Introdução
Durante a prestação de cuidados que objetivam o tratamento e a melhoria da saúde do doente, existe por vezes a necessidade de recurso a técnicas de contenção mecânica para garantia da segurança. A contenção mecânica é uma intervenção frequente dos enfermeiros, apresentando uma taxa de prevalência entre 33% e 68% nos hospitais (Hamers & Huizing, 2005). Sendo estes profissionais os que estão mais próximos dos doentes caberá aos mesmos a função de proceder à contenção mecânica. A nível legal serão elegíveis os doentes que manifestem comportamentos que coloquem a si ou a sua envolvência em risco ou que recusem tratamento compulsivo, vital e urgente (DGS, 2011).
Foram desenvolvidos estudos (Paes, Borba, Maftum, 2011; Kontio, Valimaki, Putkonen, Kuosmanen, Scott, & Joffe, 2010; Martin, & Mathisen, 2005) em diversos países que procuraram retratar a prática e o desenvolvimento de métodos para uma redução da utilização de medidas de contenção de doentes. Em Portugal, apenas identificamos um estudo nesta área, desenvolvido por Faria, Paiva & Marques (2012).
O pouco conhecimento da realidade portuguesa no que se refere à contenção mecânica é a razão da investigação que nos propusemos efetuar, com a qual pretendemos dar resposta à questão “Quais os conhecimentos sobre a contenção mecânica e sua representação social para os enfermeiros?”
Dirigimos o nosso estudo tendo como foco a perspetiva dos enfermeiros de diferentes serviços sobre a prática da contenção mecânica, com o objetivo de identificar os conhecimentos e a prática dos enfermeiros sobre contenção mecânica e identificar a representação social da contenção mecânica para os enfermeiros.
Enquadramento/ fundamentação teórica
Em 2011, a Direção Geral de Saúde (DGS) define contenção mecânica como a “utilização de instrumentos ou equipamentos que restringem os movimentos do doente” (p. 3).
Estudos realizados demonstram que as principais razões para o recurso a medidas de contenção mecânica são a segurança da pessoa e do ambiente envolvente, prevenção de quedas, prevenção da remoção de dispositivos médicos e para permitir um tratamento médico emergente (Fletcher & Hirdes, 2010; Hamers & Huizing, 2005; Choi, & Song, 2003; Segatore & Adams, 2001;)
Atualmente, existe um enfoque no recurso a medidas alternativas e de prevenção tais como a presença e acompanhamento individual por profissionais de saúde que proporcionem ao doente a libertação de tensões, comunicação sincera e firme, ambiente calmo e seguro, inclusão ou exclusão da pessoa significativa, organização de atividades compatíveis com a condição do doente e tratamento farmacológico (DGS, 2011). Vivenciamos o desenvolvimento das ciências sociais e o reconhecimento do código deontológico, que induzem nos profissionais de saúde a consideração de aspetos éticos que no passado eram descurados. A perspetiva paternalista da medicina, onde os profissionais de saúde decidiam o que é melhor para o doente, translada para uma cooperação onde os procedimentos e tratamentos médicos são negociados em colaboração com ele.
Quando a segurança do tratamento e dos respetivos intervenientes fica comprometida por comportamentos manifestados pelo doente, a decisão de proceder a uma contenção mecânica é quase sempre do enfermeiro, por ser o profissional de saúde mais próximo do doente. A formação e experiência destes profissionais dotam-nos de competências técnicas e científicas que lhes permitem intervir adequadamente.
A própria DGS (2011) reconhece a relevância do poder de decisão do enfermeiro no momento de proceder à contenção mecânica, revogando a circular normativa nº 08/DSPSM/DSPCS (DGS, 2007) de 25/05/07 que
referia o dever de “ser realizada sob prescrição médica” quando emite a orientação nº 021/2011 de 06/06/2011 que não faz qualquer referência a este dever. Recomenda que a decisão seja discutida em grupo, mas de acordo com Kontio et al. (2010) a decisão de proceder a uma contenção tem frequentemente de ser tomada rapidamente e os enfermeiros não têm tempo suficiente para discutir com outros membros da equipa, especialmente com os médicos. Consequentemente, ficam com dúvidas acerca do procedimento que decidiram e se fizeram o suficiente para o prevenir, considerando as alternativas existentes.
