vírus ao território chinês tornou-se gerada de violência para com os asiáticos, não obstante a OMS tenha orientado, desde 2015, para a eliminação da referência a lugares e pessoas (Cravo, 2020; Marques, 2020). A pandemia foi, destarte, um contexto propício “para a formação de novas representações sociais” (Ribeiro, 2020, p. 92), pelo que o estudo empírico proposto procura refletir sobre estas questões na imprensa portuguesa.

Metodologia

O objetivo principal do presente estudo é analisar e compreender a imagem dos imigrantes e minorias étnicas3 veiculada na imprensa semanal nacional, ao longo do primeiro ano pandémico. Optou-se, para cumprir esse propósito, por recorrer a uma análise de conteúdo a partir de três conjuntos de variáveis: variáveis referentes à forma das peças recolhidas, variáveis referentes ao conteúdo, variáveis referentes ao discurso e variáveis referentes à pandemia.

A grelha de análise utilizada foi adaptada da original desenvolvida para os estudos de Cunha et al. (2004) e Cunha e Santos (2006). Aos três parâmetros de análise iniciais - forma, conteúdo e discurso - acrescentou-se um quarto: a referência à pandemia, a fim de enriquecer e responder aos objetivos do estudo. Segundo os estudos referidos, as variáveis e códigos utilizados na grelha original tiveram por base Teorias dos Media e Jornalismo (variáveis de forma), estudos sobre Migrações e Minorias (variáveis de conteúdo) e a Teoria de Análise do Discurso (variáveis de discurso) (Santos, 2007, pp. 81-82). Nas variáveis referentes à forma incluem-se: identificação da peça, título, meio, data, autor(es) (incluído género), espaço ocupado, local dentro da publicação, género de peça, existência de imagem(ns) ou grafismo(s); nas variáveis referentes ao conteúdo, identifica-se: localização geográfica, situação jurídica do imigrante/minoria, nacionalidade/ étnica, situação laboral, actor(es) da peça, idade, género, tema, papel do imigrante/minoria quando o tema é crime; nas variáveis referentes ao discurso, caracteriza o tom do discurso, a argumentação e as vozes mais citadas; as variáveis referentes à pandemia indicam se o tema está presente, bem como o foco, presença textual da associação à China (devido à circunstância de o paciente zero ter sido identificado neste país). Os meios de comunicação social escolhidos para fonte de análise foram o jornal Expresso e a revista Sábado. A escolha prende-se com o facto de serem comparáveis pela sua periodicidade semanal mas também para possibilidade de cotejar meios de comunicação com naturezas diferentes: o Expresso é considerado um jornal de referência nacional, mais afastado dos “valores do entretenimento, da dramatização e novelização, e mais à objetividade jornalística” (Prior, 2022, p. 166) e que conferem primazia a géneros jornalísticos que instigam à reflexão (Gomes, 2013, p. 192-193). Já a revista Sábado aproxima-se de uma publicação de cariz próximo do caracterizado como “popular” (Prior, 2022), que confere uma maior atenção a aspetos triviais e mais próximos do entretenimento e do registo ‘tablóide’ (Gomes, 2013, p. 193). É também de referir a importância em termos de penetração dos semanários analisados: dados de circulação relativos ao 1.º trimestre de 20214 (final do período de análise), confirmam o Expresso como a publicação de informação geral mais comprada (circulação paga de 58337 exemplares impressos e 50649 assinaturas digitais). A Sábado, por sua vez, posiciona-se também no topo das publicações escrutinadas pela APCT, com 24154 exemplares impressos vendidos, a que acrescem 2560 assinaturas digitais.

Na recolha final estão incluídos artigos com uma clara referência a imigrantes e/ ou membros de minorias étnicas, através da nacionalidade, ancestralidade, situação jurídica - expressamente referida nos textos e/ou outros elementos textuais que permitiam integrar os atores nessa definição. De fora ficaram artigos cuja categorização apenas poderia ser inferida e/ou através de elementos paratextuais.

