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Gazeta Médica

versão impressa ISSN 2183-8135versão On-line ISSN 2184-0628

Gaz Med vol.11 no.2 Queluz jun. 2024  Epub 26-Jun-2024

https://doi.org/10.29315/gm.v11i2.797 

Artigo original

Avaliação da Formação em Medicina Interna no Internato Formação Geral

Evaluation of the Internal Medicine Internship in General Residency

1. Interno de Formação Especializada em Medicina Interna, Serviço de Medicina do Hospital do Espírito Santo de Évora, Évora, Portugal.

2. Assistente Hospitalar de Medicina Interna, Serviço de Medicina, Unidade de Hospitalização Domiciliária Polivalente, Hospital do Espírito Santo de Évora, Évora, Portugal.


Resumo

Introdução:

A pedagogia e educação médica são temas emergentes na comunidade médica e sociedade civil. O atual Internato de Formação Geral (IFG) é o primeiro passo na formação de todos os médicos em Portugal. Com objetivo de melhorar a educação médica no nosso serviço, os autores decidiram avaliar o estágio de Medicina Interna.

Métodos:

Foi realizado um inquérito com escalas de Likert aos 48 médicos internos de formação geral que completaram o estágio de Medicina Interna entre 2020 e 2021. Avaliaram-se aspetos como a integração no serviço e a existência de momentos pedagógicos que promovam a aquisição de autonomia e conhecimentos.

Resultados:

Obtiveram-se 24 (50%) respostas. O serviço não foi apresentado a 21% dos internos e 63% dos inquiridos referiu que não foram comunicados os objetivos do estágio. Responderam que estavam totalmente ou muito integrados na equipa médica, 79%. Os momentos pedagógicos foram classificados como razoavelmente ou pouco frequentes por 54% dos internos, no entanto 63% consideram a aquisição de conhecimento como elevada.

Conclusão:

Os resultados obtidos foram apresentados e discutidos em reunião de serviço. Foram propostas alterações a fim de melhorar a qualidade da formação. A Medicina Interna, com o seu componente holístico e abrangente, é um pilar da formação médica, que não pode ser descurada.

Palavras-chave: Educação Médica; Internato e Residência; Medicina Interna

Abstract

Introduction:

General population and medical community are focused on the urge of medical education. The portuguese general residency (Internato de Formação Geral) is the first step for clinical practice in our country. To improve medical education in our unit, the authors decided to evaluate the Internal Medicine rotation.

Methods:

A questionnaire using Likert scales was sent to the 48 medical residents who completed the Internal Medicine rotation between 2020 and 2021. We evaluated the unit’s capacity to integrate these doctors, as well as to promote moments that help them to acquire autonomy and knowledge.

Results:

We obtain 24 (50%) answers. A significant portion of the residents, 21%, were not introduced to the unit, and the rotation goals were not communicated in 63% of cases. However, 79% of the medical team reported that the changes were well received. Educational moments were classified as sufficient or less in 54%, however 63% categorized high their learning.

Conclusion:

After analysing the results, we proposed changes to improve medical education in our unit. Internal Medicine, with its holistic approach and broad range of pathologies, it is an essential pilar of medical education that should not be diminished.

Keywords: Education, Medical; Internship and Residency; Internal Medicine

Introdução

A formação médica é um tema emergente na comunidade médica e na sociedade civil. O crescente número de médicos que após terminarem o Internato de Formação Geral (IFG) não ingressam em Formação Especializada, permanecendo em prática de medicina geral, eleva a importância desta fase de aprendizagem.

O programa de formação do IFG tem sofrido inúmeras alterações estruturais ao longo do tempo. Atualmente tem duração de 12 meses, dos quais quatro são atribuídos ao estágio de Medicina Interna. O objetivo deste estágio é conhecer os princípios gerais da abordagem do doente agudo e/ou crónico, melhorar a capacidade de gestão e a comunicação com o mesmo, de uma forma que seja útil na sua prática clínica futura, seja como clínicos gerais ou médicos internos em formação específica. O nosso hospital recebe cerca de 24 internos de formação geral por ano. Os autores tinham a perceção que a qualidade do ensino no serviço de Medicina Interna apresentava lacunas. Deste modo, decidiram avaliar a opinião dos internos sobre a formação com objetivo de identificar aspetos a melhorar e otimizar a formação prestada pelo serviço.

