INTRODUÇÃO
As lesões musculoesqueléticas (LME) constituem um problema de saúde ocupacional prevalente, afetando milhões de trabalhadores europeus e gerando custos substanciais para as empresas (1). De acordo com os dados do Eurostat de 2020, os distúrbios musculoesqueléticos são o problema de saúde relacionado com o trabalho mais comum, afetando 6% das pessoas empregadas ou anteriormente empregadas na União Europeia (2).
As LME podem ter repercussões individuais, levando à diminuição da funcionalidade física e da qualidade de vida. Além disso, estas perturbações podem ter implicações socioeconómicas, resultando numa redução da capacidade de trabalho, aumento das taxas de absentismo por doença e saída prematura do mercado de trabalho (3).
Os profissionais de saúde são particularmente vulneráveis às LME devido à natureza fisicamente exigente do seu trabalho. De acordo com o European Working Conditions Survey (EWCS) (4), 47% dos trabalhadores na área da saúde humana e da assistência social relataram queixas de lombalgia e 46% reportaram dor nos membros superiores nos doze meses anteriores. Para além destas elevadas taxas de dor lombar e nos membros superiores, os profissionais de saúde frequentemente relatam desconforto no pescoço, ombros e membros inferiores, refletindo os desafios biomecânicos e ergonómicos inerentes à sua profissão (5).
Os Assistentes Técnicos Hospitalares realizam tarefas monótonas e repetitivas, com riscos físicos e biomecânicos significativos (6), incluindo o manuseamento de cargas com torção e flexão da coluna, movimentos repetitivos, posturas incorretas ou estáticas, iluminação inadequada ou ambientes frios, bem como períodos prolongados em pé ou sentado. Adicionalmente, fatores psicossociais e organizacionais, tais como elevadas exigências laborais, baixa autonomia, pausas insuficientes, limitação na mudança de posturas, ritmo de trabalho acelerado e turnos longos, contribuem ainda mais para estes riscos. A combinação destes fatores pode levar ao desenvolvimento de lesões musculoesqueléticas relacionados com o trabalho (LMERTs).
Estratégias eficazes para prevenir lesões, nesta categoria profissional, incluem a implementação de medidas ergonómicas no local de trabalho, como o ajuste adequado de cadeiras e secretárias, adoção de pausas regulares para alongamento muscular, promoção da atividade física regular com exercícios específicos para determinados grupos musculares e a educação dos trabalhadores sobre boas práticas posturais. O exercício físico, especialmente o treino muscular direcionado, tem benefícios bem estabelecidos para a dor cervical e lombar, conforme demonstrado por inúmeros estudos (7) (8). A evidência científica atual demonstra que o exercício realizado no local de trabalho tem maior probabilidade de adesão quando comparado com a prática em casa (9). De acordo com um estudo publicado na Revista Portuguesa de Saúde Ocupacional, a duração recomendada para as sessões de ginástica laboral situa-se entre 10 a 15 minutos, sendo aconselhada a sua realização no início e durante os turnos de trabalho, consoante o tipo de atividade exercida. Os exercícios devem ser adaptados às exigências físicas do trabalho, priorizando alongamentos das regiões mais solicitadas e permitindo pausas que contribuam para a prevenção de doenças profissionais. O profissional responsável pode ser um enfermeiro de reabilitação, fisioterapeuta ou outro técnico com formação adequada, garantindo assim a personalização e eficácia da intervenção (10).
Este tipo de abordagem individualizada aumenta a flexibilidade e adaptabilidade dos programas de exercício, favorecendo a sua aceitação e adesão no contexto ocupacional.
Apesar das evidências prévias (11) (12) que destacam os efeitos positivos do treino de resistência na dor musculoesquelética, a relevância deste estudo advém da escassez de investigações substanciais que avaliem os potenciais benefícios de programas de treino curtos para assistentes técnicos. Os resultados poderão servir de base para futuras recomendações e intervenções, com o objetivo de melhorar a saúde e a qualidade de vida destes profissionais.
