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PsychTech & Health Journal

versão On-line ISSN 2184-1004

PsychTech vol.6 no.2 Vila Real jun. 2023  Epub 31-Mar-2023

https://doi.org/10.26580/pthj.art48-2023 

Artigo original

Educação Física em tempo de COVID-19 em Moçambique: Perspectiva de leccionação no retorno da disciplina a escola

Physical Education in the time of COVID-19 in Mozambique: Perspective of teaching on the return of the subject to school

Timoteo Salvador Daca1 

Armenio Matsolo1 

Pedro Pessula1 

1 Universidade Pedagógica de Maputo, Moçambique. e-mail: dacajunior@gmail.com


Resumo

A Educação Física (EF) em Moçambique, a semelhança dos outros países, esteve suspensa do ambiente escolar por mais de um ano, devido a COVID-19, decisão justificada pela necessidade de (1) evitar o contacto físico (2) redução do tempo de permanecia dos alunos na escolar e (3) conter a contaminação do SARS-CoV2. O retorno da EF escolar carece de evidências científicas consistentes. Neste sentido, definimos como objectivo deste estudo perspetivar a leccionação das aulas de EF em Moçambique atendendo as medidas de higiene e de prevenção contra a contaminação da COVID-19, de acordo com a opinião dos palestrantes/professores moçambicanos. Método: participaram no webinar de auscultação, 5 professores selecionados por conveniência e por ter (1) nível superior de escolaridade; (2) leccionado EF num dos sistemas de ensino (3) mais de 15 anos de experiência profissional; (4) trabalhado em processos de reforma curricular da EF e (5) continuado activo no sistema de formação e ensino da EF. Todos os palestrantes/professores tiveram acesso a duas questões prévias com 30 dias de antecedência. A informação foi gravada em áudio, no dia do evento, depois transcrita por dois investigadores-ouvintes para consensos e a posterior confirmada pelos próprios palestrantes/professores. Os resultados indicaram que há imperativo da (1) reforma curricular e mudança das abordagens dos conteúdos da EF; (2) planificação rigorosa das aulas em circuitos e uso do modelo híbrido; (3) capacitar os professores e alunos no uso das TICs; (4) cumprir com as medidas de higiene e de prevenção nas aulas EF; (5) reduzir o número dos alunos nas turmas de EF, (6) rever a carga horária dos professores de EF e (7) criar condições materiais de trabalho.

Palavras-chave: educação física; COVID-19; higiene; prevenção

Abstract

Physical Education (PE) in Mozambique was suspended from the school environment for over a year, like other countries, due to COVID-19, justified by the need to (1) avoid physical contact (2) reduced the students’ school time and (3) contain SARS-CoV2 contamination. The return of PE to school lacks consistent scientific evidence. The aims of this study are to perspective the PE teaching classes in Mozambique, considering the hygiene and prevention measures against COVID-19 contamination, according to the opinion of the Mozambican speakers/teachers. Method: 5 senior teachers were selected for convenience and for having (1) higher education level participated in the consultation webinar; (2) taught PE in one of the education systems (3) more than 15 years of professional experience; (4) worked in PE curricular reform processes and (5) continued active in the PE training and education system. All speakers/teachers had access to two pre-questions 30 days before the webinar day. The information was audio-recorded on the day of the event, later transcribed by two investigators-listeners for consensus, and later confirmed by the speakers/Teachers themselves. The results indicated that there is an imperative to: (1) curricular reform and change the approaches to PE content; (2) rigorous planning of classes in circuits and use of the hybrid model; (3) train teachers and students in the use of ICTs; (4) comply with hygiene and prevention measures in PE classes; (5) reduce the number of students in PE classes, (6) review the workload of PE teachers, and (7) create material working conditions.