Material e métodos

Foram inquiridos os 48 internos de formação geral que completaram o estágio de Medicina Interna entre 2020 e 2021, correspondendo à totalidade dos internos que ingressaram no IFG. Após a conclusão do estágio, foi enviado um inquérito online, de resposta anónima, com 20 questões, utilizando escalas de Likert, e uma questão de resposta aberta. As questões abordaram a introdução e integração ao serviço, momentos pedagógicos, e aquisição de autonomia e conhecimentos. O inquérito realizado encontra-se em anexo (Anexo I).

Resultados

Obtiveram-se 24 respostas (50% dos inquiridos). No que respeita a introdução ao serviço, verificou-se que em 21% dos casos não foi apresentado o espaço físico, os seus funcionários nem foi explicada a organização do mesmo (incluindo o funcionamento do sistema informático e burocracias do trabalho quotidiano). Na introdução ao estágio 63% dos inquiridos referiram que não lhes foi comunicado quais os objetivos do estágio. Avaliando a sua progressão no estágio, 63% dos internos avaliou a aquisição de conhecimento como elevada (Fig. 1). Quando questionados face à sua confiança para observar e gerir doentes de forma autónoma enquanto médicos de clínica geral, 54% sentiam-se muito confiantes (Fig. 2).

Figura 1: Resultados das respostas à questão: Como avalia a sua aquisição de conhecimentos ao longo do estágio? Respostas numa escala de 1 a 5, sendo que 1 corresponde a “nula” e 5 a “imensa”. 

Figura 2: Resultados das respostas à questão: Qual o seu grau de confiança para observar e gerir doentes de forma autónoma enquanto médico não especialista? Respostas numa escala de 1 a 5, em que 1 corresponde a “nenhuma” e 5 a “total”. 

Foi também avaliada a integração dos jovens internos nas equipas médicas atribuídas, onde se verificou que 80% dos inquiridos sentiu-se totalmente ou muito integrados na equipa médica a que pertenciam. Quando necessitaram de apoio para observação de doentes ou de esclarecer dúvidas, 67% dos inquiridos referiu ter obtido sempre ajuda. Relativamente à frequência dos momentos pedagógicos, do serviço ou dentro da equipa médica, mais de metade dos internos (54%) considerou-os como razoavelmente ou pouco frequentes, enquanto 38% considerou-os como muito frequentes (Fig. 3). Os momentos pedagógicos foram definidos como sessões clínicas, journal club, ou tempo dedicado dos elementos mais graduados para com os internos para revisão de temas sobre Medicina Interna. Dos inquiridos, 79% referiu não ter apresentado qualquer journal club ou revisão temática.

Figura 3: Resultados da classificação atribuída à frequência dos momentos pedagógicos. Escala de 1 a 5, em que 1 corresponde a “inexistentes” e 5 a “Diários”. 

No que respeita o acompanhamento do estágio, 42% dos jovens médicos referiu que não lhe foi transmitido o seu desempenho ao longo do estágio e em 67% dos casos não foi questionada a opinião do que melhorar no mesmo. A média de avaliação dada pelos internos ao estágio de Medicina Interna foi de 16,2/20. Todos os resultados encontram-se expostos na Tabela 1.

Tabela 1: Resultados em percentagem de todas as questões do questionário realizado. Resultados arredondados às unidades. Consultar anexo I para aceder às questões correspondentes. 

Questão Respostas (em percentagem)
1 Sim (79%); Não (21%)
2 Sim (92%); Não (8%)
3 Sim (79%); Não (21%)
4 Sim (37%); Não (63%)
5 1 (0%); 2 (8%); 3 (12%); 4 (63%); 5 (17%)
6 1 (0%); 2 (0%); 3 (17%); 4 (79%); 5 (4%)
7 1 (0%); 2 (13%); 3 (29%); 4 (54%); 5 (4%)
8 1 (4%); 2 (8%); 3 (13%); 4 (17%); 5 (58%)
9 1 (0%); 2 (0%); 3 (13%); 4 (29%); 5 (58%)
10 1 (4%); 2 (4%); 3 (12%); 4 (17%); 5 (63%)
11 1 (0%); 2 (4%); 3 (4%); 4 (25%); 5 (67%)
12 1 (0%); 2 (33%); 3 (21%); 4 (38%); 5 (8%)
13 1 (0%); 2 (4%); 3 (25%); 4 (42%); 5 (29%)
14 1 (25%); 2 (12%); 3 (42%); 4 (21%); 5 (0%)
15 1 (9%); 2 (33%); 3 (33%); 4 (21%); 5 (4%)
16 1 (4%); 2 (21%); 3 (29%); 4 (29%); 5 (17%)
17 Sim (58%); Não (42%)
18 Sim (33%); Não (67%)
19 Sim (21%); Não (79%)
20 Média: 16,2/20.

