Os quistos radiculares são os quistos odontogénicos mais comuns. São formados pela proliferação celular dos restos epiteliais de Malassez, secundária à inflamação prolongada da polpa dentária.1-4 Estão habitualmente associados a dentes com lesões cariosas ou fraturas.1-3 Ocorrem mais frequentemente no sexo masculino, e na terceira e sexta décadas de vida.3 Geralmente apresentam dimensões entre 0,5 e 1,5 cm e são assintomáticos. Contudo, podem atingir maiores dimensões, com os seguintes sinais e sintomas: odontalgias, tumefação, mobilidade dentária, desvio de estruturas e destruição óssea.2,3 Apesar de os quistos odontogénicos serem lesões benignas, podem sofrer transformação maligna em 0,13%-3%, devido à inflamação crónica.3,5
Apresentamos um caso clínico de uma mulher de 43 anos, com antecedentes de diabetes, neoplasia mamária e ex-fumadora, com quadro de vários episódios de odontalgias e mobilidade dentária na arcada dentária superior, e ainda tumefação crescente na região pré-maxilar, com 8 meses de evolução. Realizou tomografia computorizada dos seios perinasais (Fig. 1) e ortopantomografia (Fig. 2), que mostraram volumosa imagem lacunar óssea, adjacente às raízes dentárias, na região anterior paramediana da arcada alveolar superior esquerda, compatível com quisto radicular do maxilar, que condicionava desvio do septo nasal. Perante a hipótese diagnóstica colocada, foi realizada apicetomia dos dentes 11, 12, 21, 22 e 23, enucleação e curetagem do quisto, que tinha 4,3x2,3 cm de dimensão. O exame anátomo-patológico confirmou o diagnóstico de quisto radicular do maxilar.
A maioria dos quistos radiculares podem ser tratados conservadoramente, com terapêutica endodôntica e eventual descompressão do quisto. Quando atingem grandes dimensões, deve proceder-se à sua enucleação e eventual extração dos dentes envolvidos.1-3,6
Este caso clínico ilustra a importância de aumentar o índice de suspeita clínica para os quistos radiculares, perante odontalgia de repetição e mobilidade dentária, permitindo o diagnóstico e tratamento precoces, de forma a evitar complicações como mobilidade e perda de peças dentárias, desvio de estruturas, destruição óssea e malignização.