Keywords: physical education; Covid-19; hygiene; prevention

Introdução

A COVID-19 é uma doença causada pelo vírus da síndrome respiratório agudo (SARS-CoV2) que se diz ter tido início na China e em tão pouco tempo se propagou para toda a parte do mundo, criando elevadas taxas de mortalidade, com maior incidência nos adultos e idosos do que nas crianças e jovens em idades escolar, considerados como de menor risco (Velavan & Meyer, 2020). No entanto, os sinais sugestivos da efectividade do tratamento da COVID-19 (Lin et al., 2022; Cascella et al., 2022 e Adrews et al, 2022) são cada vez mais recentes e que levam a uma recuperação de pessoas que tinham sido infectados. Existiram avanços que levaram a um diagnóstico mais criteriosos e preciso dos sinais e sintomas que, por sua vez, impulsionaram a implementação das medidas de emergência, higiene e prevenção que foram implementadas em todos os países.

A medida de emergência mais severa tem sido o lockdown e quando combinada com as medidas de higiene e de prevenção (ficar em casa, lavagem das mãos com água e sabão, uso do álcool-gel, desinfecção e higienização das superfícies), incluindo a vacinação com uma ou duas doses parece ser efectiva (Sharma, et al. 2020). Nesta realidade da COVID-19, muitos países adoptaram o encerramento das escolas como medida para reduzir as contaminações na população escolar. Moçambique não fugiu a essa realidade, tendo decretado calamidade pública o que, pela primeira vez, forçou a suspensão das aulas a 30 de Março de 2020 para todos estabelecimentos de ensino público e privado no território nacional (CMM, 2020b). Estas medidas foram implementadas pelo governo, após ouvido o conselho técnico científico multissectorial, quando as contaminações indicassem fortes possibilidades de colapso do sistema nacional de saúde.

Por conseguinte, Moçambique reorganizou os seus procedimentos administrativos para atender as medidas de emergência, de higiene e de prevenção face ao estado de calamidade pública (CMM, 2020a). Por exemplo, as escolas tiveram que ser requalificadas, tendo-se tomado medidas pontuais como a reconstrução das casas de banho, reposição da rede de distribuição de água, redução do número de carteiras nas salas de aulas, reorganização dos horários e conteúdos de leccionação para atender ao objectivo de manter os alunos o menor tempo possível de permanência na escola, ter um retorno faseado de algumas disciplinas e a suspensão da disciplina da Educação Física (EF) do convívio educacional.

A EF escolar em Moçambique é uma das disciplinas curriculares que desde o início da primeira fase de reabertura das escolas continuou suspensa (CMM, 2021a, 2021b), sem que o seu retorno tivesse um horizonte temporal previsto. Esta realidade, se configurou como sendo preocupante, podendo promover o comportamento sedentário e as suas consequências na saúde pública (Woods et al., 2020). Os estudos indicam que em tempo de quarentena as crianças e jovens de alguns países aumentaram o tempo de permanência em frente aos dispositivos electrónicos (Nagata et al., 2020), aumentaram o peso da massa corporal e reduziram os níveis de actividade física habitual (Keitlh et al.,2021).

Se por um lado, as aulas de EF continuaram suspensas em Moçambique; por outro, a sua organização e reestruturação, para atender os desafios da saúde pública e em particular da pandemia, se fizeram necessárias para aquando da sua retoma ela não fosse um veículo de propagação da contaminação e em simultâneo, como menciona Sparling (2003) cumprir com o seu papel de prevenção primária e de desenvolvimento psicomotor das crianças e jovens em idade escolar.

O objectivo do presente estudo foi de perspectivar a leccionação segura das aulas de EF em Moçambique atendendo as medidas de higiene e de prevenção contra a contaminação da COVID-19.

Métodos

Este é um estudo qualitativo, descrito e com um carácter reflexivo sobre a aplicação de políticas públicas relacionadas com o ensino da educação física. Para os efeitos deste trabalho recorreu-se a uma narrativa densa, ou seja, apresentando textualmente aquelas que foram as intervenções dos participantes.