Discussão

Analisando os resultados, constata-se que pontos fulcrais e objetivos firmados no plano do IFG, como a apresentação do serviço e seu funcionamento ou dos objetivos do estágio, não são sistemáticas. Um aspeto positivo do serviço é a boa integração e de apoio prestado aos internos, o que pode resultar da pequena dimensão hospitalar proporcionando proximidade entre os médicos internos em formação geral com médicos internos em formação específica e com os assistentes hospitalares. Apesar da maioria dos inquiridos classificar a aquisição de conhecimento como boa e adquirir confiança na gestão de doentes, verificou-se que a frequência dos momentos pedagógicos era baixa. Os estágios em análise tiveram uma forte influência pela pandemia o que pode explicar a ausência de reuniões de serviço e de apresentações de trabalhos no serviço, porém, estas poderiam ser colmatadas por momentos pedagógicos no seio da equipa médica atribuída. Uma outra preocupação levantada pelo inquérito foi a falta de comunicação entre interno e mentor, no que respeita o desempenho no estágio e formas de o melhorar.

Conclusão

Os resultados foram apresentados e discutidos em serviço segundo análise SWOT (strenghts, weaknesses, opportunities and threats). Foram apresentadas propostas pelos autores e estabeleceu-se um plano para otimização da qualidade formativa do nosso serviço.

Entre outras ações, sistematizou-se a introdução dos médicos internos ao serviço, foram criadas novas sessões clínicas dirigidas ao IFG e elaborou-se um manual do interno de formação geral onde constam informações úteis para a prática clínica, nomeadamente elaboração de diário clínico, notas de admissão e de alta ou realização de folha terapêutica. Os autores irão avaliar os efeitos das medidas tomadas através de um novo questionário no próximo ano. Deste modo, ambiciona-se uma formação médica de vanguarda adaptada à realidade da prática clínica e com o intuito de capacitar os médicos recém-formados para a mesma.

A Medicina Interna é o pilar da educação médica. Nos últimos anos pela sobrecarga de trabalho associada ao desgaste dos profissionais, verificou-se uma regressão na capacidade de formação dos serviços. Dadas as circunstâncias da prática médica atual, com um número acrescido de médicos sem formação especializada reveste-se de grande importância uma formação adequada, sendo que a Medicina Interna tem um papel fulcral na mesma, que não pode ser descurado.1

Referências

1. Teixeira Pinto C, Pinheiro Sá A, Veríssimo R, Vilas-Boas A, Firmino Machado J. Satisfação com o Internato de Medicina Interna, o que Pensamos? Med Interna. 2015;22: 125-30. [ Links ]

Declaração de contribuição /contributorship statement

DD E FA: Elaboração e escrita do manuscrito AV: Escrita e revisão do manuscrito

SL E AB: Revisão do manuscrito Todos os autores aprovaram a versão final a ser publicada

DD AND FA: Design and writing of the manuscript AV: Writing and manuscript review

SL AND AB: Manuscript review All the authors have approved the final version to be Published

Responsabilidades éticas

Conflitos de interesse: Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse na realização do presente trabalho.

Fontes de financiamento: Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste artigo.

Confidencialidade dos dados: Os autores declaram ter seguido os protocolos da sua instituição acerca da publicação dos dados de doentes.

Proteção de pessoas e animais: Os autores declaram que os procedimentos seguidos estavam de acordo com os regulamentos estabelecidos pela Comissão de Ética responsável e de acordo com a Declaração de Helsínquia revista em 2013 e da Associação Médica Mundial.

Proveniência e revisão por pares: Não comissionado; revisão externa por pares.

Ethical disclosures

Conflicts of interest: The authors have no conflicts of interest to declare.

Financing support: This work has not received any contribution, grant or scholarship

Confidentiality of data: The authors declare that they have followed the protocols of their work center on the publication of data from patients.

Protection of human and animal subjects: The authors declare that the procedures followed were in accordance with the regulations of the relevant clinical research ethics committee and with those of the Code of Ethics of the World Medical Association (Declaration of Helsinki as revised in 2013).

Provenance and peer review: Not commissioned; externally peer reviewed.

Recebido: 11 de Julho de 2023; Aceito: 20 de Fevereiro de 2024; : 04 de Março de 2024; Publicado: 26 de Junho de 2024

Autor Correspondente/Corresponding Author: Diogo Dias [dddias@hevora.min-saude.pt] OrcID: https://orcid.org/0000-0002-8776-6839

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