Introdução
A sexualidade integra a vida de todos os indivíduos e contribui para a construção da sua própria identidade (Associação para o Planeamento da Família, s.d.). Neste contexto, a satisfação com o relacionamento e a satisfação sexual são indicadores de saúde importantes no que diz respeito à qualidade de vida e ao bem-estar de uma pessoa (Kalka, 2018).
A Enfermagem tem como principal objetivo facilitar os processos de transição de cada indivíduo, contribuindo para uma melhoria da sua saúde e bem-estar (Meleis, 2010). Desta forma, a transição para a parentalidade assume um papel de destaque em enfermagem, na medida em que esta fase de transição do ciclo vital é exigente, implica alterações e mudanças no planeamento familiar, o que requer do casal uma constante aprendizagem e capacidade de adaptação aos desafios que surgem a cada dia (Martins, Abreu & Figueiredo, 2017).
Fatores socioculturais, a idade, paridade, amamentação, depressão, cansaço, imagem corporal pós-parto e preocupações relacionadas com engravidar novamente afetam o retorno à relação sexual (Ferreira, Campos, Sousa & Santos, 2018). Deste modo, o casal beneficia de informação acerca da probabilidade de, após o parto, ocorrerem alterações no seu relacionamento, tanto a nível emocional como sexual (McDonald, Woolhouse & Brown, 2017). No entanto, apesar deste tema ser fundamental, os profissionais de saúde tendem a negligenciá-lo, e não abordar no pós-parto aspetos relacionados com a sexualidade do casal (Gutzeit, Levy & Lowenstein, 2020).
Barata (2013) afirma que tanto a nível nacional como internacional, são escassos os estudos efetuados na parentalidade, em que o pai seja o elemento central da investigação. Refere ainda que apenas recentemente se tem dado enfoque ao homem enquanto pai, surgindo a noção de que o homem, tal como a mulher, também vivencia o processo de transição para a parentalidade, experienciando alterações físicas e psicológicas ao longo deste processo.
Deste modo, tornando-se imperativo compreender como os pais vivenciam a adaptação ao período de transição para a parentalidade e sendo fundamental dar resposta a questões raramente exploradas, surge o presente estudo cujos objetivos são descrever a satisfação sexual do homem após o nascimento de um filho, na transição para a parentalidade e identificar a existência de relação entre a satisfação sexual do homem, as suas características e as características da família, designadamente: idade paterna, situação laboral paterna, habilitações literárias paternas, idade da mãe, número de filhos pequenos (entre 1 mês e 1 ano de idade) e número de crianças que vivem na habitação.
Enquadramento/ fundamentação teórica
De acordo com Meleis (2010), a mudança encontra-se inerente a todos os processos de transição. As condições que influenciam a transição são pessoais e ambientais, facilitando ou dificultando o progresso para alcançar uma transição saudável. Assim, torna-se essencial que a pessoa adote uma nova forma de viver, adquira novos conhecimentos e mude comportamentos. A determinação de quando a transição está completa tem de ser flexível e variável, dependendo do tipo de mudança ou do acontecimento que deu início à transição. Uma característica importante da transição é que é essencialmente positiva, ou seja, completar uma transição implica que a pessoa chegue a um período de maior estabilidade em relação ao período passado. Deste modo, a teoria das transições de Meleis (2010) servirá de modelo conceptual para este estudo, dando especial relevo ao facto de os cuidados de enfermagem serem imprescindíveis nos processos de mudanças condicionados por transições de vida.
A transição para a parentalidade requer mudanças cognitivas, afetivas e comportamentais, assumindo-se como um importante acontecimento no núcleo familiar, sendo que a relação conjugal é redefinida pelo nascimento de um filho, uma vez que existe uma ampliação do sistema familiar (Henriques, Santos, Caceiro & Ramalho, 2015).
A saúde sexual é um fenómeno multidimensional, assumindo-se a satisfação sexual como complexa e um fator significativo da qualidade de vida. Envolve fatores individuais e relacionais e pode ser ainda influenciada por aspetos associados ao ambiente social e cultural em que a pessoa se insere (Pardell-Dominguez et al., 2021).
