INTRODUÇÃO
A exposição excessiva ao ruído pode trazer danos à saúde, à audição e a qualidade de vida dos trabalhadores, sendo a Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR), o dano mais frequente relacionado à audição 1-5.
O dano coclear é tradicionalmente associado a uma perda auditiva do tipo sensório-neural simétrica e de grau moderado. Geralmente o sintoma mais frequente é o zumbido 5.
A PAIR é uma das perdas auditivas mais comuns no adulto e, embora passível de prevenção, pode causar limitações ou restrições como a incapacidade auditiva ou a restrição da participação auditiva, também conhecida como desvantagem auditiva ou handicap, estando a primeira relacionada à falta de habilidade para a percepção de fala em ambientes ruidosos e a segunda vinculada aos aspectos não auditivos, os quais impedem o indivíduo de desempenhar efetivamente seu papel na sociedade5-9.
Uma vez que a avaliação audiológica não evidencia as limitações e as restrições sociais, situacionais e comunicativas decorrentes da perda auditiva, recomenda-se a quantificação da autoavaliação10. A quantificação da autoavaliação da restrição da participação de cada indivíduo através de questionários que avaliam as questões emocionais e sociais do indivíduo decorrentes de sua deficiência auditiva 11-13.
A autoavaliação da audição do indivíduo com perda auditiva é uma questão individual e está altamente relacionada aos níveis emocional, social, cognitivo, comportamental, económico e de qualidade de vida. Esses aspectos podem gerar dificuldades, limitando o envolvimento do sujeito nas situações quotidianas 8.
O questionário Hearing Handicap Inventory for Adults (HHIA) é utilizado (tanto na clínica audiológica, como em diferentes pesquisas) para quantificar a restrição da participação de uma população, avaliar o benefício do uso do Aparelho de Amplificação Sonora Individual - (AASI) ou de programas de intervenção para portadores de Perda Auditiva Induzida pelo Ruído 12-14. Essa quantificação é baseada no julgamento ou na percepção do próprio indivíduo (12,13.
Alguns autores25 demonstraram a correlação entre o isolamento social e perda auditiva, devido a uma comunicação oral prejudicada, a uma interferência nas relações de trabalho, a uma diminuição na capacidade de monitorizar o ambiente de trabalho (sinais de advertência), um maior risco de acidentes no local de trabalho e uma diminuição da qualidade de vida8,9,26. Outros autores sugerem que apenas os dados audiométricos e demográficos dos indivíduos não permitem estimar a restrição à participação auditiva, de maneira que tenha utilidade clínica para indicar ou planear algum tipo de intervenção5,27,28.
O presente estudo tem como objetivo avaliar a percepção de trabalhadores sobre a restrição da participação social relacionada à PAIR.
MÉTODO
Tipo e local de estudo
O presente estudo é do tipo transversal, aprovado pelo Comité de Ética, sob o número 1.180.334, e foi desenvolvido em uma empresa frigorífica de abate de aves no Estado do Paraná.
O empregador possui mais de 1.500 trabalhadores divididos por turnos, para além de serviços administrativos, a funcionar em horário normal. A carga horária era de quase nove horas diárias, com uma hora de refeição e diversas pausas de dez a vinte minutos.
Critérios de inclusão
Foram incluídos no estudo os trabalhadores, de ambos os géneros, maiores que 18 anos e que apresentaram audiogramas sugestivos de PAIR.
Participantes do estudo
A população selecionada para o presente estudo foi composta por 76 trabalhadores com audiogramas sugestivos de PAIR. Porém, no momento de aplicação do questionário, 23 trabalhadores estavam de folga, férias ou licença. Desta forma, 53 foram convidados a responder o questionário HHIA. Destes, 4 optaram por não responder ao questionário. Assim, participaram do estudo 49 trabalhadores. Após receberem as orientações sobre o estudo, assinaram o Termo de consentimento Livre e Esclarecido. Quanto ao uso de EPI, utilizam protetor auditivo do tipo concha (circum-auricular) com atenuação média de ruído de 21 a 26 dB(A).
Procedimentos
• Analise de prontuários
Foram realizadas as análises do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), para se conhecer o nível de ruído existente em cada setor e do panorama epidemiológico existente no Programa de Prevenção de Perdas Auditivas (PPPA) para a seleção dos participantes com audiogramas sugestivos de PAIR.