O período de recolha escolhido fundamentou-se num dos critérios que guiaram este estudo de caso: o período pandémico. Assim, analisaram-se os artigos publicados do dia 11 de março de 2020 - aquando da classificação oficial por parte da OMS - a 11 de março de 2021, perfazendo o período de um ano. Desta forma, o resultado foi um corpus robusto e que permite, a nosso ver, uma reflexão sustentada e profunda daquele ano. Os dados foram extraídos com recurso ao software SPSS, o que permitiu também o cruzamento de variáveis, o que permite estender o escopo de ilações.

Análise e discussão dos resultados

O corpus é maioritariamente composto por artigos do jornal Expresso (70,6%). Apenas um terço das peças correspondem à revista Sábado (29,4%), que é de menor dimensão do que o semanário. Durante o ano, o pico de peças foi atingido em dezembro (Gráfico 3), uma vez que foi um dos meses em que se conheceram mais desenvolvimentos à morte do cidadão ucraniano nas instalações do SEF, no aeroporto de Lisboa. Um acontecimento que se revela estruturante e que marcou a discussão mediática, política e pública (Poiares, 2021) do ano em análise.

Gráfico 3 Número de peças ao longo do ano. Fonte: Produção Própria 

Ainda no que diz respeito ao número de peças, a Tabela 1 organiza estes dados, tendo em conta o meio de publicação. Os dados demonstram que o pico foi atingido pelas duas publicações no mesmo período (dezembro de 2020):

Tabela 1 Número de peças publicadas ao longo do ano no Expresso e na Sábado 

Fonte: Produção Própria (*A recolha do mês de março de 2020 só teve início no dia 11 e a de março de 2021 terminou no dia 11 desse mês, a fim de completar o período de um ano)

À produção estão subjacentes dois resultados que consideramos ambíguos. Por um lado, destacamos a reduzida percentagem de peças da autoria exclusiva de agências (0,3%), significando que há uma maior dedicação e atenção por parte de jornalistas e editores ao tema. Mais de 80% dos artigos são da autoria de jornalistas, pelo que prevalecem os géneros jornalísticos informativos e de Análise/Opinião (também da autoria de alguns destes profissionais).

O género da autoria reflete uma dinâmica desigual que não traduz, na nossa opinião, a realidade do setor (Silveirinha, 2012). Há uma predominância do género masculino na grande maioria das unidades de análise (52,7%), enquanto apenas cerca de 25% são assinados exclusivamente por mulheres.

O espaço ocupado pelos diferentes artigos também é um dos elementos que traduzem a importância conferida ao tema (Cunha et al., 2004; Correia, 2009). Através dos dados recolhidos, destacamos o facto de 25% das peças ocuparem 1 a 2 parágrafos, enquanto 23,3% ocupam uma página. São, portanto, artigos de menor desenvolvimento e contextualização, muitas vezes focados no episódio, em detrimento da problemática (Silveirinha & Peixinho, 2004).

Já no espaço editorial do órgão de comunicação social, a secção/editoria que adquire maior destaque é a Sociedade (25%), como ilustrado na Tabela 2. Recordamos também que o resultado da secção ‘Crime’ (0,0%) se explica pelo facto de as peças estarem integradas noutras editorias.

Tabela 2 Secção na qual as peças surgiram (Fonte: Produção Própria) 

Como se destacou, o género informativo ocupa uma parte significativa do corpus. Assim, a ‘Notícia’ e a ‘Reportagem’ (22,6% e 22%, respetivamente) são os géneros predominantes. Ressalva-se, contudo, que no caso das reportagens, como sublinhámos anteriormente, correspondem a artigos de dimensão relativamente pequena, embora algumas assumam um caráter de desenvolvimento e contextualização mais aprofundados. O género de opinião também está presente em 16,9% das unidades de análise.

Relativamente ao conteúdo, um terço dos artigos têm como local/âmbito de ação a Grande Lisboa. Um dado que se aproxima da realidade estatística de dispersão geográfica destas comunidades (SEF, 2021). No entanto, a maioria dos artigos não identifica claramente uma região do país ou aborda genericamente o espaço português, pelo que ‘Portugal’ é o local de ação genérico de 57,4% dos artigos.