No pós-parto, estão inerentes a adoção de novos papéis e transições de mulher para mãe, do companheiro para pai, bem como do casal para família. É um período que exige novas responsabilidades e uma enorme adaptação a novas realidades que pode gerar conflitos e ter impacto ao nível da saúde sexual (Pardell-Dominguez et al, 2021). Direta ou indiretamente, o conjunto de alterações vivenciadas no período pós-parto têm impacto ao nível da vivência da sexualidade, podendo provocar um maior nível de stress e gerar várias dificuldades ao nível do relacionamento sexual. Torna-se assim desafiante para o casal exercer estes novos papéis sem negligenciar a relação conjugal (Ferreira et al., 2018).
Constata-se que é fundamental integrar os homens nos estudos, uma vez que a maioria dos existentes está praticamente direcionada para a perspetiva da mulher quanto à sexualidade na gravidez e no pós-parto. Salienta-se que, negligenciando a perspetiva paterna, torna-se difícil compreender o sistema familiar e desenvolver a prática com base na evidência científica.
Tal como confirmaram Magalhães, Couto, Fernandes & Oliveira (2018) é fundamental que o enfermeiro descentralize os cuidados de saúde da mãe e bebé e analise a família como um todo.
Metodologia
Trata-se de um estudo descritivo-correlacional, transversal e quantitativo. A população foram homens, pais de crianças com idade igual ou superior a um mês e inferior ou igual a um ano, que residiam em Portugal. Esta idade foi escolhida tendo em conta que o pós-parto é o tempo de regressão das alterações anatómicas e fisiológicas da gravidez. Na verdade, a definição do período do puerpério não é consensual. O puerpério tardio é considerado o período desde a primeira semana até ao final da sexta semana, período até ao qual também é referido que deve ser feita a consulta de revisão de parto (Direção-Geral da Saúde, 2015). Verifica-se, no entanto, que este período não sendo linear, estende-se ao longo do tempo, sendo frequentemente referido como o quarto trimestre da gravidez e cujos investigadores sobre o tema referem que estas alterações se estendem até aos 12 meses pós-parto (Banaei et al., 2021).
Como critério de exclusão da amostra estabeleceu-se os pais que não se encontravam num relacionamento com a mãe do seu filho. A amostragem foi não probabilística por conveniência, especificamente a bola de neve, tendo obtido um total de 101 participantes. A colheita de dados ocorreu entre 22 de maio e 4 de julho de 2020 através de um questionário eletrónico elaborado na plataforma Typeform®, divulgado por e-mail e pelas redes sociais, garantindo o anonimato e confidencialidade.
O questionário integrou um consentimento informado livre e esclarecido e encontrava-se dividido em duas partes. A primeira parte foi composta por questões de caráter sociodemográfico, designadamente, sexo, idade, nacionalidade, distrito, habilitações literárias, situação laboral, estado civil, idade da mãe, número de crianças que viviam na habitação e número de filhos com idade compreendida entre um mês e um ano. A segunda parte era constituída pela NSSS, validada para a população portuguesa por Pechorro et al. (2015) e cuja utilização foi previamente autorizada pelo autor.
A NSSS é uma escala de 20 itens, com uma estrutura fatorial bidimensional constituída por uma subescala centrada no “Eu” (Subescala A: itens 1-10) e uma subescala centrada no parceiro e na atividade sexual (Subescala B: itens 11-20). Os itens são ordinais de 5 pontos, variando de 1 a 5, em que 1 corresponde a Nada Satisfeito e 5 a Totalmente Satisfeito. Valores altos na pontuação da escala correspondem a níveis elevados de satisfação sexual. A pontuação total é obtida pela soma das pontuações de todos os itens. Esta escala tem demonstrado possuir boas propriedades psicométricas a nível de validade e confiabilidade, apresentando uma alfa de Cronbach de 0,96, podendo ser utilizada em homens e mulheres (Pechorro et al., 2015).
De modo a averiguar o nível de compreensão do questionário deste estudo, nomeadamente quanto à clareza e ambiguidade das questões, verificar a adequabilidade da sequência, analisar a obtenção da informação desejada e a obter informação sobre a apresentação do questionário, este foi sujeito a um pré-teste com 20 respondentes, que não integram a amostra. Foram efetuadas as alterações ao questionário sugeridas e necessárias para que fosse claro e objetivo.
