Introdução
Os cuidados de enfermagem compartilhados com a família alicerçam-se, principalmente, na interação entre o enfermeiro e uma família, envolvendo a comunicação interpessoal e terapêutica, tendo como desiderato a capacitação da família, promovendo a participação de cada um dos seus membros, enquanto subsistemas, na promoção e manutenção da saúde, na prevenção ou tratamento da doença (Ordem dos Enfermeiros, 2008), uma vez que os focos de enfermagem em saúde familiar são a promoção de projetos de saúde da família (Ferreira et al., 2020).
O Enfermeiro de Família tem-se vindo a assumir como figura de referência nos serviços de saúde para as famílias, responsabilizando-se pela prestação de cuidados de enfermagem globais, a um conjunto de famílias, tendo em vista aproximar os cuidados de saúde das famílias, baseados na relação de ajuda, na empatia e fortalecendo a confiança dos utentes/clientes. A fim de prestar estes cuidados realiza uma avaliação da família prévia, implementando intervenções compartilhadas para satisfação das necessidades, provocando mudanças no funcionamento das famílias, enquanto unidade de cuidados. Ou seja, o enfermeiro de família deverá estimular cada um dos membros da família, a envolverem-se no ultrapassar das situações de crise, em todos os processos de transição de saúde-doença, nos quais ocorre a passagem de um estádio para o outro, com o objetivo de readquirir o equilíbrio (Ordem dos Enfermeiros, 2008; Fumagalli, Sudré & Matumoto, 2023).
A comunicação está na base social do ser humano. De forma a coordenar as nossas ações e assegurar uma comunicação bem sucedida, usamos competências linguísticas para transmitir explicitamente informação uns aos outros. São também necessárias competências sociais, como é o caso da empatia, que nos permitem inferir as emoções e o estado mental de outra pessoa. A teoria da mente, por exemplo, representa a capacidade cognitiva humana de estabelecer deduções sobre as crenças, as intenções e os pensamentos de outra pessoa. Esta capacidade permite-nos compreender que as pessoas podem ter pontos de vista diferentes do nosso (Singer & Klimecki, 2014).
Por sua vez, a comunicação empática está associada a uma melhor satisfação dos utentes/doentes e a uma melhor adesão ao tratamento. Para além desta melhoria de resultados, ela permite também a elaboração de diagnósticos mais completos e tem outros papéis na eficácia do tratamento (Riess et al., 2012).
Estudos mostram que a comunicação empática ajuda a habilitar utentes/doentes a falar dos seus problemas de saúde e que os profissionais de saúde emocionalmente envolvidos comunicam melhor com os utentes/doentes, diminuem a sua ansiedade e possibilitam uma melhor capacitação (Halpern, 2014).
A empatia é essencial na prestação de cuidados centrados no utente/doente e pode ser descrita como a capacidade de compreender a situação, perspetivas e sentimentos do doente/cliente, comunicar essa compreensão, verificar a sua veracidade e, então, agir em concordância com esse conhecimento (Mercer & Reynolds, 2002).
O enfermeiro de família foca a sua atenção no ser humano, um ser biopsicossocial, com a dimensão física, mental, conferindo uma maior importância à empatia, enquanto habilidade comunicacional e na competência emocional (Albuquerque et al., 2019) e, ainda, por ser um “construto multidimensional, incluindo emocional, cognitivo, moral e dimensões comportamentais” (Kesbakhi, Rohani, Mohtashami, & Nasiri, 2017, p. 2).
O papel da relação terapêutica empática é facilitar a interação entre o enfermeiro de família e o utente e a família, como uma unidade de cuidados, possibilitando o crescimento de ambos os atores e que o resultado esperado possa ser otimizado o mais que possível. As estratégias utilizadas para promover a comunicação e interação entre o enfermeiro de família, o utente e a família, na qual está inserido, podem constituir fatores facilitadores ou dificultadores deste processo. A empatia está no grupo das estratégias que facilitam essa comunicação (Pereira & Botelho, 2014).