Em relação aos atores, importa perceber, tendo em conta o objetivo da própria investigação, qual a presença de imigrantes e membros de minorias étnicas nos artigos. No total, 342 atores foram identificados como imigrantes (70,2%) ou minorias étnicas (29,8%), sendo que correspondem a 40,7% da totalidade de atores focados. Um resultado significativo e que pode ser sinal de uma mudança no padrão do silenciamento destas vozes (Batista & Bonomo, 2017; Cabecinhas & Amâncio, 2004; Cádima & Figueiredo, 2003; Cunha et al., 2004; Cunha & Santos, 2006; Ferin et al., 2008), recuperando e assumindo um lugar no espaço mediático e, consequentemente, público. Não obstante a legislação estabeleça a distinção de situações jurídicas, é um dado ausente da maioria das peças, o que confirma resultados de estudos anteriores (Cunha et al., 2004; Cunha & Santos, 2006; Ferin et al., 2008; Santos, 2005; Santos, 2007). É revelador, na nossa perspetiva, de que apesar da dimensão jurídica, os media procuram simplificar o discurso e acabam por ignorar esses pormenores que, muitas vezes, poderiam ajudar na diferenciação conceptual inerente à dinâmica dos fluxos migratórios. Ainda assim, quando se trata de ‘Indocumentados/Ilegais’, o estatuto é referido em 2,9% dos artigos, bem como na situação concreta dos ‘Asilados, refugiados e apátridas”, referida em 7,0% dos artigos, que os jornalistas tratam com maior atenção e cuidado (Abdo et al., 2019; Batista & Bonomo, 2017; Santos-Silva & Guerreiro, 2020).

Como não poderíamos ignorar, a nacionalidade ou etnia foram um dos parâmetros em análise, tendo em conta a situação dos jornais populares que frequentemente referem a nacionalidade/etnia dos atores (Santos, 2005). Destaca-se a nacionalidade ‘Indefinida’ em 22,2% dos artigos, o que denuncia o tratamento ainda homogéneo destes fenómenos, ignorando, por vezes, a heterogeneidade dentro das comunidades. A nacionalidade ucraniana (18,4%) tem uma presença relevante no corpus. Um dado que pode ser parcialmente explicado pela premência do caso do SEF, em que a vítima era de nacionalidade ucraniana, mas também pela crescente presença desta comunidade em Portugal, segundo os relatórios dos últimos anos do SEF. Segue-se a nacionalidade brasileira (8,8%) e a de cidadãos da UE (7,6%), que estão em consonância com as estatísticas oficiais (Oliveira, 2021a) e os estudos. No que diz respeito às minorias étnicas, destacam-se os cidadãos de etnia cigana, correspondendo a 9,1% dos atores em estudo, e de ascendência africana, em 5,6% dos casos.

A empregabilidade revela, a nosso ver, uma mudança no padrão da cobertura do tema. Apesar de ausente na maioria dos artigos (57,6%), a maior percentagem que se segue é a das profissões qualificadas (9,7%). Um dado que sublinhamos e que consideramos que pode ser sinal de uma mudança no tipo de cobertura mediático, bem como no perfil de imigrante e/ou minorias étnicas que são focadas nos media. Não obstante, 4,7% dos atores estavam em situação de desemprego, também agravado e sintoma da pandemia e da desaceleração económica, e 5,6% exerciam profissões não qualificadas. Um resultado que também possui algum relevo é o caso dos desportistas, que têm marcado também o movimento das migrações internacionais, uma vez que “à semelhança de outros trabalhadores atravessam fronteiras de países, impelidos por forças sociais, políticas e económicas que os transcendem” (Nolasco, 2017, p. 52).

Já que referimos os atores em estudo, não podemos também obliterar o papel de outras fontes às quais os jornalistas recorrem para falarem sobre o tema. Os nossos resultados confirmam o padrão de estudos anteriores já citados que, desde o início do século XXI, identificam o predomínio maioritário de fontes oficiais e institucionais, como o Governo, o SEF, as forças de segurança e o sistema judicial. Na mesma linha, integram-se também políticos e especialistas que, na nossa grelha de análise, fazem parte da categoria ‘Outro/a’.

