Introdução
O contexto hospitalar é considerado, pela World Health Organization (WHO, 2020), uma organização complexa que permite complementar e aumentar a efetividade de outras partes constituintes do sistema de saúde, fornecendo disponibilidade contínua para a prestação de cuidados ao nível de condições agudas e complexas, centrando-se nas necessidades das pessoas.
Os hospitais constituem-se como uma parte integrante do desenvolvimento do sistema de saúde. Atualmente, derivado do avanço contínuo da ciência e da tecnologia, os gestores em saúde e os clínicos apresentam um papel primordial na promoção de estratégias efetivas e eficientes para dar resposta aos inúmeros desafios que surgem diariamente no âmbito da saúde (WHO, 2020).
A governação hospitalar é caraterizada por um conjunto complexo de processos que determinam a tomada de decisão, através da definição da missão, da visão, dos valores e dos objetivos da organização específica, da monitorização do desenvolvimento das atividades e da avaliação das metas inicialmente definidas. Tendo assim, em vista o funcionamento global e o desempenho efetivo de todos os profissionais que constituem a organização hospitalar (Eeckloo et al., 2004).
Como princípios de uma boa governação hospitalar, estão descritos na literatura, por diferentes autores: a legitimidade e a voz, onde se refere que todas as partes integrantes sejam incluídas no processo de desenvolvimento e tomada de decisão de uma organização; a visão, a missão, o processo e os resultados a mensurar devem ser definidos de forma clarificada; todos os setores da organização devem ser responsáveis por objetivos compartilhados/conjuntos; e por fim, os processos devem ser equitativos e reguláveis por legislações (Dzulkifli et al., 2020; Sakellarides, 2003). Segundo os mesmos autores, os processos contínuos de aprendizagem integram também os princípios de uma boa governação hospitalar, onde se incorpora a gestão da informação e do conhecimento. Esta característica, gestão do conhecimento em contexto hospitalar, intensifica a promoção da investigação nos diferentes setores, bem como o aumento do conhecimento e da inovação em saúde, produzindo-se assim uma prática clínica baseada na melhor evidência disponível, e consequentemente melhores políticas em saúde e melhores resultados para cada indivíduo.
A gestão do conhecimento apresenta-se definida por diferentes autores, nomeadamente segundo a American Productivity e QualityCenter (2021), este fenómeno de interesse diz respeito ao esforço sistemático que permite o fluxo contínuo do conhecimento com o objetivo de atingir as metas organizacionais. Bem como, poderá tratar-se da forma como se desenvolvem processos para obter conhecimentos, com vista a melhorar o desempenho organizacional.
Alguns autores referem que o desempenho organizacional encontra-se correlacionado com a implementação da gestão do conhecimento nas organizações, uma vez que permite dar resposta aos desafios que surgem diariamente com maior facilidade, efetividade e eficiência. Também a implementação deste fenómeno poderá apresentar-se como estratégica no âmbito das reformas em saúde e da economia em saúde (Cruz, & Ferreira, 2015; Observatório Português dos Sistemas de Saúde, 2009).
Posto isto, indo ao encontro ao pressuposto anterior, o processo de implementação da gestão de conhecimento, apresenta inúmeras vantagens nas organizações de saúde, nomeadamente a promoção de uma prática baseada na evidência, da tomada de decisão informada, efetiva e eficiente, da qualidade dos cuidados, de melhores práticas, da inovação em saúde; da cooperação entre os diferentes profissionais e do desempenho organizacional; a prevenção de erros clínicos e a redução dos custos hospitalares (El Morr & Subercaze, 2010). Também segundo Davenport & Glaser (2002), a adoção da gestão do conhecimento permite melhorar a qualidade dos cuidados prestados, bem como a efetividade e a eficiência neste âmbito.
Contudo, a implementação da gestão de conhecimento nas organizações hospitalares apresenta inúmeros fatores influenciadores, sendo pertinente identificá-los. A identificação destes fatores permite aos gestores em saúde e aos clínicos a adoção de estratégias que facilitem o processo de implementação da gestão do conhecimento e, consequentemente que promovam as vantagens inerentes.
Através de uma pesquisa de revisões em bases de dados de literatura sintetizada e outras (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online [MEDLINE] via Pubmed, Cummulative Index to Nursing and Allied Health Literature [CINAHL] via EBSCO, JBI ConNECT+ e Cochrane Library) no dia 22 de novembro, não foi identificada nenhuma revisão que mapeasse os fatores influenciadores da implementação da gestão do conhecimento apenas em contexto hospitalar. Desta forma, foi realizada uma scoping review com o objetivo de mapear os fatores que influenciam a implementação da gestão do conhecimento no contexto hospitalar pelos clínicos e pelos gestores em saúde.