Este estudo tem como objetivo avaliar a eficácia de um programa de exercícios no local de trabalho na redução da dor musculoesquelética e na melhoria da funcionalidade laboral em assistentes técnicos hospitalares.
MATERIAIS E MÉTODOS
Desenho do Estudo:
Este projeto consistiu num estudo experimental e prospetivo, realizado entre maio de 2024 e julho de 2024. A população da investigação consistiu em assistentes técnicos hospitalares a trabalhar na Unidade Local de Saúde do Alto Ave (ULSAAVE), Portugal.
O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética da instituição e todos os participantes forneceram consentimento informado por escrito.
Recrutamento e Processo de Seleção dos Participantes:
Todos os assistentes técnicos hospitalares da ULSAAVE foram convidados a participar através de um convite aberto, divulgado por e-mail institucional e cartazes afixados no hospital. Os interessados registaram-se através de um questionário Google Forms, que serviu como triagem inicial de elegibilidade.
Foram selecionados 18 participantes por ordem de registo, desde que cumprissem os critérios de elegibilidade. O número de vagas foi limitado a 18 devido a restrições logísticas, incluindo a viabilidade de realizar as sessões de exercício em pequenos grupos supervisionados. Os indivíduos que não cumpriram os critérios de elegibilidade foram excluídos antes da seleção final, e aqueles que se inscreveram após o preenchimento de todas as vagas não foram incluídos no estudo.
Critérios de Inclusão:
Assistentes técnicos hospitalares que reportaram dor musculoesquelética.
Critérios de Exclusão:
Foram excluídos os participantes com lesões musculoesqueléticas agudas ou graves que pudessem interferir com a participação segura no Programa de Exercício Laboral. Isto incluiu a presença de sinais inflamatórios ativos no exame físico (como calor localizado, rubor ou edema) ou outras condições que pudessem ser agravadas pela atividade física. As condições musculoesqueléticas específicas que levaram à exclusão foram:
• Instabilidade articular grave (laxidez ligamentar significativa no joelho, ombro ou tornozelo) que pudesse aumentar o risco de lesão durante exercícios com carga ou movimentos repetitivos.
• Fraturas ou lesões ósseas recentes (nos últimos seis meses) que ainda não tivessem cicatrizado completamente ou estivessem em fase inicial de reabilitação, particularmente se envolvessem ossos ou articulações de sustentação de carga.
• Doenças degenerativas articulares avançadas, como osteoartrose severa nos joelhos, ancas ou coluna, onde a carga articular ou os movimentos repetitivos pudessem agravar a condição.
• Recuperação pós-cirúrgica em regiões musculoesqueléticas (no último ano) onde a recuperação funcional total ainda não tivesse sido alcançada, especialmente em cirurgias da coluna, membros inferiores ou superiores, críticos para a sustentação de carga e controlo de movimento.
• Tendinopatias graves (como Tendinite da coifa dos rotadores, Tendinite de Aquiles) ou bursites ativas, uma vez que estas condições inflamatórias poderiam ser agravadas por exercícios resistidos ou movimentos repetitivos.
Além das condições musculoesqueléticas, foram também excluídas grávidas e indivíduos com doença cardiovascular descontrolada. Os critérios de exclusão avaliados durante o exame clínico incluíram: (i) hipertensão arterial não controlada [pressão arterial sistólica (PAS) >160 mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) >100 mmHg)], (ii) história recente de doenças cardiovasculares (angina de peito induzida pelo exercício, insuficiência cardíaca, enfarte agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral), e (iii) gravidez atual.
Estes critérios foram avaliados pelo Médico do Trabalho durante uma consulta, que incluiu exame físico antes do início do Programa de Exercício Laboral. Os participantes com mais de três faltas ao Programa de Exercício também foram excluídos da amostra.
Fase 1 (Pré-Intervenção):
Todos os participantes foram informados sobre os objetivos e o conteúdo do projeto e forneceram consentimento informado por escrito antes da primeira sessão de treino.