Em relação aos imigrantes e minorias étnicas, houve outros parâmetros que tivemos em conta. Nomeadamente, a idade é um indicador ausente de perto de 80% dos artigos. No entanto, quando expressamente referida, é a categoria ‘Adultos’ (12,6%) que se destaca, confirmando os dados e estatísticas oficiais.

O género, por outro lado, está desfasado da realidade. Apenas 9,1% dos atores em estudo são mulheres. Um resultado que contraria os relatórios do SEF, que demonstram que há uma diferença pouco significativa entre mulheres e homens imigrantes, mas também é um dado que se opõe à tendência da ‘feminização’ do fenómeno (Castels & Miller, 1998). Ainda assim, a sua presença nas estatísticas é bastante elevada, pelo que não podemos afirmar claramente uma inversão ao padrão identificado por alguns autores.

Mas, no que diz respeito à representação mediática, parece-nos particularmente negativo que 53,2% dos indivíduos sejam do género masculino, traduzindo uma ideia enviesada da realidade. Ainda assim, salvaguardamos que a percentagem de artigos do caso SEF contribui também para esta percentagem, uma vez que a vítima é do género masculino. Os restantes indivíduos foram integrados no código ‘Indefinido’, o que é um dado que contribui para a conclusão do tratamento ainda em grupo/massa destes indivíduos.

O tema principal de cerca de um terço das peças ilustrado na Tabela 3 é o ‘Crime’ (32,8%). Para esta percentagem, mais uma vez, inclui-se o caso SEF, que corresponde a 25% dos artigos cujo tema principal é um crime. É uma tendência que confirma padrões anteriores (Cabecinhas & Amâncio, 2004; Cravo, 2020; Cunha et al., 2004; Cunha & Santos, 2006; Ferin et al., 2008; Gomes, 2011; 2013; Hall, 1997; Nata, 2011; Rodrigues, 2010; Santos, 2005; 2007) e, desta feita, agudiza e contribui para a representação negativa destes indivíduos, alimentando discursos de insegurança e securitários (Nata, 2011; Santos & Santos, 2021).

Tabela 3 Tema principal das peças (Fonte: Produção Própria)

De seguida, o tema do ‘Racismo/Xenofobia’ marca 16,6% dos artigos, um resultado que ecoa também a influência internacional do caso George Floyd, a par da agenda do partido de direita radical português (Mudde, 2020), que nega o racismo estrutural em Portugal. Assim, o ‘CHEGA’ é o tema principal em 7,4% dos artigos, bem como o ‘SEF’ na mesma quantidade de peças que abordam, sobretudo, as questões da reestruturação. Por outro lado, a ‘Integração’ é o tema principal em 8,1% das peças o que, não obstante palpável, tendo em conta os resultados anteriores, revela que há um maior foco em temas negativos e que têm repercussões nas representações destes cidadãos. Já a pandemia é o tema principal de 5,4% dos artigos, o que revela que, sendo um tema novo, os jornalistas o incluíram na agenda mediática, mas também não esqueceram as consequências da doença nesta comunidade em particular. Efetivamente, através do cruzamento de variáveis possibilitado pelo software utilizado, o ‘Crime’ é o tema principal nos dois órgãos de comunicação analisados. Em termos de espaço ocupado, 11,8% dos artigos ocupam 1 a 2 parágrafos e 7,8% apenas uma página. O que ilustra, ainda assim, um tratamento telegráfico do tema, excessivamente focado no episódio, não procurando refletir sobre a problemática. Por sua vez, o segundo tema com maior destaque é o ‘Racismo/Xenofobia’ em que, 4,7% dos artigos ocupam 1 a 2 parágrafos e apenas 4,4% uma página.