Foi usada a classificação Bureau International d' AudioPhonologie - BIAP15) para classificar o grau da PAIR. Sendo para tanto realizada a média liminar quadritonal nas freqüências de 500Hz, 1kHz, 2kHz e 4kHz, classificando-se o grau de perda auditiva em: leve (de 21 - 40 dBNA), moderada (41 - 70 dBNA), severa (71-90 dBNA), profunda (91-119 dBNA) ou total (>120 dBNA)15.
• Aplicação do questionário HHIA
O Hearing Handicap Inventory for Adults (HHIA) foi elaborado por Newman16 e adaptado para o português Brasileiro por Almeida17 e desde aí é utilizado na clinica audiológica e em pesquisas, para quantificar o handicap ou desvantagem psicossocial da população adulta até 60 anos.
O HHIA é autoaplicável e, no presente estudo, foi empregada a técnica de aplicação “papel-lápis”, na qual o trabalhador é orientado a ler e responder o questionário sozinho. Em alguns casos, devido a falta de literacia/ dificuldade de leitura apresentada pelo participante, foi também empregada a técnica de entrevista, na qual a pesquisadora fez a leitura das perguntas do questionário, sem grandes explicações. A utilização destas duas técnicas, foi também usadas noutros estudos 12-14 e não prejudicou a colheita de dados.
Este questionário é composto por 25 questões, que quantificam os efeitos sociais (12 questões) e emocionais (13 questões) na qualidade de vida. Para cada questão existem três alternativas de resposta: "sim" (equivalente a 4 pontos), "às vezes" (equivalente a 2 pontos) e "não" (equivalente a 0 ponto), permitindo apenas assinalar uma alternativa por pergunta. O HHIA é uma versão modificada do Hearing Handicap Inventory for the Elderly - HHIE18. Para tal, três questões do questionário original HHIE foram modificadas, a fim de incluir itens destinados a identificar os efeitos da perda auditiva sobre questões ocupacionais, já que adultos vivenciam mais estas situações do que idosos que, geralmente, já estão reformados17.
Quanto à análise dos resultados, são considerados: 0 - 16 pontos = sem percepção; 16 - 42 = percepção leve a moderada; 42 - 100 pontos= percepção significativa do handicap.
RESULTADOS
A Tabela 1 apresenta a distribuição da amostra segundo idade, sexo, tempo de empresa e lateralidade da perda auditiva.
A média de idade dos participantes foi de 43,96 anos (de 22 anos a 58 anos, com Desvio padrão de 8,68 anos). Quanto ao tempo de serviço na empresa, a média foi de 12,33 anos (de 1 ano a 36 anos, desvio padrão de 9,63 anos).
A maior parte dos participantes do estudo possui entre 40 e 49 anos; dos 49 participantes 34 eram do sexo masculino. 25 dos elementos das amostra apresentava menos de 10 anos de trabalho na empresa.
A maior ocorrência da PAIR foi bilateral (em 44 trabalhadores).
Variável e categorias | Frequência absoluta (N) | Frequência relativa (%) |
---|---|---|
Idade | ||
Menos de 30 anos | 3 | 6,12 |
30 a 39 anos | 11 | 22,45 |
40 a 49 anos | 21 | 42,86 |
50 anos ou mais | 14 | 28,57 |
Sexo | ||
Feminino | 15 | 30,61 |
Masculino | 34 | 69,39 |
Tempo de empresa | ||
Menos de 10 anos | 25 | 51,02 |
10 a 19 anos | 11 | 22,45 |
20 anos ou mais | 13 | 26,53 |
Lateralidade da PAIR | ||
Bilateral | 44 | 89,80 |
Unilateral | 5 | 10,20 |
legenda: n= número de participantes
Quanto ao nível de ruído, o PPRA demonstrou que o nível médio de ruído foi 87,61, o mínimo foi 65 e máximo foi 92,3 dB(A).
A Tabela 2 e os Gráficos 1 e 2, apresentam a estatística descritiva dos limiares auditivos segundo as frequências, por ouvido.A Tabela 2 demonstra que em ambos os ouvidos, entre os 49 trabalhadores, as frequências mais atingidas com os piores limiares, foram as de 3 a 8 kHz.