É sobre os pensamentos que ocorrem aos enfermeiros no processo de instituir uma contenção mecânica que esta investigação incide. A ambivalência de pensamentos entre o direito à autodeterminação e a necessidade de decidirem o que é melhor para o doente, instituindo planos terapêuticos que visem o tratamento da doença e salvaguarda da saúde, geram inquietações que pretendemos aprofundar.
Em Portugal, a temática da contenção mecânica está pouco estudada. De acordo com o estudo de Faria, Paiva & Marques (2012) a contenção mecânica “tem- se manifestado como uma intervenção do fenómeno confusão, que condiciona o processo do doente” (p. 8). A população deste estudo foi constituída por 552 doentes internados em vários serviços, e a amostra selecionada foi constituída por 110 doentes sujeitos à contenção (19,9%). Das várias razões apontadas pelos enfermeiros para a aplicação desta medida, destacam- se o risco de queda (36,5%) e a prevenção da exteriorização de dispositivos médicos (20,2%). Em 80% destes doentes não foi tentada qualquer alternativa prévia à contenção. Este estudo revela a existência de uma associação significativa entre contenção mecânica e doentes idosos, confusos, com alterações do equilíbrio, com patologia das vias respiratória e circulatória e totalmente dependentes no autocuidado.
Embora frequentemente considerado como procedimento aceitável da prática, o uso de contenção mecânica está associado a problemas físicos, psicológicos, éticos e legais (Martin & Mathisen, 2005). Em Portugal, os enfermeiros exercem de acordo com os deveres do Código Deontológico. Dita o primeiro dos princípios gerais que “as intervenções de enfermagem são realizadas com a preocupação da defesa da liberdade e da dignidade da pessoa humana e do enfermeiro” (Código Deontológico dos Enfermeiros, 2015). Este código consagra também direitos aos membros da Ordem dos Enfermeiros, sendo um deles “usufruir de condições de trabalho que garantam o respeito pela deontologia da profissão e pelo direito dos cidadãos a cuidados de enfermagem de qualidade” (Código Deontológico dos Enfermeiros, 2015).
Pretendemos esclarecer como a contenção mecânica é praticada e compreendida pelos enfermeiros, assim como analisar a expressão dos seus pensamentos quando recorrem a este procedimento. Deste modo, suportamo-nos na Teoria das Representações Sociais para dar forma ao nosso estudo. Segundo Silva, Camargo & Padilha (2011) a Teoria das Representações Sociais, desenvolvida por Moscovici na década de 50, é muito utilizada na área da enfermagem, “devido à possibilidade do investigador captar a interpretação dos próprios participantes da realidade que se almeja pesquisar, possibilitando a compreensão das atitudes e comportamentos que um determinado grupo social frente a um objeto psicossocial” (p. 948).
Metodologia
Este estudo é qualitativo do tipo exploratório, uma vez que pretendemos estudar experiências humanas, no sentido de identificar os pensamentos dos enfermeiros associados à contenção mecânica dos doentes.
A população em estudo são os enfermeiros portugueses a exercer em instituições hospitalares, por ser a realidade dos investigadores e da maioria dos enfermeiros. O método de amostragem foi não probabilístico por conveniência, sendo que o limite temporal foi o elemento que condicionou o número de participantes. Como critério de exclusão definiu-se que não participariam no estudo os enfermeiros que desempenhassem funções em serviços não clínicos e consulta externa, por ausência de contacto direto com doentes ou contacto por tempo limitado. A amostra foi constituída por 250 enfermeiros que responderam ao questionário.