Foi realizada uma avaliação inicial, incluindo questionários validados para avaliar a intensidade da dor musculoesquelética e a funcionalidade no trabalho antes do início da intervenção. Os dados dos participantes foram recolhidos após o consentimento informado, sendo os questionários administrados antes da primeira e após a última sessão do Programa de Exercícios Laborais.
O questionário inicial foi composto por duas secções:
1. Caracterização sociodemográfica, incluindo idade, género, dados antropométricos, função profissional, anos de atividade profissional, carga horária semanal e prática de exercício físico.
2. Questionário nórdico musculoesquelético (13), utilizado para identificar as regiões de dor musculoesquelética mais afetadas (pescoço, ombros, cotovelos, mãos/punhos; coluna lombar; ancas; joelhos, tornozelos/pés) e avaliar a intensidade da dor recorrendo a uma escala visual analógica da dor (variando entre zero a dez).
A versão portuguesa validada do Questionário Nórdico Musculoesquelético, utilizada neste estudo, encontra-se disponível na Figura 1.
Fase 2 (Intervenção e Acompanhamento):
A intervenção consistiu na aplicação de um Programa de Exercícios Laborais, definido por Fisiatras da Unidade Local de Saúde do Alto Ave (ULSAAVE). O programa foi realizado durante o horário laboral dos participantes.
Os participantes foram divididos em três turmas de seis pessoas cada, realizando três sessões de treino por semana, durante um total de cinco semanas. Em cada sessão, o instrutor selecionou seis exercícios, de duração de um minuto, para serem executados num formato de circuito, passando rapidamente de um exercício para o outro sem descanso, que se repetia por duas vezes. Os exercícios foram selecionados pela sua eficácia na melhoria da força muscular e estabilidade do core abdominal, áreas frequentemente afetadas por dor musculoesquelética nos assistentes técnicos hospitalares.
O programa de treino alternava entre duas sessões:
• Sessão 1: Agachamento, Remada com Banda Elástica, Ponte Glútea, Rotação Externa do Ombro com Banda Elástica, Prancha, Flexões de Braços.
• Sessão 2: Subida de Degraus com alternância de Pernas, Remada Unilateral com Halteres, Extensão alternada de braço e perna em posição de quatro apoios, Lounge Cruzado, Prancha Lateral, Flexão de cotovelo com halteres.
Estes circuitos foram alternados ao longo da semana para evitar monotonia e a repetição dos mesmos exercícios. A progressão na intensidade do treino (carga) foi garantida através do uso de bandas elásticas progressivamente mais resistentes ao longo do período de intervenção, com os ciclos de exercício supervisionados por fisioterapeutas do hospital.
Foram realizados acompanhamentos semanais para monitorizar a adesão ao programa e fornecer suporte e motivação aos participantes.
Fase 3 (Avaliação Pós-Intervenção):
Após a conclusão da intervenção (15 sessões), os participantes foram submetidos a uma avaliação pós-intervenção, preenchendo novamente o Questionário Nórdico Musculoesquelético, aplicado na fase pré-intervenção, de forma a avaliar melhorias na intensidade da dor musculoesquelética e ganhos na funcionalidade no trabalho. No final do programa de exercícios laborais, cada participante recebeu um conjunto de bandas elásticas e um vídeo contendo os exercícios realizados durante o programa, permitindo a continuidade da prática tanto em casa como no ambiente de trabalho.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
A análise dos dados foi realizada utilizando o software IBM SPSS Statistics®, versão 29. O nível de significância estatística foi definido como p<0.05, com um intervalo de confiança de 95%. A caracterização da amostra foi efetuada através de uma análise descritiva simples das variáveis do estudo, utilizando a média (M), o desvio-padrão (DP), a mediana (Mdn) e o intervalo interquartil (IQR) para variáveis contínuas, ou frequências absolutas (n) e percentagens (%) para variáveis categóricas (14). A normalidade dos dados foi avaliada através do teste de Shapiro-Wilk, das medidas de assimetria (skewness) e curtose (kurtosis), bem como da análise de histogramas (15) (16). O teste de Shapiro-Wilk indicou que a assunção de normalidade foi violada para a maioria das variáveis relacionadas com a intensidade da dor. Consequentemente, o teste dos postos com sinal de Wilcoxon foi selecionado, dada a sua adequação para a análise de dados emparelhados não paramétricos, particularmente na avaliação das alterações na intensidade da dor em diferentes regiões do corpo antes e após o Programa de Exercícios Laborais (17).