Procedimentos metodológicos de revisão
A metodologia desta revisão foi baseada no Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta- Analysis: Extension for Scoping Reviews. Este tipo de síntese do conhecimento, as scoping review, segue à semelhança de outras revisões sistemáticas, uma abordagem rigorosa e sistemática, no entanto, tem em vista o mapeamento da evidência disponível sobre um determinado conceito de interesse (Tricco et al., 2018). A presente revisão da literatura apresenta como objetivo o mapeamento dos fatores que influenciam a implementação da gestão do conhecimento no contexto hospitalar pelos clínicos e pelos gestores em saúde.
Questão de revisão
A questão de revisão foi formulada segundo a mnemónica PCC (População, Conceito e Contexto), mnemónica específica para este tipo de revisões: Quais são os fatores que influenciam a implementação da gestão do conhecimento em contexto hospitalar pelos clínicos e pelos gestores em saúde? (Tabela 1).
Critérios de inclusão
Os critérios de inclusão foram também definidos através da mnemónica PCC, dos desenhos de estudo, do espaço temporal, e dos idiomas a incluir. Relativamente à população, foram considerados os clínicos e os gestores em saúde. Referente ao conceito, esta revisão considerou todos os estudos que abordassem os fatores que influenciam a implementação da gestão do conhecimento. Em relação ao contexto, foi considerado o contexto hospitalar. Os estudos primários quantitativos/ qualitativos (estudos publicados e não publicados [literatura cinzenta]), foram os desenhos de estudo considerados. Não foi colocado nenhum limite no espaço temporal e foram considerados os idiomas português, inglês e espanhol.
Estratégia de pesquisa
Inicialmente, procedeu-se a uma pesquisa limitada às bases de dados MEDLINE via Pubmed e CINAHL via EBSCO, com as palavras-chave knowledge management e hospital, e o operador booleano AND, de forma a analisar os termos de linguagem natural presentes no título e resumo, e a promover posteriormente uma pesquisa sensível. Numa segunda fase, foi desenvolvida a pesquisa final no dia 20 de novembro de 2020, nas bases de dados científicas MEDLINE via Pubmed, CINAHL via EBSCO, Business Source Complete via EBSCO, Regional Business News via EBSCO e MedicLatina via EBSCO. De modo a identificar a literatura não publicada (literatura cinzenta), foi procedida também à pesquisa no Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP). Os termos/ expressões “knowledge management”, “information management”, “hospital”, “factor”, “cause”, “influence” foram a linguagem natural utilizada na pesquisa. No entanto, as estratégias de pesquisa foram adaptadas para cada base de dados, nomeadamente a utilização de descritores específicos. Na Tabela 2 encontra-se a estratégia de pesquisa adotada na MEDLINE via Pubmed. Não foram definidos limites referentes ao espaço temporal, e consideraram-se apenas os idiomas Português, Inglês e Espanhol. Por fim, numa terceira fase, foram analisadas as referências bibliográficas dos estudos incluídos.
Processo de seleção de estudos
Os estudos identificados nas bases de dados foram analisados pelo título e resumo, primeiramente. Sequentemente, foi analisado o texto completo daqueles que cumpriram os critérios de inclusão segundo o título e resumo. Este processo foi concretizado apenas por dois revisores de forma independente, através do gestor bibliográfico Mendeley.
Resultados
Através da pesquisa nas bases de dados, obteve-se um resultado total de 397 registos (215 na MEDLINE via Pubmed, 124 na CINAHL via EBSCO, 39 na Business Source Complete via EBSCO, 11 na Regional Business News via EBSCO, 3 MedicLatina via EBSCO e 5 no RCAAP). Adicionalmente, três registos foram identificados através da análise das referências bibliográficas dos estudos incluídos. Após a eliminação dos duplicados, foram identificados 267 registos. Através da leitura e análise dos títulos e dos resumos, foram excluídos 252 registos. Após a recuperação do texto completo, os 15 estudos foram analisados de modo integral, tendo sido excluídos 11 estudos por não apresentarem os critérios de inclusão referentes ao conceito (três estudos) e ao contexto (oito estudos) de interesse da presente revisão. Desta forma, foram incluídos quatro estudos nesta scoping review. Na Figura 1 encontra-se o Fluxograma do processo de seleção e inclusão dos estudos, segundo os Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta- Analyses extension for Scoping Reviews (Trinco et al., 2018).