Amostra

A amostra foi composta por 5 professores (participantes do webinar) sendo três homens e duas mulheres, todos de reconhecido mérito profissional em Moçambique e na diáspora, representando as instituições de formação e as escolas primárias e secundárias públicas e privadas. Dos homens, dois foram professores doutores e um doutorando e nas mulheres uma era mestre e a outra licenciada. Todos foram formados em ciências desporto, ensino da educação física e desportos com trabalhos de revisão por pares já publicados. Os critérios de inclusão desta amostra foram de (1) ter formação de nível superior; (2) ter leccionado EF num dos subsistemas de ensino; (3) ter mais de 15 anos de experiência profissional; (4) ter trabalhado com processos de reforma curricular na área da EF e (5) continuar activo num dos subsistemas de ensino da EF. O nível de escolaridade, local de trabalho, tempo de serviço, funções que desempenham ou que já desempenharam e situação actual foram os itens que indicaram a idoneidade dos palestrantes/professores convidados que participaram no webinar sobre a perspectiva de leccionação da EF em tempo da pandemia da COVID-19 em Moçambique e apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1: Dados descritivos dos palestrantes do webinar sobre a perspectiva de leccionação da Educação Física em Moçambique em tempo da pandemia da COVID-19. 

Instrumentos

Para o presente estudo usamos um questionário com perguntas abertas, desenvolvido pelos docentes - investigadores e membros seniores da Associação dos Profissionais de Educação Física e Desportos de Moçambique (APEFDM) em sessões quinzenais, antecedido de uma solicitação dos professores de EF e demais membros da agremiação. O questionário foi construído tendo em conta o método participativo que inicialmente ajudou a identificar 30 questões. À posteriori, essas questões foram submetidas a apreciação de 5 membros seniores da APEFDM detentores do grau de Doutor. Este painel teve a responsabilidade de pontuar cada questão em “Não” um (1) ponto ou “Sim” dois (2) pontos. A única orientação era pontuar cada uma das questões tendo em conta o seu entendimento na ligação com a perspectiva didáctica e pedagógica de leccionação da educação física para que ela retornasse ao ambiente escolar de forma mais segura.

O grupo de avaliadores, na generalidade, atribuíram maior pontuação (confiabilidade) a todas as 10 perguntas que foram colocadas aos palestrantes neste estudo. Os critérios para a apresentação das questões foram, (1) ser professor universitário (exemplo, PH1 e PH2); (2) ter experiência na elaboração do curriculum de formação de professores de educação física (exemplo PH1 e PM2); (3) ter publicações científicas nas áreas de educação física, actividade física e saúde (exemplo PH2 ); (4) ter sido docente da disciplina de didáctica na formação de professores (exemplo PM1) (5) leccionar aulas de educação física em escolas públicas e privadas (exemplo de PM2) e (6) gestor de uma instituição de formação de professores de educação física (exemplo PH3).

Quadro 2: Dados descritivos dos palestrantes do webinar sobre a perspectiva de leccionação da Educação Física em Moçambique em tempo da pandemia da COVID-19. 

Em relação às questões entende-se mos que a busca das possíveis lições, janelas de reinvenção, potencialidades, desafios se enquadram nas categorias de pertença de “perspectivar” que dão sentido a acção futura propondo uma certa forma de atuação na leccionação das aulas de EF (perguntas 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8) e na formação de professores para actuarem na EF (perguntas 9 e 10). Neste sentido, cada palestrante teve acesso a duas questões com um mês de antecedência ao evento, sendo recomendado por convite para conciliar a sua experiencia profissional com as evidências científicas disponíveis actualmente sobre a temática na elaboração das suas respostas.