Por sua vez, Terezam, Reis-Queiroz e Hoga (2017, p. 697) consideram a empatia “A base de uma comunicação efetiva e uma das mais importantes habilidades a serem desenvolvidas no ser humano.”, evidenciando a “necessidade de os profissionais de saúde serem empáticos consigo mesmos, de modo a serem capazes de oferecer cuidados efetivos permeados pela atitude empática” (Terezam et al., 2017, p. 698) e considerando que quem adquirir estas competências fará uma evolução qualitativa de grande amplitude, tanto a nível dos cuidados de saúde prestados, como a nível pessoal.
Tendo em conta este conhecimento a empatia torna-se um pilar fundamental para a prestação de cuidados de saúde de qualidade, criando um ambiente adequado para o estabelecimento de relações terapêuticas entre enfermeiro de família e as famílias de quem cuida. Uma relação terapêutica baseada na comunicação empática, acontece entre um eu e um tu, acontece quando nos colocamos no lugar dos outros, demonstrando sensibilidade, prontidão e solidariedade, repercutindo-se em intervenções com o objetivo de promover o conforto e o bem-estar e a recuperação da saúde, indispensável para assegurar o bem-estar da família.
Vendruscolo, Trindade, Adamy e Correia (2014), afirmam que a feminilização do curso de Enfermagem, pode ser reflexo desta profissão estar relacionada com o cuidar, função que desde a antiguidade é mais assumida pelas mulheres, sendo também um construto social. A utilização da relação empática poderá estar ligada a este constuto.
Por sua vez, no dizer de Rivera e Scarcelli (2021), as dimensões de género, raça e classe social estão interligadas e se forem contempladas nas práticas dos cuidados de saúde primários poderão contribuir para que não se reproduza sexismo, racismo e discriminação com base na classe social nos serviços de saúde, o que que torna esta dimensões relevantes.
Neste âmbito, dando relevância à importância deste tema, enquanto elemento específico, nos enunciados descritivos dos cuidados de enfermagem especializados, de enfermagem comunitária, na área da enfermagem de saúde familiar (Ordem dos Enfermeiros, 2015), pretendemos com a realização deste estudo responder à questão: Qual a preocupação empática dos enfermeiros da amostra e a sua relação com as caraterísticas sociodemográficas?
Enquaramento/fundamentação teórica
A empatia tem sido objeto de estudo ao longo da história recente, constando da literatura consultada, sendo um conceito antigo e abordado por diferentes ciências sociais (Filosofia, Psicologia, Sociologia, entre outras). Contudo, quando se reflete sobre a origem deste conceito existem dúvidas e ausência de consenso acerca da sua origem e conceito, o que dificulta a resposta a estas questões e a investigação acerca deste objeto. Atualmente, considera-se que a empatia é um construto multidimensional, envolvendo a dimensão emocional, cognitiva, comportamental e moral (Kahriman et al., 2016).
Para Jean Watson citada por Queiroz (2004, p. 39), reconhecida teórica das ciências de enfermagem, empatia “é a habilidade da enfermeira para experienciar o mundo privado e os sentimentos da outra pessoa, mas também a habilidade de comunicar a essa pessoa o grau de compreensão que ela atingiu.”, cit (Queiroz, 2004, p. 39). Esta pode ainda ser definida como:
“Um profundo sentimento de compreensão da pessoa que ajuda que percebe a dificuldade da pessoa ajudada como se ela penetrasse no seu universo (…) que lhe leva reconforto de que tem necessidade, mas sem se identificar com o seu vivido e sem ela própria viver as emoções” (Phaneuf, 2002, p. 347).
A relação terapêutica quando aplicada no contexto de enfermagem, mediada pela empatia, pode ser vista de várias perspetivas, mas principalmente como uma estratégia do cuidar que envolve a efetiva interação entre família e enfermeiro de família, crucial para promover a adesão ao regime terapêutico. Como nos escreve Queiroz (2004, p. 20) “É esta relação especial, que se estabelece entre a enfermeira e o cliente/utente que, sendo um aspeto particular do cuidar, poderá ter um papel terapêutico efetivo… ou relação terapêutica”.
São vários os benefícios terapêuticos da empatia, entre os quais destacamos a maior satisfação com os cuidados prestados pelos profissionais de saúde, maior adesão ao tratamento prescrito, aumento da capacitação (grau em que um utente/doente se sente fortalecido), confiança no profissional de saúde que o está a acompanhar e outros benefícios como a obtenção de mais ganhos em saúde (Magalhães, 2019).