RESULTADOS
A Tabela 1 apresenta as características iniciais dos participantes do estudo. No total, foram incluídos 18 assistentes técnicos, dos quais 17 (94,4%) eram do sexo feminino e 1 (5,6%) do sexo masculino. A idade média dos participantes foi de 51,67 ± 9,59 anos, e o índice de massa corporal (IMC) médio foi de 24,35 ± 2,68 kg/m2. Metade dos participantes apresentou um IMC superior a 25.
Tabela 1 Características Demográficas, de Atividade Física e Profissionais dos Participantes do Estudo (n=18)
| Variáveis | Valor |
|---|---|
| Características demográficas | |
| Sexo - n (%) | |
| Feminino | 17 (94.4) |
| Masculino | 1 (5.6) |
| Idade, (média, intervalo) | 51.67 (37-64) |
| Índice de Massa Corporal (kg/m2), (Média ± DP) | 24.35 ± 2.68 |
| Atividade Física - n (%) | |
| Sedentária | 9 (52.9) |
| 1-2 vezes por semana | 4 (22.2) |
| 3-4 vezes por semana | 2 (11.1) |
| Diária | 3 (16.7) |
| Características laborais | |
| Horas de trabalho semanais (Média, intervalo) | 35 ± (30-40) |
| Anos de trabalho (média ± DP) | 21.89 ± 14.53 |
Os valores são apresentados como n (%) exceto quando indicado de outra forma.
Em relação à atividade física, nove participantes (50%) relataram ter um estilo de vida sedentário, enquanto os restantes (50%) indicaram praticar atividade física regular. Relativamente à frequência da prática de exercício, três (16,7%) referiram realizar atividade física diária, dois (11,1%) com frequência de três a quatro vezes por semana, e quatro (22,2%) indicaram praticar exercício uma a duas vezes por semana.
Os participantes tinham, em média, 21,89 ± 14,53 anos de experiência profissional como assistentes técnicos e trabalhavam em média 35 horas por semana.
Todos os participantes relataram experienciar dor musculoesquelética relacionada com o trabalho.
A Tabela 2 apresenta o número de participantes que reportaram dor superior a zero (numa escala de zero a dez) no Questionário Nórdico Musculoesquelético, na semana anterior ao início do programa de exercício laboral, por região anatómica. As regiões mais afetadas foram os ombros (83,3%), o pescoço (72,2%) e a coluna lombar (66,6%), seguidas pelas mãos/punhos (66,6%), ancas (61,1%), joelhos (55,5%), tornozelos/pés (38,8%), cotovelos (22,2%) e o tórax (16,6%).
Tabela 2 Características da Dor Musculoesquelética Pré-Intervenção e Estratégias de Gestão da Dor Relacionada com o Trabalho (n=18)
| Variáveis | N=18 | % |
|---|---|---|
| Intensidade Dor Musculosquelética > 0 | ||
| Ombro | 15 | 83.3 |
| Pescoço | 13 | 72.2 |
| Coluna lombar | 12 | 66.6 |
| Mãos/Punhos | 12 | 66.6 |
| Anca | 11 | 61.1 |
| Joelhos | 10 | 55.5 |
| Tornozelos/Pés | 7 | 38.8 |
| Cotovelos | 4 | 22.2 |
| Tórax | 3 | 16.6 |
| Gestão da dor musculoesquelética | ||
| Aumento do número de pausas | 6 | 33.3 |
| Uso de analgésicos | 5 | 27.8 |
| Pedido de ajuda a colegas | 4 | 22.2 |
| Intensificação da prática de atividade física | 2 | 11.1 |
| Necessidade de baixa médica | 1 | 5.55 |
| Causa atribuída a dor musculoesquelética | ||
| Má postura | 10 | 55.6 |
| Movimentos repetitivos | 7 | 38.8 |
| Movimentos bruscos | 1 | 5.5 |
Os valores são apresentados como n (%) exceto quando indicado de outra forma.