Procedimentos

Previamente foi programado que 20 estudantes (treinados) do 3º ano do curso de Licenciatura em Ensino de Educação Física e Desporto da Faculdade de Educação Física e Desportos da Universidade Pedagógica de Maputo, iriam participar no evento para registar as principais notas informativas e elaborar um relatório da actividade. Esses relatórios foram enviados ao docente-investigador 48 horas depois do evento. Na sequência, uma semana depois, integrado na disciplina de Didáctica de Actividade Física e Saúde, foi organizado um debate de confrontação entre estes estudantes. O debate foi estruturado tendo em conta a ordem das perguntas, antecedido da apresentação do tema e objectivo da actividade. Em sala de aula, foi projectada no quadro pergunta por pergunta e os estudantes apresentavam as suas ideias relativamente a cada uma delas. Os docentes investigadores da disciplina foram os moderadores.

Nesta acção foram eliminados os pontos discordantes, nomeadamente os argumentos de carácter generalista e não fundamentados. Por exemplo, quando se questionou sobre como adequar o perfil profissional ao novo normal, as respostas tendiam a limitar-se a noções de primeiros socorros sem inclusão das especificidades da COVID-19 que tinham sido identificados nas transcrições das intervenções. Seguiu-se a elaboração de um documento único contendo as respostas de cada membro da amostra. De seguida o documento único foi comparado às gravações áudios por (1) auscultação repetida das gravações pelos docentes - investigadores; (2) registo das principais notas por cada investigador; (3) confronto das notas entre os docentes - investigadores e (4) redacção dos consensos para cada questão com participação dos palestrantes.

Participaram na auscultação e no registo os três docentes - investigadores deste artigo, segundo o critério de decisão de aceitar pelos menos duas posições iguais entre eles. No caso em que os três não estivessem de acordo prevaleceu o bom senso tendo em conta o objectivo do estudo. Os palestrantes participaram, à posteriori, na confirmação da redacção dos consensos na fase de análise final da informação, sendo a forma que os docentes - investigadores encontraram para garantir que o produto final fosse mais próximo da fonte originalidade dado os diversos processos que ela tinha sido submetida. No final de tudo as respostas foram agrupadas em quatro grupos designadamente (1) perspectiva de formação profissional em Moçambique em tempos da pandemia; (2) perspectiva administrativa e de gestão da aula de Educação Física; (3) a perspectiva de Didáctica e Pedagógica de Ensino da Educação Física; e (4) a perspectiva de higiene e prevenção da contaminação na aula de EF. Neste documento a informação esta apresentada em Quadros tendo em conta as respostas de cada palestrante.

Resultados

Perspectivar a leccionação das aulas de EF em Moçambique em tempo de COVID19 foi o objectivo de auscultação dos elementos da amostra e que foram os especialistas intervenientes no webinar promovido pela Associação dos Profissionais de Educação Física e Desporto de Moçambique (APEFDM). Os resultados foram agrupados em 4 categorias nomeadamente (i) Perspectiva de Formação Profissional; (ii) Perspectiva Administrativa e de Gestão da Aula de EF; (iii) Perspectiva Didáctica e Pedagógica de Ensino da EF; (iv) Perspectiva de Higiene e Prevenção da COVID-19 na aula de EF que foram construídos/elaborados na base das 10 questões colocadas aos participantes no estudo.

Os principais resultados indicam que os intervenientes foram optimistas relativamente à leccionação da EF em tempo de pandemia da COVID-19, destacando a obrigatoriedade de (1) reformar o curricula de formação dos professores, (2) reformar as unidades temáticas de leccionação das aulas de EF na escola, imprimir mudança da abordagem dos conteúdos temáticos para mais actividades recreativas activas, jogos e danças tradicionais e modalidades desportivas individuais, (3) leccionar as aulas EF com recurso a uma planificação rigorosa, formas organizativas criativas (circuitos), (4) leccionar as aulas de EF no modelo híbrido (presencial e virtual), (5) capacitar os professores e os alunos no uso das tecnologias de informação e comunicação, (6) cumprir rigorosamente as medidas de higiene e de prevenção antes, durante e depois das aulas EF, (7) reduzir o número dos alunos nas turmas de EF, (8) rever a carga horária dos professores de EF para dois tempos semanais, e (9) disponibilizar condições materiais de trabalho. Estes resultados são apresentados nos Quadros 3, 4, 5 e 6.