O processo empático envolve um modelo multidimensional da empatia, no qual uma resposta empática torna necessário a contextualização da situação e do sujeito (empatia cognitiva) e processos de reconhecimento e contextualização emocional face à situação exposta (preocupação empática, que constitui a empatia emocional). Desta abordagem integradora de empatia cognitiva e emocional, que constituem as duas grandes dimensões da empatia, às quais foram associadas, respetivamente, a tomada de Perspetiva, e a Preocupação Empática, Desconforto Pessoal e Fantasia (Gonçalves, 2017).
Segundo Gonçalves (2017) a Preocupação Empática avalia a capacidade de preocupar-se e demonstrar compaixão pelo outro diante de uma experiência negativa. Por sua vez, Pinheiro (2020) conceptualiza este termo como a presença de sentimentos orientados ao outro de compaixão e preocupação.
O conceito de género que adotamos neste estudo baseou-se no referencial teórico de Scott (1995) citado por Sígolo, Gava e Unbehaum (2021), como um elemento constitutivo de relações sociais assentes em diferenças percecionadas entre os sexos, criando especificidades próprias de cada um dos sexos.
Segundo Fumagalli et al. (2021), as práticas colaborativas e o trabalho em equipa interprofissional são estratégias que contribuem para o cuidado integral e produzem melhoria do acesso e da qualidade dos cuidados de saúde. De entre estas práticas destacam-se os processos de comunicação mais efetivos entre os profissionais da equipa, definição de objetivos comuns, tomada de decisões compartilhadas, reconhecimento do papel e do trabalho dos demais membros da equipa, autonomia dos profissionais, horizontalidade das relações de trabalho. Para além disso, consideramos a família como um dos elementos da equipa de saúde, como a qual devem ser compartilhadas as decisões a tomar.
Metodologia
Trata-se de um estudo observacional, descritivo-correlacional, transversal e de abordagem quantitativa (Vilelas, 2020). Estabelecemos como população alvo para este estudo, os enfermeiros que cumpriam os seguintes critérios de inclusão: i) Enfermeiros a desenvolver a sua atividade de prestação de cuidados nas Unidades Cuidados Saúde Personalizados (UCSP) e USF do ACeS-Vale do Sousa Sul, como Enfermeiros de Família; ii) Enfermeiros de família há pelo menos 1 ano. A população ficou constituída por 103 enfermeiros. Para a definição da amostra estabelecemos como critérios de exclusão: i) Enfermeiros ausentes do serviço no momento da recolha de dados; ii) Enfermeiros que não preencheram 80% dos questionários; iii) Pertencer à equipa de investigadores. Após a aplicação destes critérios de exclusão, a amostra ficou constituída por 87 enfermeiros, 84,6% da população. É por isso uma amostra não probabilística, acidental ou de conveniência, uma vez que os enfermeiros da amostra não tiveram todos a mesma probabilidade de serem incluídos na mesma.
Na recolha de dados utilizámos um questionário de autopreenchimento constituído por cinco partes: a parte I visava obter dados de caraterização sociodemográfica; a parte II descrever a formação profissional; a parte III descrever a experiência profissional; a parte IV era constituída pela Escala da Preocupação Empática, para avaliar a preocupação empática dos enfermeiros; e, por último, a parte V pretendia avaliar a opinião sobre relação terapêutica, estratégias de empatia e registos de enfermagem.
