INTRODUÇÃO
No contexto nacional e internacional, o aumento da esperança média de vida e o envelhecimento da população, a par dos progressos terapêuticos e da melhoria das condições socioeconómicas têm introduzido mudanças significativas, tanto na vida privada como na vida pública das populações atuais1.
Efetivamente, na sequência do envelhecimento e da maior prevalência de doenças crónicas, as necessidades da população apelam cada vez mais à intervenção dos enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação2.
A enfermagem de reabilitação é uma área da intervenção especializada da Enfermagem que previne, recupera e habilita de novo, as pessoas vítimas de doença súbita ou descompensação de processos patológicos crónicos, que provoquem défice funcional ao nível cognitivo, motor, sensorial, cardiorrespiratório, da alimentação, da eliminação e da sexualidade3. Neste sentido, os cuidados de enfermagem de reabilitação “têm por foco de atenção a manutenção e promoção do bem-estar e da qualidade de vida, a recuperação da funcionalidade, tanto quanto possível, através da promoção do autocuidado, da prevenção de complicações e da maximização das capacidades”(3:16656).
Tendo como alvo a pessoa, em todas as fases do ciclo vital, a excelência do exercício profissional de enfermagem de reabilitação para além de trazer ganhos em saúde em todos os contextos da prática, tem vindo a influenciar positivamente a qualidade dos cuidados de enfermagem.
Ao longo das últimas décadas, fruto da complexidade dos cuidados e do aumento da expectativa dos cidadãos, temas como a qualidade em saúde foram tidos como prioritários, tendo vindo a incitar-se a excelência do exercício profissional, que incorpora, necessariamente, uma prestação de cuidados congruente com os padrões de qualidade definidos para cada um dos domínios, que caracterizam os mandatos sociais de cada uma das profissões4,5.
Uma vez lançado o repto da qualidade e da excelência do exercício profissional na área da saúde, em 2001, o Conselho de Enfermagem da Ordem dos Enfermeiros6, tendo encarado como um desafio a definição dos padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem, enunciou seis categorias de enunciados descritivos: a satisfação do cliente, a promoção da saúde, a prevenção de complicações, o bem-estar e autocuidado, a readaptação funcional e a
organização dos cuidados de enfermagem.
Posteriormente, em consonância com uma das suas competências estatutárias, o Colégio da Especialidade de Enfermagem de Reabilitação definiu os padrões de qualidade dos cuidados especializados em enfermagem de reabilitação7, que depois de aprovados, foram publicados no Regulamento n.º 350/2015. A definição dos padrões de qualidade dos cuidados especializados em enfermagem de reabilitação teve como propósito que estes se constituíssem como “um instrumento essencial para a promoção da melhoria contínua destes cuidados e como referencial para a reflexão sobre a prática especializada de enfermagem de reabilitação” (3:16655). Foram identificadas nesse âmbito oito categorias de enunciados descritivos: satisfação dos clientes, promoção da saúde, prevenção de complicações, bem-estar e autocuidado, readaptação funcional, reeducação funcional, promoção da inclusão social e organização dos cuidados de enfermagem.
Ainda que o exercício profissional de enfermagem de reabilitação exija uma atuação congruente com a especificidade dos enunciados descritivos mencionados, neste estudo, interessou-nos percebeu o contributo dos enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação para a qualidade dos cuidados de enfermagem prestados nos contextos hospitalares. De facto, independentemente da área de especialização, os enfermeiros portugueses devem implementar na sua atividade profissional, intervenções propostas pelos padrões de qualidade desenvolvidos pela Ordem dos Enfermeiros em 20018. Todavia, apesar de ao longo da última década se terem desenvolvido esforços no sentido de implementar os padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem6nas instituições hospitalares, têm sido evidentes algumas fragilidades5. Neste sentido, integrado na investigação “Contextos da prática hospitalar e conceções de enfermagem: olhares sobre o real da qualidade e o ideal da excelência no exercício profissional dos enfermeiros”, este estudo visou compreender a perceção dos enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação, quanto à concretização dos padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem, em contexto hospitalar.