Ouvido e freqüência (Hz) | N | Média | Mediana | Mínimo | Máximo | Desvio padrão |
---|---|---|---|---|---|---|
OD 250 | 49 | 20,71 | 20,00 | 10,00 | 45,00 | 7,22 |
OD 500 | 49 | 18,78 | 20,00 | 10,00 | 45,00 | 8,93 |
OD 1000 | 49 | 18,47 | 15,00 | 5,00 | 45,00 | 9,37 |
OD 2000 | 49 | 22,14 | 20,00 | 5,00 | 60,00 | 11,95 |
OD 3000 | 49 | 30,51 | 30,00 | 5,00 | 80,00 | 15,32 |
OD 4000 | 49 | 34,90 | 35,00 | 0,00 | 80,00 | 15,22 |
OD 6000 | 49 | 39,08 | 40,00 | 5,00 | 90,00 | 16,48 |
OD 8000 | 49 | 36,33 | 30,00 | 15,00 | 90,00 | 17,52 |
OE 250 | 49 | 20,71 | 20,00 | 10,00 | 50,00 | 9,19 |
OE 500 | 49 | 19,39 | 20,00 | 10,00 | 50,00 | 10,39 |
OE 1000 | 49 | 20,00 | 15,00 | 10,00 | 75,00 | 12,42 |
OE 2000 | 49 | 23,47 | 20,00 | 5,00 | 70,00 | 14,11 |
OE 3000 | 49 | 34,29 | 35,00 | 5,00 | 70,00 | 12,99 |
OE 4000 | 49 | 39,59 | 40,00 | 20,00 | 80,00 | 11,81 |
OE 6000 | 49 | 41,33 | 40,00 | 15,00 | 90,00 | 16,95 |
OE 8000 | 49 | 37,04 | 40,00 | 10,00 | 95,00 | 18,93 |
Legenda: n= número de participantes
Os gráficos 1 e 2 apresentam a média, mediana, mínimo e máximo dos limiares auditivos, de acordo com as frequências nos ouvidos direito e esquerdo.
A Tabela 3 apresenta a Classificação BIAP do grau de perda auditiva.
Classificação BIAP | Direita | Esquerda | ||
---|---|---|---|---|
n | (%) | n | (%) | |
Normal | 16 | (32,65) | 17 | (34,69) |
Leve | 29 | (59,18) | 28 | (57,14) |
Moderada | 4 | (8,16) | 3 | (6,12) |
Moderadamente severa | - | (0,00) | 1 | (2,04) |
Legenda: n= número de participantes
O grau de perda auditiva de maior ocorrência foi o grau leve bilateralmente, estando presente em 29 participantes no ouvido direito (59,18%) e em 28 participantes à esquerda (57,14%). Apesar da diferença, não houve relevância para a lateralidade.
A Tabela 4 demonstra a Média e Desvio Padrão dos escores dos domínios emocional, social e total do questionário HHIA.
Domínio | N | Média | Desvio padrão |
---|---|---|---|
Emocional | 49 | 20,33 | 15,22 |
Social | 49 | 16,12 | 10,85 |
Total | 49 | 36,45 | 25,16 |
Legenda: n= número de participantes
Os resultados demonstram que os itens dos domínios emocional, social e total apresentam percepção leve a moderada de desvantagem auditiva.
A Tabela seguinte apresenta o resultado do questionário HHIA. Foram utilizadas correlação (teste qui-quadrado nível de significância 0,05).