A subescala da Preocupação Empática é uma das subescalas do Índice de Reatividade Interpessoal (IRI). O IRI foi construído conjugando itens de escalas unidimensionais de empatia com novos itens (Davis, 1980 citado por Limpo, Alves, & Catro, 2010). É composto por 28 afirmações sobre sentimentos e pensamentos que a pessoa pode, ou não, ter experienciado. A partir de uma análise fatorial exploratória foram identificados quatro fatores, de acordo com os quais foram definidas quatro subescalas, cada uma com 7 itens: Tomada de Perspetiva, que reflete a tendência para adotar os pontos de vista do outro; Preocupação Empática, que mede a capacidade de experienciar sentimentos de compaixão e preocupação pelo outro; Desconforto Pessoal, que avalia sentimentos de ansiedade, apreensão e desconforto em contextos interpessoais tensos; e Fantasia, que avalia a propensão da pessoa para se colocar em situações fictícias. A Dimensão cognitiva da empatia é apreciada através da tomada de perspetiva, e a dimensão afetiva pelas restantes subescalas. Ou seja, a subescala Preocupação Empática é uma das subescalas que avalia a dimensão afetiva da empatia. O referido índice foi traduzido e validado para a população Portuguesa por Limpo et al. (2010), incluindo a subescala da Preocupação Empática. A versão final do IRI validada ficou constituída por 24 itens, tendo sido excluídos quatro itens da versão original, dos quais o item 18 da versão original pertencia à subescala da Preocupação empática. No presente estudo só foi utilizada a subescala da Preocupação empática.
A subescala da Preocupação Empática é constituída por 6 itens, sendo que dois deles foram invertidos no tratamento de dados (1.2 e 1.4), e tiveram como opções de resposta a utilização de uma escala de Likert com cinco opções de resposta (discordo muito, discordo, não concordo nem discordo, concordo e concordo muito), podendo ter uma pontuação mínima de 6 pontos e máxima de 30 pontos, sendo que quanto maior a soma de pontuação, maior preocupação empática apresentam os respondentes. Esta subescala apresenta boas características psicométricas quanto à validade, fiabilidade e sensibilidade e com uma consistência interna em que foi calculado o índice α de Cronbach que foi de 0,76 (Limpo et al., 2010).
O desenho do estudo foi apresentado aos Coordenadores de todas as unidades que integravam o ACeS, onde o mesmo decorreu. Foi solicitada a autorização prévia ao Conselho Clínico e de Saúde e ao Diretor Executivo do ACeS Tâmega II - Vale do Sousa Sul, e posteriormente à Comissão de Ética da ARS Norte, que mereceram parecer favorável (Parecer nº170/2018 da ARS Norte). Posteriormente o instrumento de colheita de dados foi distribuído pelas unidades (via correio interno ou pessoalmente), tendo o mesmo sido recolhido pelas mesmas vias, após o seu preenchimento, pelos investigadores. Em todo este processo foi garantido a confidencialidade dos dados e o anonimato, tendo sido solicitado o consentimento informado aos participantes no estudo. O período de recolha de dados decorreu durante o mês de janeiro de 2019.
Para o tratamento de dados foi utilizado o software IBM SPSS versão 22.0, no qual construímos uma base de dados e onde os mesmos foram introduzidos. Recorremos à estatística descritiva com o pedido do cálculo de frequências absolutas e relativas para todas as variáveis e das medidas de tendência central e dispersão para as variáveis escalares. Foram associados os percentuais das opções de resposta Discordo muito e Discordo e Concordo e Concordo muito para identificar os itens que menos contribuíram e que mais contribuíram para uma Preocupação empática mais positiva. No que se refere à estatística inferencial utilizámos os testes de t de Student e ANOVA. Foram assegurados os pressupostos para a utilização dos testes paramétricos (Teste de Shapiro-Wilk: p>0,05). O nível de significância considerado foi de 5% (Marôco, 2020).
Resultados
Do total da amostra (n= 87), a maioria era do sexo feminino (79%), enquadrava-se no grupo etários dos 39 anos ou menos (54%), era casada (75%) e possuía como habilitações académicas o grau de licenciado (91%). Nenhum dos enfermeiros da amostra possuia o doutoramento (Tabela 1).
Variáveis | Fa | Fr (%) |
Sexo Masculino Feminino | 18 69 | 20,7 79,3 |
Grupo etário 30-39 anos 40 anos e mais | 47 40 | 54,0 46,0 |
Estado Civil Casados Solteiro União facto Divorciado | 65 7 5 10 | 74,7 8,0 5,7 11,5 |
Grau académico Licenciatura Mestrado | 79 8 | 90,8 9,2 |
Legenda: Fa - Frequência absoluta; Fr - Frequência relativa.
Para a caraterização da amostra quanto ao nível de empatia nas relações interpessoais recorreu-se à aplicação da Escala da Preocupação Empática. Do total da amostra, a maior parte das respostas situavam-se na opção do concordo e concordo muito (Tabela 2).