MÉTODO
Com o propósito de alcançar o objetivo anteriormente enunciado, optámos por uma abordagem quantitativa. O estudo realizado foi descritivo, de cariz exploratório.
Embora estivesse prevista a concretização do estudo em todas as instituições hospitalares, enquadradas no modelo de gestão de Entidade Pública Empresarial, que à data da colheita de dados eram 38, pelo facto de duas instituições não aceitarem participar, o estudo foi realizado em 36 instituições hospitalares EPE de Portugal continental. Tendo em consideração os princípios ético-legais, importa referir que para obter autorização para a realização do estudo, foi enviada a todas as instituições hospitalares uma carta, dirigida ao Conselho de Administração, dando a conhecer o estudo e solicitando a participação. Apesar do processo inerente às autorizações ter variado de instituição para instituição, no final, o estudo foi aprovado pelas comissões de ética e respetivos conselhos de administração das 36 instituições envolvidas.
Decorrente da impossibilidade de estudar toda a população, foi constituída uma amostra. A técnica de amostragem usada foi não probabilística por conveniência9. Foram definidos como critérios de inclusão “ser enfermeiro especialista/especializado na área da enfermagem de reabilitação” e “exercer a sua atividade profissional na instituição hospitalar num período de tempo igual ou superior a seis meses, nos departamentos de medicina e especialidades médicas, cirurgia e especialidades cirúrgicas ou unidades de cuidados intermédios e intensivos”. Neste sentido, todos os enfermeiros especialistas/especializados em enfermagem de reabilitação que exerciam funções nos serviços onde foi autorizado o estudo e que aceitaram participar, foram incluídos na amostra, que ficou constituída por 306 enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação. Aquando do esclarecimento dos objetivos, bem como dos procedimentos inerentes à investigação, ficou claro que a sua participação seria voluntária, podendo desistir a qualquer momento, sem que por isso viessem a ser prejudicados. Aos enfermeiros que aceitaram participar no estudo, foi solicitado que assinassem o consentimento informado, tendo sido garantida a confidencialidade e o anonimato na utilização e divulgação das informações obtidas. Para a colheita de dados foi utilizado um questionário de autopreenchimento, constituído por duas partes: Parte I - Caracterização do Enfermeiro Especialista/Especializado; Parte II - Escala de perceção das atividades de enfermagem que contribuem para a qualidade dos cuidados. Tendo por base os padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem6,10, esta escala, construída e validada em 20164, apresenta uma estrutura concetual organizada em 7 dimensões: satisfação do cliente (3 itens), promoção da saúde (3 itens), prevenção de complicações (3 itens), bem-estar e autocuidado (4 itens), readaptação funcional (4 itens), organização dos cuidados de enfermagem (2 itens) e responsabilidade e rigor (6 itens). A escala de respostas do tipo Likert varia entre 1 e 4, sendo que 1 corresponde a nunca, 2 poucas vezes, 3 às vezese 4 sempre.
Para o tratamento dos dados, foi utilizado o programa estatístico, Statistical Package for the Social Sciences(SPSS), versão 22.0.
RESULTADOS
Relativamente ao perfil sociodemográfico e profissional dos participantes, verificámos que dos 306 enfermeiros especialistas/especializados em enfermagem de reabilitação, a maioria é do género feminino (71,2%). A idade média é de 38,4 anos (com um desvio de padrão de 7,6) e o estado civil maioritário é casado/união de facto (60,5%). No que se refere ao grau académico, a licenciatura é maioritária (74,84%), seguindo-se o mestrado (24,84%) e o doutoramento (0,32%).
Em relação à distribuição dos enfermeiros especialistas/especializados de acordo com as regiões da administração regional de saúde a que pertencem as instituições hospitalares, 49,3% são do Norte, 21,6% de Lisboa e Vale do Tejo, 20,6% do Centro, 5,2% do Algarve e 3,3% do Alentejo.