Para gerir estes sintomas, seis participantes (33,3%) referiram necessidade de aumentar a frequência das pausas no trabalho, cinco (27,8%) recorreram a analgésicos, quatro (22,2%) procuraram ajuda de colegas e dois (11,1%) intensificaram a prática de exercício físico. Um funcionário reportou necessidade de baixa médica e de adaptações no local de trabalho devido à severidade da dor.
Adicionalmente, quando questionados sobre possíveis fatores associados ao aparecimento de dor musculoesquelética, dez indivíduos (55,6%) associaram a más posturas, sete (38,8%) associaram-na a movimentos repetitivos e um (5,5%) identificou os movimentos rotacionais bruscos da coluna como a principal causa.
Adesão
A adesão ao programa de exercício foi notavelmente elevada, com 94,7% dos participantes a completarem a duração total de cinco semanas. A mediana da adesão foi de 14 sessões (IQR: 13-15).
No total, sete participantes (36,8%) compareceram a todas as 15 sessões ao longo do programa de cinco semanas.
Outcome Primário - Intensidade da Dor
Conforme apresentado na Tabela 3, observou-se uma redução estatisticamente significativa da intensidade da dor nas regiões do pescoço, ombros, mãos/pulsos, coluna lombar e ancas (p < 0,05).
Tabela 3 Comparação da Intensidade da Dor Musculoesquelética Antes e Depois da Intervenção (n=18)
| Pré-intervenção | Pós-intervenção | Valor de p | ||||
|---|---|---|---|---|---|---|
| Md | IQR | Md | IQR | Z | ||
| Pescoço | 5.0 | 0.0-5.25 | 0.0 | 0.0-4.0 | -2.72 | 0.007 |
| Ombros | 4.5 | 2.5-6.0 | 0.5 | 0.0-4.0 | -2.87 | 0.004 |
| Cotovelos | 0.0 | 0.0-0.5 | 0.0 | 0.0-0.0 | -1.08 | 0.279 |
| Mãos/Punhos | 3.0 | 0.0-5.0 | 0.0 | 0.0-3.0 | -2.36 | 0.018 |
| Coluna Lombar | 4.0 | 0.0-6.25 | 0.0 | 0.0-1.75 | -2.95 | 0.003 |
| Ancas | 2.5 | 0.0-5.5 | 0.0 | 0.0-2.5 | -2.66 | 0.008 |
| Joelhos | 0.5 | 0.0-4.0 | 0.0 | 0.0-3.0 | -1.40 | 0.159 |
| Tornozelos/Pés | 0.0 | 0.0-3.25 | 0.0 | 0.0-2.25 | -1.19 | 0.230 |
A região do pescoço apresentou a redução mais acentuada na intensidade da dor, com a mediana a diminuir de 5,0 para 0,0 (Z = -2,72, p = 0,007). De forma semelhante, verificou-se uma diminuição estatisticamente significativa da dor nos ombros, de 4,5 para 0,5 (Z = -2,87, p = 0,004). A dor nas mãos/pulsos também apresentou uma redução significativa, passando de 3,0 para 0,0 (Z = -2,36, p = 0,018), enquanto a dor lombar diminuiu de 4,0 para 2,0 (Z = -2,95, p = 0,003). A dor nas ancas seguiu a mesma tendência, reduzindo-se de 2,5 para 0,0 (Z = -2,66, p = 0,008).
Nas articulações do cotovelo, joelhos e tornozelos/pés, não foram observadas diferenças estatisticamente significativas na intensidade da dor após o programa de exercício no local de trabalho.