Seguidamente encontram-se as caraterísticas dos estudos incluídos, nomeadamente os autores e o respetivo ano de publicação, o título do estudo, o idioma de publicação, o país relatado no estudo, o desenho de estudo, a população e o contexto de interesse de cada estudo incluído.
Autores e Ano
Os autores dos estudos incluídos nesta revisão foram: Chen, Liu, & Hwang (2011); Cruz &Ferreira (2015); Lee (2017); Lee, Kim, & Kim (2014). Os estudos foram publicados entre o ano 2011e 2017.
Títulos dos estudos
Os títulos dos estudos incluídos na presente revisão foram: Key factors affecting healthcare professionals to adopt knowledge management: The case of infection control departments of Taiwanese hospitals (Chen et al., 2011); Perceção de cultura organizacional e de gestão do conhecimento em hospitais com diferentes modelos (Cruz & Ferreira, 2015); Knowledge Management Enablers and Process in Hospital Organizations (Lee, 2017); e Relationships between core factors of knowledge management in hospital nursing organisations and outcomes of nursing (Lee et al., 2014).
Idioma dos estudos incluídos
Três estudos foram publicados na língua inglesa (Chen et al., 2011; Lee, 2017; Lee et al., 2014). Apenas um estudo foi publicado no idioma português (Cruz & Ferreira, 2015).
Países relatados no estudo
Os estudos desta revisão foram desenvolvidos em diferentes países do continente Asiático, nomeadamente Taiwan (Chen et al., 2011) e Coreia do Sul (Lee, 2017; Lee et al., 2014). Apenas um estudo foi realizado no continente Europeu, especificamente em Portugal (Cruz & Ferreira, 2015).
Desenho dos estudos incluídos
Todos os estudos incluídos são de abordagem quantitativa (Chen et al., 2011; Cruz & Ferreira, 2015; Lee, 2017; Lee et al., 2014).
População de interesse dos estudos incluídos
Todos os estudos abordaram os clínicos (Chen et al., 2011; Cruz & Ferreira, 2015; Lee, 2017; Lee et al., 2014). Apenas os estudos desenvolvidos por Cruz & Ferreira (2015) Lee (2017) consideram adicionalmente os gestores em saúde.
Contexto de interesse dos estudos incluídos
Todos os estudos incluídos consideram o contexto hospitalar (Chen et al., 2011; Cruz & Ferreira, 2015; Lee, 2017; Lee et al., 2014).
Fatores que influenciam a implementação da gestão do conhecimento em contexto hospitalar pelos clínicos e pelos gestores em saúde
Os quatro estudos incluídos nesta scoping review foram analisados segundo a população, conceito e contexto de interesse: Fatores que influenciam a implementação da gestão do conhecimento em contexto hospitalar pelos clínicos e pelos gestores em saúde (Tabela 3).
Desta forma, através da análise e interpretação dos resultados dos estudos incluídos foi possível mapear
16 fatores diferentes que influenciam a implementação da gestão do conhecimento em contexto hospitalar pelos clínicos e pelos gestores em saúde.
No estudo desenvolvido pelos autores Chen et al. (2011) foram identificados os seguintes fatores influenciadores da implementação da gestão do conhecimento em contexto hospitalar pelos clínicos: a cultura organizacional; os recursos económicos; a perceção da importância da gestão do conhecimento pelos líderes; as atitudes dos colegas; as competências digitais de cada profissional de saúde; e por fim, a perceção de necessidades, nomeadamente a perceção da necessidade de mudança.
A cultura organizacional foi o único fator influenciador da implementação da gestão do conhecimento em contexto hospitalar pelos clínicos e pelos gestores em saúde abordado no estudo desenvolvido pelos autores Cruz & Ferreira (2015).
O terceiro estudo incluído nesta revisão mencionou seis fatores influenciadores deste fenómeno de interesse em contexto hospitalar pelos clínicos e pelos gestores em saúde, nomeadamente a cultura organizacional, as competências de liderança, a existência de sistemas de informação tecnológica, a motivação para aprender, a confiança e a colaboração/ cooperação entre profissionais (Lee, 2017).
Por fim, a cultura de partilha de conhecimento, o sistema de gestão de enfermagem, nomeadamente a tecnologia existente na área de enfermagem e o acesso a bases de dados, as atitudes do líder perante a gestão do conhecimento, a aprendizagem organizacional e as recompensas, especificamente as remunerações ou uma avaliação individual de desempenho mais justa, foram os fatores influenciadores da implementação da gestão do conhecimento em contexto hospitalar pelos clínicos, especificamente pelos enfermeiros, mencionados no estudo concretizado pelos autores Lee et al. (2014).