A colheita de dados decorreu entre março e maio de 2019, por meio de um questionário elaborado no Google Forms para ser facilmente difundido via e-mail e partilhado nas redes sociais. O referido questionário é constituído por duas partes. A primeira parte tem questões fechadas referentes às caraterísticas sociodemográficas, conhecimento da norma da DGS (2011), formação em serviço e prática sobre contenção mecânica. A segunda parte é constituída por questões abertas de resposta curta sobre os pensamentos dos enfermeiros em relação à prática da contenção mecânica. A construção da segunda parte do instrumento baseou-se na técnica da múltipla associação livre de palavras (TALP), com a elaboração de três perguntas indutoras de estímulo, pedindo ao participante que respondesse com quatro palavras ou expressões sem restrição de resposta. Os três estímulos indutores utilizados no TALP foram: contenção mecânica, doente e pensamento; através da apresentação de variações da expressão: “quando penso em…”, “lembro de…”. Este método carateriza-se por ser um teste projetivo, possibilitando a apreensão das representações cognitivas de um grupo social de forma espontânea, revelando também conteúdos implícitos ou latentes que podem ser dissimulados nas práticas discursivas. Estrutura-se pela evocação de respostas com base num estímulo indutor, permitindo evidenciar universos semânticos relacionados com um determinado objeto.
Para tratamento e análise dos dados foi utilizado o Software IRAMUTEQ - Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de Textes et de Questionnaires, (versão 0,7 alpha 2). O IRAMUTEQ é um software gratuito e com fonte aberta, desenvolvido por Pierre Ratinaud, que permite fazer análises estatísticas sobre textos e sobre palavras.
Este estudo de investigação foi submetido à Unidade de Investigação e Desenvolvimento e Comissão de Ética da Escola Superior de Saúde Norte da Cruz Vermelha Portuguesa tendo o obtido parecer favorável (Parecer nº 13/2019). A participação no estudo foi voluntária. A garantia da confidencialidade das informações e o anonimato dos participantes foi uma preocupação neste estudo, pelo que, no processo de recolha e análise dos dados, não constou qualquer elemento que permitisse identifica-los.
Resultados
A maioria dos enfermeiros que participaram no estudo é do sexo feminino (72%; n=180) e mais de metade são casados (56,8%; n=142). A idade média dos participantes é de 36,6 ± 6,1 anos, tendo o mais novo 24 e o mais velho 57 anos.
Relativamente às habilitações académicas 84% (n=210) são licenciados e 16% (n=40) têm o grau de mestre. Quanto ao local onde desempenham funções, destacam-se a urgência (31,6%; n=79), internamento (25,2%; n=63) e medicina intensiva (16,4%; n=41).
No que diz respeito ao tempo de exercício profissional, o tempo médio de experiência é de 14 ± 6 anos, variando entre 1 e 39 anos.
Mais de metade dos participantes 54% (n=135) não conhece a orientação da DGS (2011) relativa à contenção de doentes. Apenas 9,6% (n=24) dos enfermeiros referiu ter formação em serviço sobre contenção mecânica. E na globalidade da amostra (70,4%; n=176) considerou não ser adequada a sua formação sobre esta temática.
Quando necessitam de utilizar uma técnica de contenção, o método de eleição é o químico (47,2%; n=118), seguido da contenção mecânica (20%; n=50), ambiental (16,8%; n=42) e física (16%; n=40).
Quando questionados acerca da frequência com que necessitam de aplicar medidas de contenção mecânica 38,8% (n=97) dos enfermeiros refere ser uma intervenção frequente, 16,4% (n=41) muito frequente e 36,4% (n=91) enfermeiros admitem fazê-lo raramente. A maioria dos enfermeiros, 82% (n=205), refere que nunca teve intercorrências durante a aplicação de contenção mecânica. Os restantes 18% (n=45) admitem intercorrências resultantes do procedimento, sendo as mais frequentes a solução de continuidade cutânea (31,1%; n=14), a incompreensão dos familiares (20%; n=9), equimose (20%; n=9) e edema (17,8%; n=8).
Quanto à frequência da reavaliação da necessidade de contenção mecânica, 44% (n=110) dos enfermeiros realiza-a na primeira hora, 24,4% (n=61) na segunda hora e 10,4% (n=26) na terceira hora. O tempo médio para reavaliação é de 3,4 horas, com oscilação entre o intervalo de tempo 0,2 horas e 48 horas.
A maioria dos enfermeiros (66,8%; n=167) refere utilizar técnicas preventivas da contenção mecânica. As mais utilizadas são o diálogo com o doente (37,7%; n=57), a contenção química (17,2%; n=26), a contenção ambiental (14,6%; n=22), a orientação espacial e temporal (8,6%; n=13) e o envolvimento da família (7,3%; n=11).