Para análise estatística foi utilizado o programa IBM SPSS v22. Os procedimentos estatísticos incluem uma análise descritiva com recurso a medidas de posição (média) e dispersão (desvio-padrão), assim como, uma análise inferencial que inclui o cálculo do coeficiente alfa de Cronbach e correlações de Spearman, Kruskal-Wallis e Mann-Whitney. Para esta análise, consideram-se os resultados globais das estatísticas descritivas, assim como, o Alfa de Cronbach dos resultados brutos das respostas à escala e ainda as correlações entre variáveis realizadas. Utilizaram-se como referência os resultados brutos das respostas à Nova Escala de Satisfação Sexual em vez das médias das respostas.
A amostra foi constituída por 101 participantes, revelando ter uma distribuição não normal e, não estando garantidos os pressupostos para a aplicação de testes paramétricos. Desta forma, para a análise dos dados optou-se pela utilização do coeficiente de correlação de Spearman (referência .05), tendo, igualmente, em conta um nível de significância de 95%. Para variáveis de resposta independente dicotómica, utilizou-se o teste de Mann-Whitney, enquanto para variáveis de três ou mais respostas independentes utilizou-se o teste de Kruskall-Wallis.
Por outro lado, a avaliação de confiabilidade e consistência interna, através da utilização do Alfa de Cronbach e suas variâncias, revela uma pontuação de .95, o que indica evidência de que os itens desta pesquisa medem a mesma habilidade e característica. Tendo uma pontuação superior a .70, com análise de valor de Benchmark igualmente elevado, revela uma avaliação válida no presente estudo.
Este estudo respeitou os princípios éticos constantes na Declaração de Helsínquia. Foi submetido previamente à Comissão de Ética da Escola Superior de Saúde Norte da Cruz Vermelha Portuguesa para apreciação, tendo sido aprovado por unanimidade (Parecer nº 014/2020).
Resultados
Caracterização sociodemográfica
O presente estudo foi constituído por uma amostra de 101 participantes com idades compreendidas entre os 22 e os 45 anos (média= 34.63; DP = 4.47). Residiam nos distritos de Aveiro (48,5%), Braga (4%), Coimbra (2%), Évora (2%), Faro (2%), Leiria (1%), Lisboa (7,9%), Porto (22,8%), Santarém (3%), Setúbal (2%), Vila Real (1%), Viseu (2%) e Região Autónoma da Madeira (2%). O estado civil variou entre solteiro (7,9%), casado/união de facto (91,1%), divorciado (1%) e viúvo (sem casos de resposta). No que diz respeito à escolaridade, adotou-se o quadro europeu de qualificações divulgado pela Direção-Geral do Ensino Superior que se divide em 8 níveis, tendo a maioria dos pais um curso do ensino superior completo (59,4%). Quanto à situação profissional, a maioria (96%) encontrava-se em situação de trabalho ativo. No que concerne à idade da mãe, esta variou entre os 23 e os 43 anos (média = 32,55; DP = 4,14). Relativamente ao número de crianças que vivia na habitação, a maioria tinha apenas uma criança (69,3%) e quanto ao número de filhos com idade igual ou superior a um mês e inferior ou igual a um ano, a maioria tinha apenas 1 filho (97%).
Satisfação sexual dos homens na transição para a parentalidade
A satisfação sexual global dos homens da amostra pontuou-se numa média de 76 valores, considerando que o resultado da aplicação da Escala pode variar entre 20 e 100. A amostra apresentou um desvio-padrão na satisfação sexual de 15,23 e uma amplitude de 27 a 100. A média das respostas em cada item situou-se em 3,8 valores (em que cada item variava entre 1 e 5).
Das respostas dadas à escala NSSS, verificou-se que o item com maior pontuação foi “o meu humor depois da atividade sexual” (4.43, DP= .829), seguido dos itens “o meu à-vontade emocional durante o sexo” (4.38, DP= .904), “o funcionamento sexual do meu corpo” (4.36, DP= .890), “a capacidade de me «soltar» e me entregar ao prazer sexual durante as relações” (4.33, DP= .873) e “a forma como eu reajo sexualmente à minha parceira” (4.32, DP= .871).
Por outro lado, o item com pontuação mais baixa foi o item nº20 “a frequência da minha atividade sexual” (2.85, DP=1.252), seguido dos itens “a disponibilidade sexual da minha parceira” (3, DP= 1.407), “a capacidade da minha parceira em iniciar a atividade sexual” (3.03, DP= 1.360), “a diversidade das minhas atividades sexuais” (3.20, DP=1.140) e “a criatividade sexual da minha parceira” (3.26, DP= 1.270).