Questões | Respostas (%) | P | ||
---|---|---|---|---|
Sim | Às vezes | Não | ||
S-1. A dificuldade em ouvir faz você usar o telefone menos vezes do que gostaria? | 32,65 | 2,04 | 65,31 | *0,0001 |
E-2. A dificuldade em ouvir faz você se sentir constrangido ou sem jeito quando é apresentado a pessoas desconhecidas? | 46,94 | 8,16 | 44,90 | *0,0089 |
S-3. A dificuldade em ouvir faz você evitar grupos de pessoas? | 46,94 | 8,16 | 44,90 | *0,0089 |
E-4. A dificuldade em ouvir faz você ficar irritado? | 46,94 | 16,33 | 36,73 | 0,1309 |
E-5. A dificuldade em ouvir faz você se sentir frustrado ou insatisfeito quando conversa com pessoas da sua família? | 25,00 | 25,00 | 50,00 | 0,2416 |
S-6. A diminuição da audição causa outras dificuldades quando você vai a uma festa ou reunião social? | 38,78 | 20,41 | 40,82 | 0,3508 |
E-7. A dificuldade em ouvir faz você se sentir frustrado ao conversar com os colegas de trabalho? | 34,69 | 24,49 | 40,82 | 0,5927 |
S-8. Você sente dificuldade em ouvir quando vai ao cinema ou teatro? | 25,00 | 0,00 | 75,00 | *0,0000 |
E-9. Você se sente prejudicado ou diminuído devido a sua dificuldade em ouvir? | 40,82 | 6,12 | 53,06 | *0,0028 |
S-10. A diminuição da audição causa dificuldades quando visita amigos, parentes ou vizinhos? | 12,24 | 10,29 | 77,55 | *0,0001 |
S-11. A dificuldade em ouvir faz com que você tenha problemas para ouvir/ entender os colegas de trabalho? | 61,22 | 18,37 | 20,41 | *0,0215 |
E-12. A dificuldade em ouvir faz você ficar nervoso? | 24,49 | 14,29 | 61,22 | *0,0148 |
S-13. A dificuldade em ouvir faz você visitar amigos, parentes ou vizinhos menos do que gostaria? | 22,45 | 10,20 | 67,35 | *0,0018 |
E-14. A dificuldade em ouvir faz você ter discussões ou brigas com a sua família? | 24,49 | 28,57 | 46,94 | 0,3732 |
S-15. A diminuição da audição causa dificuldades para assistir TV ou ouvir rádio? | 51,02 | 12,24 | 36,73 | *0,0354 |
S-16. A dificuldade em ouvir faz com que você saia para fazer compras menos vezes do que gostaria? | 6,12 | 2,04 | 91,84 | *0,0000 |
E-17. A dificuldade em ouvir deixa você de alguma maneira chateado ou aborrecido? | 42,86 | 20,41 | 36,73 | 0,3348 |
E-18. A dificuldade em ouvir faz você preferir ficar sozinho? | 16,33 | 12,24 | 71,43 | *0,0007 |
S-19. A dificuldade em ouvir faz você querer conversar menos com as pessoas de sua família? | 16,33 | 12,24 | 71,43 | *0,0007 |
E-20. Você acha que a dificuldade em ouvir diminui ou limita de alguma forma sua vida pessoal ou social? | 40,82 | 14,29 | 44,90 | 0,0845 |
S-21. A diminuição da audição lhe causa dificuldades quando você está em um restaurante com familiares ou amigos? | 25,00 | 16,67 | 58,33 | *0,0353 |
E-22. A dificuldade em ouvir faz você se sentir triste ou deprimido? | 18,75 | 14,58 | 66,67 | *0,0039 |
S-23. A dificuldade em ouvir faz você assistir TV ou ouvir rádio menos que gostaria? | 26,53 | 10,20 | 63,27 | *0,0042 |
E-24. A dificuldade em ouvir faz você se sentir constrangido ou menos à vontade quando conversa com amigos? | 22,45 | 12,24 | 65,31 | *0,0043 |
E-25. A dificuldade em ouvir faz você se sentir isolado ou deixado de lado num grupo de pessoas? | 20,41 | 12,24 | 67,35 | *0,0026 |
Legenda: E=domínio emocional; S=domínio social
Em relação às questões emocionais foi possível observar que a questão E-2, relacionada a dificuldade em ouvir e o constrangimento do trabalhador quando este é apresentado a pessoas desconhecidas, foi a que os trabalhadores relataram sentir maior desvantagem. E quanto às questões sociais, observou-se que foram as questões S-3 (A dificuldade em ouvir faz você evitar grupos de pessoas?), S-11 (A dificuldade em ouvir faz com que você tenha problemas para ouvir/ entender os colegas de trabalho?) e S-15 (A diminuição da audição causa dificuldades para assistir TV ou ouvir rádio?).