DISCUSSÃO
Os resultados deste estudo demonstram que a implementação de um Programa de Exercício Laboral direcionado para assistentes técnicos hospitalares reduziu significativamente a dor musculoesquelética. A análise com o Questionário Nórdico Musculoesquelético revelou reduções significativas da dor em regiões-chave, incluindo o pescoço, ombros, mãos/pulsos, coluna lombar e ancas.
Embora investigações prévias (18) (19) tenham explorado o impacto do exercício físico e do fortalecimento muscular na prevenção de lesões musculoesqueléticas em profissionais de saúde, a literatura é ainda escassa e foca-se predominantemente noutras categorias profissionais, como é o caso da enfermagem. No entanto, os assistentes técnicos hospitalares também enfrentam diversos riscos ocupacionais, incluindo posturas estáticas prolongadas e movimentos repetitivos, fatores amplamente documentados como contribuintes para o desenvolvimento de distúrbios musculoesqueléticos (20). A natureza do seu trabalho, frequentemente caracterizada por posições desconfortáveis mantidas por longos períodos e poucas oportunidades de movimento, aumenta a sua vulnerabilidade a estas lesões, particularmente no pescoço e ombros (21).
Uma meta-análise de Shariat et al. (22) demonstrou que intervenções com exercício físico no local de trabalho são eficazes na redução da dor e na melhoria da capacidade funcional em trabalhadores expostos a posturas repetitivas ou estáticas. Da mesma forma, Andersen et al. (23) reportaram que programas de atividade física direcionados reduzem especificamente a dor no pescoço e ombros ao melhorar a força e resistência muscular. Os nossos achados estão alinhados com esses resultados, uma vez que a melhoria na redução da dor foi observada precisamente nessas regiões. Estes resultados reforçam a eficácia das intervenções de exercício no local de trabalho para mitigar sobrecargas musculoesqueléticas nas áreas mais afetadas pelos riscos ocupacionais.
Apesar da duração relativamente curta da intervenção (cinco semanas), o Programa de Exercícios Laborais demonstrou em melhorias significativas na redução da dor musculoesquelética. A obtenção de reduções significativas na dor musculoesquelética, num curto período, evidencia a utilidade de programas estruturados, sobretudo em ambientes de trabalho dinâmicos, onde intervenções mais longas podem ser impraticáveis. Estes achados sugerem que programas eficientes em termos de tempo podem constituir estratégias viáveis de saúde ocupacional, encorajando a sua adoção em diversos contextos laborais para abordar problemas musculoesqueléticos.
Um dos aspetos mais relevantes deste estudo foi a elevada taxa de adesão ao programa de exercício, com 94,7% dos participantes a completarem o programa e 36% a frequentarem todas as 15 sessões. A proximidade das instalações de treino aos postos de trabalho, aliada à conveniência do programa (sem necessidade de troca de roupa ou duches), terá facilitado a integração na rotina diária dos participantes. Estudos indicam que a facilidade logística é um fator determinante para aumentar a adesão a programas de atividade física (24). Altas taxas de adesão são fundamentais, uma vez que estão diretamente associadas à eficácia das intervenções, conforme sugerido por Nagpal S. (25). Além disso, a presença de instrutores qualificados e a manutenção dos mesmos grupos ao longo do programa promoveram incentivo mútuo e responsabilidade entre os participantes, o que reforçou ainda mais a adesão. Estes achados são consistentes com os de Jakobsen D (11), que demonstraram a eficácia das intervenções de exercício adaptadas ao ambiente de trabalho no setor da saúde.
Os critérios de exclusão e a avaliação médica obrigatória realizada pelo Médico do Trabalho sublinharam a importância da avaliação clínica prévia na implementação deste tipo de programas. Este processo permitiu identificar condições que poderiam comprometer a segurança dos participantes, garantindo a segurança e eficácia da intervenção.
Além dos benefícios físicos, este estudo evidencia vantagens psicossociais associadas à prática regular de exercício físico. Estudos demonstram que o exercício melhora a perceção de saúde, reduz o stress, fomenta redes de apoio social e melhora o bem-estar mental através do aumento da autonomia e autoconfiança (26). Estes fatores podem, em parte, explicar os efeitos positivos observados na perceção de saúde e bem-estar dos participantes, reforçando o valor holístico dos programas estruturados de exercício no trabalho.