Associando as opções de resposta “concordo” e “concordo muito” os itens que mais contribuíram para uma preocupação empática foram o 1.1 (81,6%), 1.3 (86,2%) e 1.4 (83,9%); e os que menos contribuíram foram os itens 1.2 (73,6), 1.5 (72,4) e 1.6 (59,8).
Variáveis | Discordo muito | Discordo | Não discordo nem concordo | Concordo | Concordo muito |
1.1 - Tenho muitas vezes sentimentos de ternura e preocupação pelas pessoas menos afortunadas do que eu | 0 | 3,4 | 14,9 | 57,5 | 24,1 |
1.2 - Às vezes, não sinto muita pena quando as outras pessoas estão a ter problemas (Invertido) | 1,1 | 6,9 | 18,4 | 32,2 | 41,4 |
1.3 - Quando vejo que se estão a aproveitar de uma pessoa, sinto vontade de a proteger | 2,3 | 2,3 | 9,2 | 49,4 | 36,8 |
1.4 - As desgraças dos outros não costumam me perturbar muito (Invertido) | 1,1 | 5,7 | 9,2 | 39,1 | 44,8 |
1.5 - Fico muitas vezes emocionada (o) com coisas que vejo a acontecer | 3,4 | 4,6 | 19,5 | 52,9 | 19,5 |
1.6 - Descrever-me-ia como uma pessoa de coração mole | 2,3 | 5,7 | 32,2 | 39,1 | 20,7 |
Legenda: % - percentagem
A média da pontuação da Escala da Preocupação Empática foi de 25,44±3,38, com um mínimo de pontuação de 10 pontos e um máximo de 30 pontos. O valor da mediana foi de 26,00 pontos, ligeiramente acima do valor da média. Podemos assim considerar que 50% dos casos estão acima dos 26 pontos, considerando-se que mais de 50% dos enfermeiros apresenta um bom nível de Preocupação Empática. O Alfa de Cronbach da escala foi de 0,639, sendo considerada uma consistência interna fraca.
Não foram verificadas diferenças estatísticas significativas quanto à Preocupação Empática (PE) dos enfermeiros, que se enquadravam em diferentes grupos etários (t de Student: p ≥ 0,130), com diferente estado civil (Anova p ≥ 0,307) e com diferentes graus académicos (t de Student: p ≥ 0,720).
A PE difere significativamente entre os enfermeiros de sexo diferente (t de Student: p ≥ 0,004), sendo que as mulheres obtiveram uma média mais elevada, ou seja, apresentavam maior PE (Tabela 3).
Variáveis | n | Média / Média de posição | Teste e Valor do teste | gl | p |
PE * Sexo Masculino Feminino | 18 69 | 21,78 24,49 | t = - 2,932 | 85 | 0,004 |
PE * Grupo etário Menos ou igual a 39 anos Mais de 40 anos | 47 40 | 23,38 24,58 | t = - 1,530 | 85 | 0,130 |
PE * Estado civil Solteiro Casados União de facto Divorciado | 7 65 5 10 | 21,57 24,06 25,20 24,10 | Anova 1,221 | 86 | 0,307 |
PE * Grau académico Licenciatura Mestrado | 79 8 | 23,89 24,36 | t = - 0,359 | 85 | 0,720 |
Legenda: gl: grau de liberdade; n: frequência absoluta; PE: Preocupação Empática; p: significância estatística; t: t de Student.
Discussão
Os dados deste estudo revelaram que estamos perante uma amostra que se carateriza essencialmente por um predomínio do sexo feminino, indo ao encontro dos dados estatísticos emanados pela Ordem dos Enfermeiros, que apresentavam uma taxa de 82,2% de inscrições de enfermeiros do sexo feminino, constatando-se a feminização que carateriza a profissão de enfermagem em Portugal e a nível mundial (Ordem dos Enfermeiros, 2018).
A nossa amostra apresentou uma ligeira predominância do grupo etário menor ou igual a 39 anos. Estes resultados são semelhantes aos obtidos no estudo realizado no Brasil (Estado de Alagoas) por Albuquerque et al. (2019), com uma amostra de 230 enfermeiros, no qual também se verificou uma ligeira maioria do grupo etário com menos de 42 anos (50,9%).