As transcrições das respostas sobre a perspectiva da formação profissional dos professores de EF para responder em tempo da pandemia em Moçambique estão apresentadas no Quadro 3. Os dados sugerem que se assume que a formação deve ser contínua e em exercício em Moçambique, não obstante já ser uma prática recorrente, ainda permanecem alguns desafios que foram impostos pelas novas dinâmicas da vida social tal como a presença da COVID-19. Esta realidade parece ter já uma expressão histórica, facto que exige da EF que seja cada vez mais presente e efectiva (Corbin, 2020; Maltagliati et al., 2021).

Quadro 3: Transcrições das respostas sobre a perspectiva de formação profissional em Moçambique em tempos da pandemia. 

A perspectiva administrativa e de gestão da aula de EF esta apresentada no Quadro 4. Os palestrantes entendem que as instituições de ensino devem disponibilizar os recursos materiais e financeiros para higienizar os materiais, os locais e os próprios intervenientes (professores e alunos).

Quadro 4: Transcrições das respostas sobre a perspectiva de formação profissional em Moçambique em tempos da pandemia. 

As perspectivas didácticas e pedagógicas da leccionação da EF, em tempo de pandemia, estão apresentadas no Quadro 5. Foram apresentadas várias estratégias para a leccionação das aulas no período da pandemia tendo em conta a realidade do país, como por exemplo a existência de turmas numerosas e precárias condições das infraestruturas desportivas.

Quadro 5: Transcrições das respostas sobre a perspectiva de Didáctica e Pedagógica de Ensino da Educação Física em Moçambique em tempos da pandemia. 

Na perspectiva da higiene e da prevenção da COVID-19, todos os palestrantes (ver Quadro 6) foram unânimes quanto à importância do retorno da EF para o ambiente escolar dando destaque para o contributo desta para a solução dos problemas ligados à saúde pública.

Quadro 6: Transcrições das respostas sobre a perspectiva de higiene e prevenção da contaminação na aula de EF em Moçambique em tempos da pandemia. 

Discussão

Perspectiva de Formação Profissional

Devido a COVID-19 os programas curriculares de formação dos professores de EF devem ser reformulados para atender a complexidade da pandemia que exige o domínio das novas tecnologias de informação e comunicação para produção de conteúdos de leccionação (Ahmed & Opoku, 2021). Esta exigência tem que ser acompanhada com uma nova abordagem temática dos conteúdos, desde a selecção, implementação e avaliação (González, et al. 2021). Estudos mostram que os professores que leccionam no ensino primário tendem a apresentar mais dificuldades de utilização das TICs do que os de ensino secundário (Vilchez, et al. 2021). Em comparação com os alunos, os professores têm apresentado mais dificuldades no uso das TICs (Ahmed & Opoku, 2021; Mercier, et al. 2021), realidade também apresentada pelos nossos palestrantes:

[...] A COVID-19 trouxe a obrigatoriedade de domínio do uso das TIC’s para todos. [...] os professores de EF e os alunos devem ter o domínio das ferramentas tecnológicas para manterem o processo de ensino e aprendizagem cada vez mais moderno, robusto e fluido. O desafio da EF no ensino remoto está ligado com a literacia tecnológica, ou seja, os professores e os alunos devem se alfabetizar no uso das TIC’s (PH2).

[…] A implementação de micro aulas, foi a reinvenção Didáctica Pedagógica nos cursos de formação de professores, particularmente para os estágios profissionais. Nas instituições os alunos gravam as aulas com a prorrogativa de escolherem o ambiente de aulas disponíveis enquanto em casa a perda de atenção para os aspectos fundamentais da leccionação eram frequentes (PH3).