No que se refere ao contexto onde exercem funções, predominaram os serviços de medicina e especialidades médicas (47,1%), cirurgia e especialidades cirúrgicas (38,2%) e unidades de cuidados intermédios e intensivos (14,7%).
Quanto ao exercício profissional na área da especialidade, o tempo médio foi de 3,7 anos (com um desvio de padrão de 4,7), sendo o mínimo de 0 anos e o máximo de 23 anos. O valor mínimo de 0 anos é explicado pelo facto de 132 enfermeiros (43,1%) com cursos de especialização em enfermagem de reabilitação, que participaram no estudo, não exercerem a sua atividade profissional na área de especialidade. O tempo médio de exercício profissional no atual serviço foi de 8,8 anos (com um desvio de padrão de 7,0), sendo o máximo de 32 anos e o mínimo de 1 ano.
Relativamente à formação no âmbito dos padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem, 159 enfermeiros especialistas/especializados (52,0%) referiram que a realizaram.
Na sequência da aplicação da escala de perceção das atividades de enfermagem que contribuem para a qualidade dos cuidados4, construída com base nos padrões de qualidade emanados pela Ordem dos Enfermeiros6, no âmbito da dimensão satisfação do cliente (Tabela 1), foi possível verificar que na atividade respeita as capacidades, crenças, valores e desejos da natureza individual dos clientes nos cuidados que presta, “Sempre” foi a resposta maioritária (73,86%), seguindo-se “Às vezes” (25,16%) e “Poucas vezes” (0,98%), não existindo quaisquer respostas “Nunca”.
No que concerne à atividade procura constantemente empatia nas interações com os clientes (doente/família), “Sempre” foi a resposta maioritária (79,74%), seguindo-se “Às vezes” (19,93%) e “Poucas vezes” (0,33%), não existindo quaisquer respostas “Nunca”.
Em relação à atividade envolve os conviventes significativos do cliente individual no processo de cuidados, “Às vezes” foi a resposta maioritária (52,29%), seguindo-se “Sempre” (42,16%) e “Poucas vezes” (5,55%), não existindo quaisquer respostas “Nunca”.
Considerando a dimensão promoção da saúde (Tabela 2), foi possível constatar que na atividade identifica as situações de saúde e os recursos do cliente/família e comunidade, “Às vezes” foi a resposta maioritária (60,46%), seguindo-se “Sempre” (33,66%), “Poucas vezes” (5,55%) e “Nunca” (0,33%).
Relativamente à atividade aproveita o internamento para promover estilos de vida saudáveis, “Às vezes” foi a resposta maioritária (54,58%), seguindo-se “Sempre” (35,29%), “Poucas vezes” (9,48%) e “Nunca” (0,65%).
No que concerne à atividade, fornece informação geradora de aprendizagem cognitiva e de novas capacidades pelo cliente, “Às vezes” foi a resposta maioritária (54,57%), seguindo-se “Sempre” (37,58%), “Poucas vezes” (7,52%) e “Nunca” (0,33%).
Satisfação do Cliente | Frequência | |||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Nunca | Poucas vezes | Às vezes | Sempre | Total | ||||||
n | % | n | % | n | % | n | % | n | % | |
Respeita as capacidades, crenças, valores e desejos da natureza individual dos clientes nos cuidados que presta | 0 | 0,0 | 3 | 0,98 | 77 | 25,16 | 226 | 73,86 | 306 | 100 |
Procura constantemente empatia nas interações com os clientes (doente/família) | 0 | 0,0 | 1 | 0,33 | 61 | 19,93 | 244 | 79,74 | 306 | 100 |
Envolve os conviventes significativos do cliente individual no processo de cuidados. | 0 | 0,0 | 17 | 5,55 | 160 | 52,29 | 129 | 42,16 | 306 | 100 |
Promoção da Saúde | Frequência | |||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Nunca | Poucas vezes | Às vezes | Sempre | Total | ||||||
n | % | n | % | n | % | n | % | n | % | |
Identifica as situações de saúde e os recursos do cliente/família e comunidade | 1 | 0,33 | 17 | 5,55 | 185 | 60,46 | 103 | 33,66 | 306 | 100 |
Aproveita o internamento para promover estilos de vida saudáveis | 2 | 0,65 | 29 | 9,48 | 167 | 54,58 | 108 | 35,29 | 306 | 100 |
Fornece informação geradora de aprendizagem cognitiva e de novas capacidades pelo cliente | 1 | 0,33 | 23 | 7,52 | 167 | 54,57 | 115 | 37,58 | 306 | 100 |
No âmbito da dimensão prevenção de complicações (Tabela 3), verificou-se que na atividadeidentifica os problemas potenciais do cliente, “Sempre” foi a resposta maioritária (63,1%), seguindo-se “Às vezes” (36,6%) e “Poucas vezes” (0,3%), não existindo quaisquer respostas “Nunca”.
