Introdução
O cancro do pulmão é a primeira causa de morte por doença oncológica nos países ocidentais (Parkin D.M., Janssen-Heijnem M.L., 2002).
Segundo Gouveia J. (2006), estima-se em 41,19/100.000 habitantes a incidência no homem e de 11,04/100.000 habitantes na mulher a incidência de cancro do pulmão em Portugal.
Ocupa o quarto lugar, atrás dos cancros da mama feminina, da próstata e do cólon. Por cada ano, a incidência aumenta 0,5 % (Bray F., Tycynski J.E., Parkin D.M. 2004).
Dar-se à enfoque à Biópsia Transtorácica por Tomografia Computorizada (TC) como exame complementar de diagnóstico (Figueiredo et all, 2006). Técnica essa, executada com anestesia local, sob controlo fluoroscópio (fornece uma elevada precisão na instrumentação da agulha). Apresenta escasso desconforto para o doente com elevada rentabilidade diagnóstica. A sua versatilidade permite o acesso de lesões nas diversas localizações do pulmão, podendo ser utilizada para lesões periféricas e profundas mesmo de pequenas dimensões.
Material e métodos
Foi realizado um estudo de coorte retrospetivo onde foram selecionados como elegíveis todos os doentes que recorreram ao Serviço de Radiologia, TC 16 do Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO-Porto) por um período de seis meses, para serem submetidos a Biópsias Transtorácicas guiadas por TC, independentemente do seu resultado anátomo-patológico posterior.
Com vista a descrever e a caraterizar a amostra em estudo, foram consultados os processos clínicos dos doentes, utilizando-se para o efeito um questionário estandardizado. Foi feita uma análise dos dados através de técnicas descritivas e analíticas, sob a forma de representação gráfica, posteriormente quantificada. A prevalência de complicações de Biópsias Transtorácicas foi analisada na decorrência de complicações resultantes da mesma.
Foram classificadas como complicações imediatas da Biópsia Transtorácica as ocorridas durante a execução da mesma ou até à saída do Serviço de Radiologia de Intervenção. Classificaram-se como complicações tardias as descritas no processo clínico do doente como tendo ocorrido desde a saída dos doentes do serviço até 30 dias após a realização do procedimento, com um intervalo de confiança de 95% (IC95%).
O presente trabalho foi apenas acessível à equipa de investigação, que construíram, elaboraram e trataram o respetivo estudo. O grupo de trabalho é constituído por três enfermeiras do Serviço de Radiologia do IPO Porto: Ana Isabel Costa, Elisabete Sousa e Cristina Craveiro.
Calcularam-se as seguintes medidas: frequências absolutas (número de casos válidos - em n.º) e frequências relativas (percentagem de casos válidos - em %).
Na análise estatística dos dados relativos ao questionário estandardizado usado utilizou-se o programa de Formulários do Google, mais especificamente o Google Forms.
Resultados e discussão
Foram tratados dados de 258 doentes inscritos no IPO-Porto, dos quais 219 doentes (84,9%) realizaram biópsias e 39 doentes (15,1%) não realizaram biópsia por indicação médica, após serem observados pelo médico Radiologista responsável pelo procedimento em causa (Gráfico 1).
Dos 219 doentes analisados, realizaram biópsia cerca de 153 homens (69,9%) e 66 mulheres (30,1%), com uma faixa etária muito diversa, onde se pôde verificar que a faixa com maior incidência era a dos 71 anos (5,5%), tendo o mais novo 20 anos e o mais velho 92 anos.
Foi igualmente analisado o histórico dos doentes, onde foi observado que: 75,3% dos doentes não apresentaram diabetes; 94,5% não apresentaram infeção respiratória recente; 71,2% não tiveram hábitos alcoólicos; 73,5% não eram fumadores; 54,8% apresentam outras patologias oncológicas, com 53% tendo realizado já outras biópsias anteriormente (com predominância para a biópsia pulmonar); 47% não realizaram nenhum procedimento ou tratamento prévio ao estudo em causa; 91,3% não apresentaram DPOC.
Foi analisada a medicação usada pelos doentes à data do estudo sendo que: 92,7% não tomaram anticoagulantes; 93,2% não tomaram anti-inflamatórios não esteroides; 90,4% não tomaram antiagregantes plaquetários; e 69,9% não tomaram medicação ansiolítica/antidepressiva.
As características da punção basearam-se, após término do estudo, com 198 biópsias histológicas (90,4%) e 21 biópsias citológicas (9,6%); em 93,6% da amostra não foi possível classificar a abordagem relativamente à proximidade da pleura no procedimento realizado; em 71,2% das biópsias realizadas não foi descrito no processo clínico dos doentes o posicionamento dos mesmos. Com uma discrição macroscópica, a maior amostra de colheita de fragmentos recolhidos foi de 2 fragmentos (25,1%), escolha essa feita pelo médico radiologista, responsável pelo exame.
As complicações observadas da realização das biópsias analisadas basearam-se, após o término do procedimento, nos seguintes dados: 91,8% sem evidência de perdas sanguíneas; 98,6% dos doentes não apresentaram dispneia; 93,6% não apresentaram dor torácica; 94,5% não apresentaram quadro de pneumotórax; 91,8% não apresentaram hemoptises; 98,2% não apresentaram hemotórax. Do mesmo estudo, nenhum doente apresentou edema no local da punção e/ou infeção no local da punção após procedimento.
Destaque-se as 6 complicações imediatas (ocorridas durante a execução da mesma ou até à saída do serviço) e tardias (como tendo ocorrido desde a saída do serviço até 30 dias após a realização do procedimento) observadas no estudo, com um intervalo de confiança de 95% (IC95%). As perdas sanguíneas (Gráfico 2) apresentam como complicações imediatas em cerca de 6,4% das biópsias (14 doentes) e como complicações tardias em 1,8% (4 doentes). O quadro de dispneia apresentou como complicação imediata em cerca de 0,5% (1 doente) e como complicação tardia em 0,9% (2 doentes). A dor torácica revelou como complicação imediata 5,5% (12 doentes) e como complicação tardia de 0,9% (2 doentes).
O quadro de pneumotórax (Gráfico 3) revelou como complicação imediata cerca de 2,7% (6 doentes) e como complicações tardias cerca de 2,7% (6 doentes);
As hemoptises (Gráfico 4) apresentaram-se como complicações imediatas em cerca de 6,4% das biópsias (14 doentes) e como complicações tardias em 1,8% (4 doentes). Por último, dos quadros de hemotórax analisados, foram observados 1,8% (4 doentes) considerados como complicações imediatas, não sendo observadas complicações tardias.
Conclusão
Os resultados apresentados corroboram a evidência científica (Figueiredo et all., 2006) apresentada através de uma amostra de grandes dimensões (período de seis meses), onde as complicações das Biópsias Transtorácicas guiadas por TC foram um evento pouco frequente no período estudado. Em resumo, dá-se ênfase à perda sanguínea/hemoptises como complicação imediata mais frequente (6,4%) e ao quadro de pneumotórax, como complicação tardia mais frequente (2,7%).