Na análise da representação social, quando solicitados a expressão de 4 pensamentos relativos à contenção mecânica, os enfermeiros recorreram a 193 palavras diferentes. Destas, 23 foram referidas mais de 10 vezes e 125 palavras foram referidas apenas uma ou duas vezes.
O programa IRAMUTEQ posiciona aleatoriamente as palavras para que as mais frequentes aparecem maiores que as outras, demonstrando assim o seu destaque no corpus da análise da pesquisa (Marchand & Ratinaud, 2011).
Segurança foi o pensamento mais referido (32%; n=80), seguido de imobilização (24,4%; n=61), agitação (22,8%; n=57), prevenção (18,4%; n=46) e amarrar (18%; n=45). Estes cinco pensamentos mais referidos reúnem 28,9% do total de mil pensamentos. Os dez pensamentos mais descritos reúnem 42,9%.
Na árvore de similitudes (figura 1), extraída do mesmo programa, visualiza-se a ligação entre as palavras do corpus textual. Os elementos com maior centralidade são a prevenção, a segurança e a imobilização. O elemento segurança ramifica-se em necessidade, agitação, proteção e risco. O elemento imobilização ramifica-se em amarrar, pulseira e contenção.
Relativamente à perceção que os enfermeiros têm sobre os pensamentos dos doentes sujeitos à contenção mecânica, foram descritas 242 palavras. Destas 16 foram referidas mais de 10 vezes e 166 palavras foram referidas apenas uma ou duas vezes. Quase metade dos enfermeiros (44,4%; n=111) referiram segurança, 27,2% (n=68) necessidade, 26,8% (n=67) prevenção, 18,4% (n=46) último recurso e 13,6% (n=34) proteção. Estes cinco pensamentos mais referidos reunem 32,6% do total de mil pensamentos. Os dez pensamentos mais descritos reúnem 40,6%. Na árvore de similitudes visualiza-se como elemento central a segurança (figura 2). Desta ramificam a prevenção, proteção, último recurso e necessidade.
No que diz respeito à perceção que os enfermeiros têm sobre os pensamentos dos familiares dos doentes sujeitos à contenção mecânica, foram referidas 224 palavras. Destas, 17 foram referidas mais de 10 vezes e 150 palavras foram referidas apenas uma ou duas vezes.
Tristeza foi a palavra mais referida, escolhida por 37,2% (n=93), 26% (n=65) responderam incompreensão, 22,4% (n=56) revolta, 17,2% (n=43) último recurso e 14% (n=35) necessidade. Estes cinco pensamentos mais descritos representam 29,2% do total de mil pensamentos.
Os dez pensamentos mais referidos representam 42,6%. Na árvore de similitudes visualizam-se como elementos centrais a tristeza, a incompreensão e a revolta (figura 3).
A análise de similitude permitiu visualizar a relação entre as palavras e a sua conectividade dentro de cada classe e por outro lado a ligação entre as várias classes (Marchand & Ratinaud, 2011).
Discussão
Na interpretação dos resultados sobre o conhecimento que os enfermeiros têm sobre a norma da DGS (2011) relativa à contenção de doentes, verificamos que sensivelmente metade dos enfermeiros não a conhece. Apuramos também que o número de enfermeiros que teve formação em serviço sobre contenção mecânica não chega aos 10%, embora um terço considere possuir formação adequada sobre a intervenção.
Das quatro formas de contenção, quase metade dos enfermeiros privilegiam a química e apenas um quinto privilegia a mecânica. No entanto, a maioria (55,6%; n=139) necessita de aplicar medidas de contenção mecânica frequentemente ou muito frequentemente, corroborando o estudo de Hamers & Huizing (2005). A regularidade da prática da contenção mecânica exige o reforço na formação dos enfermeiros.
Considerando a contenção mecânica não como uma técnica de eleição, mas como uma necessidade, os enfermeiros raramente referem intercorrências da sua aplicação (18%; n=45). Destas, a mais frequente é o desenvolvimento de “solução de continuidade”, seguida de “incompreensão dos familiares” e “equimose”.
Relativamente à reavaliação da necessidade de contenção mecânica, sensivelmente metade (44%; n=110) efetua-a até uma hora após a sua aplicação e um quarto (24,4%; n=61) ao fim de duas horas e apenas 12% (n=30) demora 8 horas ou mais para a reavaliar.