No que se refere à atividade prescreve e implementa intervenções com vista à prevenção de complicações, “Sempre” foi a resposta maioritária (65,7%), seguindo-se “Às vezes” (34,0%) e “Poucas vezes” (0,3%), não existindo quaisquer respostas “Nunca”.
Em relação à atividade avalia as intervenções que contribuem para evitar os problemas ou minimizar os efeitos indesejáveis, “Sempre” foi a resposta maioritária (60,1%), seguindo-se “Às vezes” (38,6%) e “Poucas vezes” (1,3%), não existindo quaisquer respostas “Nunca”.
Prevenção de Complicações | Frequência | |||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Nunca | Poucas vezes | Às vezes | Sempre | Total | ||||||
n | % | n | % | n | % | n | % | n | % | |
Identifica osproblemas potenciais do cliente | 0 | 0,0 | 1 | 0,3 | 112 | 36,6 | 193 | 63,1 | 306 | 100 |
Prescreve e implementa intervenções com vista à prevenção de complicações | 0 | 0,0 | 1 | 0,3 | 104 | 34,0 | 201 | 65,7 | 306 | 100 |
Avalia as intervenções que contribuem para evitar os problemas ou minimizar os efeitos indesejáveis | 0 | 0,0 | 4 | 1,3 | 118 | 38,6 | 184 | 60,1 | 306 | 100 |
No que concerne à dimensão bem-estar e autocuidado (Tabela 4), foi possível constatar que na atividade identifica os problemas do cliente que contribuam para o bem-estar e realização das atividades de vida, “Sempre” foi a resposta maioritária (62,74%), seguindo-se “Às vezes” (35,62%), “Poucas vezes” (1,31%) e “Nunca” (0,33%).
Relativamente à atividade prescreve e implementa intervenções que contribuam para aumentar o bem-estar e a realização das atividades de vida dos clientes, “Sempre” foi a resposta maioritária (59,5%), seguindo-se “Às vezes” (37,9%), “Poucas vezes” (2,3%) e “Nunca” (0,3%).
No que se refere à atividade avalia as intervenções que contribuam para aumentar o bem-estar e a realização das atividades de vida dos clientes, “Sempre” foi a resposta mais frequente (55,88%), seguindo-se “Ás vezes” (39,54%), “Poucas vezes” (4,25%) e “Nunca” (0,33%).
Em relação à atividade referencia situações problemáticas identificadas que contribuam para o bem-estar e realização das atividades de vida dos clientes, “Sempre” foi a resposta maioritária (50,3%), seguindo-se “Às vezes” (45,4%), “Poucas vezes” (3,6%) e “Nunca” (0,7%).