Por outro lado, a formação contínua e em exercício deve estar preocupada com a nova abordagem de leccionação dos conteúdos, preocupando-se com aqueles que na primeira instância são conhecidos como sendo seguros para a contaminação.

[...] A reforma dos programas curriculares de formação de professores, a capacitação dos professores em exercício e a leccionação dos conteúdos ligados a promoção de saúde na escola e fora da escola são algumas das janelas de reinvenção didática e pedagógica que a EF tem disponível (PM1).

Perspectiva Administrativa e de Gestão da Aula de EF

A disciplina da EF já vinha enfrentando distintos desafios no ambiente escolar mesmo antes da pandemia da COVID19. Uma parte significativa das crianças e jovens em idades escolares já não tinham acesso a EF por distintos motivos. A falta de material didáctico tem sido uma das principais queixas dos professores EF para leccionação condigna da sua disciplina. Daí que os palestrantes avançam com algumas pospostas tais como a de utilização de materiais higienizáveis e recicláveis nas aulas de EF. Sugerem também que o governo, sector privado e as famílias devem comparticipar na busca de condições de trabalho. Os nossos palestrantes mencionam que:

[...] Os recursos materiais e financeiros devem ser disponibilizados pelo governo, sector privado e a família para que o professor esteja conectado com o novo normal (PH3). [...] a implementação de micros aulas, foi a reinvenção Didáctica Pedagógica nos cursos de formação de professores, particularmente para os estágios profissionais (PH1).

Na era da COVID-19 as condições de trabalho passaram a ser cada vez mais exigentes não apenas para a ideia da desinfecção e redução da contaminação, mas também para trabalho em formato virtual sempre que isso justifique como tem sido o caso de registo e acompanhamento de sujeitos contaminados (Zhao & Chen, 2020). A internet passou a ser parte integrante das condições de trabalho necessário e imprescindível em todos os sectores (Varea & González-Calvo, 2020).

Perspectiva Didáctica e Pedagógica de Ensino da EF

Devido a COVID-19, as aulas de EF podem ser oferecidas em modelo híbrido (micro aulas) combinado as aulas presenciais e virtuais de forma alternada (Mercier, et al., 2021). Esta realidade deve ser antecedida da inovação curricular na escola, iniciando por uma planificação rigorosa dos meios didácticos e pedagógicos com inclusão dos cuidados a ter com a COVID-19 (Myroslava, et al., 2020). Do ponto de vista da organização das aulas, a formação em circuito parece ser a forma mais adequada para atender não só ao distanciamento físico realizado em espaços desportivos abertos, mas também o controle da execução dos movimentos mesmo de forma virtual (Ahmed & Opoku, 2021). No entanto, os nossos palestrantes destacam que:

[...] A EF é praticável em tempos da COVID-19, sendo importante que se tenha em conta os três saberes interligados; (1) saberes conceituais, por exemplo, o professor pode levar aos alunos a análise histórica das diferentes execuções das práticas corporais, regras e outros; (2) saberes corporais, o professor pode ensinar e conduzir remotamente os alunos através da ginástica individual, combinação de exercícios contínuos em circuito ou em estações; (3) saberes atitudinais, o professor pode ensinar as regras éticas e morais (PH2).

[...] A planificação é o aspecto mais importante, principalmente neste contexto da pandemia. A leccionação das aulas em circuitos no modelo presencial se configura como sendo uma potencialidade da EF na escola. [...] a selecção dos conteúdos individuais como o salto a corda, yoga, ginástica, ajuda o professor deve organizar a turma por grupos reduzidos (PM1).

[...] Implementação de aulas em circuitos garantindo o distanciamento físico e a higienização das mãos no início e no final de cada aula, redução do número de alunos e utilização de campos desportivos abertos devem fazer parte do novo normal da EF na escola. [...] A selecção criteriosa dos conteúdos de leccionação da EF (eliminando os jogos com bola), Implementação de aulas em circuitos garantindo o distanciamento físico e a higienização das mãos no início e no final de cada aula, redução do número de alunos e utilização de campos desportivos abertos devem fazer parte do novo normal da EF na escola. […] É necessário trazer conteúdos que possam ajudar o aluno a melhorar a sua condição de vida, sem confundir a EF com o jogar a bola. (PH1).

