Introdução
Doente, género masculino de 64 anos, raça caucasiana, recorreu ao Serviço de Urgência, referenciado pelo Médico Assistente por perda ponderal de cerca de 10%, astenia, anorexia, epigastralgias persistentes com 6 meses de evolução.
Nos antecedentes pessoais, destacava-se história de hipertensão arterial, úlcera péptica gástrica (diagnóstico há cerca de 2 anos e com biópsias sem evidência de neoplasia ou infeção por Helicobacter pylori), enfisema pulmonar, microlitíase renal, patologia osteoarticular da coluna vertebral, dislipidémia e grupo sanguíneo A. Tratava-se igualmente de um fumador com carga tabágica de 54 UMA.
Encontrava-se medicado com domperidona, fenofibrato, esomeprazol e alginato de sódio + bicarbonato de sódio + carbonato de cálcio.
No exame objetivo, à admissão hospitalar, apresentava-se consciente, orientado e colaborante, apirético, hemodinamicamente estável, com IMC 22,1 kg/m2. Auscultação cardiopulmonar sem alterações. A nível abdominal, objetivou-se a presença de uma massa desde o hipocôndrio esquerdo e epigastro até à região umbilical, com bordos bem definidos, de consistência mole, dolorosa à palpação, bem como, hepatomegália com bordo hepático nodular. Toque retal sem alterações.
Na avaliação analítica, objetivou-se anemia microcítica com Hb 6,7 g/dL (previamente com Hb 15 g/dL nos 6 meses anteriores) e elevação dos marcadores tumorais CEA e CA 19,9.
Realizou tomografia computorizada toraco-abdomino-pélvica que mostrou a presença de lesão estenosante no antro gástrico, condicionando uma marcada distensão gástrica, bem como, evidência de metastização hepática.
O doente foi internado no Serviço de Medicina para estudo complementar endoscópico, suporte transfusional e nutricional.
Na endoscopia digestiva alta, visualizou-se lesão vegetante extensamente ulcerada a ocupar quase a totalidade do antro, friável e dura, com biópsia a confirmar o diagnóstico de carcinoma gástrico pouco diferenciado (AE1/AE3 positivo).
Durante o internamento, o doente realizou várias transfusões sanguíneas, perfusão com pantoprazol, colocação de sonda nasogástrica sob sedação por vómitos, necessitando mesmo de suporte nutricional por intolerância alimentar.
Ao 28º dia de internamento, após discussão em reunião de decisão terapêutica, foi submetido a gastrectomia parcial paliativa com gastrojejunostomia Bilroth II. Falecido ao sétimo dia de pós-operatório no contexto de agudização de insuficiência respiratória por pneumonia nosocomial.
Os autores apresentam desta forma, uma imagem muito apelativa e rara, sobretudo pela dimensão da distensão gástrica decorrente de lesão estenosante a nível do antro gástrico, em doente com clínica compatível com neoplasia gástrica em estádio avançado.
Em fases iniciais, o carcinoma gástrico pode apresentar-se de modo assintomático, sendo que, sintomas como disfagia, epigastralgias, saciedade precoce, vómitos podem surgir em estádios mais avançados.1,2
Os fatores de risco para o desenvolvimento de carcinoma gástrico podem ser divididos em ambientais, genéticos e condições precursoras.1 Dentro dos fatores ambientais, encontra-se a infeção por Helicobacter pylori, dieta (consumo excessivo de sal e de carbohidratos, défice de consumo de frutas frescas, vegetais, vitamina A e C), obesidade, baixo estatuto socioeconómico e tabagismo.1 Nos fatores de risco genéticos, destaca-se a história familiar, associação com as neoplasias colorretais do tipo não polipoides e grupo sanguíneo A.1 Por fim, condições como gastrite crónica (em particular gastrite atrófica com ou sem metaplasia intestinal), anemia perniciosa, metaplasia intestinal, pólipos adenomatosos gástricos (> 2 cm), displasia epitelial, doença de Ménétrier e úlcera péptica crónica constituem fatores predisponentes.1
Analisando este caso, o doente apresentava os seguintes fatores de risco para o desenvolvimento de carcinoma gástrico: úlcera péptica crónica, tabagismo, baixo nível socioeconómico e grupo sanguíneo A. O tratamento deste tipo de tumor varia de acordo com a localização, estadiamento e estado geral do doente.3