Em relação ao estado civil dos profissionais que participou neste estudo a maioria era casada, tendo o mesmo sucedido nos estudos consultados, como o desenvolvido por Kesbakhi (2017) e por Albuquerque et al. (2019) nos quais 77,9% e 52,2%, respetivamente, da amostra de profissionais era casada.
Os enfermeiros de família que integraram a amostra do nosso estudo, na sua maioria apresentava o grau académico de licenciatura, resultados convergentes com os dados estatísticos emanados pela Ordem dos Enfermeiros (OE, 2018), em que 74,8% dos enfermeiros estava inscrita como enfermeiro de cuidado gerais (Ordem dos Enfermeiros, 2018).
Salientamos que a amostra de enfermeiros de família estudada apresentou elevados níveis de preocupação empática, pois a percentagem de respostas quando aplicada a Escala de Preocupação Empática, situou-se maioritariamente entre o concordo e o concordo muito, indo ao encontro aos resultados apresentados por outros estudos desenvolvidos por Kesbakhi et al. (2017) e Marcysiak (2014).
Após análise da estatística inferencial foi verificado que das caraterísticas sociodemográficas dos enfermeiros, apenas o sexo se relacionou com preocupação empática dos enfermeiros, em que as mulheres apresentaram maior grau de empatia, tendo sucedido o mesmo no estudo de Kesbakhi et al. (2017).
Esta diferença entre mulheres e homens quanto à preocuação empática poderá ser explicada recorrendo às autoras Sígolo et al. (2021), constituindo uma especificidade do género feminino construída socialmente ao longo da existência humana com esta organização da sociedade. Por suza vez esta preocupação empática poderá ser uma estratégia muito eficaz para o envolvimento da família no processo de cuidar e na tomada de decisão da equipa de saúde.
Conclusão
Os resultados obtidos em termos de caraterização sociodemográfica permitem-nos concluir que perfil dos enfermeiros que fazem parte da amostra deste estudo é constituído por um indivíduo do sexo feminino, enquadrado no grupo etário dos 30 aos 39 anos, casado e detentor do grau académico licenciatura.
Analisando os resultados relativos à Preocupação Empática, podemos concluir que os enfermeiros de família da amostra expressaram um bom nível de Preocupação Empática, consideram a capacidade psicológica conhecida como empatia muito importante, bem como o estabelecimento de relações empáticas com a família e seus membros individualmente.
O sexo feminino apresentou maior preocupação empática do que o sexo masculino, podendo querer dizer que terá melhores práticas neste âmbito. Esta diferença poderá ser resultado do construto social de género existente também na profissão de enfermagem. Ou seja, respondendo à questão norteadora deste estudo, a Preocupação Empática pode ser assim uma questão de género, justificando-se uma intervenção formativa, sobretudo, dirigida aos enfermeiros do sexo masculino sobre empatia, sexo e género. A utilização desta estratégia do estabelecimento de relação empática entre a(o) enfermeira(o) de família poderá ser eficaz no envolvimento da família na tomada de decisões.
As limitações que mais se evidenciam neste estudo estão relacionadas, sobretudo, com o facto de se tratar de uma amostra não aleatória, o que pode ter influenciado a representatividade da população e afetado as inferências estatísticas realizadas da amostra para a população.
A realização deste estudo constitui um diagnóstico de situação, envolvendo o fenómeno da preocupação empática e das relações terapêuticas, para os enfermeiros que exercem a sua atividade profissional nas unidades funcionais nas quais teve lugar, tendo os resultados já sido apresentados a todas as unidades envolvidas. Esta apresentação constituiu um meio de conscientização e de motivação e poderá funcionar como estratégia para alavancar a mudança dos cuidados de enfermagem compartilhados com a família e seus membros.
Para futuras investigações sugere-se repetir o estudo com a mesma população de enfermeiros, uma vez que a recolha de dados no presente estudo foi realizada em janeiro de 2019, durante o período pandémico de COVID-19, para comparação dos resultados e identificação das semelhanças e das diferenças entre os dois estudos.