Foram utilizadas correlações (teste qui-quadrado nível de significância 0,05), entre os resultados dos escores dos domínios emocional, social e total do questionário HHIA com as variáveis sexo, lateralidade, número de frequências atingidas e grau de perda auditiva. Porém não foram encontradas diferenças significativas na distribuição das respostas.
DISCUSSÃO
Dos 49 trabalhadores que participaram da pesquisa, 21 destes (42,86%) tinha idade entre 40 e 49 anos; 34 (69,39%) eram do sexo masculino (Tabela 1). Esses dados são compatíveis com o Boletim dos Agravos do Ministério da Saúde, que demonstra que a maioria da população com PAIR registrada no SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação 2007-20123, são homens desta faixa etária.
Quanto à lateralidade da perda auditiva, 44 dos participantes (89,80%) apresentava perda auditiva bilateral. A questão da lateralidade da perda auditiva já foi discutida por outros autores que afirmam que a PAIR é geralmente bilateral2,5,20, porém existe um número significante de audiogramas assimétricos que devem ser considerados5.
Quanto à exposição ao ruído, foi possível observar que o nível de ruído (87,61 dBA) nos setores é superior ao Limite de Tolerância recomendado (85dBA, conforme Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho nº15)21 , deixando evidente que o risco existe e que medidas coletivas devem ser adotadas. As exposições contínuas são piores para a audição do que as intermitentes, porém, curtas exposições a ruído intenso, caracterizado como ruído de impacto, também podem desencadear danos. Quanto ao uso de protetores auditivos, deve ser considerada a atenuação real do mesmo, assim como a variabilidade individual do trabalhador22.
Segundo a Norma Regulamentadora nº363, para controlar a exposição ao ruído ambiental devem ser adotadas medidas que priorizem a sua eliminação, a redução da sua emissão e a redução da exposição dos trabalhadores. Caso não seja possível tecnicamente eliminar ou reduzir a emissão do ruído ou quando as medidas de proteção adotadas não forem suficientes ou encontrar-se em fase de estudo, planejamento ou implantação, ou ainda em caráter complementar ou emergencial, devem ser adotadas medidas para redução da exposição dos trabalhadores obedecendo à seguinte hierarquia: a) medidas de caráter administrativo ou de organização do trabalho- medidas de proteção coletiva e b) utilização de equipamento de proteção individual - EPI.
A Tabela 2 e os gráficos 1 e 2, apresentam dados descritivos dos limiares auditivos segundo as frequências. É possível observar que as frequências altas foram as mais atingidas e a média dos limiares auditivos aéreos é maior nas frequências de 3Hz, 4Hz e 6Hz. Esses achados são compatíveis com as características da PAIR, conforme literatura consultada1-3.
Segundo estudo selecionado, a população mais suscetível a adquirir PAIR são trabalhadores expostos a elevados níveis de pressão sonora nas indústrias e empresas (acima de 85 dB NPS)4. Assim, a monitorização auditiva periódica é prioritária e permite o acompanhamento da saúde auditiva dos trabalhadores, identificando o início ou agravamento de uma perda auditiva4.
Na Tabela 3 foi utilizada a classificação BIAP - sugerida pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia (2013)15, para calcular a média quadritonal. Esta classificação é considerada adequada para PAIR, uma vez que inclui no cálculo a frequência de 4kHz que é uma das frequências mais atingidas nesse caso. Um importante estudo audiológico realizou um levantamento na literatura de dez critérios para classificação do grau de perda auditiva. Os resultados revelaram que, do total de autores pesquisados, sete priorizaram a faixa de frequências de 500 a 2000 Hz, como base de cálculo para a perda média. Os três restantes, apesar de diferirem entre si, priorizaram uma faixa de frequência mais ampla, onde dois deles, até 8000 Hz e o outro, até 4000Hz conforme classificação BIAP23.
Autores sugerem que, ao desconsiderar as frequências mais altas, a classificação prioriza a energia dos sons da fala em detrimento de sua inteligibilidade. Um outro fator é que, na maioria das vezes, a perda auditiva sensório-neural acomete primeira e principalmente, as frequências altas em vez das baixas, o que contribui para o fato deste critério não explicar as dificuldades comunicativas relatadas pelos indivíduos5,23.