Bem-estar e Autocuidado | Frequência | |||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Nunca | Poucas vezes | Às vezes | Sempre | Total | ||||||
n | % | n | % | n | % | n | % | n | % | |
Identifica os problemas do cliente que contribuam para o bem-estar e realização das atividades de vida | 1 | 0,33 | 4 | 1,31 | 109 | 35,62 | 192 | 62,74 | 306 | 100 |
Prescreve e implementa intervenções que contribuam para aumentar o bem-estar e a realização das atividades de vida dos clientes | 1 | 0,3 | 7 | 2,3 | 116 | 37,9 | 182 | 59,5 | 306 | 100 |
Avalia as intervenções que contribuam para aumentar o bem-estar e a realização das atividades de vida dos clientes | 1 | 0,33 | 13 | 4,25 | 121 | 39,54 | 171 | 55,88 | 306 | 100 |
Referencia situações problemáticas identificadas que contribuam para o bemestar e realização das atividades de vida dos clientes | 2 | 0,7 | 11 | 3,6 | 139 | 45,4 | 154 | 50,3 | 306 | 100 |
Face à dimensão readaptação funcional (Tabela 5), observou-se que na atividade dá continuidade ao processo de prestação de cuidados de enfermagem, “Sempre” foi a resposta maioritária (73,2%), seguindo-se “Às vezes” (25,5%), “Poucas vezes” (1,0%) e “Nunca” (0,3%).
No que concerne à atividade planeia a alta dos clientes internados na instituição de saúde, de acordo com as necessidades dos clientes e osrecursos da comunidade, “Sempre” foi a resposta mais frequente (51,0%), seguindo-se “Às vezes” (41,8%), “Poucas vezes” (5,9%) e “Nunca” (1,3%).
No que se refere à atividade otimiza as capacidades do cliente e conviventes significativos para gerir o regime terapêutico prescrito, “Sempre” foi a resposta mais frequente (51,3%), seguindo-se “Às vezes” (40,2%), “Poucas vezes” (8,2%) e “Nunca” (0,3%).
Em relação à atividade ensina, instrói e treina o cliente sobre a adaptação individual requerida face à readaptação funcional, “Sempre” foi a resposta mais frequente (54,9%), seguindo-se “Às vezes” (37,3%), “Poucas vezes” (7,5%) e “Nunca” (0,3%).
Readaptação Funcional | Frequência | |||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Nunca | Poucas vezes | Às vezes | Sempre | Total | ||||||
n | % | n | % | n | % | n | % | n | % | |
Dá continuidade ao processo de prestação de cuidados de enfermagem | 1 | 0,3 | 3 | 1,0 | 78 | 25,5 | 224 | 73,2 | 306 | 100 |
Planeia a alta dos clientes internados na instituição de saúde, de acordo com as necessidades dos clientes e os recursos da comunidade | 4 | 1,3 | 18 | 5,9 | 128 | 41,8 | 156 | 51,0 | 306 | 100 |
Otimiza as capacidades do cliente e conviventes significativos para gerir o regime terapêutico prescrito | 1 | 0,3 | 25 | 8,2 | 123 | 40,2 | 157 | 51,3 | 306 | 100 |
Ensina, instrui e treina o cliente sobre a adaptação individual requerida face à readaptação funcional | 1 | 0,3 | 23 | 7,5 | 114 | 37,3 | 168 | 54,9 | 306 | 100 |
No que concerne à dimensão organização dos cuidados de enfermagem (Tabela 6), foi possível constatar que na atividade domina o sistema de registos de enfermagem, “Sempre” foi a resposta maioritária (53,6%), seguindo-se “Às vezes” (41,5%), “Poucas vezes” (4,9%), não existindo quaisquer respostas “Nunca”.
Relativamente à atividade conhece as políticas do hospital, “Às vezes” foi a resposta maioritária (53,3%), seguindo-se “Sempre” (36,9%) e “Poucas vezes” (9,8%), não existindo quaisquer respostas “Nunca”.
Organização dos Cuidados de Enfermagem | Frequência | |||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Nunca | Poucas vezes | Às vezes | Sempre | Total | ||||||
n | % | n | % | n | % | n | % | n | % | |
Domina o sistema de registos de enfermagem | 0 | 0,0 | 15 | 4,9 | 127 | 41,5 | 164 | 53,6 | 306 | 100 |
Conhece as políticas do hospital | 0 | 0,0 | 30 | 9,8 | 163 | 53,3 | 113 | 36,9 | 306 | 100 |
Ao analisar a dimensão responsabilidade e rigor (Tabela 7), foi possível constatar que na atividade demonstra responsabilidade pelas decisões que toma, pelos atos que pratica e que delega, tendo em vista a prevenção de complicações, “Sempre” foi a resposta maioritária (91,2%), seguindo-se “Às vezes” (8,8%), não existindo quaisquer respostas “Poucas vezes” e “Nunca”.