Três parâmetros foram analisados ao nível do discurso: enquadramento, tom e argumentação dominante. Inicialmente, queremos relembrar que são as dimensões de análise que mais dependem da subjetividade de quem investiga, pelo que os resultados obtidos são influenciados sobremaneira pela opinião de quem analisa (Santos, 2007). À grelha inicial, e dado que o género informativo foi predominante, optámos por incluir o enquadramento objetivo, que se tornou naquele com maior expressão (54,4%) nos artigos do corpus. De seguida, o enquadramento moral caracteriza o discurso de 29,1% das peças, que caracteriza fundamentalmente os artigos de pendor opinativo, conforme a Tabela 4.

Tabela 4 Enquadramento (Fonte: Produção Própria) 

O tom (Gráfico 4) foi analisado em relação aos atores em estudo. Como resultado positivo, frisamos a neutralidade em 67,9% das peças. Inversamente, o tom negativo destaca-se em relação ao positivo, o que denuncia, apesar dos avanços e sinais positivos, bem como bons exemplos de cobertura, uma dominação ainda de estereótipos e a negatividade associadas erroneamente a estes indivíduos.

Gráfico 4 Tom predominante nas peças. Fonte: Produção Própria 

Novamente, a partir dos cruzamentos, percebeu-se que, quando o tom é predominantemente neutro, 40,2% das peças possuem um enquadramento objetivo, enquanto 17,6% das peças são definidas por um enquadramento moral. No caso do tom negativo, está presente em 9,8% dos artigos enquadrados objetivamente e em 5,7% das peças com um enquadramento moral. Na mesma linha, o tom positivo está presente em 4,4% das peças com enquadramento objetivo e 5,7% de enquadramento moral. Reforçamos, assim, que é um indicador negativo a presença de um tom negativo em peças, principalmente com um enquadramento objetivo, que deveriam cumprir os pressupostos e o próprio Código Deontológico dos Jornalistas. A argumentação dominante que identificámos foi a ‘Política’, em 31,3% das peças.

Sendo aquela mais difícil de codificar (Santos, 2007), optámos por tentar encaixar as peças do corpus nos códigos definidos. Desta forma, 22% dos artigos possuem uma argumentação predominantemente ‘Securitária’, quer enquadrando os atores em estudo como ameaças e/ou como alvos de ameaças. Nesta variável também não esquecemos a pandemia, pelo que 8,1% dos artigos possuem uma argumentação dominante sanitária, como ilustrado na Tabela 5.

Tabela 5 Argumentação Dominante (Fonte: Produção Própria) 

Os dois meios analisados possuem características, linguagem, públicos-alvo e linhas editoriais distintas. Ainda assim, tanto no Expresso como na Sábado a argumentação dominante foi a ‘Política’ (68 artigos em 209 e 24 em 87, respetivamente. A segunda tipologia argumentativa é distinta, sendo que no Expresso se destaca a ‘Securitária’ (n=58) e na Sábado a ‘Social’ (n=17). A presença da COVID-19 também está contemplada na argumentação dominante. Em relação à revista, a argumentação sanitária caracteriza o discurso de 5,1% dos artigos, enquanto no Expresso o resultado é de 3,0%. Como já observámos antes, a pandemia está bastante presente na revista Sábado, o que pode ajudar a explicar esta diferença entre os dois órgãos. A última dimensão analisada ao nível do discurso foram as vozes citadas, que se distinguem pela sua voz e papel ativos como fontes de informação (Correia, 2009; 2011) dos atores focados. No total, 47,6% dos atores focados são citados, sendo um dado que resulta das próprias rotinas jornalísticas que marcam o quotidiano da profissão (Traquina, 2005). Os imigrantes correspondem a 17,8% das vozes citadas e as minorias étnicas apenas 4,8%. Na nossa opinião, são dados que demonstram um progressivo acesso destes atores ao espaço público, bem como sinais de que os jornalistas o estão a considerar como fontes, sendo um sinal bastante positivo. No entanto, tal como nos atores, destacam-se as vozes oficiais e institucionais, sendo que associações destas comunidades não assumiram grande expressão neste ano. Na categoria ‘Outro/a’ estão, novamente, incluídos especialistas, políticos e cidadãos, além de outras vozes que não se encaixam nos códigos definidos.