Embora o estudo tenha demonstrado reduções significativas da dor a curto prazo, a sustentabilidade destes efeitos a longo prazo permanece uma questão essencial. Um seguimento longitudinal será necessário para determinar se os benefícios se mantêm, diminuem ou se intensificam após o término do programa. Para encorajar a continuidade da prática, os exercícios foram selecionados com base na sua simplicidade e viabilidade, não exigindo equipamento especializado ou vestuário técnico. O uso de bandas elásticas, um recurso de baixo custo, permitiu garantir uma progressão da resistência no treino de força, possibilitando que os participantes mantenham as melhorias de forma autónoma.
Outro aspeto crítico a considerar é o impacto económico dos programas de exercício no local de trabalho. Embora este estudo não tenha avaliado diretamente a relação custo-benefício, a literatura existente oferece insights valiosos. Uma revisão sistemática de Hesketh et al. (27) concluiu que tais programas frequentemente resultam na redução do absentismo, diminuição dos custos com saúde e aumento da produtividade, destacando o seu potencial como intervenções custo-efetivas para os empregadores. A inclusão de uma análise custo-benefício em futuras investigações permitiria obter uma compreensão mais abrangente do valor destas intervenções.
Os resultados deste estudo sugerem que este Programa de Exercícios Laborais pode ser adaptado a outros contextos ocupacionais, nos quais os trabalhadores enfrentam riscos musculoesqueléticos semelhantes. A combinação de exercícios direcionados, integração no local de trabalho e elevadas taxas de adesão fornece um modelo para intervenções preventivas aplicáveis a diversas profissões que envolvem movimentos repetitivos, posturas estáticas prolongadas ou tarefas fisicamente exigentes.
Um relatório para a Comissão Europeia (28) destaca que os programas de atividade física no local de trabalho mais eficazes são aqueles que integram o exercício na cultura organizacional e nas práticas diárias. A adoção de intervenções semelhantes em diferentes ambientes de trabalho pode contribuir para reduzir a incidência e a gravidade dos distúrbios musculoesqueléticos, melhorar a saúde dos trabalhadores, diminuir o absentismo e aumentar a produtividade.
Para o futuro, recomenda-se que as investigações incluam estudos longitudinais para avaliar a eficácia a longo prazo destas intervenções, explorem estratégias para sustentar ou otimizar os benefícios ao longo do tempo e analisem a custo-efetividade destes programas em diferentes setores ocupacionais.
CONCLUSÃO
Os resultados desta investigação indicam que o Programa de Exercícios Laborais representa uma intervenção promissora na redução da intensidade da dor musculoesquelética e na promoção da funcionalidade no trabalho dos assistentes técnicos hospitalares. Estes achados reforçam a relevância desta abordagem na saúde ocupacional e na prevenção de lesões, destacando o seu potencial impacto positivo na qualidade de vida e no desempenho profissional destes trabalhadores.
LIMITAÇÕES
A principal limitação deste estudo prende-se com o tamanho reduzido da amostra, o que condiciona a generalização dos resultados. A dimensão da amostra compromete o poder estatístico e restringe a extrapolação dos efeitos observados para a população mais vasta de assistentes técnicos hospitalares ou para outros contextos laborais. Estudos futuros com amostras maiores e grupos de controlo são recomendados para validar estes achados e aprofundar a compreensão dos efeitos da intervenção em diferentes realidades ocupacionais.
Adicionalmente, a curta duração do programa de intervenção não permite aferir a sustentabilidade dos efeitos observados a médio e longo prazo, sendo necessário realizar estudos longitudinais para avaliar a manutenção dos benefícios ao longo do tempo. Por fim, o recurso exclusivo a instrumentos de autorrelato pode introduzir viés de perceção e limitar a objetividade da avaliação, uma vez que a dor musculoesquelética é influenciada por múltiplos fatores individuais e contextuais.