No que se refere à atividade demonstra responsabilidade pelas decisões que toma, pelos atos que pratica e que delega, tendo em vista o bem-estar e autocuidado dos clientes, “Sempre” foi a resposta maioritária (86,9%), seguindo-se “Às vezes” (12,4%) e “Poucas vezes” (0,7%), não existindo quaisquer respostas “Nunca”.
Relativamente à atividade demonstra rigor técnico/científico na implementação das intervenções de enfermagem, com vista à prevenção de complicações, “Sempre” foi a resposta maioritária (82,4%), seguindo-se “Às vezes” (17,6%), não existindo quaisquer respostas “Poucas vezes” e “Nunca”.
No que concerne à atividade demonstra rigor técnico/científico na implementação das intervenções de enfermagem que contribuam para aumentar o bem-estar e a realização das atividades de vida dos clientes, “Sempre” foi a resposta maioritária (77,5%), seguindo-se “Às vezes” (22,2%) e “Poucas vezes” (0,3%), não existindo quaisquer respostas “Nunca”.
Em relação à atividade referencia situações problemáticas identificadas para outros profissionais, de acordo com os mandatos sociais, “Sempre” foi a resposta maioritária (57,8%), seguindo-se “Às vezes” (40,2%) e “Poucas vezes” (2,0%), não existindo quaisquer respostas “Nunca”.
Na atividade supervisiona as atividades que concretizam as intervenções de enfermagem e as atividades que delega, “Sempre” foi a resposta maioritária (59,2%), seguindo-se “Às vezes” (36,6%) e “Poucas vezes” (4,2%), não existindo quaisquer respostas “Nunca”.
DISCUSSÃO
Na sequência da análise das variáveis sociodemográficas, verificámos que a maioria dos enfermeiros que participaram no estudo era do género feminino (71,2%) e apresentava uma idade média de 38,4 anos. Quanto ao grau académico, a licenciatura foi a maioritária (74,84%). Estes resultados, para além de refletirem a realidade sociodemográfica dos profissionais de enfermagem, vêm corroborar os dados atualizados pela Ordem dos Enfermeiros11relativamente à área de especialização em enfermagem de reabilitação. No que concerne ao tempo de exercício profissional na área da especialidade, embora oscilasse entre os 0 e os 23 anos, o tempo médio foi de 3,7 anos. Importa referir que 43,1% dos enfermeiros que participaram neste estudo, não exercem a sua atividade profissional na área de especialidade, o que, mais uma vez, revela o não aproveitamento das qualificações dos enfermeiros5. Segundo dados da Ordem dos Enfermeiros, em dezembro de 2016, 46,8% dos enfermeiros portugueses com especialização em enfermagem de reabilitação exerciam a sua atividade profissional no âmbito da prestação de cuidados gerais11, o que vai ao encontro dos resultados obtidos neste estudo.