A COVID-19 compõe o último eixo de análise. Consideramos bastante significativo o facto de um terço das peças referir a pandemia (Gráfico 5), mesmo que a maioria lhe confira um foco secundário. Sendo um tema que se afirmou, pela urgência, nas rotinas mediáticas, é revelador não ser um tema ignorada em artigos cujo foco são imigrantes e/ou minorias, ou naqueles em que são fontes, independentemente do tema.

Gráfico 5 Presença da pandemia. Fonte: Produção Própria 

Em relação à secção, a pandemia esteve presente principalmente em três secções: ‘Sociedade’ (11,1%), ‘Análise/Opinião’ (4,7%) e ‘Desporto’ (3,0%). A presença na editoria de desporto explica-se pelos artigos que analisavam a situação de jogadores estrangeiros que tinham ficado, na sequência da pandemia, sem trabalho ou que ficaram com as suas situações jurídicas estagnadas. No que se refere à “origem” da doença, que a OMS determinou, como já sublinhámos, que fosse eliminada, somente 3 artigos a referem, sendo todos da revista Sábado. Comparando os dois meios de comunicação, a pandemia é tema principal em 9 de 50 artigos que referem a pandemia no Expresso e em 15 de 37 das peças da Sábado.

Quando há referência à COVID-19, destacam-se três temas principais: 1) ‘Pandemia’ (5,4%); 2) ‘Integração’ (4,7%) e 3) ‘Racismo/Xenofobia’ (4,7%). Já discursivamente, como seria expectável, destaca-se a argumentação ‘Sanitária’ em 8,1% dos artigos, seguida da ‘Social’ (7,1%). Afinal, houve uma atenção dos jornalistas em proteger os cidadãos das eventuais consequências da doença para a saúde e as suas vidas (Lopes et al., 2021a; 2021b; Serrano, 2021).

A possibilidade de cruzamentos, como reiteradamente frisámos, potencia o escopo de ilações. Como tal, não poderíamos ignorar a prevalência do tema ‘Crime’. Em termos de nacionalidade/etnia, destacou-se a ucraniana (caso SEF), indefinida, cidadãos da UE e a brasileira. A etnia cigana associada ao crime aconteceu apenas num artigo, com um indivíduo, o que consideramos, apesar de tudo, um sinal positivo. A agência do crime, como nos parece óbvio, não foi esquecida. Focando os atores em estudo, quando assumem o papel de perpetradores (18,6%), o foco no agente é sempre em si. Inversamente, quando são vítimas (77,3%), apenas em 15,5% dos casos são o destaque dos artigos. Demonstra que os media focam sobretudo os perpetradores dos crimes, mantendo a tendência quando são minorias étnicas e/ou imigrantes, alimentando a estereotipização negativa. Ainda assim, relativamente ao tom, predomina a neutralidade no tratamento, embora se destaque o negativo em comparação com o positivo.

Quando o tema era um ‘Crime’, o tema era neutro em 23,3% dos artigos e negativo em 7,8%. Já quando o tom era positivo, destaca-se o tema do ‘Racismo/Xenofobia (3,0%) e da Integração (2,4%). São temas que, pela sua natureza, promovem a desconstrução de discursos securitários e discriminatórios.

A morte no SEF foi um dos temas marcantes no ano em apreço. Revelador da importância ao caso, além da sua efetiva presença na agenda mediática, é o espaço ocupado. Perto da maioria dos artigos (47,3%) ocupa 1 a 2 parágrafos e 17,6% uma página. Revela que não houve, na maioria das peças sobre a morte do cidadãos, grande desenvolvimento e contextualização do caso, também dependente das instâncias da justiça (Poiares, 2021). No entanto, ao longo do primeiro ano pandémico, algumas peças foram procurando desenvolver mais detalhes sobre o cidadão, os agentes, bem como a sua família e a circunstância da chegada a Portugal.