Análise da existência de relação entre a satisfação sexual do homem e as suas características e as características da família
A presente amostra apresentou uma distribuição não normal e, neste contexto, foram utilizados testes não paramétricos para determinar correlações. Através da análise da correlação de Spearman, e dos testes de
Kruskall-Wallis e Mann-Whitney não se verificou a existência de uma relação entre a satisfação sexual do homem e a sua idade, situação laboral, habilitações literárias, idade da sua parceira, número de filhos pequenos, e número de crianças que viviam na habitação (Tabela 1).
Discussão
Verificou-se que a satisfação sexual dos homens foi globalmente positiva (76 pontos numa escala de 20 a 100). Ainda assim, não se pode deixar de analisar em pormenor os dados obtidos nas respostas dadas à Nova Escala de Satisfação Sexual, nomeadamente os itens com maior e menor pontuação. Os itens que obtiveram maior pontuação, ou seja, onde os homens estavam mais satisfeitos, diziam respeito à sua perspetiva (masculina) e em relação ao seu desempenho sexual, ou seja, uma perspetiva autocentrada: “o meu humor depois da atividade sexual”; “o meu à-vontade emocional durante o sexo”; “o funcionamento sexual do meu corpo”; “a capacidade de me «soltar» e me entregar ao prazer sexual durante as relações”; e “a forma como eu reajo sexualmente à minha parceira”.
Por outo lado, os itens cuja pontuação foi mais baixa, focam a vertente da sua satisfação sexual no desempenho que envolve ou está dependente da sua parceira: “a frequência da minha atividade sexual”; “a disponibilidade sexual da minha parceira”; “a capacidade da minha parceira em iniciar a atividade sexual”; “a diversidade das minhas atividades sexuais”;
e“a criatividade sexual da minha parceira”.
Em Portugal existe evidente discrepância na divisão das tarefas domésticas e de cuidados com os filhos no casal. De acordo com o estudo realizado por Sagnier et al., (2019) envolvendo 2,7 milhões de mulheres entre os 18 e os 64 anos em Portugal, verificou-se que estas suportam mais do triplo do trabalho doméstico e dos cuidados aos seus filhos do que o companheiro. E, no caso específico da mulher com um filho pequeno, a situação agrava-se, ficando praticamente sem tempo para si própria, pois as tarefas domésticas e os cuidados com os seus filhos requerem 82% do tempo em que estão acordadas e que estão em casa. “Nesta situação, o tempo para si fica reduzido a menos de uma hora por dia (em média: 54 minutos)” (Sagnier et al, 2019, p. 24). Na verdade, os mesmos autores constataram que na última geração ocorreu uma contribuição crescente do homem para a execução das tarefas domésticas, contudo, “… faltam entre cinco a seis gerações para que se igualem as posições da mulher e do homem nos casais em que ambos trabalham fora de casa”. Assim, estas constatações encontram-se em concordância com o facto dos homens neste estudo (em transição para a parentalidade) apresentarem uma menor satisfação sexual nos itens que dependem da disponibilidade e criatividade da sua parceira.
Ainda de acordo com esta análise contata-se que Rosen, Williams, Vannier & Mackinnon (2020) verificaram no seu estudo que, no pós-parto, as mulheres vivenciaram um decréscimo significativo da sua satisfação com o relacionamento e da sua satisfação sexual comparativamente com o momento pré-gravidez. Neste contexto, Sagnier et al. (2019, p. 116) afirmaram que, para um aumento da felicidade na vida de casal, as mulheres esperam: “Que ele contribua na partilha das tarefas domésticas; Que ele tenha capacidade para a ouvir/escutar; Que lhe dedique o máximo de tempo possível; Que ele seja carinhoso e atencioso com ela”. Considera-se que o equilíbrio na contribuição do homem e mulher para o casal levará a uma maior harmonia, onde a sexualidade está incluída.
Quanto à satisfação sexual do homem e a sua idade, não se verificou uma relação estatisticamente significativa (p=0,276), o que não coaduna com a afirmação de Carteiro & Marques (2010) que refere um marcado efeito da idade do homem na disfunção sexual. Contudo, não se encontrou na literatura um estudo que analisasse especificamente a existência de relação entre a idade do homem e a sua satisfação sexual, na transição para a parentalidade.