Responsabilidade e Rigor | Frequência | |||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Nunca | Poucas vezes | Às vezes | Sempre | Total | ||||||
n | % | n | % | n | % | n | % | n | % | |
Demonstra responsabilidade pelas decisões que toma, pelos atos que pratica e que delega, tendo em vista a prevenção de complicações | 0 | 0,0 | 0 | 0,0 | 27 | 8,8 | 279 | 91,2 | 306 | 100 |
Demonstra responsabilidade pelas decisões que toma, pelos atos que pratica e que delega, tendo em vista o bem-estar e autocuidado dos clientes | 0 | 0,0 | 2 | 0,7 | 38 | 12,4 | 266 | 86,9 | 306 | 100 |
Demonstra rigor técnico/científico na implementação das intervenções de enfermagem, com vista à prevenção de complicações | 0 | 0,0 | 0 | 0,0 | 54 | 17,6 | 252 | 82,4 | 306 | 100 |
Demonstra rigor técnico/científico na implementação das intervenções de enfermagem que contribuam para aumentar o bem-estar e a realização das atividades de vida dos clientes | 0 | 0,0 | 1 | 0,3 | 68 | 22,2 | 237 | 77,5 | 306 | 100 |
Referencia situações problemáticas identificadas para outros profissionais, de acordo com os mandatos sociais | 0 | 0,0 | 6 | 2,0 | 123 | 40,2 | 177 | 57,8 | 306 | 100 |
Supervisiona as atividades que concretizam as intervenções de enfermagem e as atividades que delega | 0 | 0,0 | 13 | 4,2 | 112 | 36,6 | 181 | 59,2 | 306 | 100 |
Embora já estejam definidos desde 2011 os padrões de qualidade dos cuidados especializados em enfermagem de reabilitação, atendendo às fragilidades identificadas nos contextos hospitalares no âmbito de uma atuação congruente com os padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem12, este estudo permitiu-nos clarificar o contributo dos enfermeiros especialistas/especializados em enfermagem de reabilitação para a qualidade dos cuidados de enfermagem. Instituídos em 2001 pela Ordem dos Enfermeiros, os padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem têm por objetivo melhorar a qualidade do serviço prestado8, exigindo, portanto, práticas congruentes com os mesmos, independentemente da condição com que os enfermeiros exerçam a profissão.
Assim, com o intuito de identificar o modo como os enfermeiros especialistas/especializados em enfermagem de reabilitação, operacionalizam os padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem, faz todo o sentido abordar as práticas destes profissionais relativamente a todos os enunciados descritivos.
Neste contexto, no que concerne à satisfação do cliente, embora as respostas às vezes e sempre tivessem sido as maioritárias nas três atividades desta dimensão, quando comparamos os resultados com o estudo publicado em 20175, constatámos que uma percentagem mais elevada de enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação evidencia “envolver os conviventes significativos do cliente individual no processo de cuidados”.
Embora aparentemente os enfermeiros especialistas demonstrem maior preocupação com a dimensão promoção da saúde, à semelhança de outros estudos realizados5,8, a resposta maioritária nas três atividades que concretizam esta dimensão foi às vezes. Atualmente, e tal como tem vindo a ser defendido por vários autores8, embora o cliente necessite desenvolver capacidades e competências que facilitem a sua adaptação às várias etapas do seu ciclo vital e aos seus processos de saúde e doença, a ajuda profissional dos enfermeiros constituirá um fator facilitador. Para isso, independentemente do contexto de exercício profissional, torna-se necessária a implementação de intervenções no âmbito da promoção da saúde, direcionadas para o empoderamento e para o desenvolvimento de estratégias que ajudem o cliente a gerir as fragilidades causadas pelas diferentes transições que vivencia. O problema é que no contexto hospitalar, ao contrário do que tem vindo a ser evidente nos cuidados de saúde primários e nos cuidados continuados, as práticas de promoção da saúde ainda não foram devidamente incorporadas pelos enfermeiros5,8,12-13.
No que concerne à dimensão prevenção de complicações, a resposta sempre foi a maioritária em todas as atividades. O referido para além de corroborar os resultados obtidos noutro estudo5, comprova, mais uma vez, a relevância do exercício profissional centrado na prevenção de complicações, ou seja, nos problemas potenciais dos clientes e nos fatores de risco intrínsecos e extrínsecos, cujo controlo requer a intervenção dos enfermeiros8.