Considerações finais

Genericamente, os imigrantes e minorias étnicas foram representados de forma ambivalente. A nacionalidade e etnia são elementos aos quais os jornalistas recorrem, quando falam sobre estes atores ou recorrem a eles como fontes, enquanto a idade não parece ser um elemento de particular relevância. O género também é uma dimensão relevante, dada a reduzida presença feminina. Apesar da inversão estatística subliminar dos últimos anos em Portugal, a que poderemos chamar de ‘masculinização’, a diferença não é tão elevada, como os media noticiosos fazem transparecer. Através das temáticas, é possível inferir a ainda persistente associação destes grupos à criminalidade, seja como vítimas, mas também como perpetradores. Aliás, o maior foco é dado quando assumem o papel de agressores. No sentido inverso, porém, encontram-se temas como o da ‘Integração’ que procuram desconstruir estas narrativas.

É um sinal positivo o facto de o enquadramento dominante ser o objetivo, a par do tom utilizado ser maioritariamente neutro. Contrastando com esta realidade, é o facto de o tom negativo ser superior ao positivo o que ainda contribui para a estereotipização negativa das comunidades, embora os notáveis esforços no sentido oposto. O facto de a argumentação dominante ser a ‘Política’ remete para o fenómeno da politização da temática, sustentada por diversos autores, como Stephen Castels e Mark Miller (1998).

Por sua vez, aludimos ao crescimento da percentagem de imigrantes e minorias étnicas como vozes citadas. É um dado que destacamos, que pode contribuir para combater o silenciamento do qual são alvo estes atores. Ainda assim, não deixa de ser relevante o facto de as fontes oficiais e institucionais permanecerem como maioritárias no tratamento mediático da temática e destes atores.

Refletindo, agora, sobre o papel da pandemia, é seguro afirmar que o coronavírus influenciou a cobertura mediática desde o momento em que “infetou”, também, o jornalismo (Lopes et al., 2021a; 2021b; Serrano, 2021). Por conseguinte, relembramos a presença da pandemia num terço das peças do corpus o que traduz uma influência, mesmo que subtil, na cobertura das questões ligadas à imigração e às minorias étnicas. Afinal, os jornalistas não se focaram somente no grupo hegemónico, mas, cumprindo a sua função democrática, foram mais além e também não ignoraram as situações e o contexto, a par das problemáticas que afetam estas comunidades. Na mesma linha, o acesso aos cuidados de saúde ou a regularização temporária das suas situações inscreveram-se como medidas legislativas necessárias e humanistas, que responderam aos desafios.

O estudo não foi isento de limitações. Desde logo, apenas foram eleitos para análise dois órgãos de comunicação semanais, pelo que ficaram excluídos outros meios que abordam igualmente a temática e introduziriam, certamente, resultados e conclusões diferentes ao estudo. Desta forma, seria importante, em estudos futuros, incluir mais órgãos, de forma a tentar desvendar o panorama geral da imprensa portuguesa, no que se refere à temática tratada. Por sua vez, a subjetividade das investigadoras, embora a metodologia estipulada e rigorosamente cumprida, não será isenta de eventuais erros ou dúvidas que surgiram pelo caminho, quer seja na recolha ou na análise feita. Ainda assim, procurou-se contorná-los e fazer o máximo de cruzamentos possíveis, com sustentação teórica e prática, potenciando o retrato da cobertura mediática de dois órgãos de natureza diferentes (e que, por esse motivo, enriquecem os resultados obtidos).

Numa época em que o imediatismo, a velocidade e a omnipresença das redes sociais e tecnologias imperam, é importante, a nosso ver, combater a “relativização do papel do jornalista face à influência da tecnologia” (Correia, 2011, p. 7). O facto de estarem sujeitos a um Código Deontológico, a par dos valores e da ética que devem pautar a sua profissão (Camponez & Oliveira, 2021), devem ainda valer como fatores de distinção.