Da mesma forma, a situação laboral do homem, no presente estudo também não apresentou uma relação estatisticamente significativa (p=0,548) com a satisfação sexual do homem. Este resultado não está de acordo com Sanchez-Fuentes, Santos-Inglesias & Sierra (2014) que enunciam que estatutos socioeconómicos mais elevados estão associados a maiores níveis de satisfação sexual.
Relativamente às habilitações literárias do homem constatou-se também não existir uma relação estatisticamente significativa com a satisfação sexual (p=0,199) mas não foram encontrados estudos que relacionasse a satisfação sexual com as habilitações literárias.
Os filhos são um fator stressante para a vida conjugal e, de acordo com Sagnier et al (2019), representam um potencial agente desgastante das relações de casal. No entanto, no presente estudo, o número de crianças em casa não apresentou relação estatisticamente significativa com a satisfação sexual do homem (p=0,378).
Relativamente à satisfação sexual do homem e a existência de relação com o número de filhos pequenos (com idades entre 1 mês e 1 ano; p=0,213) e a idade da parceira/mãe (p=0,139), não se verificou uma relação estatisticamente significativa e não foi encontrada literatura que corroborasse ou refutasse este resultado.
Conclusão
Não foram encontradas relações estatisticamente significativas entre a satisfação sexual do homem e a sua idade, a sua situação laboral, as suas habilitações literárias, a idade da parceira/mãe, o número de filhos pequenos (com idades entre 1 mês e 1 ano) e o número de crianças que vivem na casa. A satisfação sexual do homem na transição para a parentalidade foi globalmente satisfatória na amostra, apesar de ser um período desafiante para a conjugalidade. Denotou-se que os itens que os homens pontuaram como maior satisfação diziam respeito ao seu desempenho e comportamento sexual. Por sua vez, os itens com menor pontuação (onde o homem revelou menor satisfação) diziam respeito à parceira, nomeadamente a capacidade em iniciar a atividade sexual, a disponibilidade, a criatividade e a diversidade na relação sexual. Já era conhecido que as mulheres, para além da sua ocupação profissional, habitualmente estão mais sobrecarregadas com as tarefas domésticas e nos cuidados aos filhos, comparativamente com o seu parceiro. Isto faz com que reserve e dedique menos tempo para si e para o casal, situação que se agrava quando existem filhos pequenos (Sagnier et al, 2019). Conjugado este conhecimento com os resultados do presente estudo, conclui-se que embora a satisfação sexual dos homens na amostra se tenha revelado satisfatória, estes têm mais expetativas em relação à sua parceira e sentem os efeitos da parentalidade na conjugalidade. Importa, com base nestes resultados, explorar com o casal as suas expetativas em relação à sexualidade, alertar para as alterações frequentes e reais na transição para a parentalidade e ainda informar estratégias facilitadoras como a partilha igualitária das tarefas domésticas e cuidados com os filhos, comunicação, valorização, dedicação de tempo um ao outro sabendo que para além da parentalidade deve-se promover e manter viva a conjugalidade. Tendo em consideração a validade e consistência interna apuradas no presente estudo, pode-se dizer que este é significativo no que respeita à prática clínica. Estes resultados servirão de suporte aos profissionais de saúde na promoção da saúde sexual e reprodutiva do casal na transição para a parentalidade e na prevenção de fatores que impeçam a vivência de uma sexualidade pós-parto satisfatória, promovendo estratégias facilitadoras eficazes.
A escassez de literatura, consolidação e coerência teórica que foca a perspetiva da sexualidade do homem na transição para a parentalidade apresentou-se como a maior dificuldade na elaboração deste estudo, dado o foco ser quase sempre e unicamente na mulher. Considera-se que ao introduzir dados em relação ao homem, pode-se melhor compreender a sexualidade na transição para a parentalidade e ficar com uma visão global que permite uma intervenção mais eficaz no casal. Como limitação identifica-se o tamanho da amostra. Para próximas investigações, sugere-se a comparação da satisfação sexual do homem antes da gravidez, na gravidez e no pós-parto nos mesmos sujeitos, comparando-a com a da mulher sugerindo-se, assim, a realização de um estudo longitudinal. Ainda no âmbito da sexualidade no pós-parto, considera-se que teria sido igualmente interessante investigar se a gravidez foi desejada e/ou planeada, uma vez que o facto de a gravidez não ser desejada pode, eventualmente, causar ansiedade e perturbações emocionais afetando a sexualidade do casal.