No âmbito do bem-estar e autocuidado, enquanto os enfermeiros de cuidados gerais identificam sempre os problemas dos clientes, mas só às vezes prescrevem, implementam e avaliam as intervenções que contribuem para aumentar o bem-estar e autocuidado5, os resultados obtidos neste estudo, demonstram que os enfermeiros especialistas/especializados em enfermagem de reabilitação concretizam maioritariamente sempre todas as atividades. Neste sentido, para além de identificarem sempre os problemas dos clientes, prescreverem, implementarem e avaliarem as intervenções, na atividade “referencia situações problemáticas identificadas que contribuam para o bem-estar e realização das atividades de vida dos clientes”, os participantes também responderam maioritariamente sempre. Uma vez que as atividades inerentes a este enunciado descritivo incorporam as fases do processo de enfermagem8, fica implícita a preocupação dos enfermeiros especialistas/especializados com a sua operacionalização. De facto e tal como enunciado no âmbito das suas competências específicas, os enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação, concebem, implementam e monitorizam planos de cuidados diferenciados, baseados nos problemas reais e potenciais das pessoas, no sentido de maximizar as suas potencialidades, evitando as incapacidades ou minimizando a repercussão das mesmas2.
No que se refere à readaptação funcional, em todas as atividades que concretizam esta dimensão, a resposta sempre foi a maioritária. Analisando todos os resultados obtidos neste estudo e comparando-os com os de outra investigação já realizada5, é neste enunciado descritivo que as diferenças são mais notórias. De facto, os enfermeiros especialistas/especializados em enfermagem de reabilitação, na procura da excelência do seu exercício profissional, atribuem especial enfoque ao desenvolvimento com os clientes, de processos de adaptação eficazes. Neste sentido, para além de darem continuidade ao processo de prestação de cuidados de enfermagem, planeiam a alta dos clientes de acordo com as suas necessidades e os recursos da comunidade, otimizam as capacidades do cliente e conviventes significativos para gerir o regime terapêutico, ensinam, instruem e treinam o cliente sobre a adaptação individual requerida face à readaptação funcional.
No âmbito da organização dos cuidados de enfermagem, as respostas dos enfermeiros de cuidados gerais5e dos enfermeiros especialistas/especializados em enfermagem de reabilitação são sobreponíveis. Ambos, responderam maioritariamente sempre na atividade “domina o sistema de registos de enfermagem” e às vezes na atividade “conhece as políticas do hospital”.
Relativamente à dimensão responsabilidade e rigor, em consonância com os resultados obtidos noutro estudo5, em todas as atividades a resposta maioritária foi sempre. Importa, no entanto, destacar, que os valores percentuais associados à resposta sempre são mais elevados nos enfermeiros especialistas/especializados em enfermagem de reabilitação, o que denuncia a responsabilidade acrescida em promover a qualidade dos cuidados de enfermagem prestados nos diferentes contextos14.
À semelhança de outras investigações onde participaram enfermeiros de cuidados gerais e enfermeiros de outras áreas de especialidade, as respostas dos enfermeiros especialistas/especializados em enfermagem de reabilitação, evidenciaram globalmente uma prática congruente com os padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem.
Decorrente da análise efetuada, ficou claro que o contributo destes enfermeiros especialistas para a qualidade dos cuidados de enfermagem prestados nos contextos hospitalares, está especificamente centrada nos enunciados descritivos bem-estar e autocuidado e readaptação funcional, que efetivamente são tradutores do coreda área de especialidade de enfermagem de reabilitação, bem como do mandato social da mesma. Por outro lado, e embora atualmente a promoção da saúde seja considerada uma área prioritária, é aquela que, no âmbito dos cuidados gerais e dos cuidados especializados, tem vindo a ser descurada, particularmente no contexto hospitalar. O referido exige que os enfermeiros especialistas em enfermagem de reabilitação repensem as suas práticas, no sentido de ajudarem os clientes a alcançarem o seu máximo potencial de saúde. Para além disso, o internamento hospital tem de ser visto como uma oportunidade de promover a saúde, e não só como um tempo dedicado ao tratamento e à cura da doença.
Apesar dos contributos deste estudo, assumimos como limitação o facto da técnica de amostragem usada ter sido não probabilística, o que determina a possibilidade do perfil de enfermeiros especialistas/especializados que participaram no estudo ter influenciado os resultados.