Não podendo, como argumentamos, ignorar o valor e poder do jornalismo, também como defensor dos direitos humanos, não podemos descurar a exigência da formação profissional de futuros jornalistas. Graça Capinha defende que “a grande responsabilidade das Humanidades, tal como alguns poetas querem para a poesia (…), seja a de manter a capacidade de continuar a questionar” (2020, p. 94). Na mesma linha, Ana Teresa Peixinho (2016) frisa o valor das ciências humanas para o ensino do jornalismo. Sustentando que “o futuro da educação para o jornalismo está vinculado ao futuro do jornalismo” (Peixinho, 2016, p. 109), “só uma formação universitária de banda larga, enriquecida com sólidas bases do saber humanístico, será capaz de fazer a diferença” (Peixinho, 2016, p. 114). O jornalista, bem como os futuros jornalistas, devem, deste modo, investir na interdisciplinaridade e absorver bases de áreas como a Cultura Literária, a História Contemporânea à Política (Peixinho, 2016), entre outras, como a Sociologia ou a Antropologia.

Para além de capacitar os profissionais, é também necessário não esquecer os cidadãos, nos quais reside a chave. O cultivo da literacia mediática permite colocar o poder nas mãos dos cidadãos (Abdo et al., 2019), afirmando-se como uma “verdadeira plataforma de regulação” (Barbosa, 2012, p. 237). A literacia mediática, isto é, a capacidade de ler, interpretar e criticar informada e ativamente o papel dos media é uma “ferramenta essencial no combate ao discurso de ódio e na promoção dos direitos humanos” (Silva, 2019, p. 31), temas caros às questões abordadas.

Conflito de interesses | Conflict of interest

Os autores não têm conflitos de interesses a declarar. The authors have no conflicts of interest to declare.

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1Importa esclarecer o que entendemos por imigrante, adotando a abordagem dos dossiês sobre Media, Imigração e Minorias Étnicas (Cunha et al., 2004, Cunha & Santos, 2006, Ferin et al., 2008), cujo conceito está associado “à deslocação de um indivíduo para um país diferente, daquele onde nasceu e que é a sua residência habitual, por um período de tempo mínimo de um ano” (Cunha et al., 2004, pp. 23-24), apresentado pela Organização das Nações Unidas em 2002.

2Em relação às minorias étnicas, as autoras adotam a visão de Vermeulen (2001), dizendo respeito “aos grupos que mantém uma identidade sócio-histórica reconstruída em diáspora, uma identidade étnica, referenciada a uma pátria ou origem distante ou perdida e, sobretudo, a uma genealogia vivida como minoritária, no interior de um Estado multi-étnico” (Cunha et al., 2004, p. 25). Os “internal others” (Santos & Roque, 2021, p. 44) conceito inspirado em El-Tayeb que, sendo cidadãos nacionais, experienciam e são representados como o Outro, o estrangeiro no país no qual nasceu.

3Conferir notas de rodapé sobre a clarificação dos conceitos que guiaram a recolha do corpus e futura análise.

4Dados oficiais da Associação Portuguesa de Controlo de Tiragem

Recebido: 20 de Fevereiro de 2024; Aceito: 20 de Fevereiro de 2024

Catarina Magalhães é doutoranda em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. É mestre em Jornalismo e Comunicação e licenciada em Jornalismo e Comunicação com Menor em Línguas Modernas Inglês pela mesma instituição. Atualmente, é investigadora colaboradora do CEIS20 e os seus principais interesses de pesquisa são as representações e narrativas mediáticas, comunicação política e populismo. Ciência ID: 6413-1D6B-180ª. Morada: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Largo da Porta Férrea, 3000370, Coimbra, Portugal

Clara Almeida Santos (Ph.D, Universidade de Coimbra) é professora auxiliar no Departamento de Filosofia, Comunicação e Informação da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (UC) e investigadora integrada no CEIS20. Foi Vice-reitora da UC entre 2011 e 2018. Participou em projetos europeus relacionados com igualdade de género e diversidade e os media. Os principais interesses académicos são media digitais, comunicação e redes, imagem e comunicação, representações mediáticas e storytelling. Ciência ID: 7511-D6C9-3594. Morada: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Largo da Porta Férrea, 3000370, Coimbra, Portugal

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