Discussão
A análise dos estudos incluídos permitiu identificar os fatores que influenciam a implementação da gestão do conhecimento em contexto hospitalar pelos clínicos e pelos gestores em saúde. Através da aplicação dos critérios de inclusão predefinidos, quatro estudos foram incluídos, bem como analisados de forma integral, pelo que neste capítulo se objetiva interpretar os resultados apresentados no capítulo anterior, bem como confrontar os mesmos com outras evidências científicas.
A evidência científica disponível até ao dia da pesquisa concretizada nas bases de dados científicas (dia 20 de novembro de 2020) permitiu, como anteriormente referido, mapear 16 fatores influenciadores deste fenómeno de interesse em contexto hospitalar, pelos clínicos e gestores em saúde. A cultura organizacional (Chen et al., 2011; Cruz e Ferreira, 2015; Lee, 2017); os recursos económicos, a perceção da importância da gestão do conhecimento pelos líderes, as atitudes dos colegas, as competências digitais, a perceção de necessidades (Chen et al., 2011); as competências de liderança, a existência de sistemas de informação tecnológica, a motivação para aprender, a confiança, colaboração/ cooperação entre profissionais (Lee, 2017); a cultura de partilha de conhecimento, o sistema de gestão de enfermagem, as atitudes do líder perante a gestão do conhecimento, a aprendizagem organizacional e as recompensas (Lee et al., 2014), foram os fatores influenciadores da implementação da gestão do conhecimento pelos clínicos e/ou gestores em saúde identificados na literatura, tal como exposto na Tabela 3.
A cultura organizacional foi identificada por três estudos como um fator que influenciava a implementação da gestão do conhecimento em contexto hospitalar (Chen et al., 2011; Cruz & Ferreira, 2015; Lee, 2017). Este fator é caraterizado pelo conjunto de valores, missões e regulamentos de uma organização, que influenciam a interação entre os membros internos e externos (Davenport, DeLong, & Beers, 1998). A cultura orientada para o conhecimento é um fator essencial para a implementação do mesmo, segundo os autores supramencionados. Também, tal como corroboram os estudos de Maier (2005), a cultura organizacional influencia como os clínicos e gestores em saúde lidam com o conhecimento, podendo influenciar a sua implementação.
A existência de recursos económicos (Chen et al., 2011), de sistemas de informação tecnológica (Lee, 2017) e do sistema de gestão em enfermagem (tecnologia, acesso a base de dados) (Lee et al., 2014) foram também considerados fatores influenciadores da implementação da gestão de conhecimento em contexto hospitalar. O estudo desenvolvido por Ein- Dor & Segev (1978) analisa que a presença de recursos se encontra diretamente correlacionada com a implementação da gestão do conhecimento em contexto hospitalar. No entanto, tal como refere Marion (1999), não se torna suficiente apenas a existência de recursos, é essencial a capacitação dos profissionais no âmbito das competências digitais, colmatando assim este fator influenciador da implementação da gestão do conhecimento (competências digitais dos clínicos) referenciado por Chen et al. (2011).
A perceção da importância da gestão do conhecimento pelos líderes (Chen et al., 2011) e as atitudes do líder perante a gestão do conhecimento (Lee et al., 2014) foram também identificados como fatores influenciadores da implementação da gestão do conhecimento em contexto hospitalar pelos clínicos. Estes estudos demonstraram que quando os líderes/gestores em saúde/administradores apresentam atitudes desvaloravas da gestão do conhecimento torna-se dificultador a sua implementação. Estes resultados apresentam-se corroborados no estudo desenvolvido por Besen, Tecchio, & Fialho (2017), onde também mencionam que as competências de líder são consideradas essenciais para a implementação da gestão do conhecimento, uma vez que a liderança apresenta um papel fundamental na inovação e no planeamento de estratégias para implementação da gestão do conhecimento. Tendo em consideração que a implementação deste conceito de interesse pelos gestores em saúde é vista como estratégica e promotora do desenvolvimento organizacional, tal como também refere o estudo incluído do autor Lee (2017) e outros estudos na literatura desenvolvidos por Ramachandran et al. (2013), e Wong & Aspinwall (2005).