Foi possível observar no presente estudo que a maioria dos casos apresentaram perda auditiva leve bilateral, sendo 29 (59,18%) à direita e 28 (57,14%) à esquerda. Segundo autores23, as limitações ou as restrições auditivas encontradas na PAIR começam a ser notadas quando a média dos limiares auditivos atingirem 35 dB ou mais.
Em relação à percepção das limitações (tabela 4), observou-se que há percepção leve a moderada da restrição de participação socialnas escalas, emocional e total. No entanto, noutro estudo realizado com trabalhadores com PAIR, os resultados do HHIA não demonstraram restrição de participação 24.
A Tabela 5 apresenta o resultado do questionário HHIA, por questão e teste relacionado. Quando são analisadas algumas questões isoladas, observam-se diferenças significativas, demonstrando a restrição de participação (questões onde as respostas foram “Sim”): E-2 onde sente-se constrangidos ou sem jeito quando apresentados a pessoas desconhecidas; S-3 a dificuldade faz evitar grupo de pessoas; S-11 onde a dificuldade em ouvir faz com que tenham problemas para ouvir/entender os colegas de trabalho; S-15 a diminuição da audição causa dificuldades para assistir TV ou ouvir rádio.
O que se observa, quando o teste resultou significativo é que existe diferença entre as frequências de resultados das categorias de respostas (sim, às vezes, não) para a questão considerada. Assim, observamos que as questões: S-1, S-8, E-9, S-10, E-12, S-13, S-16, E-18, S-19, S-21, E-22, S-23, E-24 e E-25 apresentam frequências de respostas significativamente maiores para a categoria NÃO, enquanto que apenas as questões S-11, onde a dificuldade em ouvir faz com que tenham problemas para ouvir/ entender os colegas de trabalho e S-15, a diminuição da audição causa dificuldades para assistir TV ou ouvir rádio para a categoria SIM. Nas questões E-2, onde a dificuldade em ouvir causa constrangimento do trabalhador quando este é apresentado a pessoas desconhecidas e S-3, onde a dificuldade em ouvir faz com que evitem grupos de pessoas, existem um equilíbrio entre NÃO e SIM. Nas restantes questões, onde o resultado do teste não foi significativo são esperadas proporções aproximadamente iguais de respostas para as três categorias.
Os resultados apresentados no presente estudo corroboram com os autores que sugerem que apenas os dados audiométricos e demográficos dos indivíduos não permitem estimar a restrição à participação auditiva, de maneira que tenha utilidade clínica para indicar ou planejar algum tipo de intervenção 5,27,28.
A autoavaliação da restrição à participação também está intimamente relacionada à qualidade de vida do sujeito. Segundo a literatura28,29, as limitações funcionais são capazes de desencadear alterações psicossociais que, consequentemente, podem interferir na interação e adaptação do indivíduo ao meio social. Cabe ressaltar, que a restrição de participação auditiva pode ser identificada baseada nas seguintes manifestações: isolamento, dificuldade nas relações familiares, estresse, dificuldade de sono, ansiedade, diminuição da autoestima e depressão30.
Apesar de não terem sido observadas correlações entre os resultados dos itens dos domínios emocional, social e total do questionário HHIA com sexo, lateralidade, número de frequências atingidas e grau de perda auditiva. O questionário HHIA foi útil para avaliar as consequências emocionais e sociais percebidas em função da PAIR, podendo ser usado em diversas situações na rotina clinica ocupacional. Esta pesquisa poderá contribuir para o trabalho de fonoaudiólogos que atuam junto aos trabalhadores, possibilitando uma melhor orientação voltada ao atendimento de portadores de PAIR em relação à restrição da participação secundárias à perda auditiva.
CONCLUSÃO
Os trabalhadores com casos sugestivos de Perda Auditiva Induzida pelo Ruído apresentaram restrição de participação secundária a perda auditiva, podendo impactar negativamente na participação social, capacidade de trabalho e qualidade de vida. Esses achados, reforçam a necessidade de prevenção da PAIR para melhor qualidade de vida aos trabalhadores, por meio da efetividade dos programas de prevenção auditiva, que vão além do monitoramento auditivo. Assim como a reabilitação auditiva destes trabalhadores.