Por conseguinte, os conteúdos como de actividades recreativas activas das modalidades individuais, salto a corda, yoga, ginástica, atletismo, jogos e danças tradicionais podem ser elegíveis para fazerem parte da inovação curricular do novo normal (Adamakis, 2021). Os estudos têm sugerido a inclusão dos componentes da aptidão física relacionados a saúde como um dos conteúdos de leccionação da EF (Mercier, et al., 2021).

Perspectiva de Higiene e Prevenção da COVID-19 na aula de EF

Na perspectiva da higiene e da prevenção da COVID-19, todos os palestrantes foram unânimes da necessidade do retorno da EF para o ambiente escolar dando destaque para o seu contributo na solução dos problemas ligados a saúde pública com se apresenta a seguir:

[...] A COVID-19 pode ter trazido também a reafirmação da importância da EF como uma disciplina ligada a saúde pública e que pode ajudar a solucionar os problemas epidemiológicos. […] Quando a retomada das aulas, a EF foi suspensa em Moçambique. [...] Assim, a EF passa a ser uma disciplina transversal que abrange a todos por isso ela deve ser reinventada (PH1).

Os estudos disponíveis indicam ser benéficos para a EF escolar no seu contributo para a melhoria, de forma geral, dos sistemas cardiovascular, cardiorrespiratória, imunológico, musculoesquelético, e de uma forma particular para o controle da obesidade, diabetes, ansiedade e depressão (Lopez-Bueno et al., 2021;). Os nossos palestrantes mostraram esses benefícios como se indica

[...] A EF é o único espaço legível na escola onde as crianças e jovens em idade escolar desenvolvem o seu reportório motor (desenvolvimento harmonioso) com benefícios imunológicos, cardiorrespiratório, musculoesquelético e psicossocial (PM2).

Relativamente a COVID-19 ainda não estão disponíveis estudos que testaram o contributo da EF na prevenção da sua contaminação (Štveráková et al., 2021). Os dados disponíveis são de estudos relacionados, ou seja, que foram realizados tendo em conta as outras pandemias similares a COVID-19 (Stefanati et al., 2021) cujo contributo do exercício físico tenha sido sugerido. Adicionalmente, sabe-se que alguns estudos já mostram a importância da avaliação do risco nos recintos desportivos, incluindo o uso da máscara, da lavagem das mãos, do uso do álcool-gel e o uso dos ambientes abertos e arejados (Johnson et al., 2021) para a prática da EF e dos desportos. Este entendimento foi também apresentado pelos nossos palestrantes como sendo imprescindíveis para a retomada da EF para o ambiente escolar como podemos verificar na seguinte transcrição

[...] a promoção de saúde na escola e fora da escola são algumas das janelas de reinvenção didáctica e pedagógica que a EF pode fazer para atender o contexto da pandemia. Nas aulas de EF é onde os alunos podem aprender e consolidar as normas de prevenção (PM1).

Conclusão

A leccionação da Educação Física em Moçambique em tempo da pandemia pode ser levada a cabo desde que criadas as condições de trabalho tendo por base as medidas de higiene e de prevenção contra a contaminação da COVID-19. Nesta reinvenção estrutural torna-se necessário inovar o currículo para a formação dos professores, reforçar as medidas rigorosas de higiene e de prevenção nos espaços da EF conjugado com as novas abordagens para os processos didácticos, pedagógicos, administrativos e de gestão da aula.

Agradecimentos:

Nada declarado.

Conflito de Interesses:

Nada declarado.

Financiamento:

Nada declarado.

Referências

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Recebido: 23 de Junho de 2022; Aceito: 12 de Dezembro de 2022

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