O facto de dois terços (66,8%; n=167) dos enfermeiros referirem o recurso a técnicas preventivas à contenção revela uma preocupação em evitar esta medida. Das técnicas utilizadas, destacam-se o “diálogo com o doente”, a “contenção química” e a “contenção ambiental”. Esta realidade vai de encontro às recomendações da DGS (2011) para medidas alternativas ou de prevenção e reflete o aumento do seu emprego relativamente aos 20% verificados por Faria, Paiva & Marques (2012).
Os questionários incluíram questões sobre os pensamentos associados à contenção mecânica sobre três perspetivas - a do enfermeiro, a do doente e a da família. Uma vez que a múltipla associação livre de palavras sem restrição de resposta gerou na ordem de 200 expressões diferentes em cada pergunta, concentramos a nossa discussão nas dez expressões mais referidas e que representam cerca de 40% em cada questão.
Quando pensam em contenção mecânica, os enfermeiros lembram-se de segurança, imobilização e agitação. Das dez expressões mais referidas, quatro remetem para a garantia da qualidade de cuidados (segurança, prevenção, necessidade, proteção), quatro descrevem a contenção (imobilização, amarrar, pulseira, imobilizador) e duas justificam-na (agitação, desorientação).
Questionados sobre os pensamentos associados aos doentes sujeitos à contenção mecânica, os enfermeiros referem principalmente segurança, necessidade e prevenção. Dos dez mais descritos, passam a ser sete os que se direcionam para a qualidade de cuidados (segurança, necessidade, prevenção, proteção, preocupação, decisão, vigilância) e três justificam a contenção (último recurso, exaustão, risco).
Por fim, na descrição dos pensamentos associados aos familiares dos doentes submetidos a contenção mecânica, os enfermeiros retratam seis pensamentos negativos (tristeza, incompreensão, revolta, medo, angústia, preocupação), dois positivos (compreensão, necessidade) e dois que induzem à necessidade de diálogo (explicação, informação).
Verificamos que os pensamentos dos enfermeiros desenvolvem-se no sentido de cumprimento do seu dever, salvaguardando a segurança do doente, descrevendo a razão da contenção, a forma com é aplicada e o porquê de ser instituída.
Na resposta aos pensamentos na perspetiva dos doentes, os enfermeiros enfatizam expressões que visam garantir a qualidade dos cuidados, distanciando-se de pensamentos negativos que os doentes inevitavelmente vivenciam.
É sobre a perspetiva dos familiares que os enfermeiros mais percecionam pensamentos negativos, induzindo- os à necessidade de diálogo para justificar a medida como garantia de cuidados de saúde em situações de exceção. Este enfoque revela que os enfermeiros valorizam o pensamento dos familiares, quando uma contenção mecânica é instituída.
Conclusão
Foi sobre os pensamentos que ocorrem aos enfermeiros no processo de instituir uma contenção mecânica que esta investigação incidiu, procurando identificar a representação social da contenção mecânica para este grupo profissional. A ambivalência de pensamentos entre o direito à autodeterminação e a necessidade de decidirem o que é melhor para o doente, geram inquietações que pretendíamos aprofundar.
O nível de conhecimento dos enfermeiros sobre contenção mecânica foi esclarecido e a sua prática foi analisada. Como representação social concluímos que os enfermeiros praticam frequentemente a contenção mecânica por segurança, mas esforçam-se por evitá- la. Dão valor aos pensamentos dos familiares, mas distanciam-se dos pensamentos dos doentes submetidos a esta intervenção.
Relativamente às limitações deste estudo, identificamos a escassez de referências nacionais. Consideramos que o curto período de colheita de dados limitou a amostra, e, por conseguinte, uma maior representatividade da população. A compreensão do fenómeno da contenção mecânica é também limitada pelo facto do estudo se centrar na perceção dos enfermeiros e não na análise real da prática, com recolha de dados dos processos clínicos. O estudo identificou uma divergência entre a formação dos enfermeiros e a efetividade da prática da contenção mecânica, remetendo para a necessidade de futuro investimento na implementação de protocolos hospitalares e divulgação da orientação da DGS.