As atitudes dos colegas (Chen et al., 2011), a confiança, colaboração/ cooperação entre profissionais (Lee, 2017), a cultura de partilha de conhecimento e a aprendizagem organizacional (Lee et al., 2014) foram também fatores identificados na literatura através desta scoping review. Estes estudos demonstram que a partilha de conhecimento entre colegas e as atitudes de colaboração/cooperação entre os mesmo promovem a implementação da gestão do conhecimento em contexto hospitalar e, consequentemente a sua efetividade. Também a motivação que cada indivíduo apresenta para aprender poderá influenciar a implementação da gestão de conhecimento, tornando-se assim uma barreira, segundo o estudo desenvolvido pelos autores Lee et al. (2014). A perceção das necessidades influencia também a motivação para aprender e, consequentemente a implementação da gestão do conhecimento nas organizações hospitalares, uma vez que aquando um indivíduo não sente a necessidade de mudança, não apresenta motivação para aprender no âmbito da inovação e das novas investigações realizadas (Chen et al., 2011)
As recompensas mencionadas pelos autores Lee et al. (2014) verificaram-se como fatores influenciadores da gestão do conhecimento, uma vez que os indivíduos apresentavam perceção sobre os ganhos pessoais e profissionais. Também o estudo desenvolvido por Ajmal, Helo, & Kekäle (2010) apresenta este fator como vantajoso para a implementação da gestão do conhecimento.
Torna-se importante também refletir que apenas foi identificado na literatura um estudo desenvolvido em contexto português, onde mencionava a influência da cultura organizacional na implementação da gestão do conhecimento em organizações hospitalares. Este estudo menciona também que os modelos de gestão influenciam a implementação deste conceito de interesse, nomeadamente uma cultura clã é considerada facilitadora desta implementação, em comparação com uma cultura de hierarquia (Cruz & Ferreira, 2015). No entanto, não foram encontrados outros estudos para corroborar estes resultados.
Por fim, referente às limitações presentes nesta revisão, é possível destacar que na pesquisa desenvolvida nas bases de dados, apenas foram considerados três idiomas, pelo que estudos em outras línguas também poderiam ter sido benéficos para analisar esta problemática. Também, uma vez que se trata de uma scoping review, onde se objetiva o mapeamento da evidência, tal como refere os autores Tricco et al. (2018) a avaliação da qualidade metodológica dos estudos incluídos não é realizada, no entanto, as implicações para a prática e para investigação concretizadas no capítulo seguinte poderão apresentar limitações.
Conclusão
A gestão do conhecimento é considerada como uma patente essencial nas organizações de saúde, evidenciando-se a sua importância na sobrevivência das mesmas, na exigência contínua para a manutenção da qualidade em saúde, tornando-se assim num recurso obrigatório no âmbito da saúde.
Este conceito de interesse tem vido a ser reconhecida como uma estratégia organizacional para a inovação, para a tomada de decisão, e primordialmente para o desenvolvimento organizacional. Através desta scoping review foi possível dar resposta à questão de revisão: Quais são os fatores que influenciam a implementação da gestão do conhecimento em contexto hospitalar pelos clínicos e pelos gestores em saúde?, tendo sido identificados os seguintes fatores influenciadores: a cultura organizacional; os recursos económicos; a perceção da importância da gestão do conhecimento pelos líderes; as atitudes dos colegas; as competências digitais; a perceção de necessidades; as competências de liderança; a existência de sistemas de informação tecnológica; a motivação para aprender; a confiança, colaboração/ cooperação entre profissionais; a cultura de partilha de conhecimento; o sistema de gestão de enfermagem; as atitudes do líder perante a gestão do conhecimento; a aprendizagem organizacional; e as recompensas.
Perante a análise dos estudos incluídos e dos estudos utilizados para corroborar os resultados foi possível definir implicações para a prática dos profissionais de saúde e gestores em saúde, bem como implicações para a concretização de investigações futuras sobre este conceito de interesse em organizações hospitalares. Referente às implicações para a prática, é essencial referir que a definição de estratégias organizacionais para potenciar ou colmatar os fatores influenciadores mapeados torna-se uma prioridade organizacional, com vista à implementação da gestão do conhecimento nas organizações hospitalares e, consequentemente à aquisição das suas vantagens, boa governação em saúde e ganhos em saúde para o indivíduo.
Em relação às implicações para a investigação, são necessários mais estudos primários sobre este conceito de interesse, essencialmente em contexto português. Bem como, perante esta scoping review e após o conhecimento sobre quais os fatores influenciadores, é pertinente o desenvolvimento de estudos primários sobre estratégias de implementação da gestão do conhecimento, bem como sobre a sua efetividade.
Por fim, é possível concluir que esta revisão torna-se útil para informar os clínicos, os gestores em saúde, bem como os investigadores desta área de interesse, podendo apresentar um impacto positivo tanto no âmbito clínico como na investigação em saúde.